P.O.V Do Freddie

— Melissa? - A encarei pasmo, não esperava por sua visita.

Foram tantos meses sem vê-la.

— Por quê a surpresa, Freddward? Achou mesmo que eu deixaria de comemorar o aniversário do nosso filho? Meu vôo atrasou, foi apenas um contratempo, espero que tenha sobrado ao menos uma fatia de bolo para mim. - Sorriu na maior cara-de-pau.

Ela nunca tinha feito questão de aparecer para visitar nossos filhos.

— Por quê isso agora, Robinson? - Cruzei os braços a encarando, sério.

— Me deu vontade de ver minhas crianças, meu coração se apertou de saudades. Sou a mãe deles, Freddie, você não pode me proibir de vê-los. - Apesar de tudo, ela tinha razão.

Melissa tinha permissão para ver nossos filhos.

— Entre. - Cedi porque não tinha escolhas, saí da frente da porta, permitindo sua entrada.

Quando me virei, Sam estava ali no mesmo lugar, sentada segurando o pratinho já vazio.

— Hannah está dormindo. - Falei observando as duas trocarem olhares.

Minha ex-mulher me olhou como se quisesse explicações.

— Quêm é ela? - Era só o que me faltava.

— Sou Sam Puckett, a namorada dele. - A loira levantou e sorriu orgulhosa.

— Como ousa colocar uma de suas vagabundas para dentro da casa onde vivem meus filhos? Já não bastava a Wendy enfiada aqui dentro quase 24h por dia? Você não tem vergonha na cara, Freddward? - Se irritou.

Além de me atacar com palavras, ainda por cima, ofendeu a Sam.

— Olha como fala, qual é o seu problema, Melissa? Sam é minha namorada, eu exijo que você a respeite! - Avisei.

— Se eu sou vagabunda, você é o quê, então? Pelo menos nunca tentei...

— Sam, por favor! - Pedi.

— O que ela fez com a Hannah foi imperdoável, Freddie! - Disse com raiva.

— Como se atreveu a expôr nosso passado para essa mulherzinha? De longe dá para ver que ela não tem nem onde cair morta. Além de mal-educada, é intrometida e grosseira! - Melissa ficou ainda mais irritada.

— Você nem me conhece. Está falando o quê, sua louca? Se veio deixar o presente, nós o entregaremos para o Noah, ninguém te convidou. Você não é bem-vinda aqui! - Minha loira se aproximou deixando o pratinho de lado.

— Quêm você pensa que é para falar assim comigo, garota? - Minha ex encarou a loira.

— Sou a babá. E eu não quero você perto das minhas crianças! - Respondeu com firmeza.

— A babá? - A ruiva riu com puro deboche. - É isso é sério, Freddie? - Me olhou descrente. - Você está pegando a babá novinha dos nossos filhos? Agora vejo o quanto desceu de nível, estava desesperado mesmo por sexo, ela pode até ser bonita, mas não é tão bonita. Sinto o cheiro de podridão no ar, espero que ela sugue todo o seu dinheiro! - Minha ex-esposa cuspiu mais veneno.

Apesar da Sam não desarmar a postura diante de Melissa, vi no seu olhar que as palavras duras e maldosas a atingiram.

— Chega, você não devia ter vindo, é melhor...

— Papai, tia Sam, olhe o que eu ganhei! - Noah surgiu correndo todo alegre.

Ele parou antes de nos alcançar, segurava um trem de brinquedo.

— Oi, bebê. Vem aqui comigo. - Melissa se abaixou nos ignorando e chamou ele.

Noah ficou confuso, olhou de mim para Sam e depois olhou desconfiado para a mãe dele.

— É a mamãe, meu amor. Comprei um presente para você. - Mostrou a caixa bonita e enfeitada.

Meu menino ficou parado sem reação.

— Vem, anjo. - Sam o chamou e ele correu para os braços dela, ela o pegou no colo.

— Deixa que eu entrego. - Estendi a mão.

Ela balançou a cabeça inconformada.

— Filho, você não está me reconhecendo? - Levantou e foi até eles.

Sam permaneceu parada com ele no colo, Noah abraçou o pescoço dela e encostou a cabecinha no ombro da minha namorada.

— Bebê, olhe para mim, sou eu. A sua mamãe. - Aquilo era deprimente.

Ela me olhou em desespero com os olhos verdes lacrimejantes.

Eu não podia fazer nada, as pessoas colhem o que plantam.

Minha loira pegou a caixa e entregou para o Noah.

— Como se diz, Nonôh? - Perguntou com gentileza.

— Obrigado. - Ele agradeceu pelo presente.

— Quero ver minhas filhas! - Melissa engoliu o choro e me olhou desolada.

— Hannah está no berço, Ally deve estar acordada. - Ainda era cedo.

— Agora vamos escovar os dentes e colocar seu pijaminha? - Sam passou por nós levando nosso filho.

Minha ex-mulher me seguiu calada.

Encontramos Ally no corredor.

— Princesa, como você cresceu! Já é uma mocinha! - Ela correu para abraçar a filha.

Minha garotinha ficou ali parada, assim como o Noah, estava sem reação...

— Você está tão linda, minha menina de olhos meigos. A mamãe vem te buscar amanhã para termos o nosso dia especial, faremos compras e...

— Você não é minha mãe. - Até eu fiquei pasmo.

Claro que ela reconheceu Melissa pelas fotos, por mais que ela estivesse um pouco mudada...

— Sou sim. Claro que sou, eu...

— Não, você não é! - Ally exclamou.

— Filha, ela é...

— Não, papai! A minha mãe está aqui, ela cuida de mim e dos meus irmãos. - Correu para perto da Sam.

A loira ficou paralisada.

Melissa não conseguiu conter o espanto. Eu também não esperava por aquilo. Muito menos a Sam.

— Você é minha mãe...  - A pequena abraçou a Sam. - Cuida da gente e do papai, você faz tudo aqui em casa... Mesmo sendo chata e reclamona, a vovó disse que mãe é quem cuida e protege. - Suas palavras nos comoveram.

Sam se abaixou e colocou Noah no chão, ela os envolveu num abraço.

Nem precisou de palavras, suas lágrimas já diziam tudo.

Também me emocionei bastante.

Melissa saiu dali apressada, ficou abalada e inconformada.

Ser rejeitada pelos próprios filhos tinha sido sua penitência.

Melissa teria que conviver com aquilo. Ela foi embora sem ver a Hannah.

Minha família estava ali.

A mulher que amo e meus filhos...

Nossas crianças.

Sam havia se tornado mais que uma mãe. Ela era o nosso porto seguro.

Eu a amava incondicionalmente.

Não precisávamos de Melissa Robinson em nossas vidas.

[...]

P.O.V Da Sam

— Não chora, tia. - Noah passou as mãozinhas pelo meu rosto.

— São lágrimas de emoção, anjo. - Beijei suas bochechas.

— Ela disse que vem amanhã, ela quer me levar. Não deixem, eu não quero ir com aquela mulher. - Ally estava com medo.

— Ally, seu pai e eu não iremos permitir. Ela não vai levar você e nem os seus irmãos. - Falei.

— Filha, não se preocupe com isso. - Freddie se abaixou diante de nós.

Ela o abraçou, passando os bracinhos ao redor do seu pescoço.

— A Sam pode ser nossa mãe? Todas as minhas amigas têm uma mãe... - Choramingou.

— Pergunte para ela, amor. - Beijou o rosto da pequena.

Ela se afastou dele para poder me olhar.

— Você pode nos adotar, Sam? - Como dizer não para aquela criaturinha?

Eu me derreti ainda mais, não consegui segurar o choro que ainda prendia.

— Claro... Eu amo vocês. São minhas crianças. - Abri os braços.

Freddie sorriu emocionado, Ally se jogou em meus braços. Abracei o pequeno que tinha deixado os presentes de lado.

— Amo cada um. É a família que Deus me deu... Prometo cuidar de todos, protegê-los com todas as minhas forças, eu nunca mais vou abandonar vocês, serei a mãe de vocês para sempre. - Prometi.

Freddie nos abraçou com força.

Era o homem que eu amava.

Eu também amava seus filhos.

Eles se tornaram minha família. Nunca me senti tão grata.

Aquela mulher amargurada teve o azar de perdê-los.