P.O.V Da Sam

Quando chegamos, Freddie foi logo colocando a Ally de castigo. Confiscou tudo que ela tinha de aparelho tecnológico como Laptop com joguinhos, iPod, vídeo-game portátil e até mesmo o Notebook que ela usava de vez em quando sob a supervisão dele. Claro que isso só a fez chorar ainda mais, ela se jogou na cama, esperneou e gritou coisas que deixariam qualquer pai chateado.

Eu não sabia o que falar, nem como reagir diante daquela situação. Era a filha dele, ele que tinha que lidar com ela, fazer o que achava correto. Foi a decisão dele de colocá-la em castigo.

Agradecemos a Carly que nos ajudou cuidando da bebê e do Noah. Me despedi da minha amiga prometendo ligar em breve. Foi meio chato eles terem se conhecido naquele momento, nem tiveram a oportunidade de conversarem direito.

Noah estava melhor, a barriga já tinha desinchado. Hannah estava dormindo no berço, estava trocada e parecia um anjinho em seu sono sereno.

A Shay havia cuidado bem deles.

Quando anoiteceu, Freddie e eu ainda nos encontrávamos naquele clima estranho. Ele mal falava comigo. Não sei se estava chateado ou até mesmo me culpava... Eu não devia ter chamado a atenção da Ally da forma que chamei, lhe dando broncas.

As coisas que ela gritou no parquinho, me acusando de ter feito que não fiz... Não gritei, não bati e nem a deixei com fome. Ela que se recusou a comer o dia todo.

Será que Freddie havia acreditado?

Preparei o jantar, Noah apareceu assim que o chamei. Esfriei a sopinha de beterraba da bebê. Após serví-lo, comecei a alimentar a pequena que fazia caras e bocas enquanto tomava a sopa.

Meu namorado desceu com a filha mais velha, Ally estava com o rosto inchado e os olhos avermelhados. Ela me olhou sem esboçar qualquer emoção e sentou na cadeira ao lado do irmão. Freddie serviu o jantar dela, ele estava calado. A garotinha logo se prontificou em comer, estava faminta.

Continuei alimentando a bebê, o moreno montou o prato e sentou no lugar de sempre. Trocamos um olhar, ele olhou para a comida, respirou fundo e começou a comer.

Minha tristeza aumentou.

Terminei de alimentar Hannah, a limpei. A coloquei sobre o carpete para bebês, colorido e com estampa de amarelinha. Ela logo se entreteu com um dado mediano de pelúcia, apertando o objeto macio.

Noah já estava pela metade quando me juntei à eles na mesa. Ally comeu tudo, tomou suco e colocou a louça na pia sem que um de nós pedisse a ela.

— Boa noite, papai. - Ally passou por ele parando para beijá-lo no rosto. - Boa noite, Sam... - Me olhou acanhada.

— Boa noite. - Sorri para ela.

— Boa noite, maninha. - Noah passou a mão na boca suja.

Ally assentiu e se retirou da cozinha, indo para o quarto. Freddie havia a proibido de ver TV.

Eu havia feito empanados de peixe, salada e arroz para o jantar.

— Está gostoso. - Freddie quebrou o silêncio entre nós dois.

— Que bom que gostou. - Me limitei a dar um pequeno sorriso.

— Depois quero conversar com você à sós. - Falou para mim.

Apenas assenti.

[...]

P.O.V Do Freddie

Não estava com raiva da Sam, a culpa não foi dela. Como sempre, era só Ally fazendo malcriações e me dando dor de cabeça, não só para mim. Para a Sam também que teve que lidar com ela sozinha. Minha filha havia testado minha paciência, passando dos limites. Fiquei de cabeça quente por conta de suas birras, não foi nada bonito o vexame que ela deu lá no parquinho.

Ela também agiu mal acusando a Sam de todas aquelas coisas absurdas. Como pai, fiquei chateado e muito envergonhado. Sam ouviu tudo do carro, sem ter chance de se defender... Voltamos para casa num clima pesado, ambos constrangidos.

Coloquei a Ally de castigo, talvez fosse servir de lição. Confisquei todos os eletrônicos, eu não costumava deixá-la de castigo. Sempre chamei sua atenção e dei broncas, a parte dos castigos era com... Enfim, passado é passado.

Ally é minha filha. Sou o responsável. Eu que devo colocar limites. Corrigí-la e repreendê-la devidamente.

Ajudei a Sam com a louça do jantar. Me sentia um idiota porque ela estava triste, eu só tive que ficar na minha, esfriar a cabeça antes de poder ter uma conversa com ela. Esclarecer as coisas. Conversar com calma.

Ela subiu levando Noah e a Hannah. Meu filho tinha que escovar os dentes e pôr o pijama. Ela precisava trocar a bebê e a colocar para dormir. Decidi esperá-la em seu quarto. Sam concordou.

Enquanto a esperava, andei pelo cômodo vendo suas coisas, os objetos coloridos que ela tinha. A loira tinha até mesmo um porta-joias. Era lilás. Delicado, combinava com ela, com seus traços.

Tão linda... Sam era linda por fora e por dentro. Tinha um bom coração.

Sua personalidade se dividia em múltiplas facetas.

Com o nosso tempo de convivência, notei que Sam também era um tanto geniosa e teimosa. Não levava desaforo para casa. Enfrentou a professora do meu filho. Duas vezes pelo que fiquei sabendo.

Ela também sabia opinar. Era sincera. Dizia o que achava. O que queria. Sem medo. Me fascinava. Todo o seu jeito de menina-mulher.

Sabia ser delicada, desastrada na maior parte do tempo. Maluquinha. Dona de um sorriso travesso e risadas escandalosas. Era engraçada por natureza.

Acho que por isso me apaixonei.

Nunca conheci ninguém igual a ela.

Com a sua personalidade. Seu jeito único. Com sua beleza. Como simplesmente ela... Com todos os defeitos e mesmo assim, encantadoramente incrível.

Peguei o frasco de sua loção corporal.

Maçã e pêssego... Era o seu aroma. Mistério desvendado. Por isso ela tinha um cheiro tão gostoso. Doce. Frutal. Inebriante.

— Te peguei mexendo em minhas coisas! - Me agarrou por trás, dando-me um susto.

Virei para ela que ria sem disfarçar. Com aquele brilho de diversão no olhar... Outra coisa que me instingava era o cor dos seus olhos. A tonalidade deles que variava.

Azuis claros sob a luz do Sol. Azuis-esverdeados com a chegada da tarde. Azuis-acinzentados de noite...

— Azuis-escuros agora. - Toquei seu rosto suavemente, encarando-a.

— O quê? - Me olhou confusa.

— Você têm olhos lindos. Amo eles. Mudam de cor. Você sabe, não sabe? - Sorri.

Sam corou com o meu elogio. Sempre corava.

— É o que os meus amigos dizem. Eu não ando olhando a cor deles toda hora. Eu nem mesmo ando com espelho. - Me fez rir.

Sempre tinha uma resposta na ponta da língua.

[...]

P.O.V Da Sam

— Você também têm olhos bonitos. Não são apenas castanhos. São cor de chocolate. Também me lembram molho de carne e almôndegas. Sob a luz do Sol eles ficam num tom de mel. E eles escurecem quando me olha daquele jeito. - Tapei a boca, sentindo meu rosto arder.

— Que jeito? - Mexeu as sobrancelhas e sorriu malicioso.

Eu recuei rindo.

— Você é engraçado... A gente não ia conversar? - Perguntei.

— Não é o que estamos fazendo? - Sorriu divertido.

— Bobo! - O empurrei de leve.

Freddie riu.

— Certo, vamos sentar. - Se aproximou da cama.

— Me espera trocar de roupa. Só um minuto. - Pedi.

Antes que ele respondesse, peguei a muda de roupa sobre a cama e corri para o banheiro. Ouvi sua risada.

Saí do banheiro após desembaraçar os cachos e colocar meu pijama. Eu gostava de me sentir confortável, sempre dormia com um blusão velho e meias.

Dei uma melhorada no meu estilo desleixada. Não para agradá-lo e sim para me sentir menos envergonhada. Não seria nada bonito aparecer na frente dele usando um blusão com o dobro do meu tamanho, manchado e com furinhos por todo o canto.

Vesti uma regata preta, uma calça de moletom cinza, e claro, as minhas meias coloridas não poderiam faltar.

Carly me aconselhou a começar usar baby-dolls e camisolas... Algo com renda e tecido sedoso para dar uma sensualizada.

Puff... Eu não precisava daqueles flu-flus, precisava? Aquilo era bem a cara da morena.

— Então... Me desculpe por hoje. Sinto muito, Sam. Por tudo que passou e teve que ouvir... Já conversei com a Ally. Isso não vai mais se repetir. - Garantiu.

— Oh, Freddie... Eu que devo pedir desculpas. Não fiquei muito atenta. Acabei deixando a Ally...

— Não se culpe, por favor. - Me interrompeu. - Não é a primeira vez, já tive que ir pegá-la na casa dos Carpenter. Os vizinhos da casa verde. Ela passou dos limites dessa vez, foi pra longe. Sei que ela te deu trabalho hoje de manhã, conheço a minha filha. - Falou, sério.

— Mas sobre o que ela falou lá no parquinho, eu juro que não fiz nada daquilo. - Me apressei em dizer.

— Eu sei, Sam. Fica tranquila. Você sempre cuida bem das crianças. Jamais faria aquilo. Agora a Ally deu com essa mania de inventar coisas. Hoje conversei com ela sobre isso. Nunca duvidaria de você, das suas palavras. Confio em você. Não é à toa que vou para o trabalho tranquilo sabendo que meus filhos estão em boas mãos. - Suas palavras me tocaram.

— Obrigada por confiar em mim. Isso significa muito! - Toquei sua mão.

Ele entrelaçou nossos dedos.

— Você agora é minha namorada. Me faz bem. Sou grato pelo que têm feito. Graças a você eu estou mudando meus hábitos, estou passando mais tempo com meus filhos. Chego mais cedo em casa para jantar com vocês. Estou mais próximo do Noah. Agora vejo a Hannah acordada quando chego. E por mais que ainda seja difícil lidar com a Ally, eu vou continuar tentando dar o meu melhor. Eu não sei o que seria de mim hoje mais cedo, você está sendo minha calmaria no meio de toda essa confusão, minha vida estava uma completa bagunça antes de você chegar. - Desabafou. - Você chegou quando eu mais precisava. Surgindo como um raio de Sol iluminando a minha vida. - Me fez sorrir.

— Céus, Freddie, não me faça chorar... Olha que eu sou durona! - Avisei.

— Mas é verdade. Obrigado por tudo. - Me abraçou, me aconcheguei em seus braços fortes e quentinhos.

— Eu também não sei o que seria de mim sem você e as crianças. Você me deu uma grande oportunidade, me ajudou quando eu mais precisei. Sou grata por tudo. - Apertei seu corpo.

Ele afagou meus cabelos e beijou meu ombro.

Não precisávamos mais trocar palavras. O silêncio era reconfortante.

Aquele abraço era tudo o que precisávamos naquele momento.