Nemesis escrita por ariiuu


Capítulo 74
Uma reviravolta no destino




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Uma reviravolta no destino

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17 de Janeiro de 2013, 02:13 PM

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Palermo – Sicília

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Mary Crystal perambulava pela mansão de seu falecido avô, vendo o quanto sua mãe havia cuidado do local nos anos em que esteve na Força Aérea Americana.

Tudo estava exatamente como do jeito quando ele partiu, e era um pouco triste relembrar os meses em que ficou de luto por seu avô...

Havia se passado vários dias desde que a Segundo-Tenente havia retornado à Sicília. Não estava sendo fácil ter de lidar com o futuro trágico que lhe aguardava.

Mas...

Para sua surpresa, o porteiro da mansão lhe avisava sobre uma pessoa que procurava por ela na entrada, pedindo para vê-la.

Kiara não desejava ver ninguém... no entanto, aquela altura, simplesmente não podia mandar as pessoas que procuravam por ela irem embora.

E quem a procurava...?

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Nick Fury...

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Quando o Diretor da SHIELD cruzou a porta principal da mansão, deu de cara com Mary Crystal sentada em uma das cadeiras da sala de jantar, segurando uma taça de vinho, balançando o líquido com a mão direita, com uma expressão de tédio no rosto...

— Seja bem-vindo, Fury. O que deseja em minha humilde residência...? – A Segundo-Tenente ironizava, com um sorriso cínico.

— Você resolveu voltar a morar na Itália do nada?

— Não foi do nada. Foi uma decisão que tomei há semanas...

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— Ah é? Não foi o que pareceu quando o Capitão saiu voado atrás de você para o Aeroporto, no dia de sua viagem...

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Naquele momento, a feição da loira mudava drasticamente.

Steve havia ido atrás dela no dia de sua partida para a Itália?

Fury conseguia vislumbrar o semblante melancólico da garota, porque sabia o quanto ela e o Super Soldado estavam sofrendo pelo que Thor havia revelado há poucas semanas.

O espião se aproximou da mesa, olhando fixamente para o rosto de Mary Crystal.

— Por que não pediu a minha ajuda, Kiara? Eu sempre deixei claro que qualquer coisa que acontecesse, você poderia me procurar.

— E no que exatamente você pode me ajudar, Fury? Não há como mudar o futuro.

— Podemos tentar. Quem sabe se você me disser todos os detalhes de suas visões, não arrumamos uma forma de alterar esse destino cruel?

— De que forma? Isso é impossível... – Ela revirava os olhos enquanto segurava a taça.

— Como eu disse, podemos tentar...

A Segundo-Tenente olhava para o Diretor da SHIELD, sem muitas esperanças. Ela sabia que ninguém poderia salvá-la, mas... talvez ele pudesse lhe ajudar com algumas pistas... pistas essas que havia encontrado há dois dias em um de seus sonhos...

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— Fury... você acha que ainda pode fazer contato com Carol Danvers?

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— Não sei... tentei contato duas vezes desde que ela me deixou o pager.

— Nas visões sobre a minha morte, o tal Ronan perguntava sobre o paradeiro de Carol Danvers.

— Bem... se a Carol tem alguma ligação com a sua morte, então podemos tentar entrar em contato com ela novamente, mas dessa vez, usando outros métodos, porque desde que partiu em 1995, ela nunca mais retornou...

— Que ótimo... acho melhor desistir então... o meu caso não tem jeito... – Kiara fazia uma careta, porque já estava conformada.

— Você disse que o homem da sua visão é um Kree e que está atrás da Carol, então... se acharmos a Carol, o seu futuro pode mudar...

— Sério...!? Que grande revelação vindo do maior espião do planeta! – A garota ironizava, revirando os olhos... de novo...

Fury ignorava o sarcasmo da loira e se focava no que tinha em mente.

— Podemos acha-la através de métodos que nunca tentei.

— Quais métodos?

— A minha ideia é ir até a estação espacial da S.W.O.R.D. e decodificarmos o pager. Podemos tentar outro tipo de contato com ela.

— Ah é!? E por que você não tentou isso na batalha de Nova York?

— Porque eu não tive tempo. Tudo foi muito rápido...

— Entendo... e por que você faria isso por mim?

— Porque eu ainda não consigo me perdoar pelo incidente com o Tesseract de anos atrás. Me sinto culpado, Kiara... você era só uma menina...

— Mas não foi culpa sua...

— A responsabilidade era minha, logo, me sinto em dívida com você.

— Engraçado dizer isso. Você sempre me usou como sua bola de cristal... – A garota cruzava os braços, olhando para o espião com muita desconfiança.

— Não, Kiara, você que dificultou tudo agindo como uma pessoa egoísta. Se tivéssemos trabalhado juntos desde o início, você teria dominado seus poderes, aperfeiçoado suas habilidades e não estaria passando por isso hoje.

— Você queria me usar...

— Não. Essa não era a minha intenção. Meu plano não era te transformar numa agente, mas você deveria ter sido a primeira a se juntar à iniciativa Vingadores! Você sempre teve potencial!

— Isso... nunca faria sentido desde o início, Fury...

— Nunca teve a ver com os membros atuais, Kiara... eu tinha muita confiança em você... tinha fé e esperança que você poderia substituir a Carol até que ela retornasse a terra, mas você nunca me deu ouvidos. Nunca quis dar uma chance a tudo o que eu tinha em mente pra você.

— Sim, e ainda acho que fiz a coisa certa. – A garota exibia um sorriso cínico em resposta.

— Não temos a mesma opinião, mas já que hoje a sua situação é essa, vai me deixar te ajudar ou não?

A loira ficava e silêncio, apreensiva...

— Acha que podemos mesmo fazer contato com a Carol?

— Não sei, mas podemos tentar. Eu não vou ficar de braços cruzados e assistir a sua morte. Vamos em frente. Se essa é a única forma, então devemos tentar.

— Mas-

— Você estaria disposta a me acompanhar até a estação espacial da S.W.O.R.D.? – Fury a indagava, pegando-a um pouco de surpresa... Mary tinha acabado de chegar a Itália, e agora teria que ir para o espaço?

— Eu... não sei...

— Lembra quando você e a Amber estavam atrás de informações sobre a Doutora Wendy Lawson e descobriram sobre as imagens de um dos satélites da NASA na região do deserto de Mojave, do ano de 1995?

— Sim... me lembro... mas isso foi na época em que eu queria descobrir sobre o erro de um bilhão de dólares que é um mistério para todos os aviadores mais curiosos da Força Aérea. Por quê?

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— Se eu te disser que a Carol está nessas imagens, e que ela botou o tal Ronan para correr, você acreditaria...?

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Os olhos de Mary Crystal arregalavam, e a garota sentia uma forte compressão no estômago.

— A Carol enfrentou Ronan!?

— Sim... e acho que ela é a chave para tudo isso. Ele estava atrás dela desde essa época, logo, esse Ronan com certeza deve te procurar, achando que Carol e você tenham alguma ligação.

— Eu já sei que se acharmos a Carol, talvez possamos dar um jeito, mas... o maior empecilho é encontrá-la... se nem você conseguiu todos esses anos, por que agora conseguiríamos?

— Se o Império Kree está atrás da Carol e acabam te levando para descobrir onde ela está, então, se a acharmos primeiro, podemos mudar o que acontece no futuro, logo, tentarei alguns métodos para descodificar o pager. – O Direitor da SHIELD sorria, trazendo uma pequena esperança para a Segundo-Tenente, que sentia uma ponta de alívio ouvindo aquelas palavras.

Ainda que houvesse somente uma chance de mudar aquele futuro tão trágico, Kiara estava disposta a fazer de tudo para sobreviver, e então, a garota se levantava, olhando seriamente para Nick Fury.

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— Eu vou com você para a estação espacial da S.W.O.R.D.. Não quero mais perder tempo. Vou tentar sobreviver de todas as formas...

Fury sorria, convicto de que conseguiriam mudar o futuro de Mary Crystal...

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29 de Janeiro de 2013, 04:04 AM

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Brooklyn – Nova York

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O dia estava amanhecendo, e Steve se encontrava deitado em sua cama...

Estava escuro e o único barulho que conseguia ouvir era o da chuva, que batia no vidro da janela de seu quarto...

O Capitão estava acordado, apenas imaginando o rumo que sua vida estava tomando...

Com os olhos fechados, ele ouvia o som da chuva ficar mais intenso... e um estrondo no céu...

Muitas décadas atrás, isso teria lhe deixado assustado, mas não dessa vez...

Quando criança, Steve tinha pavor de trovões, tremia no escuro e odiava o silêncio... mas hoje, seu maior medo eram as pessoas... no escuro se sentia confortável e o silêncio já havia tomado conta dele... lhe devorado...

Ao se levantar da cama, o loiro passava em frente ao espelho e não se reconhecia... era como se estivesse perdido dentro de si mesmo, sem saber para onde ir...

O Super Soldado estava preso em mudanças desastrosas... mudanças tão rápidas que seus passos não conseguiam alcançar...

Sentia-se nu... despido... desprotegido... vulnerável...

Submerso em seu próprio labirinto, procurando o que não conseguia ver... ansiando por uma saída...

Era como se andasse por uma linha tênue, sempre correndo risco de uma queda... sempre à beira de um abismo... sempre triste por conta de um funeral...

E agora, o funeral era o da pessoa ao qual mais estava ligado... entrelaçado... e intensamente envolvido...

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Mary Crystal...

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Depois da partida da Segundo-Tenente para a Itália, Steve não teve coragem de ir atrás dela... não porque não desejasse isso mais do que tudo, mas porque estava cansado, decepcionado e profundamente magoado por mais uma vez, Kiara tê-lo abandonado... de ir embora e não dizer adeus... de esconder dele as visões sobre sua morte...

Como ela tinha coragem...? Depois de tudo o que viveram...? Por que Mary sempre o afastava e o deixava para trás...? Sem saber o que estava acontecendo?

Ele não conseguiu dormir direito por semanas... estava sempre cansado mentalmente...

Eram 4 da manhã, de uma terça-feira qualquer... sempre acordando de seu leve cochilo pelos mesmos motivos...

Depois de andar por dois minutos em torno de seu apartamento, o Capitão voltava para a cama, na vã tentativa de dormir... mas não conseguia...

O que devia fazer com seus sentidos aguçados num quarto escuro e a lembrança do choro de Mary Crystal em seus ouvidos, na madrugada em que ela acordou daquele pesadelo...? Do pesadelo envolvendo sua morte...?

Sentia-se inútil... vazio... completamente vazio... e carregar o vazio, também pesava...

Deitado em silêncio, Steve sentia o inverno em seu auge... ele sentia as lembranças com Mary Crystal doerem... e lhe destruírem...

Suspirando fundo, o loiro estremecia... as músicas preferidas da Segundo-Tenente continuavam tocando no rádio da sala... mas ela não estava mais ali para ouvir...

E uma delas, coincidentemente parecia descrever a situação emocional do Super Soldado... era uma música melancólica demais, que lhe fazia se recordar dela...

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Snuff – Slipknot

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Bury all your secrets in my skin, (Enterre todos os seus segredos na minha pele)

Come away with innocence, (Desapareça com inocência)

And leave me with my sins, (E me deixe com os meus pecados)

The air around me still feels like a cage, (O ar ao meu redor ainda me parece como uma gaiola)

And love is just a camouflage for what resembles rage again... (E o amor é só uma camuflagem para o que se assemelha a raiva novamente)

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A música reverberava pelos cômodos… e Steve se perguntava porque havia deixado o aparelho de som ligado...

Imerso nas lembranças de Kiara, ele ainda podia sentir o perfume dela por sua casa... e por que seu coração disparava quando pressentia a garota ali...?

Ele rolava de barriga para baixo no colchão, pressionando o rosto no travesseiro ao lado do seu... inalando levemente o cheiro de Mary Crystal, que ainda se encontrava impregnado ali...

O Super Soldado só conseguia encontra-la nos inúmeros rascunhos que havia feito pelas madrugadas que não conseguia dormir... na falta de ar que esmagava seu peito quando se recordava do olhar dela... dos nós na garganta que se formavam ao se lembrar dos lindos momentos que passaram juntos...

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So if you love me, let me go… (Então se você me ama, deixe-me)

And run away before I know… (E fuja antes que eu saiba)

My heart is just too dark to care… (Meu coração está muito sombrio para se importar)

I can't destroy what isn't there… (Não posso destruir o que não está lá)

Deliver me into my fate… (Me entregue a meu destino)

If I'm alone I cannot hate… (Se eu estou sozinho, não posso odiar)

I don't deserve to have you... (Eu não mereço ter você)

My smile was taken long ago… (Meu sorriso foi tomado há muito tempo atrás)

If I can change I hope I never know… (Se eu sou capaz de mudar, espero nunca saber)

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Ao soltar um longo suspiro, o Capitão se recordava das palavras da Segundo-Tenente...

Kiara prometeu que só faria as malas para ir morar com ele... mas tudo o que ela havia deixado, era um livro em sua cômoda... e o seu perfume pelo apartamento...

A garota havia deixado tantas coisas ali... sua presença... uma playlist num iPod... um elástico de cabelo... as marcas das chaves na mesa da cozinha... as roupas dele dobradas em cima da poltrona ao lado da janela de seu quarto... a memória da última noite de amor que tiveram... e Steve... no mesmo lugar que Mary lhe havia deixado...

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I still press your letters to my lips… (Eu ainda aperto suas cartas aos meus lábios)

And cherish them in parts, (E a estimo em partes)

Of me that savor every kiss, (De mim, que saboreiam cada beijo)

I couldn't face a life without your light, (Eu não poderia encarar uma vida sem a sua luz)

But all of that was ripped apart... (Mas tudo isso foi dilacerado)

When you refused to fight… (Quando você recusou a lutar)

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Eram 4 da manhã... e tudo lembrava ela... a brisa fria de mais uma madrugada de inverno... a recordação doce e excitante dos dedos gélidos e delicados de sua menina percorrendo sua coluna... a música que tocava no rádio da sala... a voz suave e as palavras amorosas que ela lhe dizia ao acordar... o calor debaixo das cobertas... o desejo do corpo ameno pressionado ao dele e das mãos trêmulas brincando com seus cabelos, como era de costume quando Mary amanhecia ao seu lado...

O ritmo acelerado do coração do Capitão América lembrava o tsunami de sensações que a presença da Segundo-Tenente lhe causava...

A escuridão do quarto, refletia como seu mundo ficou desde que ela decidiu ir embora... e as lágrimas que escorriam por seu rosto, não o deixavam esquecer que ainda existia muito dela dentro de si...

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So save your breath, I will not hear, (Então poupe seu fôlego, eu não ouvirei)

I think I made it very clear, (Eu acho que deixei isso muito claro)

You couldn't hate enough to love, (Você não poderia odiar o suficiente para amar)

 Is that supposed to be enough? (Isso deveria ser o suficiente?)

I only wish you weren't my friend, (E só queria que você não fosse minha amiga)

Then I could hurt you in the end, (Assim, poderia te machucar no final)

I never claimed to be a saint... (Nunca afirmei ser um Santo)

My own was banished long ago, (Meu eu foi banido a muito tempo atrás)

It took the death of hope to let you go… (Tive que perder a esperança para te deixar partir)

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Steve ainda tinha o bilhete que Kiara deixou na caixa de correio do apartamento no dia de sua partida...

No papel, as palavras mais dolorosas que ele já leu...

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Não pergunte o porquê e nem como... apenas entenda que tive que partir, porque vai ser melhor para nós dois.

Não procure por mim. Não tente entender. Vai ser melhor assim.

Obrigada por ter me presenteado com os melhores dias da minha vida.

Me perdoe por tudo.

M.C.

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So break yourself against my stones, (Então se quebre contra as minhas pedras)

And spit your pity in my soul, (E cuspa sua piedade em minha alma)

You never needed any help, (Você nunca precisou da ajuda de ninguém)

You sold me out to save yourself, (Você me vendeu para se salvar)

And I won't listen to your shame, (E eu não ouvirei a sua vergonha)

You ran away, you're all the same, (Você fugiu, vocês são todos iguais)

Angels lie to keep control, (Anjos mentem para manter o controle)

My love was punished long ago, (Meu amor foi punido há muito tempo atrás)

If you still care, don't ever let me know… (Se você ainda se importa, jamais deixe que eu saiba)

If you still care, don't ever let me know… (Se você ainda se importa, jamais deixe que eu saiba)

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Kiara sempre ia embora, antes de os dois serem alguma coisa de verdade...

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Passados muitos dias, Mary Crystal, Nick Fury e alguns agentes mais confiáveis que trabalhavam na estação da S.W.O.R.D. tentavam decodificar o pager para que pudessem emitir algum sinal, no intuito de contatar Carol Danvers.

Eles tentaram por dias e semanas... e então, após muitas tentativas frustradas, o aparelho parecia ter parado de funcionar, repentinamente.

— O que aconteceu? – Kiara observava o pager plugado e com a bateria isolada.

— O sinal parece ter parado de funcionar. – Um dos agentes explicava, deixando-a ainda mais confusa.

— Mas por que só agora parou?

— Não sabemos. Apenas parou...

— Droga... – A Segundo-Tenente desferia um soco em um dos equipamentos, tamanho nervosismo. Estavam há semanas tentando e nada havia acontecido.

E então, quando a garota se virou, com o intuito de deixar o local, uma pessoa aparecia em sua frente repentinamente...

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— Cadê o Fury...?

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Kiara olhava para a pessoa diante de si... uma mulher loira, com cabelos abaixo dos ombros, trajando um uniforme azul, vermelho e com detalhes dourados...

— Quem é... você...? – Mary a contestava, assustada...

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— Essa é a pessoa que estávamos procurando... Carol Danvers...

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A voz que revelava a identidade da mulher na frente da Segundo-Tenente, era a de Nick Fury, que caminhava na direção das duas.

A Capitã Marvel sorria, contente em ver o Diretor da SHIELD depois de tantos anos.

— Faz tempo... – Ela o cumprimentava, com uma expressão amena e feliz.

— Faz muito tempo, Carol... – O espião se aproximava, vendo que a Capitã o cercava, abraçando-o de imediato.

Mary estranhava aquele movimento... os dois eram amigos tão próximos assim? Ela não sabia de quase nada do que havia acontecido em 1995...

— Por que não veio quando eu a chamei? Tivemos problemas com um exército de alienígenas tentando invadir a terra. – Fury a contestava, tentando entender porque Carol não havia atendido seu chamado na batalha de Nova York.

— É uma longa história... mas vim assim que pude... o que está acontecendo? Por que me chamou? O que há de tão urgente a ponto de precisar da minha ajuda? – Carol o questionava, confusa.

O semblante de Fury mudava drasticamente, deixando-a ainda mais tensa.

— Os Kree estão atrás de você, Carol. Descobrimos isso graças a Mary Crystal.

— Mary Crystal?

— Sim... ela é filha do atual Presidente dos Estados Unidos e... alguns anos atrás, quando criança, teve contato com o Tesseract. Desde então, ela desenvolveu algumas habilidades, como ter visões e sonhos sobre o futuro, e no futuro dela, um homem do império Kree estava atrás de você. – O Diretor da SHIELD revelava.

— Quem?

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— Ronan... o nome dele é Ronan... – Dessa vez, era Kiara quem dizia, um tanto atordoada.

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— Ronan faz parte da tropa dos Acusadores... ele veio atrás de mim naquela época... quando destruí todas as ogivas... não sabia que ele ainda estava a minha procura...

— Para ir atrás de você, ele escolheu seu alvo... – O espião redarguia, com um semblante sério.

— Ela...? – A Capitã apontava para Mary, que abaixava o olhar...

— Sim. Mary Crystal teve visões sobre sua morte. Ela vai morrer nas mãos do tal Ronan porque não soube dizer onde você estava.

— Entendo... a tropa dos Acusadores deve ir atrás dela por causa das habilidades que a mesma tem com o Tesseract, certo?

— Provavelmente. E é por isso que te chamamos aqui. Não apenas porque a vida dela depende disso, mas porque esse tal Ronan está rondando a terra há algum tempo. Temos imagens de alguns satélites que capturaram uma nave sobrevoando o planeta. Ele está atrás de você há muitos anos.

Carol estreitava o olhar, sabendo sobre o que a tropa dos Acusadores andava fazendo nos últimos tempos.

— Fiquei sabendo que Hala tem como objetivo sair vitoriosa da guerra contra Xandar usando métodos extremos, e que Ronan está por trás disso. – A Capitã revelava, deixando-os ainda mais tensos.

— Xandar...? – Mary a indagava, sem entender.

— Xandar é um planeta que está em guerra com o Império Kree.

— Então... isso é mais grave do que imaginava... a minha morte não é algo tão importante comparado a guerra entre dois planetas... – Kiara redarguia, num tom de voz meio trêmulo, assustada com as revelações que Carol fazia.

— Tive informações de algumas fontes seguras, que Ronan está atrás do Orbe, uma das joias do infinito. Até hoje venho adiando minha ida até Hala, mas... acho que o chamado de vocês vai adiantar as coisas...

— Joia do infinito...? E por que ele ia querer uma joia do infinito? – Fury a contestava, num tom de voz tenso.

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— Ele quer destruir Xandar com o Orbe... a vida de 12 bilhões de Xandarianos corre perigo...

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Mary e Fury alargavam o olhar, mostrando o quão assombrados estavam por ouvirem aquelas palavras...

Os fatos não estavam limitados apenas nas visões da morte de Mary... mas havia algo muito mais perigoso por trás...

— Então... o que devemos fazer...? – Kiara a indagava, sem saber quais seriam os próximos passos, afinal, não estava acostumada a ouvir sobre destruições de planetas.

Carol sorria, completamente convicta...

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— Eu vou resolver isso...

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Longe dali, no planeta terra, em Nova York, Steve encontrava com Sam Wilson numa cafeteria. O Capitão sempre se sentia à vontade para conversar com o Falcão sobre seus maiores problemas, ainda que tentasse ser o mais discreto possível.

A família, amigos e os colegas mais próximos de Mary Crystal não sabiam sobre o que estava acontecendo com a Segundo-Tenente, e isso incluía Sam na lista, que não fazia ideia do porquê a garota havia fugido para a Itália.

Steve estava ciente de que não deveria falar nada a respeito com ninguém, porém, aquilo não o impedia de ao menos se lamentar pela ausência da garota...

Quando o Falcão chegou ao local, logo se sentou e cumprimentou o Super Soldado.

— Você tá com uma cara péssima, Cap...

— É tão notável assim...? – O loiro sorria melancolicamente, tentando não parecer tão triste.

— O Barnes me disse que a Mary voltou pra Itália.

— Sim... mas já estou mais do que acostumado em lidar com partidas... – Steve sorria mais uma vez, tentando parecer forte.

Sam arqueava uma sobrancelha, achando tudo muito estranho.

— Ela ao menos explicou o porquê?

— Não... ela me deixou um bilhete... e depois foi embora...

— A Sharon não ressurgiu das cinzas pra estragar tudo de novo, certo...?

— Nunca mais falei com a Sharon desde que eu e a Mary nos acertamos...

— E será que isso tem a ver com as habilidades sombrias que ela carrega por causa da radiação do Tesseract? A Mary sempre foge quando vê coisas estranhas...

— Provavelmente, mas ela se recusou a me dizer... – Steve não podia simplesmente dizer a Sam sobre as circunstâncias reais.

— E quando vai atrás dela...?

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— Eu não vou...

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— Você tá falando sério!? Vai deixar tudo por isso mesmo!?

— Eu sempre corri atrás da Mary... mas no final, ela sempre foge... – O Super Soldado confessava, mentalmente desgastado.

— Mas... você vai conseguir suportar...?

— Pra quem mergulhou de cabeça numa relação assim, cair em mar aberto talvez não seja tão difícil...

— Eu não estou acreditando no que estou ouvindo! O corajoso e ilustre Capitão América está desistindo de vez!? – O Falcão o contestava, completamente desacreditado.

— Pode parecer estranho isso, mas acho que é o melhor. Nunca fui do tipo de obrigar ninguém a nada... sei que vai doer, mas é necessário.

Sam o encarava com muita atenção, tentando entender a mente do Super Soldado, e então o Falcão começava a sorrir, notando o quanto Steve Rogers era humano... percebendo o quanto aquela imagem imponente do maior herói do país era algo em que as pessoas só conseguiam vislumbrar quando o mesmo estava diante do perigo, e de preferência na linha de frente de uma guerra.

— Entendo... os fortes também desistem, certo...? – O aviador o indagava, mostrando total sensibilidade, e o loiro sorria, aliviado por constatar que Sam Wilson tinha tanta facilidade em compreendê-lo tão bem.

— Se eu te disser que chorei na noite anterior, você vai rir de mim...? – O Capitão fazia piada de si mesmo, se sentindo completamente à vontade em expor suas fraquezas na frente do Falcão.

— Não vou rir, porque está tudo bem chorar. Sentimentos ruins não combinam com corações puros... – Sam desferia um leve soco no ombro do Super Soldado, mostrando que entendia o que ele estava passando.

— Esses dias eu aprendi da pior forma, que não devemos criar expectativas para preencher o que continuará vazio, e que eu deveria ouvir as minhas cicatrizes, porque talvez só elas saibam o segredo da cura...

— Uau... profundo... você está muito filósofo hoje, senhor Rogers. Mas quanto tempo vai durar essa depressão pós término de namoro, hein?

— Não sei... estou passando por aqueles dias que parecem durar séculos... principalmente quando minha existência já é tão pesada... – A sensação que o loiro tinha, era de que o tempo se arrastava e o levava com ele de mãos dadas... que o tempo passava e apenas mudava a dor de lugar, não importava onde... o tempo sempre iria lhe fazer lembrar do corte, da ferida e das cicatrizes...

Sam assobiava, achando aquelas palavras muito desanimadoras e um tanto funestas.

— É meio estranho ver o Capitão América na fossa...

— Você não vai encontrar isso nos livros... – Steve voltava a sorrir, de forma melancólica e combalida.

— Olha, porque você não tira uns dias de folga? Às vezes, se desconectar de tudo é uma boa forma de reencontrar consigo mesmo. – O Falcão sugeria e o Super Soldado aceitava muito bem a ideia.

— Acho que tem razão. Talvez eu deva dar um tempo de tudo isso...

— Posso te fazer uma última pergunta, Cap...?

— Claro...

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— Você e a Mary... realmente não tem mais jeito...? – O aviador o questionava, porque ainda não conseguia acreditar que os dois não poderiam fazer tudo aquilo funcionar mais uma vez...

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— Eu prefiro pensar que sim... ainda que a minha mente diga que talvez eu e ela poderíamos nos esbarrar de novo, termos sorte ou quem sabe criarmos coragem de propiciar uma daquelas coincidências onde podíamos fingir que tudo foi sem querer e que estávamos errados... não vou mentir que tenho desejado isso mais do que tudo, mas não quero me iludir... prefiro aceitar a derrota...

Sam ficava triste por eles e desejava que os dois pudessem se acertar um dia, mas por ora, tentaria animar seu amigo, afinal, não era fácil lidar com um término.

— Com tantas estrelas no céu, você tinha que se apaixonar justo por uma estrela cadente? – O Falcão sorria, tentando animá-lo, e Steve sorria mais uma vez, se recordando do quão feliz e realizado era ao lado de Mary Crystal.

— Acho que sou um azarado no amor... isso nunca foi pra mim...

— Bem-vindo ao clube dos azarados no amor, Cap!

— Fico feliz por não ser o único... – O Capitão exibia um sorriso mais largo, vendo o quanto Sam estava disposto a encorajá-lo a seguir em frente, ainda que fosse quase impossível.

E então, enquanto os dois voltavam a sorrir um para o outro, uma pessoa repentinamente entrava na cafeteria, correndo, parando no meio do caminho em seguida, ofegante e um tanto desesperada.

Quando Sam olhou para trás, incomodado com o barulho, seus olhos arregalaram de imediato ao reconhecer a figura parada na porta...

— Mas o quê...? – O Falcão balbuciava, achando completamente estranho a presença dela ali...

A garota então avistou Sam e Steve sentados na mesa no fundo da cafeteria, ao lado da parede de vidro e correu rapidamente na direção dos dois...

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— Eu sabia que você estaria aqui, Sam!!! — Amber Rachel, a melhor amiga de Mary Crystal apontava para o Falcão, deixando claro que parecia estar ali por causa dele.

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— Ela não é a amiga da Mary...? – O Capitão cochichava com o aviador, que não entendia a presença da garota ali.

— O que você tá fazendo aqui, Amber!? – Sam a questionava, completamente assustado.

— Ok... eu te segui até Nova York porque sabia que você encontraria com o Capitão América, então resolvi bancar a intrometida e vim falar com ele, agora chega pra lá e me dá espaço nesse banco! – A garota empurrava o aviador para o canto com força, deixando claro que o motivo de sua presença ali, era por causa de Steve.

— Falar comigo...? Espere... aconteceu alguma coisa com a Mary...!? – O loiro arregalava os olhos, esperando ouvir alguma notícia ruim sobre a Segundo-Tenente.

— Eu é que pergunto! Eu vim aqui para saber se você teve algum contato com a Kiara nos últimos dias! Eu estou muito preocupada com minha amiga! Ela não retorna as minhas ligações!

— Não, eu e a Mary não nos falamos há um tempo... – Steve tentava camuflar o semblante melancólico, mas era impossível não perceber.

— É sério!? Nem você tem tido notícias dela!?

— Aconteceu alguma coisa, senhorita...? A Mary não tinha viajado para a Itália...? – Steve a contestava calmamente, e Amber revirava os olhos, massageando as têmporas, impaciente.

— Vou tentar ser direta, Capitão Rogers: a Mary voltou para a Sicília há algumas semanas, mas o Diretor Fury a levou para a estação espacial da S.W.O.R.D. dias atrás e desde então, ela parou de responder minhas mensagens e não consigo mais ligar para ela! Estou preocupada que algo tenha acontecido, mas não tenho acesso a SHIELD, então pensei que pudesse me ajudar a chegar neles.

O Super Soldado franzia o cenho, não entendendo. Mary estava com Fury?

— O Diretor Fury não tem aparecido a algum tempo na base de Manhattan porque disse que estaria numa missão secreta. Nem mesmo seus agentes mais próximos sabem onde ele está.

— Ele está na estação espacial da S.W.O.R.D. e estou preocupada! A Kiara está estranha a algum tempo e eu não sei o que está acontecendo! Ela se recusou a me dizer!!! – Amber parecia desesperada, e Steve constatava que nem mesmo a aviadora sabia sobre a situação da Segundo-Tenente.

— Bem... eu posso entrar em contato com a agente Maria Hill e perguntar quando o Diretor vai acabar o seu trabalho nessa missão... – O loiro exibia um aspecto tranquilo na frente de Sam e Amber, mas por dentro, começava a ficar apreensivo.

O que Mary estava fazendo nessa tal estação espacial? E por quê Fury estava com ela?

— Céus... se nem o namorado tem notícias dela, então significa que a coisa está mais estranha e tenebrosa do que eu imaginava...! – A piloto abaixava a cabeça, suspirando derrotada.

— Então, Amber... o Capitão agora é o ex-namorado da fadinha, sacou...? – Sam revelava, deixando-a chocada.

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— O QUÊ!? VOCÊS TERMINARAM!!? – A garota soltava um grito no meio da cafeteria, perplexa por não saber sobre aquele fato importante.

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— A Mary não te disse nada...? – O Falcão a indagava, perplexo.

— Não... ela está muito distante de mim ultimamente... mas que droga! Eu tirei alguns dias de licença pra investigar o que estava acontecendo e agora me deparo com tudo isso!? – Amber começava a se descabelar, apoiando os braços e a cabeça na mesa.

— Ela te disse que estava na estação da S.W.O.R.D., certo? Ao menos explicou o porquê? – Sam voltava a questionar a garota que por sua expressão, parecia também não ter respostas.

— Ela só disse que ia resolver um grande problema. Não me disse mais nada...

— Uau... a fadinha deixou todo mundo no escuro então... – O Falcão assobiava, impressionado em como Mary conseguia sempre agir misteriosamente.

— Eu estava feliz por ela, sabe...? Toda vez que nos falávamos ao telefone, a Kiara sempre estava radiante por causa do seu namoro com o Capitão América... dizia pra mim que ia casar com ele, que os dois iriam formar uma família... e eu estava tão alegre por ver finalmente a minha amiga se comportar como uma pessoa normal, e não como uma gângster aos moldes da máfia siciliana... – Amber confessava, choramingando, com a cabeça entre os braços por cima da mesa.

— Profundo... os tempos sombrios da Mary em Colorado Springs eram de dar medo... – Sam se recordava da rotina da loirinha, quando a mesma se comportava como uma bruxa má na Força Aérea.

Steve, que se mantinha calado e sério, apenas se sentia ainda mais abatido por ouvir o que Amber dizia... seu último mês com Mary Crystal, foi o mais feliz de toda a sua vida...

— Eu achei que depois de tudo o que a Mary passou na infância, ela finalmente havia se encontrado... mas vejo que me enganei... – A piloto proferia tais palavras sobre o passado de Mary Crystal, deixando Steve ainda mais curioso sobre essa época, afinal, a loira sempre fugia de dizer a ele sobre os detalhes de sua infância.

— Senhorita... posso fazer uma pergunta...?

Amber levantava o rosto, o fitando com precisão.

— Claro... pergunte...

— Como foi... a infância da Mary Crystal...? Ela sempre desconversava quando a questionava...

— A infância dela...? Bem, digamos que você esteve muito presente na vida da Mary nessa época.

— Eu...?

— Sim, porque você era o herói dela! Até hoje a Mary mantém tudo o que colecionava sobre você! Está tudo guardado em um dos quartos da mansão do seu falecido avô lá na Sicília. Ela dizia que aquele lugar era o seu maior tesouro.

O Capitão notava seus batimentos acelerarem repentinamente... não era fácil ouvir todas aquelas palavras e não se sentir emotivo...

— Que tipo de coisas a Mary colecionava sobre mim...?

— Ah, uma pilha de coisas! Quadrinhos, pôsteres, livros, roupas, camisetas com estampas, réplicas do escudo com a estrela, bonecos, revistas... ela tinha recortes de jornais dos anos 40, gravações em noticiários antigos descrevendo suas apresentações no teatro europeu e todas as edições da série do Capitão América, começando com a primeira versão de 1943, os cartazes usados na turnê com a USO, alguns clipes gravados em fitas VHS, toda a trilha sonora... ela guardou tudo. O seu falecido avô a ajudava a achar relíquias. Ela tem uma coleção de bonecos dos anos 50 que ele comprou por mais de dez mil euros na época. É original!

— Nossa, mas nem o meu pai quando era fã do Michael Jackson chegou a esse nível de idolatria! A Mary não era uma fã qualquer então... – Sam fazia uma piada, observando os olhos quase arregalados de Steve em saber que a Segundo-Tenente era realmente uma grande fã...

O Super Soldado suspirava, pesadamente... tentando recuperar o fôlego... não era fácil ouvir tudo aquilo e não se sentir ainda mais apaixonado por ela... ele sequer tinha ideia sobre o quanto Mary o admirava no passado...

— E por que exatamente ela era minha fã...? O que a fez se interessar pela minha história...?

— Eu não sei quando ela começou com isso, o que eu sei, é que a Kiara via em você uma fonte de inspiração, pelo simples fato de ela também ter passado por problemas de saúde... acho que esse foi o motivo principal.

— Ela sofria tanto assim...? – O loiro a contestava, num tom de voz calmo, porém melancólico.

— Ela não conseguia fazer nada direito... os valentões zombavam dela e a jogavam no chão, as meninas a menosprezavam e ela não tinha amigos. Depois que a Mary absorveu a radiação do Tesseract e acordou do coma, ela resolveu fazer tudo o que podia e não podia, e voltou pra escola como se nada tivesse acontecido.

— E ela se vingou de seus desafetos? - Steve perguntava, muito curioso, porque a loirinha parecia ter um perfil vingativo.

— Não... acho que você não conhece a Kiara de verdade... ela se deixou ser humilhada como sempre, mas... teve um dia que não conseguiu. – Amber esclarecia, deixando-o ainda mais confuso.

— Por quê?

— Porque alguns idiotas estavam batendo num menino ranzinza, espancando-o num beco e ela interviu. A Mary bateu em todos os meninos e desde então, passaram a temê-la e a verem como uma aberração.

— Aberração?

— Sim... imagine que um dia você é doente, e meses depois, aparece saudável, forte e destemida? Todos passaram a teme-la e ignorá-la na escola... a Mary pode parecer uma pessoa de muitos amigos e popular, mas não é verdade. Ela nunca se importou com popularidade, títulos ou aparência, mas aí o pai dela foi eleito presidente e as coisas tiveram que mudar... ela se continha em muitas situações, só para não prejudicar a imagem do pai.

— Isso é... impressionante... – O Super Soldado alegava, um pouco perplexo por conhecer sobre o passado e o lado oculto que Kiara fazia questão de não expor.

Ele e ela tiveram as mesmas experiências no passado... a Segundo-Tenente foi humilhada e oprimida por pessoas mais fortes... assim como ele foi um dia...

— E então, quando a Kiara se recuperou, ela resolveu treinar. O avô dela a submeteu a todos os tipos de treinos intensos, e assim foi por 6 anos seguidos.

— E depois...?

— Ela entrou pra faculdade, se alistou e diminuiu o treinamento pela metade do tempo, mas nunca deixou de treinar.

— Isso explica porque ela é muito forte...

— Sim... a Mary é uma pessoa incrível... um pouco complicada e péssima em explicar o que sente, mas alguém incrível... tenho muito orgulho de ser amiga dela... – Amber sorria, olhando para cima, se recordando das missões que as duas faziam juntas na Força Aérea.

— A fadinha realmente é dez... mas precisa aprender a parar de fugir de tudo e todos... – Sam reforçava, deixando claro que também admirava a Segundo-Tenente, apesar de seus defeitos.

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— Ela não é perfeita, mas ainda assim, é uma pessoa incrível e me desculpe pelo que vou dizer, Capitão, mas o homem perfeito para ela, tem que ser digno de levantar o mjolnir... como o deus nórdico do trovão...

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Amber finalizava, com um sorriso pleno no rosto.

— O Thor?

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— Sim... a Kiara não é uma mulher que merece qualquer um, então, esse cara, definitivamente tem que ser digno...

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A piloto continuava sorrindo, olhando atentamente nos olhos do Capitão América, e Steve sabia que Amber deixava claro que estava se referindo a ele... provavelmente porque a mesma sabia que o Capitão América do futuro, levantou o martelo do deus do trovão...

Steve Rogers era o único homem digno para Mary Crystal...

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Longe dali, na estação espacial da S.W.O.R.D., Mary Crystal observava o céu escuro e repleto de estrelas...

Ela, Fury e os demais agentes aguardavam o retorno de Carol Danvers do planeta Hala. A Capitã Marvel havia decidido ir atrás de Ronan e prometido a Segundo-Tenente que reverteria seu futuro trágico. Não só porque a vida dela dependia disso, mas a vida de outros bilhões de Xandarianos, por conta da guerra do Império Kree contra Xandar.

A loira fitava o céu e sua infinita mistura de cores cósmicas... cada detalhe...

As horas iam passando, sem que ela pudesse notar...

Ao olhar para o outro lado e observar o formato do planeta terra, Kiara fechava seus olhos e imediatamente o rosto de Steve invadia seus pensamentos...

Não adiantava fugir, negar, se distrair, e esquecer por uma hora ou duas... era impossível dizer que ele ainda não vivia nela...

Mary fugiu do mundo à sua volta, apenas para não ter tempo de pensar nele... e não deixar transparecer a sua dor...

A garota se sentia como uma ruína e tinha medo de desmoronar de vez e soterrar todos os sentimentos sobre quem se atreveu a chegar tão perto dela...

Steve...

E naquele exato instante, sem saber se seria salva ou se morreria, ela procurava por alguma saída de emergência de seu próprio ser...

Horas atrás, a Segundo-Tenente chorou como uma criança... não adiantava, mas aliviava... tirava um pouco do peso que sua alma carregava...

Tinha dias que desejava sumir de si mesma... de deitar e dormir por um ano ou dois... mas o rosto de Steve sempre ocupava sua mente... e ela conseguia sentir a lembrança dos dedos dele em sua nuca... porque as saudades era a canção que seu corpo compunha, lembrando do toque dele em sua pele...

Mary Crystal apenas queria queimar aquelas saudades que tanto ardia... mas era difícil...

Sua alma anoitecia, sempre que se recordava da vez em que se despediu da luz do olhar de Steve... sim, porque olhar para ele era como o fim de uma guerra... o fim da espera... o fim da dor...

Estava cansada de borrar sua maquiagem e encharcar o travesseiro de tanto chorar, navegando nas doces memórias ao lado do Super Soldado, numa espécie de devaneio...

Ela se foi, mas as digitais dele ficaram... as marcas do Capitão ainda estavam ali... impregnadas nela... e entre soluços e suspiros, o nome dele...

Em silêncio, as estrelas ao redor pareciam desenhar o caminho que os dedos do loiro fizeram em seu pescoço... em todas as vezes que ele a abraçou...

Sua memória viajava... se recordando das mãos do Capitão deslizando por seu corpo...

Kiara ansiava estar com o Super Soldado naquele momento... o abraçando...

Queria abraça-lo para sempre, e mesmo assim, sabia que não seria suficiente...

Sentia falta do calor de todos os beijos que compartilharam... de dar carinho a ele, e daquele sorriso maravilhoso... não existia coisa mais perfeita em todo o universo do que o sorriso de Steve Rogers...

Tinha vontade de senti-lo... tocá-lo... beijá-lo... vontade de colar seus lábios nos dele, de misturar a respiração dele com a sua... vontade de percorrer cada pedaço do corpo do Super Soldado, como se fosse a primeira vez...

E por mais que tentasse fugir das lembranças de sua voz, de seu riso, de seus olhos nos tons de azul mais perfeitos, Kiara sabia que Steve fazia parte dela... ele se espalhou por todo o seu ser, mais do que deveria... mais do que ela esperava...

A garota ouvia um barulho agudo, como se o som viesse do lado de fora...

E se o zumbido que ouvia, fosse uma música diretamente das estrelas, sussurrada urgentemente para ela... dizendo que se tudo desse certo, devesse retornar para ele...? Voltar correndo para os braços de Steve e implorar de joelhos para que ele aceitasse de novo...?

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Se Carol retornasse com boas notícias, Kiara poderia recomeçar... porque talvez aquela fosse sua última chance de fazer as coisas darem certo...

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