Alix não dormiu naquela noite. Mas não porque estava se lamentando, ou com medo de ter pesadelos com o que estaria por vir, mas sim porque as palavras de Bunnix-Prime entraram em sua mente e ela sabia que se era uma Guardiã do Tempo, não podia ficar parada olhando tudo desmoronar – assim como ela não tinha ficado parada da última vez. Ela precisava fazer alguma coisa, mesmo que em breve, estivesse sem o seu Miraculous.

Então, Alix ficou a noite toda estudando planos, estratégias e possibilidades com as informações limitadas que Bunnix-Prime tinha dado a ela. Decidiu fazer isso sem voltar ou avançar no tempo, pois não queria – e não podia – tornar a bagunça ainda maior.

A garota parou de escrever no papel, fazendo um pequeno intervalo quando o sol estava nascendo e encarou o kwami dormindo. Só de pensar que teria que desistir dele, já se sentia triste e sozinha.

De qualquer maneira, tinha que fazer o que era certo. Segundo as informações que tinha, eles de fato deveriam enfrentar Hawk Moth sem os Miraculous, então, tudo seguiria o seu curso. E bem... De acordo com o curso certo, alguém morreria.

***

Marinette acordou extremamente cedo naquele dia, talvez porque mal tenha dormido. O nervosismo a consumia e as palavras que tinha falado na noite anterior, se despedindo de Tikki e Plagg, ainda estavam na sua mente. Não era fácil devolver os Miraculous, porque não se tratava somente das joias e dos poderes, mas sim dos kwamis.

Aquele não era o fim, ela tinha certeza que veria os kwamis de novo. Mas mesmo assim se sentia horrível em "desistir" deles e imaginava que seu namorado não estava tão diferente dela.

Aliás, Adrien também tinha outras preocupações bem maiores, como o fato de sua mãe ser Hawk Moth e de seu pai estar em um coma praticamente irreversível. E mesmo com o coração quebrado, Adrien ajudou Marinette a elaborar um plano durante boa parte da noite. Ela não tinha dúvidas de que seu namorado era de fato um herói.

Marinette beijou levemente a testa do amado, que estava adormecido na cama dela. Em breve ela teria que acorda-lo para que ele voltasse para casa – antes que sua mãe ou Nathalie percebessem sua ausência. Mas por enquanto, ainda tinha um pouco de tempo.

A garota levantou-se, se enrolou em um cobertor e decidiu ficar alguns minutos no terraço, pensando em tudo que viria a acontecer.

Um barulho em suas costas chamou sua atenção e ela virou-se rapidamente, em posição de defesa.

— Bunnix? Aconteceu alguma coisa? – questionou relaxando a postura e estranhando o horário da visita.

— Sim, Marinette. Precisamos conversar.

— Vou chamar o Adrien.

— Não! – Alix a segurou, antes que ela entrasse – Meu assunto é apenas com você. – Marinette suspirou.

— Não é uma boa ideia guardar segredos da equipe, Alix.

— Acredite, será melhor assim. – Marinette não gostou do tom da amiga, era sério demais, angustiado demais. – Algo terrível vai acontecer hoje, quando enfrentarmos Hawk Moth e...

— Você não viajou para o futuro de novo, viajou?

— Não, eu não fiz nada. – Marinette ainda parecia relutante, mas Alix não a culpava por isso. Sendo a líder da equipe ela já tinha tanto com que se preocupar, o peso das decisões estava todo sobre ela – Eu prometo que vou explicar tudo. Preciso de ajuda para preservar a integridade da linha do tempo e evitar uma tragédia, não há ninguém melhor do que você para me ajudar nisso.

— Preservar a integridade da linha do tempo? Evitar uma tragédia? Que tragédia?

— A morte. – Marinette ficou em silêncio – A sua morte.

***

Emilie fitava a câmera com marido dentro. Sua persistência era sua maior virtude, traria Gabriel de volta, nem que fosse a última coisa que fizesse. No entanto a sua paciência estava se esgotando. Ela precisava jogar alto de novo.

Nathalie parou atrás dela. Não gostava que a secretária entrasse ali, mas dessa vez tinha sido ordem sua.

— Mandou me chamar?

— Sim, Nathalie. – ainda sem virar na direção de Nathalie, ela estendeu o Miraculous do pavão. – Prepare-se. Precisamos da Mayura hoje.

— Tem certeza? – disse, pegando o broche. A mulher loira assentiu. – Vou cuidar de tudo e encontro a senhora lá em cima quando estiver pronta.

— Excelente. – assentiu e Nathalie saiu. Emilie continuou ali refletindo por algum tempo e depois colocou uma rosa vermelha sobre a câmara onde o seu marido estava – Em breve estaremos juntos, meu amor. Vejo você logo. – depositou um beijo sobre o vidro e virou as costas, saindo dali e indo até o pequeno elevador – Algo me diz que o dia de hoje será promissor.

***

— Aprendemos do pior jeito que não se deve mexer com a morte. – Bunnix disse, depois da longa explicação sobre o futuro que viu na toca. Ela e Ladybug conversavam em um telhado afastado da casa da heroína, caso Adrien acordasse – Mas nesse caso... A Ladybug não pode morrer, isso vai tirar a esperança das pessoas. O mundo vai mudar, pra pior.

— A Ladybug vai ter que morrer um dia. – foi a primeira coisa que ela falou, depois de ouvir tudo o que Bunnix tinha a dizer. – Não posso viver para sempre.

— Eu sei. Ninguém pode. – Marinette não sabia o que pensar. Não é todo dia que alguém chega com a previsão da sua morte. – Mas você não poderia morrer agora. A sua morte vai afetar a cidade, o país... Todos nós.

— Talvez... Isso tenha que acontecer. – Alix encarou a amiga com uma expressão séria, sabia que Marinette estava se esforçando para tratar tudo da maneira mais natural possível.

— Marinette...

— E o que você sugere que a gente faça? Mudar mais alguma coisa? Isso já não trouxe confusão demais? Dor demais? – Marinette não queria morrer, de fato. Mas o que poderia fazer? Voltar no tempo de novo não era uma opção, logo para ela, que defendia o fato de não haverem mais mudanças na linha do tempo.

— Eu entendo, mas... Eu juro com a minha vida que vou fazer o possível e o impossível para não alterar a linha do tempo e ainda sim salvar você. Mas eu já adianto que isso está além de mim. Não sei até onde posso interferir. – Marinette assentiu.

— Não se preocupe. Eu não pediria isso a você. Faça o que tiver que fazer.

***

Os Miraculous foram entregues a Mestre Fu e colocados dentro da caixa. A partir daquele momento, a equipe sabia que iria enfrentar seu maior desafio, sem seus companheiros kwamis, ou seus poderes e habilidades concedidos por eles.

— É isso. – disse Marinette depois de um longo suspiro. Tinha dito para si mesma na noite anterior, que aquele não era o fim e que veria os kwamis de novo em breve, no entanto, depois da conversa que teve com Alix, já não tinha mais certeza disso. – Obrigada por tudo, Mestre.

— Tenho certeza de que isso não é um adeus, Ladybug. – a garota retribuiu o sorriso confiante de Mestre Fu.

— Como pode ter certeza disso? – questionou em tom de brincadeira. O velho chinês sorriu.

— Por mais que as coisas sejam diferentes nesta linha do tempo, com ou sem o Miraculous, posso sentir que você tem a alma da Ladybug, minha jovem. E a Ladybug é eterna. – Marinette abraçou Fu, antes que começasse a chorar como um bebê. O guardião não entendeu o ato repentino, porém retribuiu o gesto.

— Adeus... Digo, até logo, Mestre.

— Até, Marinette. E acredito que você não precise disso, mas mesmo assim, a desejo boa sorte.