Girassol escrita por they call me hell


Capítulo 19
Girassol


Notas iniciais do capítulo

Cá estamos, enfim, com o último capítulo! Foi muito divertido reescrever essa história (que originalmente tinha cerca de seis capítulos apenas) e saber que vocês gostaram. Ainda postarei outros três capítulos bônus, mas esses são mais curtos e já não desenvolvem mais a história, apenas acrescentando alguns acontecimentos posteriores.

Obrigada por terem acompanhado até aqui! Espero publicar outras Fremiones em breve, mas, até lá, considere dar uma chance às minhas outras histórias. "Listen" é sobre o meu shipp preferido - Drastoria - e "A Garota das Poções" é uma Krumione que se passa em um universo alternativo que também gosto muito. Até mais! :)



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— 19 —

 

Quando chegamos perto da metade do mês, Fred e eu comemos um pedaço de bolo que trouxemos da nossa última ida à Toca, onde levamos meus pais para ver Molly e Arthur, e ele logo me apressa para sairmos. Troco de roupa curiosa e deixamos minha casa para caminhar um pouco, o que está começando a virar uma rotina. Por mais que não goste muito de caminhar, ele torna isso divertido e a visão das casas e lojas ao redor do Beco é muito bonita.

Ele venda meus olhos quando viramos a segunda esquina e mesmo com meus protestos, pede para que eu seja paciente. Quando paramos, ouço uma porta se abrir e ele me conduz para dentro, parando atrás de mim e tirando a venda. Abro os olhos e fico confusa.

— É para você — ele diz. — Agora que não está mais trabalhando no Ministério, pode fazer o que gosta.

Estamos na casa de chá que visitamos uma vez. Não acredito que ele fez isso e estou pronta para protestar quando ele se adianta:

— George e eu vínhamos aqui sempre e a dona ia fechar porque já estava cansada depois de tantos anos, eu te disse — ele me puxa para ver os balcões e a cozinha nos fundos. — Depois que conversamos aquele dia sobre a ideia de você ter a sua própria loja, achei que gostaria disso. Ela ficou feliz em vender e eu em comprar, então fique feliz em receber.

Olho ao redor ainda sem acreditar.

— Você pode fazer o que quiser, é seu.

Eu o abraço apertado, profundamente emocionada.

— Obrigada, Fred. Muito obrigada.

— Não precisa agradecer, mas, se quiser, pode me dar um suprimento vitalício de biscoitos.

— Combinado.

Eu nunca pensei em ter uma loja de verdade, apenas hipoteticamente, mas algo me diz que será bom fazer algo novo para recomeçar, sem precisar me cobrar demais e me provar para os outros.

Vejo os utensílios na cozinha, o balcão, e choro de alegria. É tudo muito bonito.

— Tem mais uma coisa para ver, acho que vai gostar.

Ele abre uma porta atrás do balcão e me guia pelas escadas. Há uma porta que, ao se abrir, revela um pequeno apartamento, muito parecido com o que existe em cima da Gemialidades. É perfeito.

— Assim você continua perto de Gina e da loja.

— É incrível, Fred. Eu estou sem palavras.

Ele ri, satisfeito.

— Pode ser em beijos.

Não penso duas vezes, selando meus lábios nos seus. Ele me abraça e me tira do chão enquanto rimos. Fechamos tudo e voltamos para a minha casa, onde Gina e Harry nos esperam.

— Vocês sabiam disso o tempo todo?

— Fred nos contou ontem — ela diz, eufórica. — Vamos pintar as paredes e decorar, ficará perfeito!

Não consigo brigar com eles por me esconderem isso, então concordo, tão animada quanto. Eles nos ajudam a empacotar as coisas e levá-las para a minha nova loja. Ao ver a casa vazia no final do dia, a agradeço mentalmente por ter me acolhido nesses meses.

Transportamos tudo sem problemas, utilizando nossas varinhas e um carrinho que Fred usa na loja para carregar caixas. Eles me ajudam a montar as coisas novamente e à noite saímos para comemorar, mas escolhemos um local diferente do usual. Os levo ao mesmo bar que levei Fred na parte trouxa da cidade e há uma banda tocando, então nos misturamos com a multidão e o barulho. É um dos melhores, senão o melhor, dia da minha vida.

Fred e Gina dão risada das roupas de alguns trouxas excêntricos e dançamos entre um copo e outro durante a noite. Quando vamos embora estou cansada, mas não me arrependo.

Fred fica comigo no novo apartamento e passamos a noite debatendo ideias para a loja. Ele é bom nisso, então anoto suas dicas sobre gestão, mas ele deixa claro que todo o resto deve ser de acordo com o meu gosto.

— Você acha que as pessoas virão comer meus doces? — questiono preocupada.

— Seriam loucas se não viessem, são deliciosos.

— Você diz isso porque estamos juntos.

Ele rola os olhos.

— Hermione, não existe nada que você decida fazer e não consiga. Se você decidir que essa loja será um sucesso, vai fazer isso. Eu sei que vai. O que você não pode é ter medo de tentar.

Concordo com um aceno, sabendo que ele tem razão.

— Você tem um ponto.

No dia seguinte, Fred e eu compramos tinta e pincel, e pintamos as paredes. Luna, que é uma ótima desenhista e faz as ilustrações d'O Pasquim, concorda em fazer os desenhos nas paredes. Ela também escreve o menu em giz numa grande lousa que fica atrás do balcão. Fica maravilhoso. Ela diz que assim que eu decidir o nome fará uma indicação no tablóide.

Com as paredes prontas, nos dias seguintes colocamos as luzes, as mesas e cadeiras, e as toalhas. Fred me ajuda a envernizar as colunas de madeira que sustentam o teto e o balcão.

Do lado de fora nós limpamos os vidros, colocamos terra nas floreiras e plantamos as flores. Por fim, uma grande placa é pendurada em cima da porta. Quando terminamos tudo, depois de alguns dias, me sinto radiante. Decido que a inauguração será no começo da próxima semana.

Na segunda-feira, desço as escadas às três da tarde depois de um longo banho e confiro se tudo está em ordem. Fred deixa que Verity, que retornou da licença-maternidade, me ajude por uns dias até que eu contrate alguém. Ela verifica comigo se tudo está de acordo e ao concluirmos que sim, eu abro as portas.

Nas repartições de vidro abaixo do balcão estão alguns pedaços de bolo, tortas doces e salgadas, algumas sobremesas bruxas e varinhas de alcaçuz que sei que Molly ama e planejo levar para ela no fim do dia. Vou até a fachada e coloco um pequeno cavalete de madeira com uma lousa onde anuncio que estamos abertos.

Não demora muito para que Fred e George cheguem. Angelina está com eles e escolhem uma mesa, me parabenizando quando me aproximo.

— Logo estará cheio — Fred diz, se levantando e me dando um beijo.

— Provavelmente seremos apenas nós, Gina e Harry, mas estou feliz mesmo assim.

Ele ri e George ameaça dizer algo, mas seu gêmeo o corta fazendo uma piada. Ele verifica seu relógio de pulso e me pede para ajudá-lo com uma coisa, acenando para Verity que chega para anotar os pedidos.

Acompanho Fred até o andar de cima, onde entramos no meu apartamento. Ele tira do bolso do casaco uma moldura com a foto da virada do ano e a coloca em cima da minha mesa de centro.

— Ficou ótima — digo, o beijando outra vez.

— Eu achei que você fosse gostar da surpresa.

O agradeço por ela e a pego em minhas mãos, olhando melhor. Tudo tem sido tão feliz nos últimos dias que sinto como se pudesse flutuar.

— Gina me disse que vocês combinaram uma viagem para o Egito.

Dou risada, me lembrando melhor.

— Ela disse que Carlinhos está trabalhando lá e que já fazem anos desdeque foi pela última vez. Achei uma boa ideia.

— Então iremos visitar Carlinhos no Egito.

Gosto da forma como Fred não precisa pensar muito sobre as coisas. É o meu completo oposto nesse quesito.

— Agora vamos, temos clientes para atender.

Quando o sigo descendo as escadas, paro atrás do balcão e vejo que todas as mesas estão ocupadas. Seus irmãos vieram, bem como seus cunhados, seus pais e meus pais. Luna está com o namorado em uma mesa junto com Neville e uma garota. Bertie, que foi meu primeiro supervisor no Ministério, acena de outra mesa onde está sentado com sua esposa. Há também pessoas que nunca vi antes e que suponho que vieram através do anúncio n'O Pasquim.

Meus olhos enchem de lágrimas e Fred me abraça.

— Todos vieram te apoiar hoje.

Seguro o choro da melhor maneira e ele me leva até a enorme mesa onde está a sua família e meus pais.

— Ficou tudo lindo, querida. Os girassóis pintados nas paredes, o letreiro, as floreiras abaixo das vitrines... São minhas flores preferidas, significam que queremos ter alguém conosco.

Eu dou meu melhor sorriso, emocionada.

— Harry me disse que significavam que queríamos ver alguém feliz.

Ele dá um sorriso amarelo e aproveita que nosso melhor amigo está distraído com a namorada.

— Eu disse isso para que Ron não surtasse quando Fred te mandou um girassol no Ministério.

Olho para Fred entendendo que, por mais que tenha negado várias vezes, ele quis me conquistar desde a primeira vez em que o beijei por brincadeira. Aquele beijo também me causou algo, não posso mentir.

— Era para ser — ele diz, balançando os ombros.

— Posso dizer o mesmo.

Ele me acompanha enquanto cumprimento cada uma das pessoas que vieram e depois se junta aos irmãos para que eu ajude Verity com os pedidos que faltam. São muitas xícaras de chá e copos de suco além dos doces, e todos parecem gostar.

— Fiquei sabendo sobre o que aconteceu e não podia deixar de vir — Bertie me diz quando entrego seu pedido. — Seus amigos me contaram sobre a inauguração. Fico feliz em ver que você está indo tão bem.

Ele me apresenta sua esposa, uma senhora adorável.

— Vamos começar nossa viagem em breve, mas quando voltarmos vou querer comer mais um pedaço desse — ele ri, me fazendo rir também.

— Fico feliz por vocês também, será uma grande viagem.

Os deixo comer e quando paro ao lado de Fred vejo uma figura conhecida parar diante da porta. Ela ergue os olhos, lê o letreiro e entra. Um nó se forma na minha garganta enquanto a vejo se aproximar.

— É um bom lugar, Granger.

— Obrigada, Calliope.

Ela sorri para mim, se apoiando no balcão de madeira.

— Eu apenas vim dizer que você tinha razão — ela suspira e agora que já superei isso, não tenho mais mágoas. — O orgulho da vida do meu pai era aquele projeto e eu levei isso de forma pessoal, queria mostrar para ele antes que partisse que seus esforços não foram em vão. Eu não deveria ter feito isso.

Ouvir isso antes teria me deixado satisfeita, mas agora apenas me sinto mal por Calliope e pelo que eu disse naquele dia. Não posso julgá-la, pois também passei por cima de muitas regras pelos meus pais. Ainda assim, me sinto grata.

— Tenho certeza de que ele já sente muito orgulho por saber que você segue os passos dele.

Ela acena positivamente.

— Eu imagino que não seja mais do seu interesse, mas as portas do DDM estão abertas para você — ela diz, sorrindo para mim. — Boa sorte, Granger.

Eu a vejo partir com um sorriso no rosto e me sinto aliviada. É como se tivesse encerrado um ciclo que precisava ter fim. Agora posso ter um novo começo de verdade.

Quando fecho a loja no final do dia e organizo tudo, meus pés doem de ficar andando como uma louca por todo o salão.

— Hoje foi a inauguração, mas no dia-a-dia será mais tranquilo. Você vai se acostumar.

Olho para Fred como quem mal pode esperar por isso. Ele pega um dos meus pés e o leva até seu colo, massageando levemente. Conto para ele o que Calliope me disse e ele me olha com curiosidade.

— E o que você respondeu?

— Que estava grata, mas não pensava mais nisso. Me sinto feliz com a loja.

Ele sorri para mim, orgulhoso de que eu tenha deixado isso para trás e não me sinta mais tão mal.

— Prefiro fazer algo que eu amo e posso compartilhar com você e com as outras pessoas, do que fazer coisas incríveis, mas esconder isso do mundo.

— A curiosidade me mataria.

O vejo levar o dorso de uma das mãos até a testa em uma pose muito dramática e dou um leve tapa no seu ombro.

— Você sobreviveu muito bem nos últimos meses, Fred.

Ele percebe que seu drama não funcionou e volta a massagear meus pés doloridos, rindo.

— Ah, esqueci de te contar algo importante no meio da correria hoje. Mamãe disse que Percy e Audrey descobriram que terão um bebê.

Meu queixo cai, pois já demorei muito para compreender que eram um casal.

— Isso é engraçado.

— Claro que é, estamos falando do Percy. Surpreendente até, eu diria.

— Não por isso, bobo — rolo os olhos e ele fica confuso. — Lembra quando a guerra acabou e houve uma fase cheia de velórios? Depois as coisas se acalmaram e houve uma fase cheia de namoros, noivados e casamentos. Agora parece que está começando a fase dos bebês.

Ele ri, entendendo o que eu quero dizer.

—  É bem provável que tenhamos mais notícias em breve.

— Exatamente.

Ele parece pensativo, provavelmente avaliando seus irmãos que possuem companheiros.

— Você tem vontade de ter filhos um dia? — ele me questiona.

Nunca pensei sobre isso, para ser sincera. Quando se evita relacionamentos por muito tempo, ter filhos não é algo que passa pela sua cabeça.

— Talvez um dia, quem sabe.

Ele acena em concordância.

— Sempre imaginei que teria muitos sobrinhos, mas nunca considerei filhos. Acho que pensando nisso agora, parece assustador.

— E deve ser, já que é alguém dependendo completamente de você, sem conhecer nada sobre o mundo.

Fred faz uma careta e se levanta, colocando uma almofada sob os meus pés. Seu rosto se aproxima do meu e ele beija minha testa, se afastando.

— Vou fazer algo para comermos.

— E qual será o cardápio de hoje?

— Surpresa.

Decido então tomar um banho, prometendo auxiliá-lo quando terminar. Procuro ser rápida, mas o dia foi tão agitado que não consigo evitar os pensamentos que surgem vez ou outra, me fazendo refletir sobre o novo rumo que minha vida está tomando. Penso, principalmente, sobre a conversa com Calliope e como estará o projeto sem a minha presença.

Quando deixo o banheiro, já vestindo meu pijama, vejo Fred tirando alguns itens de um saco de papel. Espicho o pescoço com curiosidade e noto que ele desistiu de cozinhar, apenas comprando algo pronto.

— Cozinhar não é meu forte, desculpe.

Dou risada disso, indicando que não me importo, e colocamos a mesa para jantarmos juntos. Conversamos entre uma garfada e outra, e é inegável que nos tornamos mais confortáveis na presença um do outro com o passar do tempo. Fred é uma companhia divertida e pareço ter aprendido a relaxar um pouco com a sua influência, ao mesmo tempo em que ele aprendeu a levar as coisas um pouco mais a sério ocasionalmente.

Gosto da forma engraçada como gesticula com pressa quando está empolgado me contando algo ou das vozes estranhas que faz quando está cotando alguém. Ele me faz sentir mais leve e sei que não preciso carregar o peso das coisas sozinha, pois ele está ali para ajudar assim como quero ajudá-lo. Formamos um grande time.

No final da noite, ele me deixa para ir dormir na sua casa e, deitada sozinha na cama com um filme passando de fundo, sinto sua falta. Porém, sei que ainda não estamos prontos para viver juntos, já que isso mudaria completamente as coisas. Assim, continuamos passando tempo suficiente juntos para aproveitarmos isso e tempo suficiente distantes para que exista saudade e não esfrie as coisas.

Sem conseguir pegar no sono, por ainda ser cedo, chamo Ginevra no espelho e conversamos sobre a loja, o bebê de Percy e a investigação no Ministério.

— Encerraram o caso, finalmente — ela diz e posso ver que está preparando chá enquanto nos falamos. — Não via a hora, é horrível ficar no escuro sobre o que está acontecendo.

— Harry te contou sobre?

— Nos mínimos detalhes ou eu não teria deixado ele em paz.

Nós duas rimos e me ajeito na cama, inquieta.

— Me conte!

Gina pede um minuto para terminar o chá e quando o finaliza, continua:

— Zach tratou uma paciente no Saint Mungus que infelizmente não pôde ser salva e o pai dela ficou destruído com a perda. Impulsivamente, ele achou que só teria paz se conseguisse vingança e foi por isso que ele fez o que fez. A mãe de Zach estava com ele aquele dia e acabou sendo uma vítima também.

— Uau, eu não esperava por isso — digo, me sentindo mal pelo ocorrido. Zach era jovem e a sua mãe era uma senhora adorável.

— É horrível pensar em como somos capazes de fazer o inimaginável pelas pessoas que amamos.

Sim, é verdade. Calliope e seu pai, agora Zach e sua mãe. Até onde podemos ir quando somos movidos pela dor, pelo ressentimento, pelo desejo de se provar?

— Ainda não consigo processar tudo isso direito.

— Nem eu, mas o importante é que vai ficar tudo bem agora.

— Você tem razão.

Depois que terminamos de conversar, ligo para os meus pais. Desde que me mudei da casa deles as coisas tem estado estranhas entre nós, especialmente entre minha mãe e eu. Pensar sobre isso tudo me faz querer consertar as coisas e quando encerro a ligação, me sinto melhor sobre isso.

A vida às vezes não é da forma como esperávamos, mas, no final, as coisas encontram um jeito de se sair bem.


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