Encantos & Desencontros escrita por Maitê Miasi


Capítulo 10
Capítulo 10




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“Vem a mim, doce amor

Ajuda-me a mudar esse destino

Me salve, por favor

Que tenho o coração partido em dois.

Me dê mais, quero mais

Dessa bendita forma que me olha

Só você, só eu

Carícias que me roubam a razao.”


Alexandre Pires – Ámame


****


Maria agora se encontrava numa situação complicada demais. Não se tratava somente de um caso, sua filha agora, sabia de tudo, e conhecendo bem Giovana, sabia o quanto era bem articulada, e como ela só jogava para vencer. Seu pavio curto ainda lhe traria alguns problemas.

— Você tá sendo infantil.

— Eu? Imagina – gargalhou – só não vou deixar o caminho livre pra você, mãezinha. Se achou que seria fácil, se enganou, porque eu não tô nem um pouco afim de sair como perdedora nessa história. Boa noite.

Ainda cambaleando, e sem a mínima firmeza nas pernas, Giovana tentou se locomover para seu quarto, mas vendo que não tinha sucesso, ficou ali mesmo, largada no sofá, tendo os olhos da mãe fixos sobre si.

...

Aquela noite fora praticamente impossível para Maria. Mal pregara os olhos. Primeiro Cláudio e agora Giovana que estava deixando-a de cabelos em pé. Ela dava graças a Deus por Juliana ser uma alma boa e não lhe dar trabalho nenhum.

No café da manhã, eles se estranharam, mal se falavam. Giovana, com uma dor de cabeça infernal, devido a bebedeira do dia anterior, olhava para a mãe como se fossem inimigas de infância, e ela, ignorava os olhares rancorosos da filha. Os dois, Cláudio e Juliana, não entendiam o porquê da troca de olhares entre as duas, mas não perguntaram nada.

...

Na hora do almoço, Maria rejeitou o convite de uns colegas da Casa de Modas, para ir para casa. Seu coração de mãe mandava-a ir se reconciliar com a filha. Ela não poderia se dar ao luxo de ficar brigada com alguém que saira de dentro de si, era uma atitude que ela não admitia dela mesma.

Chegando em casa o silêncio reinava. Cláudio estava no trabalho, Juliana, que havia ido para a Casa de Modas com Maria, permanecera no local, almoçando com algumas modelos com quem fizera amizade, e então a só restava na casa, além dos empregados, que eram praticamente invisíveis, Giovana, pois ainda estava de castigo.

— Tô entrando. – Maria disse ao entrar no quarto da filha. A menina se encontrava deitada em sua cama, mexendo no seu celular. Ela olhou a mãe de rabo de olho, e logo voltou sua atenção para o aparelho.

— Se for pra dar mais sermão, já vou logo avisando que não estou afim. – Foi direta com a mãe, que não se surpreendeu nem um pouco, conhecia muito bem a filha que tinha.

— Eu só quero conversar Giovana – ela se sentou próximo aos pés da cama – você se julga tão adulta, será que então podemos ter uma conversa adulta?

Muito a contragosto, Giovana deixou seu celular do seu lado na cama, e olhou a mãe fixamente.

— Ok, sou todo ouvidos.

— Então filha – Maria respirou fundo procurando as melhores palavras para dizer a filha, para que não piorasse as coisas, e sim melhorasse – eu sei que você acha que o que você quer é o melhor pra você, mas acredite em mim, eu sou mais experiente, sei o que tô dizendo.

— Todo esse discurso chato é pra dizer que eu tenho que me afastar do Estêvão? – Desdenhou.

— Sim. Giovana você tem que entender que...

— Você que tem que entender, mãe! – A menina cortou a mãe, se levantando um pouco alterada. – Eu não vou me afastar dele porque você – apontou para ela – quer, desiste!

— Giovana, por Deus, será que você não se dá conta que ele é um homem proibido, ele é casado! – Apesar de ter aumentado o tom, Maria procurava manter a calma.

— Ah é? Eu tô pouco me importando com a Fabíola, ele vai ser meu, e ponto! Ou será que tudo isso é por que você quer o caminho livre pra você? – Abaixou o tom da sua voz, com a face repleta de malícia.

— Não diga um absurdo desses, já disse que não é nada disso que você tá pensando, Giovana. – A mulher já suava frio.

— Ai, ai – ela tornou a se sentar em sua cama, e olhando para suas unhas, continuou: –por que sempre tem que ter alguém dizendo isso? Mas eu acho que é o que eu tô pensando sim – fitou a mãe – afinal, eu vi, ninguém me contou. Eu só não esperava tal atitude de você, mãe, logo você, que sempre foi a favor da moral e bons costumes.

— O que você viu não é o que parece, foi um acidente.

— Ah, acidente? – Caçoou. – Então você tropeçou, e caiu nos braços dele, e aí aconteceu o beijo? Não parecia ser isso não, mãe. Você  parecia estar gostando, e muito, eu vi que você estava aproveitando bastante o momento. Vocês dois já tiveram alguma coisa antes né? – Ela a olhou fixamente com os olhos semicerrados. – Claro – a menina pôs-se a olhar para o nada, como se houvesse descoberto algo incrível – porque tudo faz sentido: o ódio que você dizia sentir por ele, você e Fabíola não se dão bem por causa dele. As coisas estão se encaixando agora.

— Você nunca mais repita uma coisa dessas, ouviu bem!

— Agora eu sei porque você quer que eu me afaste dele, tá apaixonadinha por ele! – Ela ignorou o comentário da mãe, e prosseguiu com as difamações.

— Não diga bobagens! Eu não sou apaixonada por ele.

— Ah não?  Com o beijo de vocês dois, pareciam estarem muito apaixonados.

— Giovana...

— Fica calma mãe, eu pensei direitinho, e não vou espalhar seu seu segredo. Nem meu pai, nem Fabíola vão ficar sabendo, por enquanto – enfatizou – quando eu decidir contar, eu vou contar, mas enquanto isso não acontece, para de tentar fazer a minha cabeça, eu não vou desistir do que eu quero.

— Você quem sabe. Sua cabeça é seu guia. 
Maria, sem mais argumentos, ia caminhando rumo a saído do quarto, mas Giovana ainda tinha um pedido a fazer:

— Posso sair do castigo?

Maria riu incrédula, e saiu do quarto. Giovana tinha sua resposta.

...

O restante do dia transcorreu normalmente, e logo estava no fim.

Os acontecimentos da manhã seguinte também seguiram normalmente. Não demorou muito, e os dois adultos foram cada um ao seu respectivo trabalho. A casa estava praticamente vazia, a não ser por Giovana e Juliana, que ainda não tinham saído, e os empregados que estavam nos seus afazeres.

Juliana se encontrava em seu quarto fazendo algumas das suas pesquisas e foi surpreendida por sua irmã, que entrou sem bater e sem fazer nenhuma cerimônia.

— Ju! – A menina se jogou na cama da irmã com toda a empolgação do mundo, tendo como resposta um olhar desconfiado. – Eu hein, que foi?

— Você nunca me chama de Ju. Pode dizendo logo o que você quer.

— Ai Juliana, como você é chata hein. Mas eu queria sim te pedir um favor. – O sorriso logo voltou ao seu rosto.

— Fala. – Ela respondeu com o rosto fixado na tela do notebook, dando pouca atenção as palavras da irmã.

— Bom – Giovana parecia estar um pouco sem jeito – eu queria que você ligasse pro Estêvão, e pedisse pra ele vir aqui em casa, agora.

— E pra quê? – Ela encarou sua irmã.

— Eu preciso falar com ele Juliana, é importante, se não fosse eu não estaria pedindo pra você fazer isso.

— Tudo bem – ela bufou procurando pelo seu celular em cima da bagunça da cama – eu só não tenho o número dele.

— Tá aqui – ela mostrou o número no seu celular – eu só preciso que você diga que é minha mãe que tá pedindo que ela venha. – Um sorriso forçado surgiu.

— Ah Giovana! – Ela olhou a irmã com total desaprovação. – Você sabe que eu não gosto desse tipo de coisa.

— Por favor Juliana! – Ela juntou as mãos em forma de súplica. – Se você disser que sou eu, ele não vai vir, por favor irmãzinha.

— Tá, mas não se acostuma não viu. 
Juliana discou o número, e logo colocou o aparelho na orelha esperando que Estêvão atendesse, ou não, pois tinha na face a pior das fisionomias.

— Alô, Estêvão, tudo bem? – Ela gaguejava um pouco, pois não gostava de mentir, menos ajnda para ajudar a irmã. – É a Juliana que tá falando.

— Ah, oi Juliana, não tinha conhecido sua voz, como vai? – Sua voz era só simpatia.

— Eu tô bem, obrigada. Escuta – ela coçou a garganta – é que minha mãe não está se sentindo muito bem, e pediu que eu ligasse perguntando se você poderia vir aqui em casa.

— Sua mãe? O que houve com Maria? – A voz que antes era terna se tornou preocupada.

— Não é nada grave fica tranquilo, ela só queria mesmo que você viesse aqui, e se não for incomodo, agora.

— Ok Juliana, em breve estarei aí, até mais. – E sem mais, encerrou a ligação. 
— Satisfeita?!

— Claro que tô irmãzinha, obrigada, tô te devendo uma.

— Só queria saber o que você quer tanto falar com Estêvão.

— Bom, isso já não é da sua conta. Até mais.

Ela saiu do quarto soprando um beijo para a irmã.

...

Não demorou nem quinze minutos e a campainha já estava tocando. Uma das empregadas abriu a porta dando passagem para Estêvão, que entrou atônito. Giovana estava na sala a sua espera.

— Maria?! – Ele gritou.

— Oi. – Ela o saudou, e foi ignorada por ele.

— Cadê sua mãe? – Estêvão foi até o pé da escada, ainda chamando por Maria. – Maria?!

— Pode parando, ela não está em casa. 
Ele a olhou jogada no sofá despreocupada e foi a seu encontro.

— Como assim ela não está em casa? Foi ela que me chamou aqui.

— Fui eu quem pediu pra Juliana te ligar – toda faceira, Giovana ficou cara a cara com Estêvão, que se afastou um pouco da menina. – Precisamos conversar Estêvão.

— Eu não tenho nada pra falar com você Giovana, eu vou embora.

Irritado com a atitude infantil da menina, Estêvão decidiu que não ficaria mais ali, mas foi impedido pela mesma quando ela segurou seu braço usando sua pouca força.

— Espera Estêvão, não vá ainda! – Ela implorou.

— O que você quer de mim, hein? – Ele perguntou, mas já sabia da resposta.

— Eu quero você! – Suas mãos alcançaram seu colarinho, deixando o pobre homem desconcertado.

— Por favor, não seja tola – ele deu alguns passos para longe dela – você tem noção do que tá fazendo? Eu sou marido da sua tia, sua mãe é casada com meu amigo, e sócio, você acha mesmo que eu teria olhos pra você? – Cuspiu as palavras. – Além do mais, você é uma criança, Giovana!

— Que criança o quê, Estêvão! Será mesmo que esses são os únicos motivos pra você não querer ficar comigo?

— E não são suficientes pra você?

— Será que é só por que você é casado com a minha tia, ou por ser sócio do meu pai? Ou será que na verdade você tá apaixonado pela minha mãe?

— Você enlouqueceu de vez, só pode!

— Eu não sou mais criança! – Gritou. – Eu percebo o jeito que você olha pra ela, o jeito que vocês ficam quando estão juntos!

— Sua mãe e eu não temos nada! – Ele gritou mais alto ainda pra vê se ela voltava a seu estado de sanidade.

— Eu vi, ninguém me contou, eu vi vocês se beijando na sua sala!

— Chega Giovana, eu não vou ficar aqui escutando suas besteiras!

Estêvão não deixou que ela dissesse nem mais uma palavra, antes saiu esbarrando em tudo que era móvel que estava na sua frente. Em contrapartida, Giovana ficou ali parada, espumando de tanta raiva.

— Se eu soubesse que era pra isso, não tinha atendido seu pedido. – Juliana apareceu no topo  da escada.

— Ah, vê se some e não se mete na minha vida, Juliana.

— Você é louca mesmo né? Acha que o Estêvão vai se interessar por uma pirralha como você? – Ela descia lentamente escada enquanto provocava a irmã. – Só não entendi quando você disse que... – Hesitou. – Ele e a minha mãe?

— Posso até ser surtada, mas não sou tão ingênua como você.

Ainda no auge de sua raiva, Giovana saiu, e deixou Juliana pensando no que ela tinha ouvido.

...

Estêvão chegou à empresa rapidamente, ainda suando frio devido ao que havia acabado de passar. Ele não sabia mais que meios usar pra tentar afastar Giovana de si, mas nada o que fazia surtia efeitos, pois parecia que a menina estava disposta a tudo por ele.

— Estevão, o que houve? Você saiu daqui às pressas, e agora voltou com essa cara. 
Cláudio entrou na sala de Estêvão, fechando a porta atrás de si. Ele logo notou a cara de preocupação do amigo.

— Problemas e mais problemas. – Estevão indicou que ele se sentasse.

— Tem a ver com mulher?

— Mais ou menos.

— Ih, deixa a Fabíola saber disso – Cláudio comentou rindo – mas e aí, quem é a mulher que tá mexendo com a cabeça do meu amigo?

— Não é exatamente isso que você a pensando. – Ele começou a história, resumindo bem. – Uma mulher que eu amei muito no passado voltou, e eu confesso que fiquei mexido com a volta dela, mas não existe mais nada entre nós, porque ela refez a sua vida, se casou, teve filhos, e dentre esses filhos, ela tem uma filha, jovem, bonita e que não larga do meu pé, e eu já não sei mais o que fazer. – Explicou.

— Mas rapaz! – Cláudio ficou boquiaberto, sem imaginar que ele se referia a sua esposa e sua filha. – Olha, se eu fosse você eu levava logo pra cama cara, aproveita que ela tá assim, facil. – Aconselhou.

— Tá maluco! – Estêvão se levantou e começou andar pela sala nervoso com o que tinha acabado de ouvir. – A menina é de família, eu respeito ela, e a família dela, nunca faria isso, além do mais, ela tem idade pra ser minha filha!

— Ela é tão de família e não para de dar em cima de você, ah Estêvão, não se faça de bom homem agora.

— Eu não quero mais falar sobre isso, não com você.

Depois da cara de Estêvão, Cláudio logo entendeu o recado e saiu deixando seu amigo sozinho com aquela história martelando em sua cabeça.

...

Juliana ficara com as palavras da irmã na cabeça, e mal conseguiu terminar o que fazia, o que a levou até a mãe, não saberia se conseguiria falar abertamente sobre o assunto com a mãe, mas tentaria.

— Oi mãe. – A jovem tímida disse ao adentrar pelas portas da sala da mãe.

— Oi meu amor – Maria a recebeu com o mesmo sorriso de sempre, deixando na nessa os papéis que analisava para dar toda atenção a filha.

— Mae, posso falar com você? É um assunto meio chato. – A menina tinha um pouco de dificuldade em expor suas palavras.

— Claro meu amor, senta. – Ela se acomodou a frente da mãe. – O que houve?

— Mãe – ela respirou fundo – você teria coragem de trair meu pai? – Foi curta e grossa com o coração a mil.

— Quê? – Maria arregalou os olhos, não esperava a pergunta da filha. – Quem te disse isso Juliana? Aposto que foi a Fabíola querendo te envenenar contra mim! – Maria se levantou, mas ainda ficou atrás da sua mesa.

— Não, não foi ela, foi a Giovana.

— Sua irmã está louca, só pode!

— E então mãe? – Ela insistiu.

— Juliana – ela buscou alguma calma dentro de si – seu pai e eu estamos há tanto tempo juntos, como você pode me perguntar isso?

— Mãe, você não respondeu a minha pergunta. – A menina era insistente.

Maria nada respondeu, apenas a olhava, pois nenhuma palavra saía de sua boca. Ela estava encurralada, pois se dissesse que não, estaria mentindo, e era uma coisa que não gostava de fazer em nenhuma hipótese, e se dissesse que sim, ganharia o desprezo da filha.

— Isso é um sim, mãe? – Juliana constatou após o longo silêncio da mãe. – Então você e o Estêvão estão mesmo juntos?

— Claro que não Juliana? Você acha mesmo que eu faria isso?

Juliana finalmente respirou aliviada.

— Sabia que o que a Giovana estava falando era mentira – ela foi até a mãe – sabia que você não faria isso com meu pai.

Juliana abraçou Maria, que foi recíproca ao abraço, mas não se sentiu nada bem em mentir para filha.

Maria ficara indignada com as coisas que Giovana estava a colocar na cabeça da irmã, e ia tirar essa história a limpo, mas esse não seria o momento, estava de cabeça quente, e sabia muito bem que ia acabar discutindo com a filha, pra variar.

Já era noite, quase hora do jantar e Maria já se arrumava para o mesmo. Ela saía do banheiro, envolta por um roupão, e secando o cabelo com uma outra toalha. Ela era pura distração, o que a fez voltar foi seu telefone, que tocou lhe dando um susto. Outro susto ela tomou quando viu quem era.

— Estêvão?

— Oi Maria, eu preciso falar com você. Pode me encontrar daqui a uma hora num restaurante?

— Precisa ser hoje? Precisa ser em um restaurante? – Perguntou desconfiada.

— Tá com medo de mim, Maria?

— Claro que não! Te encontro lá, vou terminar de arrumar e saio de casa.

Os dois desligaram seus celulares, e Maria pôs-se a se arrumar com um pouco mais de rapidez e ansiedade, desejava urgentemente que aquela hora passasse rápido.

Não demorou muito, e estava pronta. Um vestido preto bem discreto, e um salto pequeno. Maquiagem suave e cabelos soltos, como era de praxes. Cláudio entrou no quarto e logo notou que a esposa não estava se arrumando para um simples jantar em família, tinha algo mais.

— Vai sair? – Perguntou dando um cheiro no seu pescoço. – Tá bonita e cheirosa, muito cheirosa. – Aspirou mais uma vez o seu perfume.

— É – se afastou um pouco do marido – tenho umas coisas pra resolver com uma colega do trabalho. – Mentiu, e se sentiu mal por isso.

— Quer que eu te leve?

— Não! – Foi mais intensa do que desejara. – Quer dizer, não, eu vou te táxi, você tá cansado do trabalho, amor, não quero te cansar mais.

— Você sabe que não é nenhum incômodo pra mim.

— Claro que eu sei, mas não precisa, sério. Bom, vou indo, não me espera dormir, tá.

Ela deu um beijo na sua bochecha, e saiu. O peso em sua consciência a seguia bem de perto.

...

Vinte minutos, e já estava no restaurante indicado por Estêvão. Ele a esperava próxima a porta, exalando chame e sorriso, ou talvez o sorriso chegara ao vê-la a sua frente exuberante, como sempre.

Ele a recebeu com um beijo na bochecha, um tanto íntimo, ela não recuou e nem reclamou. Os entraram, e logo se acomodaram.

— Bebe alguma coisa? – Ele perguntou cortês.

— Um vinho.

Ele chamou o garçom, e fez o pedido do vinho para os dois. O clima entre eles estava bastante agradável.

— O que você tem de tão importante pra dizer que não podia esperar? – Ela perguntou num tom de brincadeira.

— É um assunto chato Maria. – Ele fez um pequena pausa, e logo continuou. – Giovana encasquetou na cabeça que temos que ficar juntos, e nada que eu diga faz ela mudar de ideia.

— Que bom que falou sobre isso. Ela nos viu juntos na sua sala. – Disse sem rodeios, e recebeu de volta a confirmação dele.

— E agora, o que acha que ela vai fazer? 
O garçom apareceu, trazendo o vinho dos dois e os deixou na mesa.

— Obrigada. – Maria agradeceu o funcionário com um sorriso, e logo continuou a dar atenção para Estêvão. – Não sei, ela disse que não pretende falar nada, mas ela é uma bomba relógio e pode explodir a qualquer momento.

— Calma Maria, ela vai ser tão imprudente de falar uma coisa dessas.

— Nós não deveríamos estar nos arriscando Estêvão, eu não falo só por nós, não é só sobre um triângulo amoroso, tem muita gente envolvida nessa história: a sua esposa, o seu filho, o meu esposo, e Juliana. Ela é tão sensível, não sei como ela vai reagir ao saber disso. – Ela deu uma respirada, e logo continuou. – Ela foi me procurar hoje perguntando se eu teria coragem de trair o pai, meu coração ficou em mil, mas não pude dizer que sim.

— Eu também não me sinto bem, Maria. 
Estêvão não sabia muito o que dizer. Não queria magoar seus entes, mas também não queria abrir mão de Maria mais uma vez. Era a oportunidade que a vida lhe dava de tê-la novamente, e ele não pensava em dispersar.

— O pior de tudo é isso tá me incomodando.

— O quê? A sensação de estar enganando sua família?

— Não. – Ela abaixou a cabeça, olhando para a mesa. – O fato de Giovana estar sentindo algo por você. – Com um pouco de vergonha, ela o olhou. – Me incomoda saber que agora ela pode estar pensando em você, que ela pode estar sonhando com você, eu não me sinto confortável, Estêvão.

— Ei – ele saiu da cadeira que estava a frente dela, e se sentou do seu lado – pode ir parando! Eu não quero nada com ela, e a única coisa que ela terá de mim é ilusão. Eu nunca me interessaria por alguém que tem a metade da minha idade – ele segurou seu queixo fazendo com que ela o olhasse – eu já disse que quem eu quero é a mãe dela, pra mim, ela só será uma enteada rebelde.

Maria não resistiu ao comentário e riu.

— Não brinca, é um assunto sério. Ai, a vida podia ser bem mais simples, mas é essa complicação. Com mil homens no mundo, Giovana vai se interessar logo por quem?

As horas passaram muito rapidamente. Os dois ficaram ali bebendo, jogando conversa fora como dois bons amigos, e se esqueceram um pouco dos problemas. Eles realmente trataram de esquecer a realidade que viviam e aproveitaram cada minuto que passaram juntos.

— Bom, a conversa está ótima, mas já tá muito tarde, e – olhou ao redor – acho que só estão esperando a gente sair pra fecharem.

— Esse foi um dos poucos momentos que, posso dizer que foi proveitoso em vinte e cinco anos.

— Não seja exagerado, e eu não vou concordar com a sua opinião. – Riu. – Vamos?

— Eu te levo em casa.

— Nem pensar! – Protestou. – Imagina, eu chegando tarde da noite na sua companhia. Quer que eu assine meu divórcio?

— Seria uma boa ideia. – Os dois riram.

Após pedir a conta, os dois foram caminhando até a saída do estabelecimento. Estêvão foi ousado e segurou a mão de Maria durante o curto percurso, ela não disse a ele, mas tinha gostado do gesto.

— Até amanhã, Maria.

— Vamos nos ver amanhã? – Perguntou.

— Se eu pudesse, te veria todos os dias, em todos os momentos. – Respondeu galanteador.

Estêvão foi faminto em direção ao seu lábio, mas Maria virou o rosto e o beijo chegou no canto do seu lábio. Com olhares, eles se despediram, e ele ficou observando até que perdesse o táxi de vista.

Maria chegara em casa nas nuvens, mas não imaginava que tinha alguém a sua espera.

— Isso são horas mãe? 


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