“Querida mamãe,

Mais uma vez lhe escrevo. Desta vez, porém, para dar-lhe notícias alegres: a guerra acabou, nós vencemos!

Confesso que foi uma surpresa termos conseguido superar o grande exército de Alvarez, com Zeref em seu comando, além de termos derrotado Acnologia. Enquanto a caneta desliza por esta folha, ainda me cai a ficha de que fizemos coisas consideradas impossíveis, as maiores ameaças de nosso mundo durante séculos foram derrotadas.

Aquarius disse-me certa vez para que eu aproveitasse a minha vida ao máximo, pois só se vive uma vez. Lágrimas caem de meus olhos agora, é uma pena que ela não esteja mais aqui. Aquarius foi minha grande amiga e apesar de seu jeito arrogante, foi ela quem me acolheu quando você partiu. Ela tinha um jeito duro de me dar conselhos e de me ajudar, porém, eu não estaria aqui se não fosse por ela. Sacrificar a sua chave foi uma das decisões mais difíceis que tomei na vida, porém, se o que ela disse estiver certo, talvez eu possa encontrar a sua chave em algum lugar do mundo. Aliás, por qual parte devo começar? Magnólia? Certamente a chave deve estar em um local mais longínquo ou talvez não. Talvez da mesma maneira como o destino permitiu que derrotássemos os nossos inimigos nessa guerra, eu possa encontrar, bem pertinho de mim, o que mais anseio neste momento.

Foi Aquarius quem me disse que escrever cartas para você seria bom, pois apesar de não estar mais viva, eu poderia me comunicar com você por meio da escrita. Aquarius disse que você adorava receber cartas de pessoas queridas e iria adorar saber que eu escrevo para você. “Enquanto as suas palavras forem cópias daquilo que você sente no seu coração, a sua mãe receberá as suas cartas e as responderá de maneiras que você jamais imaginaria, Lucy. As pessoas podem morrer, contudo, suas vozes sempre estarão conosco e podemos consultá-las sempre que quisermos”.

Também foi Aquarius que me incentivou a buscar o meu grande sonho de entrar para a Fairy Tail. “Pirralha, acho bom fazer isso logo, assim você encontra outros amigos e para de me chamar”. Ela tinha o seu jeito excêntrico de me incentivar.

Logo após a minha primeira aventura com o Natsu, quando ganhei o símbolo da Fairy Tail, contei a notícia para Aquarius, que apesar de estar de cara emburrada e de braços fechados, disse-me “A partir de agora, tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Eu sabia que já havia lido aquilo em algum lugar e ao perguntar a ela de onde ela tirou a frase, eu ganhei mais um de seus banhos por ter sido “ingrata” e não ter simplesmente agradecido.

Eu achava que havia compreendido o que Aquarius quis dizer com esta frase, contudo, acho que só agora o verdadeiro significado se mostrou para mim.

A Ilha Galuna, a Torre do Paraíso, nossa batalha contra a Orácion Seis, tudo aquilo que vivemos em Edolas, nosso período na Ilha Tenrou, os Grandes Jogos Mágicos, a separação da guilda, a guerra contra o Império Alvarez e Acnologia. Antes de entrar para a Fairy Tail eu era só uma garotinha tentando encontrar o meu lugar no mundo e ao encontrar a minha família, que são os meus amigos, eu passei a ser responsável por tudo aquilo o que viria a seguir, por quem eu iria me tornar. Todas essas aventuras foram cativadas por nós, e daí veio o desafio de vivê-las ao máximo e de ser cuidadosa com as escolhas que eu ira tomar, pois eu colheria os frutos mais tarde.

Me tornar membro da Fairy Tail foi uma maneira de dizer que eu havia crescido, que responsabilidades viriam e que eu deveria cuidar de mim e de meus amigos. Assim, ter uma família não foi apenas positivo, tive que lidar com o medo de perdê-los em algumas batalhas, tive que ver meus amigos sendo machucados por não ter sido forte demais para protegê-los, tive que lidar com a separação de nossa guilda anos atrás, foi necessário parar de ser maga por um tempo. Além disso, foi preciso que eu crescesse enquanto pessoa e passasse a cativar força, novas habilidades e novos jeitos de ver a vida.

Afinal, viver a vida é isso, há dores e alegrias. E ser responsável por aquilo o que cativamos é um caminho tão cheio de flores e espinhos quanto aproveitar a vida ao máximo. Ambos com dores e alegrias, pois não há escolhas sem renúncias, não há apenas o bem e o mal, e não tem como ser humano sem sentir medo, não há como viver sem provar o doce e o amargor de nossos caminhos. Porém, ainda assim, acredito que podemos cativar o melhor em nós.

Outra coisa que aprendi foi que sozinhos não somos nada. Não teríamos vencido essa guerra se não tivéssemos nos unido. E eu não seria quem sou sem a família que cativei, sem você que me deu a luz e se sacrificou para que eu não tivesse o fardo de abrir o Portão do Eclipse. Eu seria quem sou sem os conselhos de Aquarius e sem o seu sacrifício para que eu convocasse o Rei dos Espíritos Celestiais.

E assim, aprendendo agora o que ela quis dizer tantos anos antes, decido continuar vivendo a minha vida ao máximo ao lado de meus amigos e decido cativar novas aventuras ao lado deles. E desejo aprender com todas as coisas boas e ruins que iremos passar.

Espero escrever-lhe em breve com boas notícias. Desculpe-me caso algum trecho tenha ficado confuso, acho que tal confusão se deve ao fato de eu ainda não ter tido tempo para elaborar tudo o que ocorreu.

Até logo, mamãe.”

Tão logo Lucy escreveu a carta, a porta do seu quarto foi aberta com força.

—Hey, Lucy! Temos uma nova missão. Estou louco para entrar em algumas brigas.

—Natsu, você ainda nem se recuperou da guerra.

—Aye!-Disse Happy, voando ao lado de Natsu. –Mas ele é teimoso, Lucy. Não quer esperar se recuperar antes de entrar em uma nova missão.

—Eu estou ótimo. Além do mais, nossos amigos estão nos esperando, entraremos nessa missão juntos. A guerra acabou, Lucy, mas a vida continua. E machucados ou não, não temos outra escolha a não ser vivermos o máximo de aventuras possíveis. É para isso que estamos na Fairy Tail, pois é com os amigos que se vive de verdade.

Lucy e Happy  lançaram um olhar para Natsu. Era comum o garoto fazer comentários emocionantes sobre a amizade, contudo, a fala agora apresentada por este não parecia ser o tipo de coisa a ser dita por ele após um convite para mais uma missão. No geral, Natsu apenas puxava a loira porta a fora.

—De onde você tirou isso, Natsu?

—Não sei, só me pareceu ser a coisa certa a ser dita. –Ele disse, colocando a mão atrás da cabeça, visivelmente confuso por ter dito tais coisas.

Nesse momento, uma brisa leve tocou o rosto de Lucy, quase como um carinho e uma folha amarela que veio com a brisa pousou em sua carta, logo ao lado da palavra “mamãe”.

Lucy sentiu o aperto na garganta. Aquarius tinha razão, mais uma vez. Se ela permitisse escrever o que vinha do mais profundo de seu ser, a sua mãe lhe responderia. Algumas lágrimas escorreram de seu rosto.

—Lucy, você está bem? –Happy perguntou, a preocupação do exceed o fez voar para perto de sua amiga, limpando uma de suas lágrimas.

—Estou bem! Eu só estou feliz por ter conhecido vocês. Não sei o que teria sido de mim sem a Fairy Tail.

Natsu deu uma risadinha e então falou:

—Sabe, Lucy? Eu também estou feliz por ter te conhecido, por poder viver aventuras ao seu lado e ao lado de nossos amigos. –E então, num movimento rápido, ele puxou a amiga pelo braço, quase a arrastando. -Então não podemos deixa-los esperando, pois eles certamente também são felizes por aproveitarem as suas vidas conosco. O que eles mais querem é entrarem em novas missões e eu estou pegando fogo! – Falou a ultima frase com o máximo de entusiasmo.

—Aye, Sir! –Exclamou Happy.

Dessa vez Lucy não estava brava por ser arrastada por Natsu. O sorriso estampava o seu rosto, enquanto agradecia mentalmente por toda a alegria que sabia que seria cativada dali em diante. Os piores inimigos foram derrotados. Eles estavam livres para aproveitarem as suas vidas ao máximo. No peito, a promessa silenciosa de que encontraria Aquarius novamente, mal podia esperar pelos próximos conselhos que ela lhe daria.