A Vida e as Mentiras de Zaniah Black escrita por Bells


Capítulo 27
A Poção


Notas iniciais do capítulo

Oie, pessoal! Capítulo bem grandinho e com várias coisas importantes desenrolando!



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Zaniah despertou.

Olhou para o relógio na cabeceira de sua cama e percebeu que era cedo, ainda mais considerando o fato de ser domingo.

Rabastan havia dormido com ela, mas eram apenas eles dois no dormitório. Juliet e Madeline, provavelmente, haviam ido dormir com Bartô, Theo e Darwin. A Black olhou para seu corpo.

Estava bastante próxima a Rabastan, mas não estavam enroscados, como normalmente ficavam quando dormiam juntos. O braço esquerdo dele estava entre seus corpos, um pouco amassado. Já o direito, circulava a cintura de Zaniah. Era aquele toque que os deixava próximos, já que Zaniah estava com as mãos livres. Afastou-se devagar do garoto, saindo da cama e o deixando dormir. Com cuidado para não fazer barulho, pegou uma muda de roupas limpas e seus produtos para o banho. Tomou da poção anticoncepcional, a qual tomava todo dia de manhã, e saiu do quarto, o mais silenciosamente que conseguiu. As escadas estavam vazias, assim como o Salão Comunal, então não foi difícil ir até o dormitório masculino do quinto ano sem chamar atenção.

As garotas não precisavam de permissão para entrar no dormitório dos garotos, então apenas abriu a porta com cuidado, não querendo acordar os cinco amigos que dormiam ali dentro. Foi direto ao banheiro deles e tomou um banho que a relaxou. Lembrar da noite anterior a deixava confusa. Amava Rabastan, provavelmente mais do que qualquer outra pessoa, mas ele vinha a machucando sem se importar. Até que entrou no seu dormitório e lhe consolou. Uma parte de Zaniah agradecia pela presença dele, que sempre a acalmava, outra a lembrava constantemente que ele não precisaria consolá-la se não tivesse a machucado em primeiro momento.

Terminou seu banho e vestiu a roupa confortável que levara. Secou seu cabelo com um feitiço e saiu devagar do banheiro. Darwin e Juliet dormiam juntos na cama do Burke, assim como Mad e Theo estavam esparramados na cama do Nott, dormindo. Bartolomeu, na cama do meio, estava sozinho e Zaniah sentiu uma súbita saudade do melhor amigo de toda uma vida.

Andou cuidadosamente até ali e sentou-se na cama, observando o Crouch. Seus cabelos castanhos estavam completamente bagunçados, como sempre ficavam quando ele dormia. A sua expressão, normalmente cheia de malícia, como se desafiasse alguém, agora era calma e serena. Ele respirava rítmica e profundamente. O cansaço assolou seu corpo. Zaniah deitou-se ao lado do melhor amigo, que nem se mexeu. Encostou sua cabeça no peito do garoto e ouviu os batimentos de seu coração. Regulados, tranquilos. Sem esforço algum. Respirou o ar de calmaria que abrangia Bartô e sentiu seu corpo relaxar cada músculo, então caiu nos domínios do sono mais uma vez, dessa vez um sono leve e tranquilo. Não muito profundo, mas que lhe fornecia o descanso que precisava.

Acordou do cochilo com o melhor amigo acariciando seu cabelo devagar. Espreguiçou-se ainda deitada e abriu os olhos. Bartolomeu sorria para ela. Ele beijou sua testa e continuou acariciando seus cabelos. Nenhum precisava dizer nada, era um entendimento mútuo e silencioso. Ele sabia o que precisava fazer para deixá-la bem e ela sabia que poderia confiar sua vida a ele. Aos poucos, os outros integrantes daquele quarto foram acordando.

— Hey, olha quem está por aqui! – Theo disse com a voz rouca logo que abriu os olhos. – A artilheira mais bonita da Sonserina.

Zaniah pensou um pouco.

— Eu sou a única artilheira da Sonserina. – Falou desconfiada.

— Ah, é verdade. – Theo disse enquanto bocejava.

Mad se alongou após sair da cama, algo que fazia todos os dias, e logo foi abraçar a amiga e companheira de time. O impacto um pouco inesperado por parte de Zaniah fez com que as duas caíssem deitadas na cama. Elas riram e isso acabou despertando Darwin e Juliet.

Juliet, que normalmente não acordava de bom humor, logo se animou ao ver a melhor amiga entre eles. Levantou-se depressa e correu para juntar-se às amigas na cama de Bartolomeu, que havia se encolhido perto do travesseiro para dar espaço às garotas.

Darwin coçou os olhos e bocejou antes de se levantar. Theo copiou sua ação e, em poucos segundos, estavam os seis em cima da cama de casal de Bartô. Darwin beijou a testa de Zaniah calmamente e ela beijou sua bochecha, então o abraçou.

— Onde está Rabastan? – Madeline perguntou baixo no ouvido de Zaniah.

— A última vez que eu o vi, ele estava dormindo na minha cama. – Zaniah respondeu.

— Você saiu de lá sem ele perceber? – A Nott perguntou surpresa, Zaniah apenas assentiu.

— Gente, vamos comer? – Bartolomeu perguntou, batendo na barriga, para dizer que estava com fome.

— Vamos, por favor! – Juliet concordou. A Avery tinha uma grande tendência a ficar de mau humor caso estivesse com fome.

Os seis logo se arrumaram e desceram em direção ao Salão Principal. Hogwarts já estava no clima do jogo daquele dia, Sonserina x Corvinal. A Grifinória, no entanto, ainda aproveitava da sua vitória no dia anterior.

Zaniah olhou para a mesa vermelha e dourada e avistou seu irmão ao lado dos amigos.

— Encontro vocês na mesa. – Disse apenas e desviou seu caminho, indo até a mesa dos Leões.

Não demorou muito para que James a visse, abrindo um sorriso simpático logo em seguida. Sirius e Lily, que estavam a sua frente, logo viraram as cabeças e, dessa forma, visualizaram sua forma também.

— Zan! – Sirius falou animado, não se importando com a atenção que chamava. Abriu os braços, num gesto que perdia para que Zaniah se aproximasse.

Assim ela o fez. Abraçou o irmão com força, descontando toda saudade que sentia dele. Sirius tinha um cheiro fresco e doce simultaneamente. Sua expressão nunca ficava preocupada por mais de alguns segundos e, quase sempre, estava tentando fazer os outros rirem.

— Sinto sua falta. – Ela sussurrou para ele.

— Fuja. Venha comigo. Sou maior de idade agora, posso cuidar de você. – Ele falou no mesmo tom, a voz demonstrando preocupação e empolgação.

Zaniah lembrou da força de Riddle e de tudo que ele seria capaz de fazer para que “voltasse a ficar na linha”.

— Acredite, Six, eu não posso. – Ela falou, sua voz tremeu um pouco. – Para o bem de todos nós, para a segurança de todos nós, eu devo ficar onde eu estou. – Ela falou com um sorriso triste. – Eu só quero que saiba que eu nunca deixei de te amar, nunca vou deixar. – Completou. Sentiu uma lágrima se formar no canto de seu olho e escorrer. Sirius rapidamente a limpou.

— Eu vou estar aqui para você sempre, Zaniah. -Sirius sussurrou. – Não importa quanto tempo passe.

Aquilo acalmou o coração aflito de Zaniah, que começava a pensar no que ocorreria naquele feriado de Natal.

Virou-se para Lily e James.

— Obrigada. – Disse aos dois. – Vocês me fizeram ver coisas que eu não conseguiria ver sozinha. – Explicou. Então virou-se unicamente para Lily. – Desculpe-me. – Disse apenas, sentindo a voz tremer.

Lily parecia confusa, mas a expressão desolada de Sirius lhe dizia que ele entendera o que Zaniah queria dizer com aquelas palavras. Sem demorar muito mais tempo na mesa dos Leões, virou as costas e seguiu até os amigos, na mesa das Cobras.

Eles a olhavam curiosos, mas nenhum deles chegou a externalizar suas perguntas. Respeitavam o tempo de Zaniah. Ela sentara entre Bartolomeu, a sua esquerda, e Darwin, a sua direita. Na sua frente, Theo. Na frente de Bartô, Mad e na frente de Darwin, Juliet.

Começaram a comer calmamente, deixando de lado a recente cena de Zaniah.

— Ok, quem dos dois vai marcar mais hoje? – Bartolomeu perguntou para Zan e Darwin.

— Eu, claro. – Os dois responderam em uníssono, então se encararam de cara fechada.

— Eu aposto na Zan. – Theo disse com uma piscada. – Prometo te proteger de qualquer balaço hoje.

Zaniah sorriu para ele.

— Bem, se Theo está de um lado eu automaticamente estou do outro, desculpa Zan. – Mad disse com uma risada. Darwin e ela bateram as mãos por cima da mesa.

— Eu sei que você é meu melhor amigo, Darwin. – Juliet disse antes de colocar uma garfada de bolo de milho na boca. – Mas dessa vez eu fico com a melhor amiga. – Falou olhando para Zaniah, então deu uma piscadela.

— Certo, se a Juliet vai com a melhor amiga, eu fico com o melhor amigo. – Bartolomeu disse apontando para Darwin.

— Muito bem então. – Theo começou. – Se a Zan fizer mais pontos hoje, eu e Juliet ganhamos. Se for o Darwin, Mad e Bartô.

— E vamos apostar o quê? – Bartolomeu perguntou.

— Dez galeões. – Mad disse, sorrindo para a aposta alta.

Theo sorriu e olhou para sua gêmea.

— É sempre um prazer tirar dinheiro de ti, irmãzinha.

Mad deu um soco no ombro do garoto.

/*

Zaniah voava velozmente. Sua competição principal se tornara contra Darwin, e não mais contra a Corvinal. Bem, ninguém do time podia reclamar disso, afinal os dois querendo muito pontuar trazia uma boa pontuação à equipe. Theodore, como prometera, protegia Zaniah dos balaços a todo custo, deixando-a completamente livre para atacar. O ataque estava ótimo, mas em compensação a defesa não. Rabastan estava visivelmente distraído e conseguira defender poucas Goles que chegaram do time adversário. Dessa forma, o placar atual se instalava em 120x70 para a Sonserina. Cinco gols, cinquenta pontos, eram obras de Zaniah, outros cinquenta, de Darwin. Easton fez dois gols no início do jogo, mas precisou recuar para a linha de defesa para impedir que a Corvinal conseguisse pontuar mais.

Zaniah só torcia para que Régulos conseguisse pegar logo o pomo de ouro, afinal, se o apanhador da Corvinal o conseguisse, as Águias sairiam vencedoras.

Viu quando Theodore apareceu ao seu lado e rebateu um balaço na direção do batedor corvino. Zaniah acelerou seu voo, chegando perto das balizas adversárias. A goleira corvina mirou seu olhar e ela precisou pensar numa estratégia.

Voou em direção à garota, obrigando-a a se afastar um pouco para não ser atropelada. Precisava arranjar um pouco de tempo, então voou ao redor das balizas, sendo seguida de perto pela goleira. Ao retornar à frente dos três arcos, Zaniah fez um desvio brusco, que enganou a corvina. Com tranquilidade e sem ninguém para a impedir, jogou a Goles dentro do círculo do meio. A torcida da Sonserina vibrou. Zan voou até perto deles na comemoração, enquanto a goleira buscava a goles já caída no chão de areia para repô-la em jogo.

Juliet vibrou muito com seu gol, diferente de Bartolomeu que ria, um pouco nervoso.

Voltou para o campo e ela e Theo bateram as mãos enquanto voavam.

— Easton! – Ouviu Darwin gritar para o garoto mais novo, pedindo para que passasse a Goles que o Satches havia interceptado.

— Avança, Easton! – Zaniah gritou. – Eu te cubro! – Incentivou.

Os olhos do terceiranista brilharam e ele disparou para frente. O garoto era rápido e habilidoso, Zaniah gostava muito do estilo de jogo do rapaz e lhe frustrava que ele precisasse ficar recuado para impedir que Rabastan não levasse mais gols.

Corria os olhos pelo campo, em busca de qualquer ameaça contra a Sonserina, mas tudo que vira foi Easton conseguindo fazer seu terceiro gol naquela noite. 140x70.

Ele voltou voando rápido para retomar ao seu lugar, e Zaniah voltou ao campo de ataque. Theo cuidava dela como se ela fosse de porcelana, então não precisava se preocupar em desviar dos balaços, pois eles nunca chegavam. Chegou a perceber, vez ou outra, que ele rebatia para perto de algum batedor que pudesse atacar Darwin, mas Madeline exercia a mesma função de protetora em Darwin. O Burke estava tão intocado quanto a Black.

Forçou sua Comet um pouco mais e ficou lado a lado com Darwin, que procurava uma brecha no ataque adversário para que pudesse recuperar a Goles.

— BLACK SE MOVIMENTA BRUSCAMENTE EM DIREÇÃO DAS BALIZAS SONSERINAS, TERIA O APANHADOR DA CASA DAS COBRAS ENXERGADO O POMO DE OURO? – Disse o narrador, eufórico.

Zaniah se permitiu espiar por cima do ombro. Sim, lá estava o pontinho dourado brilhante e Régulos estava muito perto dele. O apanhador da Corvinal voava a toda velocidade, mas Zaniah duvidava que fosse alcançar seu irmão. Darwin avançou com força e a Black logo foi atrás. O Burke roubou a Goles enquanto dois dos artilheiros corvinos trocavam passes.

— RÉGULOS BLACK VAI CAPTURAR O POMO DE OURO, DEIXANDO A SONSERINA CLASSIFICADA EM PRIMEIRO LUGAR NO QUADRANGULAR! – O lufano narrou e Darwin jogou a Goles para cima, rebatendo-a com a vassoura na direção das balizas.

A goleira conseguira defender bem no momento e toda Sonserina vibrou na arquibancada, inclusive Zaniah também comemorou. Só então percebeu que sua Casa comemorava porque Régulos capturara o pomo de ouro. 320x70 foi o placar final. Zaniah fizera seis gols e Darwin cinco. Ela ganhara a aposta. Theodore logo chegou ao seu lado e eles dois riram juntos, batendo as mãos num high-five.

— Eu odeio vocês. – Madeline disse quando chegou perto deles. Theo riu alto.

— Eu já falei que adoro tirar dinheiro de você?

Zaniah viu quando Rabastan desceu sozinho até o chão coberto de neve. Easton ficou o observando, curioso.

— Ótimo jogo hoje, Easton. – A Black elogiou quando passou ao lado dele.

— Obrigado, Zaniah. – O terceiranista parecia levemente envergonhado.

A garota voou em direção ao vestiário o mais rápido que pôde.

— Rabs? – Entrou chamando pelo namorado. Encontrou ele deitado num dos bancos, completamente vestido com o uniforme de jogo. A vassoura largada desajeitadamente ao seu lado. Ele estava com os olhos fechados e uma expressão de clara tristeza. Zaniah se aproximou dele e tocou seus cabelos.

— Lembrou que eu existo? – Ele indagou com a voz amarga. Zaniah sentiu seu coração murchar.

— Meio irônico me perguntar isso depois de uma semana sem falar direito comigo, não? – Ela falou, o tom de voz era duro e levemente vingativo.

Rabastan sentou no banco e olhou a garota nos olhos.

— Estou arrependido, Zaniah! Era isso que queria escutar? Porra, pedi perdão ontem à noite, mas não sei se você lembra dessa parte, já que me deixou sozinho no quarto hoje de manhã. – Ele falou, despejando o que estava sentindo.

— Eu sei que me pediu desculpas, Rabastan. – Zaniah falou, segurava-se para não chorar na frente dele. Não saberia dizer se era de tristeza ou de raiva. – O que eu não sei é se eu estou pronta para perdoar sua imaturidade. – Falou tudo que estava no seu coração. Pegou sua vassoura e saiu do vestiário. Indo na direção contrária dos outros jogadores que começavam a entrar no vestiário.

Foi ao Castelo sozinha.

/*

Zaniah olhava os campos cobertos de neve através da janela do trem durante o crepúsculo. Pelo horário, já estavam chegando na Estação de Kings Cross, em Londres.

Sua cabine estava em uma boa sintonia, conversavam todos calmamente. Eram apenas os seis amigos. Na bolsa de mão de Zaniah, estava a poção que ela havia terminado para o Lorde das Trevas. Cada hora que passava, pensava mais na sua provação. Precisava passar, mas não queria. Ouviram um toque no vidro da cabine. Zan ergueu os olhos e avistou Rabastan do outro lado, olhando-a. Ele fez um gesto para que ela saísse da cabine e o acompanhasse. Zaniah não demorou muito para se levantar.

Abriu a porta da cabine e a fechou logo que saiu.

— Oi. – Rabastan falou com a voz fraca. – Nós podemos conversar? Não quero passar nosso feriado mal com você.

O coração de Zaniah se aqueceu, ela assentiu apenas, mas segurou a mão dele e o puxou para uma cabine vazia no vagão.

Aquele toque era muito cotidiano outrora, mas se tornara escasso nos últimos dias.

Entraram na cabine e Zaniah logo se sentou no banco. Rabastan em sua frente. Ela fez um gesto para que ele falasse, não confiava em sua própria voz naquele momento.

— Eu quero que você me diga tudo que está acontecendo e te machucando, Zan. – Ele falou. – Eu quero consertar tudo que estiver ao meu alcance.

Então ela desabafou. Contou o quanto se sentia esgotada por todas responsabilidades que tinha. Contou o quanto se sentia culpada pela poção que fizera, capaz de matar alguém enquanto o torturava. Contou o quanto sentia saudades de Sirius e o quanto o queria por perto. Enfim, contou como sentia-se monopolizada por Rabastan e o quanto sentia falta dos amigos. Falou como se afastara de Régulos nos últimos tempos e o quanto Antony parecia mais contra ela do que a favor.

Quando percebeu, lágrimas escorriam pelo seu belo rosto, lágrimas essas que Zaniah já não conseguia controlar. Rabastan se ajoelhou entre as pernas da garota, olhando para cima em busca de contato visual. Ergueu-se e a abraçou carinhosamente, beijando sua testa. Com cuidado, largou-a e sentou-se o mais próximo da janela que conseguiu, então puxou o corpo de Zaniah para perto do seu. Apoiou sua cabeça em suas pernas e acariciou os cabelos da namorada.

Aos poucos, o choro de Zaniah foi diminuindo, sua respiração se regulava e ela se acalmava. Ficaram daquela forma, em silêncio, até o final da viagem, quando o Expresso de Hogwarts parou na Plataforma 9 ¾.

Zaniah se recompôs, tentando disfarçar ao máximo sua cara de choro recente.

Ela e Rabastan saíram do trem juntos, avistando os familiares ao longe. Walburga sorriu satisfeita ao ver os dois juntos. Daquela vez, os Nott iriam junto à residência dos Lestrange, na praia.

Não demorou muito para que seu pai, Orion, segurasse sua mão, fazendo-os aparatar.

O cheiro de mar se fez presente na sua primeira respiração. Theo e Mad pareceram impressionados com a paisagem. Zaniah não os julgava, ficara daquela mesma forma na primeira vez que fora ali.

No entanto, dessa vez, o primeiro som que a garota Black ouviu não foi o das ondas se quebrando na praia, mas sim de alguns gritos e feitiços sendo lançados.  

Bastou olhar para sua direita, de onde vinham os sons, para entender do que se tratava. Lá estava ele, com sua pose majestosamente impecável. Com uma expressão indecifrável. Com a aura de poder inegável. Zaniah sentiu seu corpo curvar para frente, como sempre, ela era normalmente atraída por ele. Tom encarou os recém chegados e esboçou uma expressão satisfeita. Então, voltou sua atenção à pequena área na areia que apresentavam obstáculos artificiais. Pedras, cordas, barras de ferro tão afiadas a ponto de apunhalar alguém. Bellatrix e Rigel estavam duelando ali, os dois visivelmente cansados, mas dando tudo de si.

Tom balançou sua mão e toda área se desfez, sobrando apenas areia pura. Bella curvou o corpo, segurando os joelhos, enquanto Rigel se permitiu sentar na areia.

Andrômeda, Rodolphus, Lúcius e Narcisa, que observavam o duelo, logo olharam os recém chegados. Tom olhou nos olhos de Zaniah, provocando a Legilimência. A Black permitiu a entrada, as antigas memórias secretas ainda intocáveis na sua mente, inacessíveis.

Vejo que terminou sua pesquisa.

A voz do Lorde das Trevas ressoou em sua mente.

Sim.

Respondeu simplesmente

Estou ansioso para ver o resultado.

Estou ansiosa para apresentá-lo.

A voz de Zaniah, mesmo na mente, tinha um tom único de submissão. Riddle a encarava com os olhos brilhando.

— Black. – Ele falou em voz alta. – Siga-me. – Saiu andando e Zaniah foi atrás. Alguns olhares queimando em suas costas.

Tom tinha um pequeno gabinete na casa dos Lestrange, tinha seu escritório e seu quarto no mesmo cômodo, junto de um banheiro privativo. Ele fez um sinal para que ela se sentasse. Assim o fez.

Tom deu a volta na mesa, parando na frente de sua cadeira, mas não se sentou. Ao invés disso, apoiou suas mãos na mesa e curvou seu corpo para perto do de Zaniah. Olhou-a nos olhos e aproximou sua face da dela. Ela não recuou nem um milímetro e ele não negou gostar disso.

A Black encarava aqueles olhos com um certo nível de temor e submissão, mas ao mesmo tempo sentia encanto. Enquanto parte de seu corpo queria se esconder do olhar do homem a sua frente, outra parte se recusava a ceder. Ela tinha um orgulho para zelar.

Sentiu algumas memórias voltando a sua mente e assim soube que o Lorde das Trevas acessava suas lembranças.

Assistiu suas lembranças de novo, desde o início do ano letivo. Viu-se fazendo as pesquisas das poções, entrando na Floresta Proibida com Rabastan, trocando de turno de monitoria com Darwin, curtindo um dia de sol no jardim com os gêmeos Nott, uma partida de Xadrez com Régulos. Viu-se acordando em sua cama assustada pela batida na porta, os amigos explicando que Rabastan estava irritado. Viveu mais uma vez todas as vezes que tentara falar com ele e fora ignorada. No café da manhã, na tarde de terça-feira, nos jantares e então no Salão Comunal. Viu-se correr para o dormitório, magoada.

Não. Falou dentro de sua mente, tentando estabelecer Oclumência. Isso é pessoal demais.

À medida que tentava resistir, Riddle forçava-se ainda mais para dentro de suas lembranças, então chegou na discussão no vestiário e o choro no trem.

Riddle saiu de sua mente ao ver a última lembrança que considerou importante. Zaniah recostou seu corpo na cadeira que sentava. Sentiu o cabelo grudar no pescoço. Suor.

Tom, na sua frente, secou uma mísera gota de suor de sua testa, voltando a ficar com a aparência perfeita.

Enquanto isso, a mais nova tentava recuperar o fôlego, sua cabeça jogada para trás. Completamente vulnerável.

Sentiu uma gota de suor escorrer de sua testa até a frente de seu pescoço, indo em direção ao decote de sua blusa. O caminho do líquido foi impedido pelo Lorde das Trevas, que o secou.

— Então seu relacionamento está passando por uma fase ruim, hm? – Ele perguntou com um tom de voz sínico. Não precisava que ela respondesse, suas lembranças já o haviam mostrado tudo que ele precisava saber.

Zaniah suspirou, derrotada.

— Doce Zaniah... – Tom falou com uma voz melodiosa. – Seus talentos são muito brandos para que gaste tempo em um relacionamento que não a faz feliz. – Ele falou com tamanha naturalidade que a garota se assustou. – Recomponha-se. – Ele ordenou, o tom de voz mudando drasticamente. – Em vinte minutos você fará a apresentação e demonstração de seu trabalho.

Então o homem saiu do quarto, deixando-a sozinha com seus pensamentos, ainda tentando retomar o fôlego. Onde Tom havia passado seu dedo, para secar sua gota de suor, queimava. Mas não era uma queimação ardente, que a machucava. Não. Era uma queimação boa.

Com um pouco de dificuldade, levantou-se. Tomou a liberdade de utilizar o banheiro do homem. Lavou seu rosto, a água gelada já permitindo que a vermelhidão de suas bochechas aliviasse. Penteou seus cabelos com a escova que achou ali e reorganizou suas vestes. Estava novamente impecável, como uma Black deveria ser. Não sabia, no entanto, quanto tempo havia se passado desde que Tom saíra do cômodo. Resolveu procurar pelo homem que agora sabia, melhor que qualquer outro, tudo que se passava pela cabeça da garota.

Quer dizer, quase tudo.

Achou-o na sala de jantar da casa, onde pessoas que ela conhecia de vista estavam. Aparentemente naqueles últimos meses Tom havia aumentado ainda mais seu número de seguidores.

— Zaniah! – Ele exclamou ao vê-la chegar. Segurava uma taça de vinho e controlava tudo que estava sendo feito ali. – Querida, venha cá. Quero lhe apresentar uma pessoa.

A garota se aproximou vagarosamente do seu Lorde, colocando-se à sua direita. Viu, então, que outro homem se aproximava deles. Era alto e tinha ombros largos, Zaniah pensou que ele parecia uma porta. Seus cabelos eram loiros ao ponto de serem quase brancos e seu corte era ao estilo romano.

— Senhorita Black, Lorde Riddle me contou muito sobre você. – Ele disse num inglês com sotaque forte, então Zaniah soube que ele não era britânico.

Tom passou sua taça de vinho para sua outra mão, a esquerda, e então colocou sua mão direita nas costas da Black.

Uma leve corrente elétrica passou pelo corpo de Zaniah com esse gesto.

— Querida, esse é Erik Gunnar Olsson. – O homem fez uma leve reverência em cumprimento à mais nova. -  Ele é encarregado da regulamentação de poções do Ministério da Magia da Suécia. Ele está particularmente interessado na sua mais nova invenção. – Riddle disse orgulhoso.

— É muito satisfatório ver jovens tão interessados em criar novas poções. – Erik Gunnar falou com seu sotaque forte, parecia lisonjeado. - É importante pensarmos que não criamos tudo que podíamos ainda. Você é a prova viva disso, senhorita Black. 

— Está quase na hora da apresentação, inclusive. – Tom falou e Zaniah sentiu-se levemente ansiosa. Aparentemente, seu Lorde percebera, pois acariciou um pouco suas costas. – Abraxas? – Chamou pelo antigo amigo e padrinho de Zaniah. O patriarca Malfoy apareceu quase instantaneamente. Fez uma leve reverência, esperando pela ordem. – Chame os outros.

— Sim, Milorde. – Abraxas falara com submissão e então saiu apressadamente.

Zaniah se surpreendeu com aquilo. Os Malfoy’s eram famosos pelo seu orgulho e por se acharem superiores aos demais. Ver o patriarca da família tão submisso a Riddle fez Zaniah admirá-lo ainda mais pelo seu poder.

Não percebeu, mas olhava Tom com uma certa devoção. O homem percebeu e virou seu rosto, os dois olhos se encontraram e Zaniah estremeceu com a visão do azul cobalto de suas íris. Riddle lhe sorriu divertido, sua mão ainda nas costas de Zaniah. Ela sentiu as pernas tremerem um pouco e o ar sair de seus pulmões, sem retornar.

Pela primeira vez reparou que Tom não parecia ser tão velho quanto seu pai, seus tios ou seu padrinho, mesmo que fosse. Enquanto Orion Black tinha e aparentava ter mais de quarenta anos, Tom parecia ter congelado aos vinte e cinco.

Isso, de forma alguma, deixava-o menos amedrontador.

Desviaram seus olhares quando ouviram diversas pessoas chegando no cômodo. Todos estavam lá para ver, naquela noite, o resultado perverso de sua poção.

Eles só não sabiam disso.

— Muito bem, sentem-se todos. – Tom disse após um tempo, apontando para a imensa mesa naquela sala de jantar. – Zaniah, Rabastan, venham aqui, por favor.

Os dois se aproximaram da ponta da mesa, onde Tom estava. O mais velho se colocou no meio dos dois, Zaniah à sua direita.

— No final das férias escolares desses dois jovens, eu lhes dei uma missão particular. – Tom contou, na mesa todos os familiares se surpreenderam com isso. – Rabastan recebeu a tarefa de estudar tudo que podia sobre manipulação de mente e Zaniah recebeu a tarefa de criar uma nova poção a base de Sangue de Centauro e seiva de Visgo do Diabo. Rabastan terá uma cobaia durante todo recesso de Natal, já Zaniah, que já tem a poção pronta, vai apresentá-la hoje.

Zaniah respirou fundo. Tinha medo do que sua poção causaria.

Orion, Walburga e Régulos a olhavam embasbacados. Apostava que seus amigos estavam assim também, mas não teve coragem de olhá-los naquele momento. Não com o que aconteceria a seguir.

Respirou fundo, forçando suas pernas a pararem de tremer. Tom a alcançou uma caixa pesada revestida em couro preto de dragão. Ela abriu e lá estavam o frasco de poção e um pergaminho pequeno com coisas ilegíveis escritas. Zaniah retirou o pergaminho e o aumentou com magia. Ele chegou ao tamanho de um quadro e agora todas suas informações se faziam claras.

Poção Troca-Órgãos

Ingredientes fundamentais: Sangue de Centauro (para matar), Seiva de Visgo do Diabo (para retardar), Descurainia (para trocar) e Casca de Semente de Datura (para não permitir a morte na troca).

Em seguida, havia a receita da poção, com um lembrete que ela ainda estava propensa a alterações.

Zaniah acompanhou as reações dos que a assistiam ao ler a parte da descrição do que acontecera com o rato que ela havia testado a mesma poção que estava naquela caixinha. Os rostos estavam divididos em náuseas, descrença e encanto.

Viu quando Lúcius engoliu em seco. Viu os olhos brilhando de Bellatrix. Viu a descrença na face de Bartolomeu. Viu a pele esverdeada de Andrômeda.

— Eu tenho uma pergunta. – Olsson se manifestou. Zaniah agradeceu pela quebra do silêncio cortante no cômodo. – Isso que aconteceu com o rato, vai sempre acontecer dessa forma?

Zaniah respirou fundo, esperou que alguém tivesse essa dúvida. Ela sabia a resposta.

— Não, a poção tem variações completamente aleatórias. No entanto, tenho certeza absoluta que posso afirmar que qualquer uma das formas que ela vai se apresentar será letal.

O sueco sorriu com a resposta da menina. Parecia satisfeito.

— Tragam o trouxa. – Ouviu a voz de Riddle um pouco atrás de si. Parecia ansioso para ver a criação da jovem Black em ação. Zaniah estremeceu e sentiu-se tonta quando dois capangas de Riddle chegaram com um homem de aparentemente sessenta anos.

Seus cabelos eram longos e grisalhos. Estavam presos num rabo de cavalo baixo, mas alguns fios escapavam e estavam completamente bagunçados. Ele tinha as mãos amarradas e a boca amordaçada. Era magro no estado doentio e aprecia apavorado.

Tom lhe estendeu o frasquinho com o líquido amarelado dentro. Diferente de seu efeito, a coloração da poção e seu cheiro não eram desagradáveis. Tinha cheiro de plantas, como se estivesse entrado a fundo numa floresta e respirasse aquele oxigênio puro e úmido. Seu amarelo era puxado ao dourado e ao laranja ao mesmo tempo, como os primeiros momentos do pôr do sol.

— Faça as honras, Zaniah. – A voz de Tom era persuasiva, melodiosa. A garota se aproximou do homem, que a olhava desesperado, os olhos lacrimejando.

Retirou a mordaça dele sem se preocupar em ser muito delicada.

— Piedade! Por favor, piedade! – O homem gritou chorando.

— Cale-se, moribundo. – Um dos capangas disse, batendo em seu rosto. O homem caiu no chão com um gemido. Ele agora choramingava, como se aceitasse sua morte.

Zaniah abaixou-se e despejou o líquido na boca do homem. Alguns segundos depois o corpo no chão começou a tremer e ela se afastou um pouco. Foi parada pela mão de Tom que encostou em seu ombro, segurando-a. Respirou fundo mais uma vez e esperou pelo início do efeito.

Os braços começaram a se debater, o homem se curvou para frente e abriu a boca, cuspindo o que estava lá dentro. Em vez da língua, agora estava na boca do homem um grande emaranhado de tecido roseado. Era longo e fino. A língua havia sido trocada pelo intestino delgado. O homem tentava gritar, mas não conseguiu expressar nenhum som coerente. Ele colocou as mãos nos olhos, ainda em agonia. Quando suas mãos saíram de lá, dois corpos saíam das cavidades oculares. Na esquerda, era um corpo avermelhado e brilhante, o da direita era um corpo marrom e não tão brilhante. Zaniah não tardou a reconhecer o primeiro como o fígado e o segundo como o baço.

Tom, ao seu lado, cronometrava. O homem ainda se debatia aos dois minutos e meio, mas parou completamente ao chegar nos três minutos e seis segundos. Zaniah estava paralisada, mas bem. Respirava fundo para que sua pressão não baixasse.

Tirou os olhos do corpo morto a sua frente e ousou olhar para a mesa. Não havia uma única pessoa que não parecesse minimamente incomodada com aquela visão. Até mesmo sua prima maníaca, Bella, não olhava diretamente ao corpo por muito tempo. Olsson parecia surpreso e desconfortável.

— Retirem o corpo e façam a autópsia. – Tom disse aos capangas. – Anotem quais foram as trocas.

Ele levou Zaniah ao mesmo ponto que ela estava no início da reunião.

— Rabastan começará amanhã sua manipulação, ao final do recesso veremos o resultado. Estão todos liberados. – Tom disse abanando a mão. Zaniah, no entanto, não saiu do aperto de sua mão no ombro dela. Rabastan olhou à namorada e saiu da sala.

— Estou orgulhoso. – Tom disse-lhe sorrindo, então soltou se ombro. – Amanhã quero que você acompanhe os duelos, quero os julgue junto comigo. Você conhece seus colegas muito melhor que eu.

Zaniah apenas assentiu, sem conseguir abrir a boca, reverenciou-se ao seu mestre e saiu da sala a passos rápidos. Correu até o primeiro banheiro que achou, fechou a porta e foi até o vaso.

Vomitou tudo que tinha no estômago.

Naquela noite, Zaniah não dormiu.

Ficou na sala de estar a madrugada inteira. Juliet e Mad provavelmente pensavam que ela estava com Rabastan, enquanto ele pensava que ela estava com as amigas. Deitada no sofá, girava de um lado ao outro tentando cochilar um pouco. Ouviu o som de uma porta sendo aberta e de passos se aproximando.

— Eu sabia que você não conseguiria dormir hoje. – Ouviu a voz aveludada de Riddle dizendo, com uma pontada de arrogância.

Zaniah ergueu seu corpo e o olhou. Não precisava dizer nada ao homem.

— Você deve focar no fato de que seu trabalho árduo deu resultados, Zaniah. E não no que você viu.

A garota apenas suspirou. Cada vez que ela fechava os olhos a imagem do corpo morto e arrebentado voltava para sua mente.

— O cérebro foi parar no lugar do coração, o coração, no estômago, o estômago, no pâncreas e o pâncreas, no cérebro. – Tom disse indo se sentar ao lado da garota.

Zaniah apenas assentiu. Isso não a assustava, era como chegar à conclusão de efeito enquanto estudava sua poção. Ver o que acontecia era o maior problema.

— A primeira morte é sempre a mais impactante, Zan. – Riddle falou baixo, encostando de leve nos cabelos negros da garota. – Não se preocupe, ok? Esse sentimento vai passar. – Ele suspirou. – Sua primeira experiência foi realmente forte. Não sei se você percebeu, mas todos ficaram um pouco enjoados na sala.

Zaniah apenas assentiu.

Tom olhou-a com certo cuidado.

— Está quase amanhecendo. Venha, você vai me ajudar a preparar a arena hoje. – Então se levantou. A Black olhou ele por um tempo, mas decidiu acompanhá-lo.

Os dois saíram em direção ao mar, Tom balançou sua varinha e uma plataforma se formou, saindo da faixa de areia e indo até uns dois metros depois da arrebentação. Ela não tinha bordas, Zaniah observou. Desta forma, quem ultrapassasse o limite imposto por Riddle, cairia direto no mar.

Tom olhou-a, que encarava um ponto aleatório na superfície da plataforma.

— Suba. – Ordenou. Zaniah pareceu confusa e até mesmo um pouco amedrontada. O olhar de Riddle se suavizou. – Confie em mim.

A Black, pé ante pé, subiu na arena formada.

— Vou querer nivelar por você, Zan. – Tom explicou, ficando na areia. – O que você temeria se fosse lutar aí?

Zaniah olhou ao redor, puxou sua varinha de dentro do casaco e soltou um feitiço. Em diversas partes o chão pegava fogo, atrapalhando a visão e tirando lugares que poderiam ser passagens. Ao redor de cada foco de fogo, Riddle criou uma barreira de espinhos de ferro. Zaniah desviou-se deles com cuidado.

O olhar da garota foi atraído para trás da casa quando ela percebeu que o sol nascia. O mar, mesmo ao lado oposto do sol, avermelhava-se com sua luz.

Tom pareceu satisfeito.

— Vamos. – Ele disse. – Está na hora dos outros acordarem, vocês todos vão tomar café e depois vão vir para cá.

Zaniah olhou nos olhos de Tom e deixou que seus pensamentos fluíssem até ele.

Eu também vou precisar lutar?

Tom a olhou com curiosidade.

— Não, Zaniah. Estou bastante satisfeito com sua atuação ontem. Além disso, vamos receber uma presença inédita hoje, amigo de Lúcius, assim tudo ficará equilibrado.

A garota não entendeu, mas apenas assentiu, continuando a caminhar em direção à casa.

Ao entrarem na casa, Tom balançou a mão e um som de sirene se alastrou. Zan duvidava que até mesmo Juliet, com seu sono pesado, não fosse acordar com aquele som insuportavelmente alto.

Poucos minutos depois já estavam todos tomando café, a maioria com cara de sono. Zaniah começava a sentir o cansaço, resultado da noite em claro. Percebeu que alguém a bombardeada com olhares. Seguiu-o e chegou até Bellatrix, que parecia irritada pela posição que Zaniah ocupava, à direita de Tom, enquanto ela se sentava num lugar qualquer da mesa. À sua frente e à esquerda de Tom, estava Lúcius, parecendo levemente temeroso, enquanto olhava cautelosamente para Zaniah, uma ou duas vezes por minuto.

Riddle lhe entregou um frasco pequeno com uma cor violeta translúcida. Zaniah percebeu na hora que se tratava de uma poção revigorante.

— Tome, vai se sentir melhor. – Ele falou enquanto a oferecia. Sua voz era baixa e amigável, como se não quisesse que outros o ouvissem.

Zaniah sabia que era a preferida do homem. Como ele sempre dizia, sua soldado mais promissora, a mais talentosa. Não era à toa que havia sido ela a escolhida para a criação da poção. Ele acreditava nela. Na verdade, Tom havia sido o primeiro a enxergar e valorizar o potencial de Zaniah como bruxa, agora ela enxergava isso. Diferentemente de todos os outros que a idolatravam por seu sangue, sua linhagem e seu sobrenome, Tom a valorizava por sua magia, por sua inteligência.

No momento que a poção revigorante tocou seu estômago, sentiu-se melhor. Tom ainda a avaliava com o olhar.

Mais uma vez, Zaniah o encarou em seus olhos.

Estou melhor.

O homem apenas assentiu levemente com a cabeça. Esperou que todos terminassem sua refeição e convocou um elfo doméstico para que ele limpasse a bagunça.

Burburinhos começavam na mesa, mas Zaniah estava paralela a todos eles. Era estranho, e talvez até errado, admitir que a presença de seu Lorde a deixava levemente embriagada. Seus braços estavam apoiados na mesa, relaxados, e Zaniah não tinha consciência deles, até que Tom segurou seu antebraço, afim de chamar-lhe atenção.

Seu olhar era sugestivo e Zaniah não precisava da conexão legilimente para entender o que ele queria dizer, ela apenas assentiu. Quando ele desencostou suas peles, a Black sentiu mais uma vez a ardência onde ele segurava.

Tom olhou seu relógio. Levantou-se, sendo acompanhado por todos os presentes na mesa.

— Nosso convidado de hoje, amigo de Lúcius, estará chegando em questão de dois ou três minutos. – Tom falou e diversas pessoas pareceram surpresas, outras confusas. Assim como Zaniah, eles não sabiam dessa notícia. – Vamos todos à praia, tem uma surpresa esperando vocês lá.

Tom saiu da casa na frente, guiando Zaniah para que ela o acompanhasse. Seu olhar cruzou com o de Rabastan, que lhe dirigiu uma expressão confusa. Ela apenas negou com a cabeça, esperando que ele captasse a mensagem de que ela não entendia por completo o que acontecia.

Não demorou para que todos avistassem a grande plataforma assassina que Tom e Zan haviam construído.

Zaniah escutou um barulho muito parecido com o de aparatação e se virou ao local, assim como todos os presentes. Viu, então, quem era o convidado de Lúcius. Aquele cabelo negro, a pele pálida, a postura um pouco desengonçada. Zaniah sentiu a raiva lhe dominar.

Severo Snape estava ali na frente, na areia da praia de seu sogro. Aquela criatura abominável, nojenta e ingrata estava lá, no seu lugar preferido no mundo.

Perdeu o ar dos pulmões ao mesmo tempo que sentiu o vento na praia aumentar. As ondas se agitaram, subindo de dois a sete metros num instante.

O olhar de fúria da Black ao Snape esclareceu quem causava aquela mudança repentina na praia.

Alguém segurou seu braço, numa tentativa de contê-la. Não foi o suficiente, sua raiva ainda a dominava.

— Eu sei que você o odeia, eu também odeio. Mas, Zaniah, você vai destruir tudo se continuar assim. – Escutou Darwin dizendo ao seu lado. Era ele quem a segurava. – Respire fundo. – Assim ela o fez e o vento diminuiu, as ondas voltaram ao normal, sua respiração regulou-se novamente, mas seus olhos não pararam de transmitir a fúria que transmitiam antes.

Tom olhou-a surpreso, mas apenas começou sua explicação.

Ele os dividiria em duplas e eles deveriam se enfrentar na passarela até que um dos participantes ficasse imóvel durante dez segundos. As regras eram claras: sem mutilar, torturar ou matar. De resto, era tudo permitido.

— Nem Rabastan nem Zaniah vão participar, o objetivo deles é outro. – Tom falou. Zan viu Bella a fulminar com o olhar novamente, mas um pouco vacilante. Não entendeu o significado do gesto da prima, mas resolveu ignorar.

Riddle retirou um pergaminho do bolso de seu casaco e deu uma batida leve nele.

— As duplas serão formadas magicamente, afim de não causar injustiças óbvias. – Tom explicou.

O pergaminho brilhou em sua mão e ele pareceu surpreso antes de ler a primeira dupla.

— Madeline e Bartolomeu.

Os dois trocaram olhares cúmplices, ferozes e divertidos. Todos os outros participantes sentaram-se na areia, assim como Zaniah e Rabastan, que estavam fora da atividade.

— Vou ficar com a cobaia todas as tardes durante o recesso. – Rabastan disse, Zaniah se virou para ele. – O Lorde das Trevas quer que eu aprofunde o máximo possível a manipulação.

O olhar de Zaniah foi desviado à passarela quando o duelo começou.

Madeline era feroz, atacava sem parar e Bartolomeu só tinha tempo para se proteger, sem conseguir atacar de volta. Foi quando o Crouch conseguiu ricochetear um estupefaça que o duelo de verdade começou.

Eles se preocupavam em atacar e se defender, enquanto desviavam dos obstáculos pontudos ou de fogo na passarela. Zaniah conseguiu entender o padrão de Madeline rapidamente. Ela tentava ganhar tempo, enquanto Bartolomeu tentava ser o mais rápido possível.

O tempo passava enquanto eles lutavam e Zan mal percebeu. Quando se deu conta, Bartolomeu voava através da passarela, caindo na areia com um baque forte.

Tom observava seu relógio e suspirou quando os dez segundos se passaram.

— Madeline ganhou. – Ele declarou.

A Nott desceu a passarela apressada, chegando no ponto da areia onde o amigo estava caído. Ajudou-o a se levantar e os dois caminharam tranquilamente até o resto do grupo.

— Bellatrix e Rigel. – Tom anunciou, Andrômeda estremeceu e Bella sorriu malvada. Enquanto isso, o Flint parecia indiferente.

O duelo foi longo e intenso. A magia de ambos era muito forte, mas algo estava errado. Bella se distraía com muita facilidade. Era como se ela não estivesse 100% presente naquele momento.

Rigel se aproveitou disso, seu incarcerous não verbal atingiu a Black em cheio, impossibilitando-a de se mexer. Sem conseguir sair das cordas que lhe prendiam, Bellatrix viu quando Riddle apontou o Flint como o vencedor.

Andrômeda ganhou de Narcisa, o que não deixou Zaniah surpresa. Andie sempre lhe pareceu a mais corajosa das três.

Lúcius e Rodolphus batalharam ferozmente, mas foi o Lestrange que teve vantagem no final, quando congelou o Malfoy.

Régulos e Snape tiveram um duelo equilibrado e limpo, mas Régulos já tinha mais experiência com os treinamentos de Riddle, então não demorou muito para que imobilizasse o convidado.

Theo e Juliet se enfrentaram de forma intensa. Os dois tinham olhares ferozes nos olhos e não mediam esforços para derrubar o outro. Ainda que o Nott fosse forte e talentoso, a Avery era mais esperta e, depois de um tempo considerável de duelo, a garota levou a melhor.

Darwin, ao lado direito da Black, levantou-se antes ainda que seu nome fosse chamado. Sobrara ele e Antony, que sorria maliciosamente.

A batalha começou equilibrada, mas Darwin tinha certa malandragem que lhe dava vantagem sobre o Dolohov. Pela visão periférica, viu quando seu padrinho, Abraxas, abordou Tom, tirando-lhe um pouco de sua concentração. Eles discutiram algo baixo que parecia muito sério, pelas suas expressões.

Voltou sua atenção ao duelo, que já estava muito diferente do início. Antony avançava agressivamente, enquanto Darwin se esforçava para se proteger. Então, com muita clareza, Zaniah ouviu o melhor amigo de seu namorado proferir a maldição.

— Crucio.

Darwin caiu de joelhos, agonizando com a tortura. Zaniah reviveu o pior momento de sua vida, naquela mesma praia, sendo torturada pelo seu Lorde.

Pela primeira vez desde que vira o resultado de sua poção, um som saiu da garganta de Zaniah.

— Darwin! – Gritou, desesperada. Tentou correr até o amigo, mas seu corpo foi impedido de sair do lugar. Procurou pelos olhos de Tom e ele viu seu desespero. Ao voltar a atenção ao duelo, Tom percebeu o que acontecia. Enfurecido, com um movimento de varinha Antony estava suspendo no ar, paralisado.

Zaniah conseguiu se desvencilhar do que a segurava. Sentiu um incômodo no braço esquerdo, mas o ignorou. Correu até Darwin, que estava consciente, porém confuso e arfante na areia. Juliet, Mad, Bartô e Theo correram junto dela, preocupados com o amigo.

— Darwin... – Zaniah falou baixinho, tentando reconfortar o garoto.

Riddle encarava Antony com raiva.

— As regras eram claras, Dolohov. – Falou com desprezo. – Você vai sofrer retaliações. Aguarde.


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Notas finais do capítulo

Comentem o que vocês estão achando, gente, sério! Eu fico bem trsite ao ver que vocês não interagem comigo, se vocês quiserem e puderem, comentem o que esperam para o próximo capítulo... O que vocês acham que vai rolar?



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