Zaniah acordou sentindo-se enjoada. Abriu os olhos e não reconheceu o local que estava, até que se lembrou que se encontrava em Pembrokeshire. Percebeu, pela brisa que entrava no cômodo, que a janela estava aberta e mostrava um céu completamente estrelado, revelando que já havia anoitecido há muito tempo.

Tentou girar seu corpo em direção à janela, mas quando finalizou o movimento sentiu seu estômago revirar e quando percebeu já expelia um líquido gosmento e amargo. O movimento brusco lhe deixou zonza e sentiu que iria cair da cama quando sentiu que duas mãos a seguravam.

— Zaniah, consegue me ouvir? – Escutou a voz, sem reconhece-la, enquanto seu salvador afastava seus cabelos de seu rosto e a apoiava de volta no travesseiro.

A garota resmungou levemente. Sentia sua garganta tão seca que nem conseguia falar. Ao mesmo tempo, sua cabeça doía tanto que se sentia incapaz de abrir os olhos.

Seu salvador pareceu lhe entender e sentiu um copo ser colocado sobre seus lábios. Abriu sua boca levemente e sentiu água preenche-la. Água pura, limpa. Muito diferente daquela que havia quase se afogado mais cedo. Engoliu, sentindo sua garganta se lubrificar em poucos instantes depois. Com uma leve tossida, recuperou sua voz.

— O-obrigada. – Ela falou baixo, ainda sentindo que sua cabeça fora apedrejada.

Mas talvez pedras teriam causado menos dor do que uma maldição do Lorde das Trevas.

— Aqui. – O salvador falou, colocando outro frasco sobre os lábios de Zaniah. – Tome isso, vai lhe ajudar.

Zaniah aceitou o líquido, abrindo os lábios. Instantes depois, sentiu-se melhor, com menos dor de cabeça e finalmente conseguiu abrir os olhos.

Ao abri-los, identificou os olhos do seu salvador. Aqueles olhos. Verdes como as folhas das árvores no início do verão. Os olhos que refletiam toda a emoção de seu dono, mesmo que esse parecesse impassível a prima vista.

— Rabastan. – Ela disse, surpresa.

— Zaniah – Ele disse, sorrindo ladinamente. – Não esperava minha presença? Não a agrada?

— O quê? – Zaniah falou, confusa. – Claro que me agrada, Rabs. – Ela falou e o garoto sorriu pelo uso do apelido. – Só esperava que, sei lá, Régulos ou Bartolomeu fossem estar aqui.

— Na verdade, eles queriam. – Rabastan disse, num suspiro. – No enato eles começaram a discutir sobre qual dos dois viria ficar com você, o Lorde se irritou e me mandou.

Zan tinha total certeza do porquê Tom mandara o caçula dos Lestrange. Era nele que Zaniah pensava enquanto Riddle invadia sua mente.

— E como está? – a Black perguntou receosa. – Digo, lá fora. Como estão lidando com a notícia?

— O Lorde das Trevas foi bem específico quando disse que você tinha seus motivos para agir como agiu, mesmo que ele tivesse decepcionado. E foi muito categórico ao dizer que você já havia recebido a devida punição, então que era para tratá-la normalmente, afinal você continua sendo a pupilo dele. – Rabastan falou, imitando a forma de Tom falar. – Ele disse nessas exatas palavras.

O sorriso de Zaniah naquele momento foi realmente espontâneo. Sempre que Tom se referia a ela como pupilo ela se sentia valorizada.

— Então... Tom comentou dos meus motivos?

— Sim. – Rabastan ficou sério no mesmo momento. – Francamente, Zaniah Lucrecia Black, nunca passou pela sua cabeça me contar como se sentia em relação a tudo? – Ele parecia não só decepcionado, como verdadeiramente magoado. – Eu fui extremamente realista quando disse que você não é só a irmã do meu melhor amigo, como é minha amiga também. No entanto, quando mais precisou de ajuda, resolveu se apoiar no melhor amigo do seu outro irmão. Do irmão que nós sabemos que tem pensamentos de índole duvidosa para alguém daquele berço.

— Eu sinto muito, Rabastan. Só que tudo aconteceu muito rápido. – Ela desabafou. – E mesmo que eu tivesse vontade de voltar ao grupo, vocês sempre pareciam fazer uma fortaleza ao redor de Juliet. E eu não estou pronta para perdoar o que ela me disse aquela noite. Me feriu. Muito.

Rabastan a olhou, seus olhos expressando culpa.

— Eu sinto muito, Zan. Nós falhamos com você.

Zaniah abaixou os olhos. Não queria dizer que sim, eles haviam falhado com ela. No entanto, não mentiria.

— Eu senti sua falta, Zan. – Rabastan disse após alguns segundos em silêncio, fazendo a mais nova erguer seu olhar.

Zaniah sorriu, sentindo seu coração martelar contra o peito.

 - Eu também senti sua falta, Rabs. – Ela declarou em um suspiro, segurando a mão do garoto, a qual repousava sobre a cama que estava deitada. – Você não faz ideia do quão importante é para mim. – Disse por fim, sentindo-o apertar seus dedos contra os dele.

—  Faço ideia sim. – Ele disse olhando profundamente em seus olhos. – Porque é o mesmo tanto que você é importante para mim.

Naquele momento, Zaniah olhou para as duas mãos entrelaçadas em cima da cama, para depois voltar sua atenção ao par de olhos verdes a sua frente. Teve a leve impressão de que os olhos de Rabastan estavam mais pertos de si agora, e se aproximavam cada vez mais.

Zaniah sabia o que estava por vir, esperou aquilo ansiosamente, sentido seu coração disparar a cada centímetro que os dois se aproximavam. Seus olhos ora olhavam para os de Rabastan, ora para sua boca. Desenhada, com o lábio superior levemente afinado, enquanto o inferior era mais carnudo. E sabia que ele fazia exatamente a mesma coisa, alternando entre seus olhos negros como a noite e sua boca carnuda e naturalmente rosada.

Estavam tão perto um do outro que Zaniah conseguia escutar os batimentos acelerados do coração de Rabastan. Sorriu internamente com o pensamento que ele parecia estar querendo aquilo tanto quanto ela.

Porém, uma batida na porta fez com que os dois se separassem rapidamente, assustados. O coração de Zaniah batia aceleradamente quando Joseph Lestrange colocou sua cabeça para dentro do quarto.

— Querida! Que bom que já acordou! – Ele falou, parecendo realmente aliviado. – Sente-se bem? – Perguntou alarmado e Zaniah assentiu rapidamente, fazendo-o sorrir. – Ótimo, vim buscá-los para o jantar. Vamos, querida, precisa se alimentar depois dos acontecimentos.

— Certo, eu só preciso trocar de roupa. – a Black disse ao perceber que haviam posto uma grande camiseta de algodão, provavelmente de Rodolphus, para que ela ficasse mais confortável enquanto estava inconsciente.

Joseph pareceu rir com seu comentário e com um balançar de sua varinha, Zaniah vestia uma saia rodada preta que ia de seu umbigo até quatro dedos acima do joelho e um top roxo vinho. Seus cabelos foram magicamente penteados e nos pés da cama apareceu um par de sandálias rasteirinhas também pretas. A Black sorriu ao agradecer seu tio de consideração. Rabastan lhe ofereceu a mão, para utilizar de suporte, quando ela saiu da cama. Essa a segurou sem pensar duas vezes, calçando seus sapatos e então os dois seguiram Joseph para fora do quarto, ainda de mãos dadas.

Fizeram uma curva que daria para uma escada que, então, os levaria para uma espaçosa sala de estar, que ficava ligeiramente ao lado da de jantar. Quando apareceram no topo da escada, todos olhares voltaram-se a Zaniah. E ali ela pôde perceber olhares de admiração, carinho e surpresa.

— Estamos todos impressionados com sua resistência a maldição do Lorde. – Rabastan sussurrou em seu ouvido, ainda segurando sua mão.

E era verdade.

O Lorde das Trevas lhe encarava com um olhar que ia muito além da satisfação. Ele a admirava. Sorriu maldosamente com aquilo, encarando Juliet logo em seguida. Ela lhe parecia particularmente amedrontada.

E Zaniah, em seu âmago, admitiu ter gostado de vê-la daquela forma.

Porque assim deveria ser.

Zaniah era a rainha e Juliet era sua serva.