When I Was... escrita por sabrinavilanova


Capítulo 1
Parte I - MR. PERFECT BROCCOLI


Notas iniciais do capítulo

Olá, seres humanos. Essa é uma fanfic tododeku dedicada à Nathy Maki, o meu rouxinol, como presente de aniversário dessa deusa. Parabéns, anjo. 

Vamos lá ao pequeno aviso, essa fanfic pode conter menção a suicídio. Então, se esse é um gatilho seu, pode sair. Apesar de ser algo que passa rápido, ainda é importante que vocês saibam. 

Essa história seria uma one-shot, mas houve uma mudança de planos e agora vai ser uma two-shot. Espero que gostem!!



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Shouto Todoroki era uma criança estranha. 

Para além da sua heterocromia ocular, o garoto agia estranhamente em qualquer situação que tentasse se encaixar. Era sempre a criança que brincava sozinha, estudava sozinha, fazia tudo sozinha. Totalmente diferente das outras crianças. 

Quando fez nove anos, ele descobriu que seu maior prazer de vida era ficar parado nos bancos da igreja perto de casa, observando a mistura entre as cores dos vitrais lá no alto e os raios solares, que adrentavam pouco a pouco aquele ambiente. Talvez fosse porque aquelas cores em específico eram as que realmente conseguia distinguir, o vermelho e o rosa eram cores bonitas demais para o garoto. Aquelas que saiam do verde de sempre. Ele odiava verde, porque era a única coisa que conseguia enxergar e nunca conseguiria distinguir do azul. 

Quando tinha doze anos, Shouto criou o costume incomum de verificar se sua irmã estava respirando todos os dias quando a garota ia dormir. Fuyumi havia passado o último verão inteiro na cama de um hospital por causa de um problema pulmonar hereditário, herdado de seu tão querido pai ― que havia os abandonado há quatro verões. Todoroki não sabia por que fazia aquilo, não sabia mesmo e ninguém poderia dar-lhe uma explicação suficientemente convincente para aquele hábito idiota. Mal sabia ele que algum tempo depois, passaria a fazer o mesmo com todos os membros de sua família e que aquele costume bobo teria salvado a vida de sua irmã duas vezes nos próximos anos. 

Quando ele fez quatorze, passou a acordar todas as manhãs na mesa da cozinha. Não importava se trancasse a porta ou se tentasse dormir no quarto de sua mãe, era muito comum encontrar o garoto em pé naquele lugar, prontinho para subir na mesa de mármore e passar o resto da noite ali. Em sua mente besta, a única opção viável era parar de dormir. 

E foi isso que ele fez. 

Passou noites e mais noites acordado. Escrevendo cartas para seu pai, perguntando como e onde estava, se viria visitá-los ou se poderia telefonar de vez em quando. Cartas que nunca chegariam a Enji, é claro. Porque Enji era um ser humano desprezível, ele nunca, em hipótese alguma, poderia pedi-lo para voltar. Shouto era um garoto crescido agora, não tinha porque gostar de seu progenitor. Ou sentir saudade, ele definitivamente não sentia. Com o passar do tempo, o jovem substituiu a escrita pelos pequenos treinos de violão durante a madrugada acompanhados por doses e mais doses de café, o que não agradava em nada sua mãe e seus irmãos. Porém, eles não poderiam reclamar se Todoroki entrasse no armário e não fizesse tanto barulho com o instrumento, não é? 

E foi daquela forma que ele começou a lidar com os chamados pequenos eventos noturnos. Até o inverno chegar e sua mãe descobrir o que fazia. 

Quando completou dezesseis, ele descobriu que odiava muito a cor verde. Não bastava não poder distinguir o que era azul e o que era realmente verde, ele também havia acabado de descobrir que um de seus olhos tinha um tom bastante azulado, diferente do que pensou a sua vida inteirinha. Merda! Era uma brincadeira de muito mau gosto por parte do destino colocá-lo com duas diferenciações genéticas nos olhos, como se ele precisasse daquelas merdas! E ele realmente as odiava como nunca odiou nada em sua vida. 

Odiava quando as garotas da sua turma elogiavam a cor de seus olhos, a forma como eles eram diferentes. Odiava quando aqueles que o conheciam desde criança faziam algumas brincadeiras idiotas, apontando para diferentes cores, como se ele fosse realmente obrigado a respondê-los. E ainda reclamavam quando eram ignorados. Argh! Como ele odiava aquele tipo de situação. Foi bem ali que ele passou a dar nome para o que tinha, mesmo que há muito já soubesse, mas, com certeza, a palavra tritanopia era bem mais bonita que a palavra daltonismo. Isso ficava bem claro no tom azedo de sua expressão facial quando era chamado de daltônico. 

E foi naquela mesma época que Shouto encontrou os remédios no armário da mãe. Ele já não era mais criança para não saber o que era um remédio tarja preta, principalmente um com o nome tão conhecido. No entanto, era bastante impactante descobrir uma informação daquelas. Mais impressionante ainda quando descobriu que foi o último a saber. Não fez birra, não era escandaloso e muito menos criança. Não havia motivo para aquilo. Entretanto, em seu âmago, tinha que admitir para si mesmo que ficara chateado. 

Faltando poucos dias para seu aniversário de dezessete, ele recebeu uma carta de Enji endereçada ao seu nome e um ursinho de pelúcia que o garoto costumava carregar para todos os lugares no passado ― o mesmo que o menino lhe entregou na última noite que passou ali. Na carta, escrita aos garranchos, a letra costumeira de seu progenitor; havia nada mais que um pedido de desculpas fajuto e uma despedida formal. Ali, ele dizia que soubera que o jovem havia escrito várias e várias cartas para ele e que se sentia decepcionado por nunca chegar a recebê-las. Shouto vomitou naquele dia ao ler o “eu te amo” escrito no fim da carta. Ficou o dia inteiro deitado na cama, fingindo que estava doente, porque realmente estava. Cansado, frustrado, constipado, o que quisessem chamar. Para o jovem, aquela sensação só poderia ser fruto de uma doença grave que fazia com que seu coração não parasse de bater acelerado, que o fazia suar, e suar, e tremer, e tremer, sem que ele conseguisse se mover. 

E os olhos cheios de lágrimas não ousaram soltá-las. Eu sinto sua falta, meu filho. Ele não tinha o direito, o adolescente pensou, como ele podia ser tão cruel? 

Aquela noite foi umas das piores de sua vida, era certo. Foi quando ele decidiu fazer merda, era a noite das merdas, por que ele não podia reivindicar uma para si? Talvez aquela tivesse sido a pior delas, talvez ele houvesse exagerado na dose e tomado remédios demais daqueles que estavam escondidos. E sentiu medo, muito, muito medo quando acordou um tempo depois. Teve medo de sua mãe estar brava, de ela abandoná-lo também.  

Mas, contrariando as suas expectativas, quando Todoroki abriu os olhos, a primeira coisa que ganhou foi um abraço, cheio de lágrimas e gritinhos de felicidade. De brinde, ganhou a companhia de Touya, que morava em outra cidade por causa da faculdade, um abraço e duas noites agarrado ao irmão, o tempo que passou no hospital. E uma longa conversa, com direito a um programa todas as sextas-feiras pela manhã: psicólogo. Era uma das exigências para deixar sua mãe um pouco menos… tensa. É, essa era a palavra. 

E ele tratou de seguir copiosamente aquela programação. 

Quando Shouto tinha dezoito anos, ele conheceu uma garota chamada Momo. Ela parecia ter saído de todos aqueles clichês de televisão, a menina bonita e popular que todos amavam e odiavam ao mesmo tempo. Ele não soube como aconteceu, era um dia quente ― muito, muito quente ― e a única coisa que o jovem queria era chegar em casa para tirar aquela roupa e ficar apenas de cueca jogado na cama. Todoroki estava sentado sozinho em uma das mesas do refeitório, quando Yaoyorozu resolveu sentar bem a sua frente, com seu gloss labial brilhante e brincos grandes nas orelhas. O garoto estranhou, é claro. Afinal, uma menina tão bonita sentando em sua mesa, era bastante estranho, apesar de saber que suas peculiaridades atraíam bastante gente para perto de si, como se ele fizesse parte de um show de horrores. Ele tentou ignorar o olhar fixo em si, engolindo em seco vez ou outra, ou até tomando mais um gole da sua bebida para disfarçar, a verdade era que ele achava aquelas situações extremamente desconfortáveis. Mas não pôde fazer nada quando ela chamou seu nome, estava perdido.

― Você é mesmo Shouto, não é? O que faz dupla com o Iida na aula de química do Aizawa? ― ela perguntou, sorrindo gentil. 

Ele anuiu com a cabeça, sem falar uma palavra sequer. 

― Bom, Iida me disse para procurá-lo… ele disse que você é, tipo, um gênio da química e que poderia me ajudar. ― Ela tirou os óculos de Sol do rosto, mostrando os olhos de um tom tão escuro que poderia sugá-lo como um buraco negro. 

― Por que ele mandou você aqui? ― ele falou, enfim. ― Iida tem notas mais altas que as minhas, não tem por que ele te mandar aqui. 

―  Iida também é um péssimo professor, apesar de ser um ótimo namorado. ― Momo sorriu, cansada demais para suplicar por ajuda. As sobrancelhas de Shouto arquearam, deixando a testa franzida. Havia se enganado.

― Então, hm,  por que está aqui? 

― Já disse, preciso de ajuda. Você pode fazer isso para uma desconhecida simpática? ― Seu sorriso aumentou e Todoroki percebeu que seus olhos fechavam quando fazia aquilo. 

― Hm, tudo bem ― ele respondeu, simplesmente, e a deixou ali sentada sozinha. 

Com o decorrer do tempo, Shouto descobriu uma coisa muito importante sobre Momo: ela conhecia muita gente. Ele mal podia contar nos dedos a quantidade de pessoas que iam cumprimentá-la nos curtos períodos de tempo que passavam juntos. Porém descobriu também que a garota tinha algumas amizades verdadeiras aqui e ali, e ele sentiu inveja por isso. Nunca pensou que um dia sentiria inveja de alguém, mas, se havia alguém de quem poderia vir a ter inveja, esse alguém era Momo, tinha certeza. Shouto via nos sorrisos, nas brincadeiras e nas piadinhas internas ― que ele nunca entenderia ―, algo que ele nunca teve e que provavelmente nunca teria. E o adolescente se sentiu sozinho de novo. Porque ele era realmente sozinho e não era como se arrependesse de ser assim, não, não era isso. Todoroki gostava de ficar sozinho, mas… bem, não a todo momento. Era um tanto desconfortável ver um real grupo de amigos de perto sem fazer parte dele. Por isso, Shouto fugiu. Fugiu de toda aquela bizarrice doida que ficava em sua mente de tempos em tempos, toda vez que ficava sozinho. 

Só que ele não contava com um fator surpresa, Momo não deixaria que ele fugisse. Não sabia, ela tinha um poder muito grande de grudar nas pessoas e levá-las para perto. Todoroki não sabia o que pensar sobre isso, mas também não perguntou. 

Em agosto, ele resolveu que era hora de fazer alguma coisa. Ficar deitado na cama havia se tornado um exercício muito chato em sua humilde opinião de preguiçoso. Então, aquela decisão chegou para dar um basta em sua situação. Acordou cedo, arrumou a cama e arregaçou as mangas, pronto para acompanhar sua mãe em suas corridas matinais ― o que, digasse de passagem, fê-la dar pulinhos de alegria por poder passar mais tempo com seu caçulinha. Aquele, querendo ou não, havia se tornado um dos grandes prazeres em sua vida (bom, além da música e de tocar uma de vez em quando). A pulsação que corria todo o seu corpo até a ponta dos dedos, era como uma reação em cadeia acontecendo dentro de seu peito, ribombando como música para seus ouvidos. 

Foi bem nesse tempo que Momo e Iida o convidaram para uma “reuniãozinha para íntimos” e, pela primeira vez, Todoroki decidiu ir. Bom, não exatamente decidiu, na verdade, estava mais para uma coação por parte dos dois amigos, que não o deixaram ficar mais nenhum segundo naquele quarto. E mesmo que não fosse tão íntimo assim ― quer dizer, nada íntimo ― daquelas pessoas, ele se divertiu. Conversou com uma garota aqui, um cara acolá e aquela noite foi até que especial para o adolescente. 

Mas o mais surpreendente foi o que aconteceu no dia seguinte, quando Shouto levava seu almoço pacientemente até a mesa de sempre no canto de sempre, para ficar sozinho como sempre. Só que, bom, ele não esperava que sua mesa já estivesse ocupada, o que era um tremendo azar, já que aquele era um lugar perfeito, perto da saída e próximo da entrada de ar, mas não muito longe da cantina. Era a sua mais perfeita aquisição. E agora, ele havia a perdido. 

Preparava-se para sentar em alguma mesa vazia aleatória quando um de seus braços foi puxado com certa força e ele foi levado àquela mesa cheinha de gente. Sua mente se alarmou no mesmo instante que sentou e, quando finalmente observou onde estava, percebeu que os rostos que estavam ali presentes eram conhecidos. Aquilo era estranho ― do tipo, muito, muito estranho. E o garoto paralisou em seu assento, sem saber o que fazer. Agiu em automático, levando a comida à boca, mastigando e engolindo, dois goles de água por vez. Assim, ele tentou ignorar a conversa que o circundava, mas falhou miseravelmente quando o menino que não havia notado sentou em sua frente, colocando a cabeça na mesa às súplicas. 

― Aizawa me odeia ― ele falou. 

― Eu tenho certeza disso ― alguém respondeu. 

Os olhos de Shouto não conseguiram não observar aquela personificação de árvore que sentava bem pertinho de si. Ele devia estar ficando louco, mas tudo naquele garoto era… verde? Era isso mesmo? Ele devia estar confundindo, só podia. Como podia uma pessoa ser tão verde? Tão indescritivelmente verde? Todoroki só podia estar confundindo. Ele ficou tanto tempo olhando o garoto que mal percebeu que era totalmente óbvio. Logo, o alien a sua frente ― como ele o apelidou gentilmente em sua mente ― estava com o rosto completamente enrubescido. Outro garoto de cabelos rosa-claro (o que Shouto identificou como loiro) resmungou ao seu lado, arrancando uma risada alta do garoto com cabelos rosa-chiclete (provavelmente ruivo) que o abraçava. Tinha feito algo tão estranho assim para que todos se calassem? 

― Bom ― Momo começou, ao se deparar com o silêncio de meio minuto por parte dos amigos, o que era algo praticamente impossível de acontecer. ― Meu pai deu uma ideia maluca para a gente. 

O que seu velho inventou dessa vez? ― falou o garoto loiro. 

― Por favor, não diz que é sobre construir, acampar, pescar, nem nada do tipo. Meus braços não vão aguentar outra sessão de tortura daquelas ― Ochaco, a garota com quem estava conversando na noite anterior, choramingou, esparramando-se sobre a mesa.  

― Sessão de tortura nada, você que é mole ― desafiou Bakugou, com um sorriso implicante nos lábios. 

― Você fala isso, mas não consegue me derrubar no jiu jitsu ― ela replicou. ― Quem é o molenga aqui? Hm? 

Kirishima gargalhou mais uma vez, dessa vez tirando um grunhido da boca de Katsuki ― havia lembrado de seus nomes em um lapso de memória da noite anterior. Shouto aproveitou o momento de distração para voltar o olhar para o garoto alien, de quem ainda não lembrava o nome. Não lembrava nem se ele estava naquela festa. Provavelmente não, ele teria o notado. 

O adolescente mordeu o lábio em hesitação ao perceber sua observação silenciosa, mas não chegou a falar qualquer coisa que fosse. E aquele breve momento acabou com o estrondo do alarme. A hora do almoço tinha acabado.

***

― Meu amigo te acha bonitinho ― ela falou de forma direta, sem tirar os olhos das unhas, agora bem feitas e cuidadas. 

Todoroki não respondeu, achou melhor ignorar qualquer tentativa de piada que Momo estivesse tentando fazer naquele momento. Estava mais concentrado em resolver aquela pilha de questões em seu caderno do que realmente prestar atenção nas baboseiras que a amiga falava. 

― Shouto! ― ela chamou em um tom alto, cruzando as pernas antes de lançá-las sobre o colo do amigo. ― Você tem que começar a me escutar. 

― Isso não pode ser daqui a duas horas? Quando eu terminar pelo menos metade dessas questões? 

― Não mesmo ― decretou. ― É a sua vida amorosa que está em jogo aqui. 

― Desde quando eu tenho vida amorosa? ― perguntou, confuso. ―  E dá pra tirar os pés do meu caderno? Você tá amassando as folhas. 

― Você acha que eu não vi como você olhou pro Deku mais cedo? Eu tava vendo a hora que ia escorrer baba pela sua boca. ― Ele desviou o olhar, sem ter coragem de encarar Momo. Maldita hora que foi conhecer uma árvore ambulante!

― O que tem ele? ― disse, tentando parecer despretensioso e falhando miseravelmente. 

― Eu disse, ele te acha, hm, bonitinho. 

― E? 

― E o que? Ele nunca acha ninguém bonito e fala isso. Você deve ser o amor da vida dele ― explicou, como se aquilo fizesse todo o sentido do mundo.

― Não exagera, Momo. Ele me achou bonito, isso não quer dizer nada ― disse, deixando os ombros caírem, assim como o resto de sua autoestima. Mas, contrariando o que havia acabado de falar, seu celular apitou, anunciando a chegada de alguma notificação aleatória. 

Shouto pegou o aparelho e o deixou cair sobre as penas de Yaoyorozu, surpreso demais com o que acabara de acontecer. 

― O que foi? ― ela perguntou, preocupada. 

― Ele me mandou uma… uma solicitação de amizade? 

***

Perfect Broccoli está digitando....

Perfect Broccoli enviou uma imagem 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem

Você sabia que são os pinguins machos que 

chocam os ovos dos pinguins bebês? 

é tipo, a coisa mais perfeita que existe? 

 

Don’t touch my hair enviou uma mensagem

Já chegamos nesse ponto em que você 

manda fotos dos seus animais 

e curiosidades estranhas do nada? 

 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem 

Eu acho que você ainda não está a par do 

conceito de “não existe um ponto para mandar

foto dos seus bichinhos”

até desconhecidos podem me mandar fotos de

animaizinhos e eu vou receber de vom grado

bom* 

 

Don’t touch my hair mandou uma mensagem

Eu tenho quase certeza que não é uma boa

receber mensagens de estranhos,

não importa o conteúdo delas. 

 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem

Deuses, você pontua mensagens

você é velho 

e chato 

 

Don’t touch my hair enviou uma mensagem

Mil desculpas se a madame não

é regada a níveis de responsabilidade,

mas minha mãe sempre me disse para

não falar com estranhos. 

 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem 

Você é chato

tem sorte que seu gosto musical te salva

viu o novo clip do the kooks?

 

Don’t touch my hair enviou uma mensagem

Nope. Não tive tempo, ao contrário

de você, eu tenho o que fazer.

Estudar, sabe? Para a prova de 

matemática que temos amanhã.

 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem

Matemática who? 

nem sei o que é isso

é de comer? 

Don’t touch my hair enviou uma mensagem

Palhaço!

 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem

Sou 

quero te ver 

(Visualizado às 21h31min) 

 

***

 

Todoroki largou o celular sobre a cama assim que sua irmã entrou em seu quarto sem bater na porta. Ela trazia duas xícaras nas mãos, uma verde e outra em um tom bem claro de rosa, que o fazia suspeitar se era mesmo aquela cor. Não demorou muito até Fuyumi sentar em sua cama sem floreios, oferecendo uma das xícaras, cheias de um conteúdo espesso e suspeito. 

― Pausa para o chocolate quente? ― falou, tirando a franja de cima dos olhos, já era hora de cortá-la. 

Ele pegou a xícara estendida no ar, levando-a diretamente a boca e bebendo o líquido quente, sua garganta reclamou em desespero, mas Shouto não ligou, voltando o olhar para o livro em cima da cama. Fuyumi estava ali com algum objetivo, ele sabia bem. Só não sabia o que era e isso o deixava preocupado. 

― Então… ― ele começou. 

Ela o olhou, piscando uma ou duas vezes antes de largar a xícara sobre a cômoda. Suspirou, volvendo o olhar para Todoroki e pegando uma de suas mãos. A coisa era séria. 

― Vovó quer que a gente passe o natal com ela. 

― Não vejo problema, vovó sempre quer que a gente passe o natal na casa dela, qual a novidade? ― ele respondeu, sem dar muita atenção. 

― Você não entendeu, Shouto. Não é da mãe da nossa mãe que eu estou falando. ― As sobrancelhas arquearam em desentendimento, só para caírem novamente com o olhar semicerrado que ele lançou. 

― Espera, como assim? ― respondeu, agora com toda atenção que Fuyumi almejava no começo. ― É, tipo, aquela vovó?

― Uhum. 

― Como isso é possível? 

― Eu não sei, mamãe quer que a gente vá. Ela disse que, apesar de tudo, nossa avó não tem culpa de ter o filho que teve. 

― Isso é um pesadelo! ― ele exclamou, impaciente. 

É, eu sei. Mas não podemos fazer muita coisa além de ir até lá e fingir que é o melhor natal que teremos na vida. 

― Nem pensar. 

― Sim pensar. 

― Fuyumi…

― Shouto… 

Ele semicerrou os olhos, esperando que ela entendesse o que sua cara contrariada significada. Ir para a casa daquela avó significava a possibilidade de encontrar com Enji, e tudo o que Shouto menos queria era encontrar com seu pai. Muito menos com aquelas tias pomposas que só sabiam falar da vida dos outros. 

― A mãe vai? 

― Claro que não, nossa mãe não é “bem-vinda” naquela casa, esqueceu? 

― Então, não entendo por que deveríamos ir. 

Porque nunca passamos nada lá e nunca visitamos a vovó. Ela deve querer arrancar nossas cabeças. 

― Mais um motivo para não ir ― argumentou, jogando o livro na cômoda antes de pular mais uma vez sobre o colchão. 

― Shouto! ― ela grunhiu, indignada com a forma como o irmão se comportava. 

― Tá, tá, eu entendi ― Pegou a coberta e cobriu o próprio corpo antes mesmo que ela tivesse tempo de responder. ― Quando sair, fecha a porta ― ele falou, fechando os olhos numa pose fingida de sonolência. 

Sim, era verdade que não via sua avó há uns bons anos, mas também não era como se fosse uma obrigação visitá-la. Afinal, sua mãe não era permitida naquela casa. Sua avó nunca escondeu o desgosto pela genitora de seus netos e deixava isso bem claro no tom de voz ácido que usava sempre que ela dirigia-lhe a palavra. Shouto nunca sentiu sua falta, de verdade. Passou tão pouco tempo com aquela mulher que mal sabia se poderia chamá-la realmente de avó.

O celular apitou mais uma vez e só naquele momento Shouto lembrou que tinha praticamente ignorado Deku. 

 

Perfect Broccoli enviou uma mensagem

eu to no parquinho aqui perto

vem

agora  

por favor

 

E Todoroki foi, como poderia negar um pedido daqueles? 

 

***

 

Izuku Midoriya era um garoto estranho. 

E aquela era uma das outras muitas curiosidades que colocaria em sua lista. Logo após a gosta de fotos de animais, gosta de música boa, nessa ordem. Ele era estranho na escolha das suas roupas, no tom de seu cabelo e na cor de seus olhos. Não sabia em que lugar do mundo havia encontrado alguém tão verde, a coisa que mais odiava na face da Terra, mas que, quando se tratava de Midoriya, ele desgostava um pouquinho menos. Izuku era, certamente estranho, nas suas curiosidades repentinas do mundo animal e nas estrelas que dividiam espaço em sua face. E talvez, por isso, naquele estranhamento geral, sua mente deu um black out e as funções desempenhadas pelo cérebro desligaram imediatamente, porque… hm, achava até que aquela cor não era tão horrível assim quando combinada com ele. 

Izuku escorregou no brinquedo do parquinho quando Shouto não cedeu o olhar, fazendo um barulhinho irritantemente infantil quando chegou ao chão. As pernas ficaram eretas quando levantou, jogando os braços nos ombros de Shouto e sorrindo gentil ao dar-lhe um abraço. 

― Shoutooo… Você veio! ― ele falou animado ao dar um leve pulo para alcançar seu pescoço. 

― Eu vim ― respondeu, passando um dos braços pelas costas do garoto a sua frente. Sentiu seu rosto esquentar imediatamente quando Izuku não perdeu tempo em puxá-lo mais para perto, como se precisasse daquilo. ― Você tá bêbado?

― Nope, eu estou levemente alcoolizado, é diferente. Essa palavra não faz parte do meu vocabulário. ― Ele riu da própria piada, como se tivesse falado a coisa mais engraçada do mundo. ― Eu tô tão feliz que você veio, só quero te apertar. 

Shouto suspirou, cansado e sem saber se queria realmente lidar com um Midoriya levemente embriagado que continuava o puxando para equilibrar-se. Os dois ficaram balançando de um lado para o outro até que Izuku ficou na ponta dos pés, o que ajudou bastante no exercício de não cair naquele momento.

― Shouto! Eu quero te beijar, posso te beijar? ― perguntou, direto, sorrindo minimamente ao olhá-lo, seus olhos faiscaram quando os dedos de Todoroki foram parar entre os fios esverdeados de seu cabelo. Deku estava quase certo de que ele o faria, pelo menos, pela intensidade do olhar que o outro rapaz o mandava, era uma certeza de que aquele momento findaria no que queria. Ledo engano. Quando tentou chegar mais e mais perto do rosto quase pálido de Shouto, ele o parou. 

― Não ― respondeu, simplesmente. ― Eu não beijo gente bêbada.

E riu ao vê-lo bufar, como se fosse uma criança e alguém tivesse tirado seu doce. 

― Por que não?

― Porque não. ― Sorriu e deixou que os lábios fosse até a bochecha de Midoriya, deixando um beijo estalado ali. ― Tá bom para você?

― Não. 

― Então, desculpe-me, Vossa Senhoria ― ele disse, num tom que era a mistura de formal com brincalhão. ― Não poderei satisfazê-lo hoje à noite. 

E Izuku não se deixou levar por aquela carinha bonita. Bom, talvez só um pouquinho. Deixou que o rosto caísse no ombro de Shouto e bufou ao escutar uma risadinha baixa da parte do adolescente. 

― Eu te odeio. 

― Duvido. ― E, por essa resposta, recebeu um beliscão, acompanhado por um revirar de olhos e um sorriso pequeno. 

É, ele nunca poderia odiá-lo.


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