Telefonema; escrita por Apaixonada sama


Capítulo 1
Je t'aime à mourir;


Notas iniciais do capítulo

+ Líviel é meu shipp, com licença. ♥

+ Postada no Spiritfanfiction e no Wattpad.

+ Boa leitura! ♥



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            Ele queria dizer o quanto a amava, mas não podia fazer isso naquela circunstância tão inusitada. Passavam dias, semanas e meses sem poder se ver. Mas, se tinha uma coisa que ele utilizava para matar saudades, era seu telefone. A qualquer hora, podia ligar.

            Podia até demorar dias, porém... Buscava ser o mais pontual possível.

            Essa era a razão da qual Lívia ainda não tinha ido dormir. Encontrava-se deitada em sua cama, com a cabeça repousada no travesseiro, esperando que seu toque pairasse no recinto.

            A demora da ligação estava a matando de precipitação. Sua agonia parecia se esvair pelos seus dedos, pois toda hora acendia o display da tela para verificar se o celular não estava no silencioso... Nem ao menos no modo offline. Os pequenos dedos tamborilavam na cabeceira da cômoda ao lado da cama, tentando se conformar paulatinamente que iria dormir novamente sem a sua sentença preferida: “Boa noite, amor”.

            Ah, droga. Havia se acostumado com essa rotina!

            Assim que virou para o outro lado da cama, abraçando o travesseiro que ainda tinha o cheiro dele, seu próprio telefone tocou. Aquele toque memorável de uma antiga banda de rock “romântico” parecia desesperar-se, tocando cada vez mais alto. Colocou a mão no aparelho móvel enquanto se levantava, olhando para o display que apresentava o seguinte nome:

            Meu amor ; E seu coração acelerou rapidamente.

           — Oi, meu anjo! Boa noite. — A voz do outro lado da linha a fez colocar a mão na boca, emocionada. Dava um sorriso, enquanto sentia seus olhos encherem d’água. Não conseguia falar nada, apenas fechou os olhos, escutando a voz. — Desculpa a demora... E todos esses dias sumidos, inclusive. Está sendo uma coisa puxada para cá.

            — A-ah... T-tudo bem, Dan. — Permitiu-se exprimir, entre um sorrisinho tímido que formava em seus lábios. Os dedos passearam pelas longas madeixas castanhas, tentando livrar-se do calor que formava em si. — Como você está?

            — Melhor agora, falando com você! — Ele riu. — Estou com uma saudade enorme de você. Sinto que meus dias têm ficado mais incompletos sem a sua presença. Eu vi uma bicicleta que me lembrou de tu.

            — Fala sério, Daniel! — Lívia exclamou, segurando a risada. Cerrou os olhos, permitindo com que os filetes de lágrimas escorressem involuntariamente pelos seus olhos.

            — É sério. Ela era azul, tinha uma cestinha marrom e um laço rosa. Quando eu vi, pensei tipo “meu Deus! Parece a Lívia!”, você ia concordar, caso visse.

            Ela bufou, revirando os olhos. Todo dia que ele ligava, era de costume a comparar com algum objeto ou animal do cotidiano. Ao menos, soava como uma forma metafórica de dizer que ele a via em tudo.

            — Como está a minha divindade preciosa? — Indagou, com um tom que parecia aderir uma preocupação evidente.

            Lívia estava em pedaços. Os dias sem Daniel eram difíceis... Pois não podia correr para seus braços quando tudo dava errado ou quando se sentia insegura. Parte de si achava que estava rodeada por pessoas que queriam seu mal, com exceção de seus pais. E a outra metade, não havia aquela voz dizendo “você está indo bem.”, que se acostumou a escutar.

            Estava sozinha.

            — Estou bem, Dan... — Ela secou um dos olhos, suspirando. — Apenas com saudades de você. Queria voltar a passear por Ville Poétique, segurando a sua mão... Era tão bom.

            — Lívia, quando eu voltar, juro que vamos até nadar naquele chafariz. Só me dê mais um tempinho... — Disse, de forma mais hesitante. — Não há um minuto que eu não pense em você. Chega a dar ódio.

            Lívia se espantou, logo deu um sorriso, enquanto demonstrava uma feição levemente constrangida.

            — Por quê?

            — Você está sempre na minha cabeça... Isso é invasão de privacidade. — Ao ouvir a resposta, ambos não deixaram de rir de forma abobalhada. Enquanto ela passava a mão no travesseiro, olhava para o chão, acanhada. — Estou falando sério. Eu tento fazer meu trabalho, mas seu sorriso sempre me distrai. Estou fascinado com a capacidade de você ocupar minha mente o dia inteiro.

            — Dan, não exagera.

            — “Não exagera...”, se você soubesse o quão eu penso em você... Hum.

            O silêncio pairou entre ambos. Enquanto buscavam um assunto, a jovem deitou na cama, ativando a função de “viva voz”, apoiando a cabeça no travesseiro e mantendo o celular perto de si. Queria iniciar uma chamada de vídeo, mas era tarde da noite... E Daniel sempre negava; Parecia não querer vê-la.

            — Como vai o Canadá? Vi a tempestade de neve que teve aí.

            — Olha, eu estou numa localização segura! Eu também fiquei preocupado, odeio essas tempestades. Elas não me deixam ir ao trabalho.

            — Por favor, cuidado, amor. — Disse, dando um sorriso leve. Acariciou a tela do telefone, fechando os olhos, enquanto pegava no sono aos poucos. Bocejou, mas foi involuntário. — Desculpe...

            — A Bela adormecida já está governando em ti? Puxa vida. — Ele riu baixo, fazendo-a corar encafifada. Passou a mão no cabelo, enquanto coçava o olho preguiçosamente. — Deixe-me adivinhar... Está coçando o olho?

            — Você não tem graça, Daniel.

            — Estou de olho em você, espertinha.

            A mudez foi logo iniciando, enquanto Lívia bocejava de forma mais insistente, mantendo os olhos semicerrados. O sono aos poucos, já tomava e a fazia de prisioneira, mas isso não era novidade. Sua desculpa era que Daniel sempre a acalmava, como uma canção de ninar.

            — Dan, preciso desligar... — Murmurou, apoiando a cabeça em cima do braço. Aproximou o telefone do rosto, olhando as horas. — Está tarde, eu ainda tenho um período estendido no colégio amanhã.

            — Lívia... Escuta. — Locucionou em um tom sério, fazendo-a olhar preocupada para o celular; O sorriso havia se esvaído, mal conseguia esconder o espanto que formava em seu rosto. — Independente do que aconteça, eu te amo. Estou sempre pensando em você, de agora para toda eternidade.

            Sorriu novamente, suspirando aliviada.

            — Eu te admiro bastante e estou torcendo por você, mesmo estando longe. Talvez não nos encontremos esse mês e nem no outro, mas... Eu queria poder dizer isso cara a cara, porém... Estou lutando pela gente. Jamais vou desistir de nós. Afinal... Você é a única coisa no mundo que ainda me restou.

            Parecia doloroso para Daniel, lidar sozinho com a perda da irmã em um acidente de carro. Os pais o perseguindo, mesmo com a emancipação... Apesar de ser fulminante, o rapaz sempre aguentou tudo de pé.

            — Dan... Eu te amo. E acredito nas suas palavras, mesmo estando preocupada com essa declaração...

            — Nunca é tarde para uma declaração, certo?

            — É que essa foi a quinta... Está tudo bem, mesmo? — Perguntou. — Eu sei que devemos valorizar o amor a todo custo, mas... Você não precisa guardar tudo para si. Estou aqui para você, sempre quando precisar.

          — Lívia, está tudo bem sim! Eu só queria... Bem, heh... Heh... Ai, eu ‘tô sem jeito. — Ele desandou a gargalhar, fazendo a morena dar um sorriso manhoso. — Eu apenas quero que você saiba que te amo, apesar de tudo. Mesmo com essa distância... E desculpe pelo atraso da ligação. Queria que essa ligação fosse especial, mas acho que quase te matei de ansiedade.

           — Nem me diga...

           — Eu te amo. Estou contigo e sempre ao seu lado, qualquer problema, me ligue. Vou parar todo o meu trabalho para lhe escutar, ‘tá bem? — Ele suspirou, parecendo adquirir um ar chateado. — Não queria estar em outro lugar, que não fosse contigo... Essa distância está me matando.

         — Dan, Dan... Fique tranquilo. Acredito que nos veremos logo, até lá, eu aguardo. E você está me devendo uma chamada de vídeo! — Exclamou, bocejando em seguida. — Ela também pode esperar...

          — Boa noite, mon coeur. Estude bastante e deixe que o resto eu cuido.

          — Boa noite, mon petit chat.

          Tateou a cama, pegando o celular. Com um leve dedilhar no display que acendeu, encaminhou o dedo para finalizar a ligação, porém escutou um pigarro. Daniel proclamou em um baixo tom, como se estivesse segredando com ela:

            — Tu es tout pour moi.

            Não evitou sorrir, beijou a tela do telefone e encerrou a ligação, permitindo-se dormir em seguida.

 

            Daniel encarava o celular, ainda com um ar cabisbaixo. Encerrou a ligação, deixando o aparelho em cima da mesinha, bufando. Olhou para sua irmã, que mantinha os braços cruzados olhando para ele, negando com a cabeça. Antes que pudesse oferecer algum comentário como pedido de desculpas, fora interrompido:

            — Quero saber até quando você vai esconder isso dela.

            Caiu como um peso em suas costas, fazendo-o andar em direção à janela, fechando as cortinas.

            — Ela não precisa saber que estou morto. Não deve. — Respondeu secamente, juntando os papéis na mesinha de centro, guardando na gaveta. — Lívia não merece lidar com essa... Crueldade. É tão repugnante falar sobre isso...

            — Ela não merece ter alguém mentindo assim, cara.

           — Nath, por favor... Estou tentando. É difícil. Temo que ela busque a pior decisão... É tudo tão complicado, eu queria seu apoio. Não seu julgamento.

            O inevitável silêncio imperou entre os irmãos, enquanto o loiro tentava concentrar-se, a morena retornou ao seu minijogo no PSP, negando com a cabeça, murmurando baixo.

            — Isso não é justo, Daniel.

            — Não é justo com ninguém. Nem comigo, nem com você... Nem com ela.

            Desligou a luz da sala, deixando sua irmã sozinha, encaminhando-se para o seu dia rotineiro e corrido, pois mesmo depois da morte, ainda tinha muito que se empenhar. Porém, sempre por ela.

Não apenas por questão de protegê-la.

Mas era porque a amava.


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Notas finais do capítulo

[1]. mon coeur: "meu coração".
[2]. mon petit chat: "meu gatinho".
[3]. tu es tout pour moi: "Você é tudo pra mim"

Título do capítulo: Je t'aime à mourir, "eu te amo até a morte".

— - - - -
Não quero viver em um mundo onde não posso proteger e amar Líviel.



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