Beleza do Amanhecer escrita por Akiel


Capítulo 1
Prelúdio




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A serpent lights the ancient sky
A threat of tainted stars
Evil stirs and in its wake
The souls of mortals sway

(Beauty of Dawn – Malukah)

 

Os primeiros raios do amanhecer penetram pelas frestas da janela, iluminando o casal deitado sobre a cama. Sob o caloroso toque, pálpebras tremem e o corpo desperta lentamente, a mente ainda se agarrando aos últimos fios de sono a se desprenderem sob a atenção da luz. Um baixo e fraco grunhido acompanha a revelação das írises verdes para o brilho da manhã e um pesado suspiro escapa por entre os lábios, o corpo se espreguiçando discretamente sobre o colchão. Não pela primeira vez, Soluço sente um sorriso nascer nos lábios ao ver a face adormecida daquela que o acompanha todo dia e toda noite. Com cuidado, o chefe de Nova Berk toca o rosto da esposa, o coração acelerando do mesmo modo como no dia em que tiveram o primeiro beijo. Erguendo o troco, Soluço beija levemente a bochecha de Astrid, o sorriso nos lábios aumentando quando a companheira apenas se mexe levemente na cama.

Respirando fundo, o cavaleiro de dragão se levanta e coloca o casaco de pele, os movimentos acostumados a serem feitos em silêncio, até mesmo os passos escondendo o som com habilidade. Sem pressa, Soluço deixa o quarto e o verde olhar logo segue para as portas entreabertas do lado oposto. Como toda manhã, o chefe se aproxima da porta da direita, encontrando Skjall dormindo profundamente na cama e Relâmpago como uma densa sombra adormecida aos pés do móvel. Passando para a porta da esquerda, as írises claras encontram Lara também dormindo, o cobertor jogado sobre o corpo, as pontas quase tocando as asas de Nevasca que, assim como o irmão, permanece como uma permanente guarda aos pés da cama. A visão dos filhos e dos dragões dormindo pacificamente fortalece o sorriso nos lábios de Soluço, que sente o familiar alívio causado pela recuperação da convivência com os dragões.

Deixando os quartos para trás, o cavaleiro de dragão desce a escada sem pressa, o olhar caindo imediatamente para os dragões adormecidos no térreo. Banguela e Luna permanecem lado a lado enquanto Destino dorme a alguns passos de distância, uma das asas cobrindo o rosto e ocultando as orelhas mescladas. Ante a aproximação de Soluço, Banguela se mexe no lugar, um olho verde se abrindo. Percebendo o despertar do amigo, o chefe se ajoelha diante do dragão, a mão esquerda logo repousando sobre a cabeça escamosa e oferecendo um leve carinho. Um quase ronronar escapa da garganta do Banguela, os dois olhos se abrindo e a cabeça sendo erguida para tocar levemente o rosto do cavaleiro. Rindo, Soluço volta a se colocar de pé, o sorriso nos lábios não enfraquecendo quando um convite é feito:

— Que tal um voo matinal, amigão?

A pergunta é a mesma de todo amanhecer, assim como a resposta recebida. Com cuidado, Banguela se afasta de Luna, o corpo se esticando em um quase preguiçoso espreguiçar que logo é abandonado em favor de uma corrida em direção à porta da cabana. Sentindo a mesma animação que invade o amigo, Soluço acompanha o dragão até o jardim, onde ambos são recepcionados pelo frio ar matutino. Respirando fundo e sentindo a gélida brisa revigorar a mente e o coração, Soluço dirige um breve olhar para Banguela, que responde com um rápido pulo sobre a grama, a antecipação pelo voo clara no esverdeado olhar. Assentindo em concordância, o chefe de Nova Berk não demora a montar no poderoso dragão, os amigos alçando voo em direção às fartas nuvens que decoram o céu intensamente azul.

Sob o assobio do vento, Soluço se deixa levar pelo firme voo realizado por Banguela, permitindo que o amigo escolha a trilha a ser percorrida no céu. O coração do corajoso viking bate calmamente no peito, preenchido pela serenidade trazida pela paz que há mais de duas décadas reina no arquipélago e que permitiu o retorno dos dragões. Não há tantos dragões nas ilhas quanto na época em que Soluço era um jovem viking vivendo com os amigos no Domínio do Dragão e explorando o mundo além de suas fronteiras. Entretanto, o mundo é novamente um lugar que recepciona os dragões com uma promessa de pacífica convivência. Tocando a lateral do pescoço do Banguela, o chefe sinaliza um pedido que logo é entendido. O dragão sobe em meio as nuvens e para sob o suave toque do sol, as largas asas batendo forte e ritmicamente. A posição oferece uma panorâmica visão do despertar de Nova Berk, os primeiros raios de sol caindo como um dourado cobertor sobre a ilha.

A imagem acelera o coração de Soluço, o vento trazendo o som dos dragões e da vida que pulsa na vila. Orgulho queima no peito do chefe junto com a memória do pai e a certeza de que Stoico aprovaria o novo lar. O som de rugidos atrai a atenção das írises verdes, que logo reconhecem os dragões que brincam em meio as nuvens: Chama, filho do Dente de Anzol, e Ventania, filha da Tesoura de Vento. O barulho anuncia que chegou a hora de retornar, deveres e responsabilidades aguardam o chefe, todo temor e insegurança que Soluço um dia sentiu sobre ocupar o lugar do pai como líder do povo tendo sido há muito tempo superado e abandonado. Um toque é o suficiente para avisar Banguela para retornar, o caminho escolhido passando por entre Chama e Ventania, que seguem o alfa e o chefe de volta para Nova Berk.

Ao pousarem, Soluço e Banguela são recepcionados por Astrid e Destino, o mesclado dragão imediatamente correndo para o lado do pai. Sorrindo, o chefe se aproxima da esposa, quase caindo quando Chama e Ventania passam correndo, com certeza indo em busca dos próprios cavaleiros, Magnus e Sigrid. Ao ouvir a risada da esposa, Soluço franze as sobrancelhas em uma falsa expressão de repreensão. A fachada é prontamente ignorada por Astrid, que recepciona o marido com um beijo, os dedos tocando a barba que começa a exibir os primeiros fios prateados. O verde olhar é dirigido para além da bela viking, procurando por cavaleiros e dragões que se encontram ausentes da recepção.

— Onde...? – Soluço começa, sendo imediatamente interrompido.

— Onde você acha? – Astrid rebate com divertimento na voz e nas írises azuis. 

A pergunta faz com que um suspiro escape por entre os lábios do viking, que sorri sabendo a resposta provocada. Depositando um beijo na testa da esposa, Soluço deixa Banguela brincando com Destino e caminha em direção a Academia de Dragões, reaberta quando os dragões começaram a retornar. Durante o trajeto, o chefe retribui cumprimentos e acenos e sorri ao observar os amigos com as próprias famílias. Como esperado, Chama e Ventania retornaram para os próprios cavaleiros e Soluço assiste enquanto Melequento tem o discurso prontamente ignorado pelo filho, a atenção de Magnus estando completamente voltada para a tarefa de cuidar das escamas de Chama. As írises verdes também encontram Perna de Peixe compartilhando o conhecimento do Livro dos Dragões com a filha, Ventania permanecendo com a cabeça apoiada sobre as coxas de Sigrid, que ouve atentamente as lições do pai. Os passos de Soluço se aceleram apenas quando passam pelas casas dos gêmeos, o chefe não tendo nenhuma vontade de lidar com qualquer pegadinha ou loucura que Cabeçaquente e Cabeçadura possam estar ensinando a Ragnar e Dagnar tão cedo no dia.

Mesmo antes de pisar na arena da Academia, Soluço ouve o familiar assobio de flechas sendo lançadas, o som apenas intensificando o sorriso nos lábios do cavaleiro de dragão. Com cuidado para não ser notado, Soluço se aproxima da entrada da arena e apoia o corpo contra a parede, o verde olhar acompanhando silenciosamente o treino que se desenrola. Com a ajuda de dois Terrores Terríveis, Lara Skjall treinam a habilidade com arco e flecha, cada ataque mirando os pontos decorados com as pegadas deixadas pelos pequenos e rápidos dragões. As írises azuis oferecem um momento de admiração para os ondulados e decorados arcos nas mãos dos filhos, presentes de nascimento oferecidos por Heather e Dagur e marcados com a imagem de um Estridente, símbolo da tribo dos Bersekers. Sorrindo com as flechadas certeiras realizadas pelos filhos, o chefe afasta o corpo da parede e dá alguns passos em direção ao centro da arena.

— Vocês deveriam realizar uma exibição de arco e flecha quando a Heather e o Dagur chegarem. – Soluço diz com divertimento e provocação colorindo a voz – Tenho certeza de que eles ficarão muito satisfeitos ao verem como os presentes estão sendo bem utilizados.

As risadas que recebe como respostas de Lara e Skjall apenas aumentam a sensação que Soluço tem de que o futuro guarda apenas luz e paz para o arquipélago.

 

 

Em uma ilha ao leste de Nova Berk, o baque de um dragão caindo no chão ecoa na floresta, sendo seguido por risadas coloridas com satisfação enquanto mãos firmes puxam as correntes que prendem o azulado Pesadelo Monstruoso. Um homem de curto e ondulado cabelo negro se aproxima do aprisionado dragão, um dos pés sendo apoiado sobre o focinho enquanto os dedos puxam rudemente as correntes e arrancam um raivoso gemido. Uma mulher com o cabelo longo e vermelho como sangue se aproxima, as mãos também enroladas nas correntes, e sorri para o companheiro. O contentamento sentido por ambos com a captura é quase palpável no ar.

— Os dragões estão finalmente se mostrando. – a mulher diz, sorrindo para o Pesadelo Monstruoso no chão enquanto o homem aperta as correntes ao redor da boca do dragão.

— Logo, nossa era irá retornar, Kari. – o homem diz, os lábios se esticando em um sorriso pintado de cruel deleite – A Era dos Caçadores de Dragões.


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Notas finais do capítulo

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