I'll be home for Christmas escrita por Lux Noctis
“Please have snow and mistletoe
And presents by the tree
Christmas eve will find you
Where the love light gleams
I'll be home for Christmas
If only in my dreams”
Quando a primeira neve caiu aquela noite, ele olhava para o céu.
De pensar que um dia chegou a odiar aquele lugar, tsc, tolo! Descobriu-se também apaixonado ali, pela ilha que muito mais parecia o fim do mundo, pelo frio e o cinza, que sim, destacava-se mais na primavera! Descobriu-se ali, muito mais que em todos os anos de vida mansa e farta. No convívio humilde descobriu-se, porque sempre pertencera àquele lugar, só não conseguia recordar.
Smeerensburg virou seu lar, seu abrigo, seu porto. Um do qual jamais saiu. Um onde a cada novo natal enchia-se de esperanças, junto aos demais moradores de lá, como agora.
Jesper sentava-se na poltrona, uma muito maior que o preciso para alguém de seu porte. Isso porque não o pertencia, mas sim à ele. Sentava-se ali, colocava os biscoitos frente à lareira, com dois copos de leite e uma vitrola que deixava que a música embalasse o momento, sorria em ansiedade. Uma vez por ano, todos os anos. Sempre esperava por ele, esperava pelo espírito vivo do natal, por seu amigo… seu companheiro nas ideias absurdas que teve, de vida e sonhos. Esperava por ele, tal como ele o esperou por tantos anos para tirá-lo daquela solidão.
Sorriu ao se pôr de pé, aumentando o som para que não se sentisse sozinho naquela casa que pouco era visitada, tão longe de todos, mas sempre enfeitada por ele para o Natal. Visco, velas, tudo o que trouxesse vida àquele lugar que aprendeu a amar, e que agora novamente conhecia como a palma da sua mão.
Fechou os olhos sentindo a música fluir pelo cômodo, podia sentir as mãos firmes em sua cintura e mão, bailava como se estivesse acompanhado, almejava que sim. Como havia acontecido outras vezes, em outros natais. Em outras vidas…
De olhos fechados imaginava-o ali, muito maior que si, muito protetor e acolhedor. A barba era quase sentida em seu rosto, tamanho o saudosismo de seu âmago. Tomou o casaco esquecido sobre a poltrona e bailou agarrado a ele, sentindo o cheiro do qual sentia falta, mais e mais a cada dia. Sentiu a lágrima deslizar pela bochecha, marcando-a com o salgado da pitada de dor.
Sentia-se observado, como sempre quando ali. Por isso não abriu os olhos, a saudade sabia ser uma excelente miragem. Com a música entoando e o coração seguindo o ritmo por ela imposto, lembrou-se do beijo tépido na testa. Do abraço que apenas Klaus era capaz de lhe dar, do tipo que tritura os ossos, mas traz alívio à cada nervo.
Ao menos no Natal sentia-o mais perto, quando a neve que lá fora caía fazia um cintilar bonito, o vento criando o vórtice e a certeza de que, não agora, mas um dia estariam juntos de novo, pela terceira vez.
Apagou as luzes, cessou a música, mas podia jurar que havia escutado a risada dele. Sorriu também, porque ele estava ali, nem que apenas em seus sonhos.
Não quer ver anúncios?
Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!
Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Música: I'll be home for Christmas - Michael Bublé