Eu passei a primeira noite do meu mundo esquecido olhando o mar e assim que o sol nasceu decidi finalmente voltar para casa, e no caminho de volta novamente passei pela casa branca, as luzes externas continuavam acesas, mas as janelas estavam fechadas, ainda estava muito cedo.

Me senti um psicopata, me perguntei em qual momento em minha vida eu comecei a sentir tanta necessidade de ver uma garota, novamente eu dei as costas para a casa e fui para casa.

Billy estava preocupado, mas ao me ver bem relaxou, as coisas estavam bastante “estranhas”, Paul estava jogado no sofá da sala vendo TV enquanto Rachel preparava o café da manhã na nossa cozinha.

Se agora éramos adultos o normal não seria Paul trabalhar? Em que momento Rachel havia se apaixonado por ele? Achei melhor nem perguntar.

Após alguns minutos debaixo do chuveiro e batendo a cabeça na parede eu sai do banho e me vesti, precisava preencher as lacunas que haviam em minha vida, segundo meus cálculos eu agora tinha um pouco mais de dezoito anos, precisava que alguém me respondesse o que eu fazia diariamente antes do meu acidente acontecer.

— Que bom que voltou! Rachel falou sorrindo enquanto servia o café da manhã a Billy, eu me encostei na bancada e ela me ofereceu uma caneca com café.

—Obrigado! Respondi pegando a caneca das mãos dela.

Paul gargalhou na sala e eu rolei meus olhos, Billy suspirou e então finalmente tive coragem de começar a fazer perguntas e assim amenizar os buracos da minha miserável vida.

— Desde quando vocês dois? Perguntei olhando para Paul e tomei o gole do café.

— Faz alguns meses! Rachel respondeu sorrindo – Eu Passei nas provas e me formei mais cedo! Ela falou orgulhosa de si mesma.

—CDF! Respondi dando um sorriso com o canto dos lábios.

— Você também já terminou o ensino médio, se sinta um CDF também! Ela sorriu.

— Eu vesti aquela roupa horrível?

— Sim, mas tivemos trabalho em achar algo que coubesse em você, Nessie eu tivemos que...

—Nessie? A interrompi.

Meu pai e Rachel trocaram olhares.

— Renesmee! Ela respondeu.

— A filha do Charlie? Ela ajudou nisso?

—É...Rachel deu as costas para mim e abriu a torneira.

— Parece que Renesmee é praticamente da família! Falei terminando meu café e deixei a caneca sobre a pia – Ela esteve na minha formatura.

—Sim!

—Não!

Meu pai e Rachel responderam ao mesmo tempo.

— Sim ou não? Perguntei desconfiado.

— Não, ela não esteve, ela só me, ajudou! Rachel gaguejou.

— São amigas?

—Isso! Rachel respondeu fechando a torneira – E então, o que pretende fazer?
—Talvez colocar o Paul para correr daqui! Respondi.

Billy riu baixinho.

— Você já passou dessa fase! Rachel respondeu – Vocês são amigos agora!

— Eu amigo do Paul? Perguntei franzindo as sobrancelhas e Rachel sorriu, precisava lembrar o mais rápido possível ou eu enlouqueceria.

O resto do dia eu passei na minha garagem, fiquei um pouco surpreso ao ver os materiais que eu tinha e os motores organizados em um canto, ferramentas de excelente qualidade, me senti em um parque de diversões, não fazia a menor ideia de em que momento eu havia comprado tudo aquilo mas eu lembrava exatamente do que fazer com cada uma daquelas ferramentas.

Rachel levou  o meu almoço e perguntou se eu voltaria a trabalhar, parece que eu tinha um emprego mas também não lembrava disso, ela explicou algumas coisas mas eu não dei atenção a nada do que ela disse, permaneci isolado durante todo o resto do dia e quando percebi o sol começava a se por, novamente a voz dentro da minha cabeça chamava por ela, Renesmee, sai da garagem em direção a casa dela as ao me aproximar a vi entrando em sua caminhonete, corri rapidamente para casa e peguei a moto que estava próximo a garagem e sai em alta velocidade tentando alcança-la.

Renesmee estacionou na praia e caminhou em direção o penhasco onde se sentou e ficou olhando para o mar, lentamente me aproximei dela.

—Oi! Falei engasgando.

 Ela virou o rosto em minha direção – Oi!

— Você saiu de forma apressada ontem, como se estivesse fugindo e algo! Falei e aproximando lentamente e sentei ao lado dela.

—Desculpe eu tinha que ir para casa, estava ficando um pouco tarde!

— Compreendo! Sussurrei olhando para o mar, embora meu real desejo fosse olhar para ela, mas eu controlei meus impulsos, não queria assusta-la.

— E como você está? Quero dizer, como se sente? Sabe, por não lembrar de muita coisa – Ela perguntou.

— Perdido! A última lembrança que tenho eu era mais magro, mais baixo, não tinha tanta barba, era menos musculoso e ainda estava no ensino médio, ontem eu acordei e tenho 18 anos, tenho um emprego e dois metros e quinze de altura! Eu estou totalmente perdido dentro da minha própria casa.

— Poderia ser pior!

— Me dê um exemplo desse pior!

— Poderia acordar com uma esposa e dois filhos!

Eu comecei a rir ao ouvir o que ela disse – Não seria ruim, mas eu acho que sou bem novo para ter uma esposa e dois filhos!

— Eu tenho 16, e já tenho dois – Ela falou virando o rosto para o outro lado, me senti culpado, eu havia acabado de deixa-la constrangida.

— Você mora sozinha naquela casa branca? Perguntei.

—Sim! Mas como sabe a cor da minha casa?

Eu havia falado demais, agora ela me acharia um maníaco obcecado  – Você não vai me achar um maníaco, sair correndo e me denunciar ao chefe de polícia que por acaso é seu pai?

— Eu prometo que tentarei não fazer isso! Ela deu um sorriso lindo.

— Eu fui na sua casa, três vezes! Respondi – Fui ontem à noite, mas estava muito tarde e eu resolvi não bater, fui hoje cedo, mas estava muito cedo e eu resolvi não bater...

Ela Gargalhou  – E qual foi a terceira vez?

— Quando você saiu, eu vi seu carro e então eu...

—Você? Ela me interrompeu.

— Te segui! Corri em casa, peguei a moto e voei na estrada.

—Suas asas não quebraram? A propósito como sabe onde eu moro?

Baixei a cabeça rindo, agora eu havia falado demais, se eu dissesse que foi Leah ela poderia não gostar, decidi proteger minha fonte – Meu pai, ele me disse! E você gosta de piadas? Perguntei mudado o assunto.

— A convivência com uma pessoa que é ótima em piadas me fez amar!

—Entendi!  E porque mora sozinha? Onde está o pai do seu bebê, espera, você disse que são dois? Dois bebês?

Por um momento fiquei preocupado em estar sendo evasivo e assusta-la, mas ela parecia não se importar em responder minhas perguntas, a observei em silencio enquanto ela respondia minhas perguntas, pelo que eu havia entendido ela havia sido abandonada gravida pelo pai de seus bebês e os dois pais que tinha queriam que ela fosse morar com um deles.

Desejei imensamente matar o cretino que havia a abandonado.

Perdemos a noção do tempo enquanto conversávamos, ela pediu para que eu a chamasse por seu apelido, Nessie, só percebemos que estava tarde quando um ruído estranho interrompeu nossa conversa.

—Você ouviu isso? Perguntei levantando imediatamente, com certeza era algum animal, estávamos longe da movimentação da praia e rodeados pela floresta.

— O que? Nessie perguntou tentando levantar, imediatamente a ajudei.

— Tenho certeza que ouvi um barulho estranho.

— Obrigada! Ela agradeceu.

— Não precisa agradecer, só tem que evitar sentar no chão assim pode se machucar e machucar os bebês.

— Tem razão!  Eu acho melhor voltar para casa está ficando tarde.

— Está bem! Eu concordei– Se importa se eu levar você?

—Não vai me sequestrar? Não esqueça sou filha do chefe...

— Ainda bem que me lembrou isso, não vou esquecer – Respondi rindo.

Caminhamos até o estacionamento da praia e coloquei a moto em sua caminhonete, eu estava forte, com certeza eu andei malhando nos últimos meses para ter crescido tanto e ganho tanta força, conversamos durante alguns minutos na estrada e após deixa-la segura eu voltei para casa.

Eu precisava ver Renesmee, algo dentro de mim implorava por isso, e eu precisava a qualquer custo lembrar o porquê disso.