A sina dos sinos escrita por Biazitha


Capítulo 2
A Tenten sumiu




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Era a oitava vez que Neji posava para a câmera com um sorriso sincero, mas um tanto cansado. Não havia mais aquela mesma animação de horas atrás já que o calor infernal do deserto fazia cada pedaço do seu corpo coçar e arder. Haviam viajado para a região norte da China em um jipe azul apertado por horas, tendo como destino a expedição no vasto deserto de Gobi.

Eles viram areia, montes de areia, camelos, redemoinhos de areia e, por fim, um pouco mais de areia. Não era um passeio com muitas novidades, porém estavam se divertindo mesmo assim.

Ou quase isso...

— Se esse homem abrir a boca mais uma vez, eu juro que arranco os meus próprios ouvidos com as mãos. — o murmúrio de Tenten fez os amigos rirem. Ela se referia a um idoso pentelho que tentava à todo custo conseguir o número dela e de Ino. Desde que saíram do hotel, estavam sendo perturbadas com assobios, cantadas e carinhos indesejados. Estava custando muito da paciência e educação delas para que não metessem um socão nele ali mesmo. Os rapazes tentavam se intrometer e proteger as amigas, mas nem sempre conseguiam ficar por perto.

O sol quente e brilhante no céu deixava os grãos de areia ainda mais viçosos. A cada brisa um punhado escorria de um topo de alguma montanha, como se fosse água de uma cachoeira. Tirando o fato de que era quente como o inferno e seco como... O deserto. 

As dunas bailavam de um lado para o outro, traçando o seu caminho hipnótico até se aquietarem por poucos segundos no solo novamente. 

Os únicos seres vivos na região – além do grupo de amigos – eram os outros turistas, os guias e os camelos. As gigantescas criaturas serviam de transporte e também de modelos para as milhares de fotos que todos queriam tirar. Cada suspiro era motivo para a Yamanaka levantar a máquina e fotografar com um sorriso no rosto; a viagem estava muito bem registrada com ela. 

Os cinco separaram-se após mais algumas fotos e refizeram o caminho de volta. Agora podiam gritar para o mundo que haviam conhecido um deserto de verdade. 

Retomaram os seus lugares no jipe azul: Ino, Shikamaru e Neji nos bancos do meio, Tenten e Kiba equilibrando-se nos bancos da traseira de costas para os amigos. Outros três turistas ocuparam os seus lugares de antes, gesticulando animados em uma língua que ninguém parecia entender. 

— Eu vou conseguir montar um álbum separado e bem recheado com todas as fotos estranhas do Neji. — comemorou Yamanaka com um sorriso perverso enquanto passava pelas fotos em sua máquina. Shikamaru apoiou-se no ombro dela para ver melhor as obras-primas registradas. — Ou postar na internet para todo mundo contemplar esse modelo em ascensão.

Um olho fechado, a boca torta ou sorrindo desajeitado, o rosto sujo com alguma comida e folhas grudadas nos longos cabelos. Poucas eram as fotos em que o Hyuuga estava apresentável. 

— Se você fizer isso, serei forçado a cobrar por uso de imagem. O processo chega até você, Ino. 

— Entra na fila, bebê.

Assim que o motor foi ligado, as risadas cessaram e a ansiedade pareceu tomar conta de seus corpos. Não viam a hora de chegar logo no hotel para tomarem um longo e relaxante banho.

O movimento fazia um vento gostoso balançar os cabelos de Tenten, que se perdia em pensamentos. Sentia-se tão feliz. Ela olhava em volta, querendo valer cada dinheiro que havia gasto naquele passeio. 

E não demorou mais do que alguns minutos para que a morena sentisse que algo estava errado. Um dos bancos no seu jipe estava vago. 

Aquele senhor incômodo, que não era capaz de deixar ela e Ino quietas, não estava ali. A falta de uma presença tão ruidosa como ele não poderia passar despercebida. 

— Está faltando alguém! — comentou com o amigo ao seu lado.

— Como assim? Você tem certeza? 

— Sim...

Kiba prontamente abriu os olhos e virou-se para trás, chamando um dos guias. Gesticulou o máximo que podia, tentando se fazer entender. Mitsashi também explicava exasperada que o idoso não estava ali, podia ter se perdido no deserto e ficado para trás. 

O pensamento a enchia de calafrios, parecia uma cena de filme. 

— Ela não nos entende. — Inuzuka proferiu chateado, desistindo de vez. A única coisa que a guia repetia em um inglês carregado era que “os hóspedes estão à salvo”. Abraçou a morena inquieta com carinho. — Deve ser só impressão sua, Ten. Ele pode estar em um dos outros jipes.

Tenten não sentia-se muito satisfeita com a possibilidade, entretanto resolveu deixar para lá. Quais eram as chances de alguém ficar para trás? Haviam tantas pessoas lá cuidando dos turistas que soava quase improvável o senhor ter se perdido.

Devia confiar nos simpáticos guias e ocupar a cabeça com coisas mais felizes.

A balada do hotel estava praticamente vazia, poucos dançantes na pista e mais uns pares sentados em volta do barman. Talvez por ser sete horas da noite de uma terça-feira.

Faltavam apenas dois dias para os cinco amigos voltarem ao Japão. 

Ino e Shikamaru tentavam convencer duas mulheres russas a ficarem com eles desde que haviam colocado os pés ali; sussurravam e riam baixinho das besteiras que trocavam ao pé do ouvido. Kiba mexia no celular com grande atenção, nada enturmado com o ambiente, e fugindo de qualquer interação humana. Neji e Tenten dançavam como podiam às batidas da música desconhecida, esbarrando os corpos um no outro em toda oportunidade que tinham.

Os cabelos da morena estavam soltos em volta do rosto bem maquiado, um tanto bagunçados pelos movimentos que a mesma fazia. O corpo atlético escondido dentro de uma blusa justa e uma saia preta. Os lábios tingidos de vermelho nunca haviam sido tão convidativos. 

Neji segurava a cintura da Mitsashi com carinho e sentia a mente ficar louca com os pensamentos maliciosos que tinha cada vez que ela se esfregava nele.

O Hyuuga estava preparado para apostar tudo naquela noite. Vestindo a camisa azul que sabia que atraia os olhares desejosos da mulher e prendendo os cabelos compridos em um rabo baixo, também banhara-se de colônia para que ela grudasse o nariz em seu pescoço – como estava fazendo naquele momento. Não eram necessárias palavras naquele momento; as ações falavam mais alto.

Ele realmente estava apostando tudo para a ter para si.

Com o incentivo das luzes piscantes, da música alta e do batom vermelho, ele teve vontade de a beijar. 

E assim o fez. 

Grudou os lábios nos dela com vontade e foi retribuído na mesma intensidade. Os corpos pararam de dançar aos poucos e a mão forte de Neji enroscou-se nos cabelos escuros puxando-os levemente. As bocas se exploravam com vontade, sedentos um pelo outro. O desejo guardado há certo tempo sendo saciado com aquele contato fogoso. 

Já haviam se beijado várias vezes, perderam a virgindade um com o outro anos antes, porém naquele momento tudo parecia diferente. Os sentimentos gritavam dentro de si, não era mais curiosidade ou puberdade. Era mais forte. 

Ambos se afastaram para recuperar o ar, mas logo estavam grudados novamente. 

O beijo começou desesperado, todavia foi diminuindo o ritmo. Passaram a explorar um ao outro com carinho e atenção, saboreando cada segundo do momento. 

Quando sentiram que as palavras finalmente precisavam tomar conta, o Hyuuga levou a boca até o ouvido da japonesa e começou: 

— Parando para pensar, eu acho que sempre quiser fazer isso.

— Vir para uma balada? — brincou arrepiando-se com a respiração quente em seu ponto fraco. 

— Não, beijar você com amor de verdade. 

A morena rodeou os braços em volta do pescoço dele mais uma vez, depositando a cabeça na curvatura. De repente sentiu-se um pouco tonta, talvez o seu coração estivesse bombeando sangue demais. 

— O que acha de passarmos um tempo longe dessas criaturas infernais? — ele convidou esperançoso. Podia sentir os olhos curiosos dos amigos em cima dos dois, e riu. 

— A minha resposta será sempre “sim”.

Abraçaram-se com força e ficaram naquela posição por longos minutos. Neji a sentiu remexer-se bruscamente entre seus braços antes que pudesse se afundar em pensamentos; todos os momentos com ela passavam em sua cabeça, como um vídeo, e era impossível conter o sorriso. Sempre seria Mitsashi Tenten para ele, e ninguém mais. 

”Um passo de cada vez”, precisava repetir isso a todo instante. 

— Estou um pouco cansada. 

O Hyuuga ficou preocupado com a mudança brusca da japonesa, no entanto a acompanhou até o quarto sem fazer muitas perguntas. Andaram com as mãos entrelaçadas e suspiros apaixonados. Quando chegaram ao destino, ela tinha o rosto um tanto mais pálido do que o normal. 

— Você não quer que eu chame um médico?

Tenten sorriu abobada, capturando os lábios do moreno preocupado com doçura. Beijou-o delicadamente, sentindo-se nas nuvens quando mãos firmes seguraram sua cintura. Como podia derreter-se tanto por ele?

— Eu vou ficar bem, só preciso descansar. Amanhã cedo nos encontramos na cafeteria, ‘tá bom?

— Estarei esperando. 

Neji sabia que haviam combinado de se encontrar no restaurante do hotel, mas a sua animação o forçava a ir vê-la antes. Estava parado na porta do quarto há alguns minutos, indeciso entre bater ou não. Sabia que Tenten estava sozinha, afinal Shikamaru foi bem categórico ao afirmar que ele e os outros dois passariam o dia na piscina... Acompanhado de uma piscadinha e um sorriso malicioso. 

Não era mais segredo que todo mundo estava aguardando por aquele momento em que os dois japoneses finalmente se dariam uma chance. 

Bateu na porta e não foi atendido. Esperou mais alguns segundos e bateu de novo. Nada.

Bateu mais uma vez e apoiou o ouvido na madeira, tentando captar algo. Silêncio.

Mandou uma mensagem falando estaria esperando Tenten no próprio quarto assim que ela quisesse sair. Mandou também para os amigos, pedindo para que se a vissem, avisassem que ele estava pronto para o encontro. 

Passou o cartão na tranca e jogou-se na cama. Ficou deitado, meio chateado e meio preocupado. Não entendia o que estava acontecendo, se talvez Tenten tivesse se arrependido ou se ainda estava passando mal. 

A euforia foi diminuindo aos poucos e o cansaço pesou nos olhos. Naquela manhã, Neji caiu no sono tendo como trilha sonora os sinos do hotel. 

— Neji. Neji, acorda! Por favor, Hyuuga! — a dona da voz trêmula também o chacoalhava com força, fazendo o seu coração pular no peito como um touro de rodeio. Abriu os olhos de supetão, tentando se ajustar ao mundo. Ainda estava de dia.

Virou a cabeça e encarou Ino.

Por Deus, se ele soubesse que veria aquela cena, preferia não ter acordado. 

As lágrimas nos olhos claros faziam o rímel escorrer borrado por toda o rosto. Neji nunca havia visto a amiga daquela forma; ela estava sempre tão impecável e arrumada. Poderia fazer uma piada se não estivesse tão nervoso. Estavam só os dois no quarto, o silêncio do corredor e da rua tornou-se assustador de repente. 

O corpo do rapaz começou a arrepiar, tinha medo de perguntar o que estava acontecendo, entretanto não precisou titubear muito até que ela voltasse a choramingar: 

— A Tenten sumiu.


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