Light and Shadow escrita por Eternal Dreams


Capítulo 4
A face de um traidor


Notas iniciais do capítulo

Fim de semestre de facul, é possível que os capítulos tenham um intervalo maiorzinho de um para o outro T.T
Mas espero voltar a escrever logo!
Enquanto isso, está aí o capítulo 4 ;)



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Kayn respirava ofegante, com a cabeça abaixada, enquanto tentava controlar suas emoções. Perdera quatro prisioneiros, não havia volta, precisava aceitar esse fato. Porém, o fato dela estar entre os quatro fugitivos complicava, e muito, sua aceitação.

Ele sabia que ela era a chave pra sua caça aos templários. Sabia o quão grato o imperador ficaria quando a entregasse, e de todas as recompensas que ganharia dele por isso. Mas não adiantava mais. Sona escorregara por entre os seus dedos.

“Já terminou de chorar, Kayn? Você não pode ser assim tão fraco. Se recomponha, inútil! Tudo o que se foi, pode ser recapturado, só o que precisa é força. Mas antes disso, temos questões para lidar aqui”

— Senhor! - a porta do compartimento se abriu de repente com um barulho alto, surgindo de lá uma Vassur ofegante que se apoiava nos joelhos enquanto recuperava o fôlego. Em sua mão, segurava com força um pequeno tablet.

— Mas o que... O que foi agora?! - Kayn levantara subitamente a cabeça para encarar a ofegante mulher que chegara.

— A garota dos templários, descobrimos a localização! Acabei de receber de um dos nossos informantes do planeta Miraxes, veja! - Kayn se levantou com um pulo e pegou o tablet que ela lhe estendia, sem acreditar.

— O Estrela da Manhã... então foi pra ele que você a mandou. Eu devia ter imaginado. - não conseguiu evitar que uma pequena risada escapasse de seus lábios. Finalmente.

Virou-se para encarar o punhado de prisioneiros que lhe restara. Vassur logo notara a situação, e encostou silenciosamente ao seu lado, mas a mulher não podia evitar a ansiedade surgindo em seus olhos enquanto aguardava novas ordens. Vassur sabia, assim como ele, que estavam em uma situação ruim. Precisava decidir o que faria com os prisioneiros daqui pra frente. Segundo as leis demaxianas, Yone deveria ser levado a julgamento por traição, enquanto os prisioneiros estavam sendo aguardados em Armada Locus para interrogatório. Porém, mesmo sabendo da localização de Sona, pensar que teria que assumir a culpa pela perda dos outros prisioneiros o deixava enjoado. Poucas coisas o enojavam mais do que o fracasso.

Levantou-se e se dirigiu calmamente até estar de frente com seu antigo súdito. Notara que o homem havia levantado a cabeça quando ouviu o nome da nave do irmão, mas rapidamente a havia abaixado novamente. Seu corpo, agora de frente para Kayn, tremia vigorosamente.

— Ei, verme, olhe para mim, mostre sua face de traidor.

Yone continuou fitando o chão. Kayn fez um chiado de raiva logo antes de lançar as costas de sua mão no rosto do homem cabisbaixo, com força suficiente para lançá-lo ao chão. Pôde ver um fiapo de sangue começando a escorrer do lábio inferior do homem que desajeitadamente se levantava novamente.

— Não sei que merda você estava pensando, mas você me deixou com alguns problemas. Me diga, o que eu deveria fazer com você?

Yone se recompôs o máximo que conseguiu e, ainda tremendo, finalmente levantou os olhos.

— Senhor... eles... eu precisava ajudá-los. Eles não merecem o destino que terão na capital. O senhor sabe como é, sabe como nosso povo lida com pessoas como eles!

— Calado! O destino que terão é exatamente o que eles merecem. Este é o preço por seguir uma ordem de criminosos. Ninguém os forçou a nada, e todos estavam cientes do preço a se pagar por isso.

— Sim! Mas o senhor não acha estranho? Esse povo que chamamos de templários...quantos realmente foram vistos cometendo algum crime de verdade? A maioria que encontramos ou são apenas veneradores da ordem, como esses prisioneiros, ou sacerdotes que dizem saber manipular o Ora. Se o que dizem for verdade, pense no quanto podíamos aprender com eles, trabalhar juntos! De qualquer maneira, eles não merecem o destino que os condenamos a ter. - a convicção daquilo que acreditava fazia o corpo de Yone se acalmar e não mais tremia. Sabia que precisava convencê-lo a ver a razão, que juntos poderiam mudar esse sistema antiquado e deturpado em que viviam.

— O que é isso, você é um seguidor de templário agora? Mais uma pra lista de seus crimes a serem julgados. Boa sorte com isso, traidor. - Kayn não podia acreditar que aquele homem podia ser tão iludido. Sentia sua raiva lentamente se transformando em uma sensação de pena daquele homem moribundo.

— Eles precisam de nossa ajuda, senhor. Eu o conheço, durante todos esses anos, foi você quem me deu esperança. Você se lembra? Aquele dia, quando me recrutou, eu era só um menino que via a vida através de livros. Mas mesmo assim, você me aceitou. Eu não era ninguém, mas naquele momento, minha vida ganhou um sentido. Sei que possui um bom coração. Luta pela justiça, por todos nós.

Kayn ouviu calado. Desejava que Yone gritasse e o amaldiçoasse com palavras sujas, mas, estranhamente, o que ele lhe dizia o fazia lembrar de tempos antigos, histórias que já estavam se apagando de sua memória. Pensar nelas agora lhe traziam uma sensação de calma e tristeza que não sentia a muito tempo.

Lembrava da expressão de euforia do pequeno Yone quando o aceitara na tripulação a tantos anos atrás, quando uma dor repentina e lasciva o fez se curvar com um grunhido. Seu corpo inteiro se contorcia e sua visão estava turva e avermelhada, como se o mundo todo estivesse em chamas.

“Eu não acredito nisso. Quão estúpido você pode ser? Não consegue ver que ele só quer salvar a própria pele? Ele sabe de sua fraqueza e esperará pelo momento certo pra te atacar pelas costas novamente. Olhe para ele. São os olhos de um traidor. Tudo o que você lhe deu, tudo o que lhe ensinou, e é assim que ele lhe retribui. Com traição. Mostre a ele Kayn, mostre a ele o que fazemos com traidores imundos.”

Kayn não conseguia pensar em nada, mas junto a dor, sentia um turbilhão de sensações borbulhando dentro de si. Não demorou pra notar que, na verdade, era apenas uma. Raiva, no seu estado mais puro e explosivo, que parecia rasgar seu corpo de dentro pra fora, enquanto crescia cada vez mais forte.

Em meio aos espasmos, Kayn notou que a luz vermelha vinha da grande foice que repousava ao lado de sua mão, mesmo podendo jurar que a arma havia sido arremessada a uma pequena distância no momento que foi atingido pela dor e caíra no chão. Não precisou pensar duas vezes. Ou talvez, nem mesmo uma vez, pois um ruído de vento sendo cortado separava o homem antes caído daquele erguido, com a grande foice ensanguentada brandida em sua mão, foice essa exibindo seu grande olho vermelho, bem aberto. Yone pareceu levar alguns segundos para processar o que havia acontecido, enquanto sua camisa, antes branca, mudava lentamente para um tom rúbeo intenso.

— Quem...não... o que é... você? - os grandes olhos arregalados do homem se encontraram com o único e monstruoso olho que o fitava da base da grande lâmina, enquanto este desmoronava no chão. Yone lembrou de ter visto o seu sangue desaparecendo da lâmina durante o curto momento que a fitava, como se aquilo estivesse se alimentando de sua vida. Foi pensando nisso que com um último espasmo, tudo ficou preto e o corpo não mais se moveu.

Os prisioneiros, que assistiam a cena em estado de choque, passaram a gradativamente recuperar seus sentidos e gritavam de horror enquanto tentavam se distanciar o máximo possível do corpo morto e, principalmente, do homem que o cortara. Vassur levara as mãos à boca e lutava para conseguir falar normalmente.

— Senhor! O que... isso... não podia acontecer! O império... o império não permite julgamentos por conta própria. O senhor sabe disso! Eles virão atrás de nós, e....

— Se acalme. Eles só saberão... se alguém contar. E nós não pretendemos contar a eles, não é verdade, Vassur? - a voz do ordinal estava diferente da usual, e os lábios se repuxavam em um sorriso bizarro que Vassur nunca tinha visto antes. Não conseguiu impedir o calafrio que passou pelo seu corpo.

— Não... tem razão, não precisamos contar.

— Ótimo. Você mandará uma mensagem a Armada Locus, informando os trágicos eventos que se sucederam. Como nosso bravo e fiel Yone foi assassinado a sangue frio pelo seu próprio irmão, invejoso e vingativo, Yasuo. Ele nunca superou o sucesso do irmão mais velho. Antes de fugir covardemente, matou nossos prisioneiros com a ajuda de sua cruel tripulação e raptou a garota templária afim de roubar todo o Ora para si. Egoísta e perverso. Não conseguimos evitar a tragédia, mas podemos trazer justiça. Peça permissão para lidarmos com o capitão da Estrela da Manhã. Em nome do Império Demaxiano, devolveremos a garota e levaremos o traidor para o julgamento que merece.

Vassar o fitava imóvel, com a boca meio aberta e a respiração acelerada. Não sabia o que pensar. Mas não tinha tempo para pensar em nada. E nem coragem.

— Si... sim senhor. - Virara rapidamente em direção à porta, processando mentalmente a história que precisaria aceitar como verdade, quando lembrou de algo que não se encaixava.

— Espere... mas os prisioneiros continuam conosco, senhor. Por que falaremos que estes foram assassinados?

Aquela bizarra repuxada no rosto que Shieda Kayn novamente lhe deu enquanto se virava para o assustado grupo de prisioneiros era toda a resposta que Vassur precisava. Não esperou nem um segundo mais para correr de volta para a porta e seguir com as lágrimas escorrendo para sua cabine, enquanto os gritos de terror da sala iam ficando cada vez mais distantes.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!



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