Light and Shadow escrita por Eternal Dreams


Capítulo 2
O Salvador


Notas iniciais do capítulo

Opa, mas um cap saindo!



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Yone andava de um lado para o outro dentro da sala de máquinas, com o suor pingando em suas roupas. “Ele me viu. Ele sabe”. Não conseguia parar de lembrar do recém encontro com o Ordinal. “Será que ele me escutou? Por quanto tempo ele esteve ali antes de me chamar?” Sua cabeça doía e suas mãos tremiam, enquanto Yone se esforçava para retomar o controle.
Não, não tinha como ele ter ouvido. A pesada porta do andar inferior da nave era grossa e revestida, tendo sido projetada para vedar completamente o Hangar do resto da nave, já que o tráfico constante de naves de transporte e carga exigiam do local uma privacidade a mais. Yone pessoalmente tinha reparado aquelas porta dezenas de vezes, mas o medo estava se mostrando mais forte do que a razão.
Quando decidira ajudar os fiéis, sabia do risco que estava assumindo. O conflito entre o império e os templários já se estendia por séculos, e não dava sinal de estar perto de chegar ao fim. Durante sua juventude, estudara muito sobre a misteriosa ordem dos templários. Os seus integrantes e seguidores passaram a ser perseguidos desde a formação do Império Demaxiano, que se mostrara totalmente inflexível quanto à administração do Ora, substância esta que antes era o principal material de estudo da milenar ordem templária. Também foram os responsáveis pela descoberta do primeiro depósito de Ora e posterior conhecimento sobre sua manipulação. Parecia que, para os templários, mais do que uma substância, o Ora era considerado algo que transcendia a realidade física e material, algo que ligava todas as civilizações do universo do passado, presente e futuro.
Com a ascensão do atual imperador Jarvan IV, as medidas adotadas de controle e punição para com os violadores da lei monopolizadora do Ora nas mãos do império eram consideravelmente mais brandas se comparadas com as anteriores, porém, não menos erradas. Mesmo trabalhando todos esses anos para o império, Yone nunca conseguiu engolir essa realidade, onde pessoas eram perseguidas, torturadas e mortas por acreditarem em algo diferente do comumente imposto como ‘certo’. Quando viu no planeta Ionan o grupo de fiéis capturados subindo a bordo, soube que o destino deles estava em suas mãos. Esperou seu Ordinal se dirigir aos aposentos, e não pensou duas vezes antes de descer para o Hangar, onde os prisioneiros tinham sido acorrentados. Não fazia idéia do que ia fazer lá até estar cara a cara com aqueles rostos assustados. Apenas um olhar foi necessário para saber o que precisava ser feito. Iria salvá-los.

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Kayn andava nervosamente de um lado para o outro em sua cabine. Desde que voltara de Ionan, sentia suas emoções instáveis. Sempre considerara ter um ótimo controle emocional, sabendo se manter impassível diante das situações mais adversas. Não é a toa que era o primeiro nome a ser chamado pelo império para cuidar de prisioneiros de guerra. Não importava seus segredos nem quem os portasse, eles sairiam, de uma forma ou de outra. Mesmo assim, dificilmente chegava ao ponto de necessitar de um incentivo mais corporal para que quebrassem. Quando colocadas da maneira certa, Kayn sabia que as palavras cortavam mais fundo do que qualquer espada.
Porém, seu interrogatório com os prisioneiros saíra totalmente do controle, não tendo conseguido uns única informação sequer de um simples grupo moribundo de fiéis lunáticos. Pensar nisso o deixara com ainda mais raiva. Andou pesadamente rumo à grande janela da cabine afim de se acalmar, quando ouviu um barulho seco vindo do outro lado dela. Correu para procurar a origem do som na imensidão escura que o rodeava do lado de fora e paralisou quando viu um pequeno objeto distante flutuando para longe. Não havia terminado de processar o que acabara de ver quando ouviu novamente o mesmo barulho, enquanto, agora visível, uma cápsula branca era lançada da parte inferior da nave em direção ao espaço.
— Mas o que diab-
“Hahahahah parece que seus hóspedes estão indo embora sem ser despedir, Kayn. Mas que falta de classe, justo na hora do jantar!”
Sua respiração falhou quando se deu conta do que estava acontecendo. Virou-se para a porta e a escancarou com um empurrão enquanto corria até o elevador. “Como? Como eles acessaram as cápsulas?”. Sua cabeça estava a mil. Não era possível eles terem se soltado das correntes por si só e menos ainda terem conseguido o acesso às cápsulas de fuga. Enquanto ainda pensava nas possibilidades, seu pensamento recaiu sobre a garota. “Sona”. Sua respiração falhou quando se deu conta que ela podia já ter escapado. “Não ela. Todos menos ela”. Mesmo que sem ter conseguido mais informações sobre os prisioneiros, sabia que ela era a chave pra a sua missão. Mesmo sem o alerta de Rhaast sobre Sona, Kayn sabia que aquela não era uma mulher qualquer. A idéia de perdê-la o causava enjôo.
Só existia uma resposta. Um traidor se encontrava em sua tripulação. A raiva crescia a cada segundo enquanto pulava para fora do elevador e se aproximava da porta do Hangar, apertando a foice em sua mão com tanta força que sentia seus músculos latejando. Pressionou com urgência seu olho artificial no leitor e se preparou para entrar, mas, para sua surpresa, a porta não demonstrou nenhum sinal de se mover. Pressionou o rosto novamente sobre o pequeno leitor, e novamente, nada aconteceu. Kayn escutou novamente o barulho de lançamento, agora do outro lado das portas. A fúria tomou conta do seu corpo e com um soco o leitor explodiu e caiu despedaçado no chão. Continuou socando e chutando a entrada a sua frente, quando escutou Rhaast grasnar em sua cabeça novamente.
“Não seja ridículo, com essa força mundana você nunca vai derrubar esta coisa. Mas pra a sua sorte, você tem a mim. Testemunhe o meu poder.”
A foice em sua mão subitamente abriu um único olho em sua base e começou a pulsar e emitir um forte brilho rosa, como que em chamas. Kayn podia sentir o poder da arma subindo pelo seu braço até tomar conta de todo o seu corpo, uma sensação tão prazerosa que o deixava extasiado. Mesmo que inexplicável, Kayn sabia o que era. Poder. Puro e denso poder. Já havia sentido essa sensação antes, no momento em que segurara a arma de Rhaast pela primeira vez, naquele poço escuro e quente do planeta de Ionan.
Como que em piloto automático, seu corpo se dobrou empunhando a flamejante foice por cima de sua cabeça, e com um relampejo, uma fenda apareceu no lugar que antes só havia a grande e resistência porta de ferro.
Primeiro as damas.”
Não havia tempo pra refletir sobre o que acontecera. Pulou por entre a fenda e entrou no espaçoso Hangar, dando de cara com um pequeno grupo assustado o olhando de olhos arregalados. A saída de segurança estava destravada, e uma garota estava a meio caminho de entrar na cápsula aberta. Ao lado dela, mas do lado de fora, um rosto que Kayn nunca imaginaria encontrar ali o encarava petrificado, ainda com a mão apoiada nas costas da garota.
— Você. - sua voz saiu baixa, mas sentia que estava prestes a explodir. Yone não esperou uma segunda palavra e empurrou bruscamente Sona para dentro do pequeno espaço vazio, enquanto sussurrava algo inaudível e jogava um objeto pequeno para dentro, acionando imediatamente em seguida o botão de travamento e lançamento no painel a sua frente.
— Não!- em um piscar de olhos, sua mão livre alcançou o pescoço do traidor, jogando-o com um movimento rápido em direção a parede. O corpo bateu com um estrondo, no momento em que Kayn alcançava a porta que acabara de se fechar em frente ao seu rosto. Bateu suas duas mãos no material transparente, incrédulo de que havia chegado tarde demais, e os grandes olhos dourados o encararam de volta do outro lado. Mesmo ali, segundos antes de ser lançada ao espaço, seu olhar não emitia medo nem raiva. Apenas tristeza.


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Notas finais do capítulo

Até breve ;)



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