Estavam exaustos, no segundo turno, e Sara não acreditava que passaria mais um aniversário trabalhando. O dia amanheceu lindo em dezesseis de setembro, mas de nada adiantava, estava presa no laboratório sem pista nenhuma pro caso andar, num beco sem saída. Seria melhor se tivesse Gil ali perto dela, mas ele estava afastado.

Foram tempos difíceis após a revelação do relacionamento de Grissom e Sara. O casal teve que ouvir poucas e boas de Conrad Ecklie e com muito esforço não foram demitidos ou trocados de turno, mas foram suspensos por dez dias.

A cidade nunca dava trégua, então, fizeram Sara voltar para o trabalho mais cedo do que o previsto. Já Gil, Ecklie fez questão de deixá-lo o máximo possível afastado, mas não foi de todo mal, Gil tinha folgas acumuladas mesmo.

Sara mal percebeu que já passava da meia noite até Greg pegá-la de surpresa na sala de análises, abraçando-a pela cintura e desejando feliz aniversário.

— Eu nem vi a hora passar.- ela riu pelo susto que levou. — Obrigada Greg.

— A gente tem se reunir mais tarde, não podemos deixar passar em branco.

— Eu duvido que teremos tempo.

— Nós não teremos, mas você sim.- Catherine, que estava como supervisora no lugar de Gil, entrou na sala. — Eu tenho certeza que com o andar da carruagem nós iremos fazer turno triplo, e eu não quero que perca o dia, então antes do terceiro turno começar você vai pra casa, ok?

— Cath, tem certeza? Eu posso ajudar.

— Eu sei, mas você trabalhou no ano passado, e no retrasado também, você merece uma folguinha no seu aniversário, Sara, a gente dá conta.- sorriu. — Além disso, tenho certeza que quer ficar com o Gil. O que ele disse na mensagem?

— Que mensagem?- perguntou Sara, confusa.

— Ele não te mandou uma mensagem de aniversário?- Sara negou. — Te ligou então?

— Não.

— Ué! Já passa das seis da manhã.

— Calma Cath.- Sara riu. — Ele deve estar dormindo. Griss não esqueceria o meu aniversário.

Sara não parecia tão segura dizendo isso, no fundo esperava mesmo que ele não esquecesse. Mas as horas foram passando, e nada. Sara começou a achar que ele realmente tinha esquecido e ficou triste com isso. Continuou trabalhando e recebendo muito carinho conforme encontrava com as pessoas nos corredores.

— Nada ainda?- Catherine perguntou ao vê-la cabisbaixa na sala de descanso com o celular na mão.

— Não...

— Não fica assim, ele vai ligar... Eu acho.

— Grande consolo, Catherine!- a ruiva fez que ia rir, mas desistiu. — Sabe de alguma coisa que eu não sei?

— Eu? Claro que não, Sara. Acha que o Grissom me contaria alguma coisa?

— Acho!

— Deixa de ser paranóica.- desconversou. — Deve ter um motivo pra ele estar demorando assim.

— E tem: ele esqueceu!

Catherine suspirou.

Sara também recebeu mensagens de Abby, Lindsay, Lily e — pasmem — de sua mãe, coisa que jamais imaginou que aconteceria. Mas de Gil? Nenhuma.

Enquanto Sara ficava menos esperançosa pelo laboratório e cenas de crime, Grissom ligava para sua amiga como planejado.

— Tudo certo? Ela acha que eu esqueci?

— Sim, mas acho que não foi uma boa ideia, Gil. Ela está triste. Estamos fazendo o possível pra ela não ficar assim, mas dá pra ver.

— Essa era a última coisa que eu queria, mas vai valer a pena, ela vai me perdoar.

A ruiva sorriu.

— Olha, assim que ela sair eu mando mensagem, tá? Vou liberar ela um pouco antes das seis da tarde.

— Perfeito! Obrigado Cath.

Como combinado, Catherine dispensava Sara, que não estava nem um pouco afim de ir pra casa, e mandava mensagem para o amigo informando que a morena estava à caminho.

Grissom já estava com quase tudo pronto, só esperando por ela.

~ ♥ ~

Haviam comprado uma casa depois que tudo fora revelado, saíram do apartamento de Gil, e Sara não precisou mais manter o seu. A casa era simples e não muito grande, porém melhor do que os apartamentos.

Sara chegou cabisbaixa, seu aniversário só não foi ruim porque tinha seus amigos para diverti-la e o trabalho para distraí-la. Mas sua tristeza foi embora ao chegar na porta e se deparar com um bilhete.

“Oi anjo! Vá direto para o quarto, tá? Sem trapacear!”

Sara abriu um lindo sorriso e girou a maçaneta. Ele tinha preparado uma surpresa? Deu pra sentir o cheiro delicioso de comida recém preparada assim que entrou.

Gil estava escondido na cozinha e a viu indo para o quarto, como ele pediu. Sorriu com isso.

Assim que Sara chegou lá, viu que tinha algo sobre a cama. Aproximou-se e viu que era um vestido vermelho. Era lindo! Ele tinha até ido às compras, riu imaginando-o escolhendo um vestido pra ela. Junto à peça havia outro bilhete.

“Preparei a banheira pra você, amor. Tome um banho relaxante pra descansar o corpo e depois siga as pétalas. Elas vão te levar até mim. Opção sua usar o vestido, tá? Se arrume como achar melhor ♥”

Sara ficou confusa por não haver pétalas, em nenhum lugar, mas vencida pelo cansaço ela seguiu para o banheiro, procuraria depois.

A banheira estava perfeita e Sara ficou lá se banhando e relaxando por alguns minutos. Foi a deixa para Grissom fazer o caminho de pétalas que planejou. Claro, sem fazer barulho.

Assim que Sara saiu do banho com os cabelos molhados e vestindo seu roupão, ela viu as pétalas no chão.

Sorriu. Ele havia mesmo planejado tudo direitinho.

Secou os cabelos, vestiu o vestido novo que caiu como uma luva e passou só um pó e um batom vermelho.

Estava pronta!

Sara seguiu as pétalas de rosa descalça mesmo e a trilha acabou na sala, revelando um ambiente iluminado por velas, a mesinha de centro de vidro havia virado a mesa principal onde havia uma garrafa de vinho com duas taças e dois pratos em cada extremidade, e um Grissom sorridente, vestindo camisa e calça social, também descalço e segurando um buquê de rosas. A música baixinha deixava o clima mais romântico. Ele havia sido rápido, arrumou tudo enquanto ela estava no banho.

— Oi! Feliz aniversário!- ele a saudou. — Que bom que serviu.- referiu-se ao vestido.

Sara não estava acreditando no que estava vendo.

— Oi!- respondeu surpresa, porém contente, e foi se aproximando dele enquanto ele falava.

— Está linda!- sorriu admirado, como sempre fazia quando a via. — Desculpe não ter mandado nada, foi de propósito.- ele lembrou de explicar.

— Eu achei que tinha esquecido.- disse ao ficar frente a frente com ele.

— Eu jamais esqueceria.- lhe entregou o buquê. — Fazia parte da surpresa. Você gostou?

— Adorei!- o sorriso lindo que ela lhe ofereceu foi o bastante para acreditar. Ela não estava chateada.

— Então… Estou perdoado?- sorriu erguendo uma das sobrancelhas.

Sara respondeu enlaçando seu pescoço e lhe dando um beijo de tirar o fôlego.

— Acho que isso é um sim.

Ela riu e limpou os lábios dele borrados de batom.

Gil a conduziu até o meio da sala e ambos sentaram no tapete macio, cada um em uma ponta. Gil os serviu com um macarrão a molho branco e especiarias.

— Eu queria te levar em algum lugar, mas não fazia ideia de onde, e não podia te perguntar senão estragaria tudo. Então resolvi fazer um simples jantar romântico, já que disse que gosta da minha comida.

— Ficou tudo perfeito. Obrigada!- sorriu e recebeu o mesmo sorriso em troca.

Já era por volta das sete. Comeram conversando pouco, só curtindo o momento trocando olhares e sorrisos, aproveitando a música ambiente.

Assim que terminaram, sentaram abraçados no sofá macio.

— Como estava o jantar?

— Delicioso!- lhe deu um beijo curto. — Amei a surpresa, valeu a pena eu achar que tinha esquecido de mim.

Deram risada.

— A Catherine me manteve a par do que acontecia.

— Eu sabia!- disse num tom um pouco mais alto. — Sabia que ela estava por trás disso também! Mentirosa, sem vergonha!- ela brincou e Grissom gargalhou.

Trocaram alguns beijos e depois de alguns segundos em silêncio, Sara comentou:

— Você disse que queria me levar num lugar, mas não sabia onde. Eu… posso pedir pra irmos em um?

— Pode pedir o que quiser, meu amor.- ele colocou uma mecha de seu cabelo atrás da orelha fazendo-a sorrir com o gesto. — Onde você quer ir?

— No parque de diversões.

— Parque de diversões?- ela assentiu sorrindo esperançosa. — Confesso que estou surpreso.- riram.

— É que sinto falta de me divertir assim… brincando. Estou com trinta e seis anos, com a cara enfiada no trabalho quase o tempo todo. É claro que eu me divirto lá, e fora também, com meus amigos e com você, mas… Sabe o que eu estou querendo dizer?

— Quer se sentir criança de novo… pelo menos por um dia.

— É.- ela suspirou sorrindo, contente por ele ter entendido seu desejo.

— Então vamos ser crianças hoje.- ele respondeu sorrindo e tocando a ponta de seu nariz com o indicador. — Brincar e comer muita besteira.

Sara abriu um sorriso enorme, sorrindo também com os olhos, e o abraçou forte pelo pescoço. Era muito bom tê-lo ao seu lado, a mimando e a fazendo bem só com um simples beijo na testa.

Só foi colocarem um sapato nos pés e logo estavam de saída rumo ao parque.

~ ♥ ~

O lugar conseguia ser mais luminoso do que Las Vegas inteira, cheio de cores e alegria. Sara sentia falta daquele tipo de diversão e animada puxou Gil pela mão.

— O que quer fazer primeiro?- perguntou ele enquanto era guiado por ela por entre as pessoas e atrações.

— Vamos nos mais radicais?- ela riu. — Tipo, o Twister, o Chapéu Mexicano, o Barco Viking e a Montanha-Russa?

— Claro! Vamos já pegar os tickets então.- a abraçou pelo ombro beijando sua testa e pacientes esperaram na fila.

Com os tickets comprados, ambos correram pro Barco Viking, depois o Twister, seguido do Chapéu Mexicano para deixar a Montanha-Russa por último. Gil estava ansioso para andar de montanha-russa com ela já que era um dos seus passatempos favoritos. E com Sara ele nunca tinha ido.

Foi muito divertido, gritaram bastante, saíram tontinhos dos brinquedos e riram muito disso.

— Quer comer alguma coisa?

— Melhor esperarmos um pouco.- ela riu andando em zigue e zague. — Parece que eu estou bêbada.

Grissom também riu.

— Vamos no tiro ao alvo, eu estou com um bom pressentimento.

— No tiro ao alvo? Gil, tonto do jeito que está, vai acabar acertando o dono da barraca.

— Haha, engraçadinha!- ele fez cócegas nela que riu tentando afastá-lo. Ele adorava quando ela ria.

Eles foram até lá e não é que Grissom acertou todas as bexigas verdes que precisava?! Ganhou um grande urso de pelúcia para Sara.

— Não acredito que conseguiu ganhar um prêmio!- disse ela chocada com a performance do namorado.

— Meu maior prêmio eu ganhei em São Francisco.- piscou.

Sara não aguentou e tascou-lhe um beijo, voltando a caminhar em seguida até o carrossel, mas não sem antes comprar algodão doce.

Brincaram no carrossel como nunca antes fizeram, sendo observados por algumas pessoas. Dois adultos brincando daquele jeito era realmente estranho para os outros, mas eles não estavam nem aí.

Assim que saíram de lá, compraram pipoca e enquanto comiam observavam algumas crianças na Roda Gigante e nos aviõezinhos.

Ainda faltava o Carrinho de Bate-Bate que eles não podiam deixar de ir, e nenhum dos dois deu tanta risada num brinquedo na vida como deram naquele. Às vezes um fugia do outro, às vezes iam com tudo pra cima do outro, Sara até machucou o joelho com isso, mas deixar de brincar? Jamais.

— Vou precisar de gelo quando chegar em casa.- ela riu acompanhada dele.

Andaram um pouco e Gil pegou em sua mão.

— Hey, vem cá…

— Pra onde?

Ele a puxou para a parte afastada do parque, onde só havia grama, sem brinquedo nem pessoas.

— Por que viemos pra cá?

— Pra observar.- respondeu. — Deita...- Grissom deitou na grama e esperou que ela fizesse o mesmo. — A visão é perfeita daqui.

Assim que deitou, ainda segurando seu urso de pelúcia, e viu como o céu estava estrelado, ela entendeu. Suspirou com a linda visão e com tudo o que lhe foi proporcionado naquele dia. Ficou pensando em como sua vida havia mudado depois de conhecê-lo. Ele a fazia tão feliz! Ao pensar nisso, Sara virou o rosto para olhá-lo.

Ao sentir o olhar dela sobre si, Gil fez o mesmo, e sorriu ao ver como ela o olhava, com todo amor do mundo.

— O que foi?

— Obrigada.- sorriu. — Foi o melhor aniversário que eu já tive.

Ele continuou sorrindo com o canto da boca e ficou de lado, apoiado no antebraço. Com a outra mão ele tocou o rosto dela, tão radiante quanto a luz do sol num campo de girassóis.

— Eu amo você.

Sara não deixou de sorrir e também tocou o rosto dele, com seu toque suave e leve como uma pluma ao vento, e respondeu antes de colar seus lábios nos dele.

— Eu também amo você.