A Esperança escrita por Emmeline Lilyflower


Capítulo 1
A Luz


Notas iniciais do capítulo

Oi. Bem-vindo à esse cantinho da minha imaginação... E um novo início para uma escritora. Agradeço os comentários, e espero que gostem do que lerão.

Esse capítulo é como um prólogo para uma história já iniciada. Conforme o desenvolvimento, eu esclareço os antecedentes.



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O dia em que Ortez percebeu que havia algo fora do lugar, ele havia acabado de acordar. De novo, não era o teto simples adornado por runas douradas do seu quarto, que ele via. Era o teto azul marinho de contornos e arabescos negros, agora iluminados pela luz da manhã que entrava pela janela meio aberta, do quarto em que ele agora passava mais tempo do que no seu próprio. Ele sabia que não iria dormir novamente. Aparentemente, era cedo, e percebeu que havia, de fato, muito tempo desde que ele tivera um descanso tão bom.

Por ser cedo, ele precisava sair logo, mas não encontrava nenhum sinal de vontade para fazê-lo. Pelo contrário, a presença que se apoiava nele, ainda detida em sono profundo, ajudava a fazer com que ele tivesse vontade de ficar. A única coisa que ocupava sua mente era o foco na visão dela, da imagem da senhora descansando do seu lado. Parte do seu cabelo estava caída sobre o seu rosto, o que fez com que Ortez se empenhasse em tirá-lo suavemente do seu rosto e penteá-lo com os dedos atrás de sua orelha, infinitas vezes, até que ela acordasse. Enquanto fazia isso, observava a expressão serena dela. Raramente aparecia, só quando os pesadelos eram mais leves. Seu rosto agora destampado, o permitia olhar bem todos os traços que ele já conhecia. Os lábios rosa, cheios, largos, o nariz delicado, mas nobre, os cílios negros que se curvavam, a pequena pinta marrom que ela possuía dentro da pálpebra esquerda.

 Ele poderia ficar ali para sempre esperando-a acordar, acariciando-a suavemente, querendo mantê-la ali, segura, em seus braços, onde ninguém chegaria até ela jamais. Desejando que ela fosse só sua. Lembrou-se, então, de que deveria em algum momento deixar o quarto, o mais discretamente possível. Relutou. Isso o fez lembrar-se também que naquele dia, ele tinha compromissos importantes, como uma reunião com o Conselho do Templo para decidir as novas formas de guardá-lo, e como sua presença era importante ali não só para tomar decisões, mas para mostrar aos servos do Templo e da corte de Theroune que ele era confiável, e merecia respeito.

 Porém, o peso de metade daquilo havia se desfeito. Lembrava-se de como na noite anterior ele estava preocupado, e comentou com Cosima, que o acalmou, mas não era o suficiente para que, de repente, o tamanho de tudo aquilo tivesse diminuído a ponto de que ficasse do tamanho de sua vontade de não sair do quarto nunca mais. Algo havia se tranquilizado, se encaixado naquela noite, e ele não sabia o que era. Observou como a posição de Cosima se encaixava na sua, e como aquilo parecia mais certo do que qualquer coisa que ele tivesse de fazer no dia. Ele ficou imóvel, então. Talvez a resposta estivesse ali.

 Nesse momento, Cosima abriu os olhos, devagar, para baixo, sonolenta, mas logo os abriu bem. Ela encontrou Ortez encarando-a, com um olhar terno, um leve sorriso nos lábios. De novo, as preocupações dele haviam sumido. Ela piscou, e, sem pensar, deixando-se levar pela comodidade de sua situação, colocou a mão no seu peito, ficando mais perto. Foi a sua vez de sorrir, languidamente, sem dizer nada. Não precisava dizer nada. Percebia como ele se sentia, e ele, como ela se sentia, também.  Ambos estavam felizes, tranquilos, despertos. Cosima sussurrou um bom-dia.

—Bom dia - Ortez respondeu, ainda espantado com a beleza dela. Ele a contemplou ainda mais um pouco, antes que ela percebesse que já era cedo. A luz de seus olhos... Ele sabia que era dali que vinha a sua esperança.

 Ela também o encarou por um tempo. Sentia que aquela havia sido uma noite tranquila, pois não se lembrava de haver acordado nem uma vez. Pela primeira vez, seu corpo parecia disposto a enfrentar prontamente o novo dia. De onde vinha essa energia?

—Como está se sentindo? – Ortez sussurrou. Cosima levantou a cabeça, apoiando o queixo em seu ombro.

—Ótima – foi a resposta suave dela. – Me sinto... renovada. E você?

 A verdade era que Cosima se preocupava e se angustiava em pensar que ela demandava, mesmo que indiretamente, que Ortez ficasse tanto tempo com ela, e corresse perigo por ela. Porém, para sua tranquilidade, ele parecia mais calmo e feliz do que nunca, ao responder que estava bem. Ortez novamente colocou uma mecha de cabelo que havia deslizado para trás de sua orelha, com carinho.

 Uma brisa fresca com o aroma doce do jardim invadiu o cômodo naquela hora, fazendo parecer que o tempo havia se congelado. Ali estava. De novo, aquela paz. Aquele sentimento que não era apenas pura confiança e conforto, afeto, os envolvendo. Era mais, tão mais vasto que aquilo. Aquela calmaria que havia tomado conta dos dois naquela noite, sem que ambos percebessem, era o rebentar de um fio que há muito se tensionava. E agora, o que se derramava preenchia ambos até os recantos que nem mesmos eles conheciam.

 O tempo era uma mera palavra estranha enquanto Ortez e Cosima se encontravam nas profundidades do que seu olhar lhes poderia proporcionar. Ao longo do tempo eles iriam perceber como era delicado seu contato, como nada seria capaz de interromper sua ligação.

 Como duas almas há muito separadas, eles agora se uniam, cumprindo seu destino.


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