Contracorrente escrita por Gabinos
— Shion, deixe-me ir.
— Você sempre pede para ir, sem nunca permitir que eu lhe peça para ficar.
— As respostas que preciso não vão ser encontradas aqui, Shion de Áries. Deixe-me ir.
—Nunca vou poder ajudar-lhe sem saber quais são as perguntas cujas respostas necessitas, Albafica.
Definitivamente, o que o Cavaleiro de Peixes menos precisava era da intromissão do outro em sua vida. Com um movimento brusco, livrou-se da mão que o segurava pelo pulso e continuou seguindo seu caminho.
— Apenas deixe-me ir.
Não bastasse a intensidade da corrente que sempre precisava nadar contra, em todos os aspectos de sua vida, ainda precisava lidar com aquele homem teimoso, dono da voz macia que o fazia hesitar em sua resolução.
Shion, à distância, o observava lutar. Era como se sua determinação o fizesse voar. A silhueta por entre a névoa criada por seu próprio sangue, como o veludo carmesim que substituía o tecido do qual o céu é feito. Mesmo que as asas de sua força de vontade, que o sustentavam no alto fossem quebradas, isso não o abalaria, pois, naquele momento, precisava voar.
Quando sua batalha parecia estar perdida, Shion interveio. Não deixaria que o vilarejo pelo qual Albafica supostamente tinha dado sua vida para proteger fosse destruído. Mas Peixes retornou, a passos rápidos. Mais ligeiros do que seu corpo podia sustentar. Era sua chance de tocar o Sol. A Rosa Vermelha por entre os lábios e o sorriso que nunca antes mostrara para Áries diziam mais do que qualquer palavra já pronunciadas.
“Você sempre esteve lá, mas poderá perder-me aqui. Você ousou me amar, mas agora deixe-me ir.”
A chuva de pétalas vermelhas finalmente mostrava a real beleza daquelas flores, que por longos e dolorosos anos ele odiou. Mesmo assim, nunca desviou de seu caminho, apesar de um pedaço de si sempre morrer ao pensar em sua triste sina.
Shion tentou salvá-lo, mas não havia mais tempo. Muito menos vontade. Albafica
— Deixe-me quebrado, deixe-me sangrar, deixe-me desmanchar a mim mesmo. Por ora, deixe-me respirar.
Áries, contrariado, ignorou o pedido, tentando estancar as feridas abertas no corpo de seu grande amor. Não sabia se havia recebido um tapa em seu rosto ou se aquele gesto era apenas uma carícia, devido à fraqueza do corpo de Albafica.
— Agora é a hora em que devo andar sem rumo. Apenas deixe-me sangrar até secar. Deixe-me morrer. Deixe-me com minha redenção, Shion. Deixe-me cair.
A última lágrima escorreu quando, mais uma vez, Albafica destruía algo que amava.
O caminho surgiu diante do Santo de Peixes, que sentia seu corpo sendo engolido pelo veludo da noite, negra como o piche.
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Letra/Tradução: http://bit.ly/34UA2nn
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