Era uma vez, um pequeno príncipe chamado Zoro que dançou uma valsa com outro pequeno príncipe. Provavelmente já haviam se esbarrado várias vezes em encontros entre reinos e negociações, festas em geral. Mas, Zoro nunca havia interagido com aquele garoto até aquele dia. Ele se chamava Sanji e era conhecido por todos como o príncipe dourado, devido às suas madeixas loiras exuberantes. Zoro, entretanto, nunca foi especialmente fã de tal nome. Isso porque azul era a cor que ele mais associava ao príncipe. Ele certamente parecia ter certa predileção pela cor, e nas raras vezes em que Zoro teve algum pequeno vislumbre dele ele estava vestindo azul. Até sua coroa, dourada quase se camuflando nos fios loiros, possuía gemas azuis incrustadas. E deveria ser uma regra para o loiro já que apenas safiras, turmalinas e diamantes azuis pareciam adornar todas as suas joias. Assim como ele mesmo com verde, Zoro tinha certeza que aquela era a cor favorita do príncipe. E ficava lindo na pele dele. Mais que a roupa, o azulado das veias finas aparecendo por baixo da pele pálida hipnotizava o olhar de Zoro, que olhava para sua própria pele morena e pensava consigo como duas pessoas poderiam ser tão diferentes. Até como se comportavam era diferente, pensou. Para um príncipe, Zoro não era exatamente muito educado, o que lhe rendeu o apelido de príncipe ogro. Já Sanji era refinado e angelical. Azul também era a cor dos orbes que o encararam e encantaram durante a valsa naquela noite. Azul foi o que trouxe o vermelho às suas bochechas. Aquela foi a única vez, entretanto, que pôde encará-los. Nas poucas outras ocasiões em que chegaram a estar no mesmo recinto, tudo que conseguiu foram relances, e sempre imagens do perfil do príncipe que cobria a face com aquela maldita franja loira e linda. Era outro motivo para Zoro rejeitar o dourado, pois era a justamente a infeliz cortina dourada de fios longos que o impedia de ver o azul. E ele precisava ver de novo. Desde o dia em que se conheceram para Zoro os azuis nunca mais foram os mesmos. Os céus principalmente. Zoro encarava a abóbada celeste azul clara todos os dias. E encarava a escuridão ponteada de várias estrelas brilhantes. Imaginava que o que vira naquela vez era uma mistura das duas coisas, o azul celeste do dia e o brilho que iluminava a noite.

Para a sua surpresa, o destino lhe foi bondoso e, anos mais tarde, puderam valsar novamente. Se reencontraram numa festa, agora dois homens e não dois garotos. O cabelo loiro de Sanji estava maior, sendo amarrado num rabo de cavalo, e a franja idiota ainda cobria metade do seu rosto e, consequentemente, metade da visão azulada. Estava usando vestes azul real e Zoro até poderia achar graça de alguém ser tão monocromático, mas ele próprio estava usando vestes verde-mar. Ele estava morto de vergonha, mas precisava olhar. Apenas mais uma vez, precisava ver a imensidão azul. Seu olhar encontrou uma azulada íris solitária e instintivamente, mesmo que estivesse quebrando todos os códigos de etiqueta possíveis, sua mão se moveu para afastar o véu dourado do rosto de Sanji. As duas safiras encararam incrédulas as duas esmeraldas. Zoro não sabia, mas desde o dia que valsaram pela primeira vez para Sanji os verdes nunca mais foram os mesmos. As expressões em seus rostos estavam completamente espelhadas, perfeitamente sincronizadas. Os dois príncipes tão diferentes, mas tão iguais. Quem observava a valsa dos príncipes via um borrão verde-azulado ou azul-esverdeado se movendo pelo salão. O verde olhava o azul, e ambos se completavam.