You had a crush on me? escrita por Rosalie Potter


Capítulo 1
Pinturas queimadas e uma biblioteca


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! É minha primeira fic desse shipper que eu, sinceramente, considero um shipzão, na boa. Amo essas duas, estou pessoalmente chateada com o que fizeram com elas na segunda temporada (começo a inclusive pensar que foi proposital, um monte de gente shippando as duas e aí, na temporada seguinte, colocam as duas para disputar o mesmo macho ai ai Julie Plec). Mas enfim, aí está tendo o desafio dessa semana do Esquadrão de Escrita cujo tema era clichê e eu só pensei: ESSE É O MEU MOMENTO.

E é isso aí. Vai ser uma two-shot e eu preciso terminar até dia 09, ou seja, depois de amanhã (na verdade amanhã porque já passou de 00:00). Vai dar certo, me desejem sorte.
Se vocês lerem e tiverem um tempinho por favor deixem comentários, eu vou me sentir muito feliz.

Espero que gostem :3



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Hope

— Não acredito. 

— Pode acreditar. 

Olhei chocada e quase espatifei o copo de milkshake que estava na minha mão enquanto encarava Kaleb. Meus olhos estavam injetados de ódio e eu quase gritei. 

— Aquela...! Foi ela que queimou as pinturas do meu pai! Não acredito! Aliás, nem sei como não pensei nisso antes! Aquela rata de biblioteca! — Só não estava berrando porque seria estranho fazer isso no meio do refeitório. 

Kaleb colocou a mão no meu ombro na tentativa de me acalmar, mas eu só conseguia ver tudo em vermelho. 

— Como você soube? 

— Ouvi ela conversando com a Lizzie sobre isso. — O rapaz deu de ombros.  

Nesse exato momento, como se fosse ensaiado, a rata de biblioteca passou pela porta, junto com a irmã gêmea. A dupla que eu mais odiava de todo o meu coração. Lizzie e eu tínhamos uma rixa por causa do posto de líder das líderes de torcida, meu posto, mas era só isso. Agora, com a garota ao seu lado, sua irmã gêmea, a coisa era ainda maior. 

Josette Saltzman era a princesinha dos professores. Vivia dentro de uma biblioteca, erguendo mãos em perguntas ou com o rosto atrás de um livro grosso. Não lembro de quando comecei a implicá-la ou ela começou a me implicar. Se me pedir um motivo, não sei dar.  

Aliás, na verdade, eu sei sim. Meus pais eram separados, antes do acidente que matou os dois. E, quando eu era criança, isso era difícil para minha cabeça. Ao mesmo tempo eu sabia que meu pai era profundamente apaixonado pela mãe de Josette e Elizabeth e isso me deixava com muita raiva. Queria atacar alguém. Quando conheci as gêmeas, ainda criança, Josie me parecia o alvo mais fácil para descontar tudo aquilo. 

Claro que, ao crescer, eu entendi que nem sempre os pais precisam ficar juntos romanticamente. Mas aí a implicância entre mim e Josie já existia e era forte.  

E, naquele momento, eu entendia que fora ela quem tinha colocado fogo nas pinturas do meu pai!  

— Aquela desgraçada! Ela precisa pagar de algum jeito! — Falei entredentes, meus olhos apertados, injetados de ódio. — Não acredito que ela fez isso... foi longe demais! Aquelas pinturas eram tão importantes para mim. 

— Então, o que vamos fazer? — Rafael perguntou me olhando diretamente, claramente comprando minha briga, como sempre fazia. 

— Não sei. — Suspirei. — Precisa ser algo grande. Algo que tire dela algo importante, como foi comigo. Ela tirou de mim algo que eu amava! — Olhei de canto de olho. 

Josette conversava com um pequeno sorriso com a irmã, MG e Landon, o grupinho que andava com ela. Olhando para os olhos castanhos que desviavam entre os amigos e a irmã, eu tentava imaginar alguma coisa, como se a resposta do que fazer para me vingar e aplacar a raiva que subia pelo meu peito fosse cair do céu direto do meu colo. 

E, no fim, foi quase isso que aconteceu. 

No momento que eu ia desviar o olhar e pedir sugestões à Kaleb e Rafael, Penelope Park se aproximou da mesa de Lizzie, Josie, MG e Landon. Sentou-se à frente da garota que estava ocupando meus desejos de vingança com um sorriso aberto. 

Penelope Park também era um pequeno desafeto meu. Não exatamente pequeno. Ela era a antiga líder das líderes de torcida. Ela tinha uma queda pela pequena Josette desde que eu me lembre e nossa discussão havia sido justamente referente à garota que ela tinha a queda. 

E, naquele momento, tive a resolução de todos os meus problemas. 

— Tenho a ideia perfeita. Como afetar três coelhos em uma só cajadada? — Abri um sorriso tão grande que provavelmente dava para ser visto há três meses.  

— Está falando da pequena Josie e das duas guardas dela?  

— Absolutamente. Se ela cai, as duas também sofrem. — Pisquei para ele e para Rafe ainda sorrindo.  

— Tá, mas qual a ideia mirabolante? 

— Vou seduzir ela. Fazer com que se apaixone por mim, mas se apaixone mesmo, perdidamente. E vou fazer ela acreditar que vou pedir ela em namoro quando eu for coroada rainha do baile, de novo. — Porque era óbvio que eu seria coroada, nenhuma surpresa nisso. — Vou conseguir gravar ela fazendo algum discurso apaixonado para mim e, no dia do baile, vou vazar esse áudio ou vídeo para a escola e, no baile, no meu discurso como rainha, vou chamar Maya ao palco e beijá-la. 

— Uou. — Kaleb me olhou de olhos arregalados. — Você pensou em tudo isso nesses segundos encarando a mesa dela? 

— Talvez. — Dei de ombros com outro sorriso. 

— Tá bom, tá bom, você só esqueceu um detalhe, um pequeno detalhe... essa garota te odeia Hope! Vocês se alfinetam desde o primário. Ela queimou as pinturas do seu pai! Você não vai simplesmente chegar e conquistar ela assim, num estalar de dedos. 

— Está duvidando de mim Rafael? — Arqueei as sobrancelhas, inclinando-me na mesa na direção do garoto. — Se eu estalar os dedos qualquer um nessa escola ficaria comigo. Ela não é uma exceção.  

— Talvez ela seja.  

— Quer apostar? 

— Quero! 

— Tudo bem! Se eu conseguir isso você vai cantar para a escola inteira no palco no baile. 

— E se você não conseguir você, ao invés de beijar a Maya ao ser coroada, vai fazer alguma dança e é melhor que seja sexy. 

— Nesse caso, você vai cantar dançar. 

Ele cerrou os olhos e estendeu a mão para mim. Nem hesitei em estender o meu braço e apertar firmemente sua mão com um olhar determinado. Não era mais só questão de vingança, era questão de honra. E eu levo ambas as coisas bem a sério. A vingança e a honra. Aquela ratinha de laboratório não tinha nem chances de escapar das minhas garras.  

Josie

O silêncio da biblioteca era reconfortante. Meu livro ganhava minha atenção a cada mísera palavra que aparecia me fazendo sorrir dentro do personagem a cada segundo. Tinha tirado alguns minutos de intervalo dos estudos longos de Química para ler um livro que eu realmente queria. Tinha dito que seriam apenas alguns minutos de intervalo, mas já havia passado meia hora. Estava prometendo para mim mesma que seria só até o fim daquele capítulo. 

A leitura me deixou completamente absorta. Tão absorta que quando alguém pigarreou eu levei um susto e quase pulei da cadeira. Rapidamente abaixei o livro esperando ser MG, LandonLizzie ou Penelope. Minha surpresa foi bastante real a perceber que não era nenhum deles. Na verdade, estava longe de ser. 

— Hope. — Falei, mais para ter certeza de que era ela mesma ali, sentada na minha frente, na minha mesa, me encarando. — O que você quer? 

— Quanta gentileza Josette. — Ela disse, cheia de ironia, mas logo seu sorriso provocativo de canto se transformou em um mais brando. — Vim te pedir ajuda. 

— Você? Veio me pedir ajuda? Ah... onde estão as câmeras? Essa pegadinha nunca funcionaria comigo. 

— Pare com isso. — Resmungou quando percebeu que eu me movia simulando procurar câmeras. — Preciso passar em Literatura. 

— Te recomendo aulas particulares ou ler os livros indicados. Era só isso?  

— Você é a melhor classe de Literatura. Poxa Josette, vim aqui te pedir ajuda para algo importante, deixando todo o meu orgulho para trás.  

— Não me interessa. Existem outras pessoas que também são ótimas, Hope. Por que não vai atrás de uma delas? 

— Porque quero você. 

Engoli em seco olhando para ela depois daquela frase que fez um arrepio percorrer pela minha espinha. Desde quando Hope Mikaelson me queria para qualquer coisa que não fosse me irritar?  

— Por que? 

— Porque você, por mais que me irrite, é a melhor da classe tanto na matéria quanto para explicar e eu preciso passar. — Ela deu uma pausa enquanto eu ainda a olhava sem acreditar. — Não me faça apelar para Caroline Forbes! Você sabe que se eu pedir... 

— Você não ousaria! 

— Como eu disse, eu quero muito passar. — Ela piscou para mim e eu quis bater naquele rosto bonito até ele não ser mais tão bonito. — Então, vou ter que apelar para sua mãe? 

— Não! — Grunhi. 

Sabia que se Hope falasse com a minha mãe sobre isso, ela iria encher minha cabeça para ajudar Hope e eu acabaria cedendo porque não conseguia negar coisas à minha mãe por muito tempo.  

— E aí? 

— Três aulas na biblioteca às seis da tarde e é tudo que vai conseguir arrancar de mim! — Grunhi, ainda estupefata e surpresa. 

— Tudo bem, está bom para mim. Até às seis da tarde, Josette. — Piscou para mim novamente, usando um tom irritante ao pronunciar meu nome sendo que ninguém me chama de “Josette” e saiu da biblioteca. 

Fiquei ali, parada, encarando o vento tentando entender o que é que tinha acontecido. 

Desde o primário, Hope e eu temos nossas implicâncias e não suportamos ficar no mesmo ambiente por muito tempo sem arranjar alguma discussão. Não sei dizer como começou ou a razão de ter começado, só que existe. Depois da escola fundamental, no Ensino Médio, seguimos linhas completamente diferentes. Eu me tornei quase invisível, só aparecia no que se dizia ao âmbito acadêmico. Ela, por outro lado, se destacou em dois tempos. Líder de torcida, popular, desejada por praticamente toda a escola e, definitivamente, rainha do baile que nem mesmo aconteceu. 

E então, de repente, ela senta na minha mesa da biblioteca e diz que quer ajuda em Literatura. Logo para mim? Existiam outras pessoas que também eram muito boas em Literatura e que poderiam ajudá-la.  

— Aquela era Hope Mikaelson com você? 

A voz de Lizzie me retirou dos meus devaneios e eu apenas assenti com a cabeça. 

— Aparentemente ela precisa de ajuda em literatura. 

— E o que você tem a ver com isso? 

— Aparentemente ela precisa da minha ajuda em literatura. 

— O que? Hope Mikaelson pedindo ajuda para uma das Saltzmans? — Minha gêmea arqueou uma sobrancelha. — Ela não nos odiava ou algo parecido? 

— Sim, eu também achei estranho. Ela insistiu. 

— , talvez ela esteja realmente desesperada por nota. — Lizzie deu de ombros. — Não se pode ser bom em tudo, não é? Você não aceitou ajudar, aceitou? 

— Ela disse que iria apelar para a mamãe. 

— Jogou baixo.  

— Vão ser só três aulas. Nem vou perceber quando acabar. 

Hope 

Seis horas da tarde, em ponto, eu estava na biblioteca. Estava praticamente vazia, com exceção de Josette Saltzman que anotava alguma coisa, completamente concentrada. Parei para observá-la um pouco, tão focada que nem mesmo me notou chegando ao ambiente. Os cabelos escuros estavam presos, embora uma mecha fina de cabelo caísse sobre seu rosto. Ela era linda. Sem dúvidas. Não seria nenhum sacrifício seduzi-la, isso eu tinha que admitir para mim mesma. 

— Josette? 

Ela pareceu levar um leve susto porque deu um pulinho na cadeira erguendo os olhos automaticamente para mim. 

— Pontual. — Foi a primeira coisa que ela falou ao encarar o relógio de pulso e notando que realmente eram seis horas em ponto. 

— Sempre. — Pisquei para ela enquanto me sentava junto à mesa. 

A morena foi organizando suas coisas empilhadas em um cantinho para que eu pudesse colocar minhas coisas e os supostos livros de literatura que me causavam dificuldades. Era uma pequena mentira. Eu não era, nem de longe, tão boa quanto Josette em Literatura, mas também não era um desastre. Estava ali, na média. Apesar de, dentro da área artística, a pintura me atraísse mais, a Literatura também me agradava.  

— Então, qual está sendo sua dificuldade?  

— Já começa assim? Nem mesmo um boa tarde? 

— Boa tarde. Qual está sendo sua dificuldade? 

Dei uma risada leve. Josie, de vez em quando, parecia uma garotinha frágil, especialmente porque ela costumava desaparecer na sombra de sua irmã gêmea. Mas eu sabia, sempre soube, que ela é forte. As pessoas não costumavam ver, mas para mim sempre foi óbvio. 

— Aqui. — Abri o primeiro livro. 

~X~ 

Josette daria uma grande professora e isso me doía admitir. Mas era verdade. No meio das falsas dúvidas, para forjar uma dificuldade maior do que eu realmente tinha, eu coloquei algumas dúvidas realmente verdadeiras, para unir o útil ao agradável. E ela havia sanado todas com paciência e doçura, mesmo sendo eu sua aluna, alguém que sempre a cercou de implicâncias e vice-versa. 

Ela havia feito um questionário para eu responder e eu respondia calmamente, esperando o momento certo para puxar assunto. 

— Então, parece que você é realmente muito boa nisso. — Comecei, devagar. Ela ergueu os olhos do livro que estava lendo para mim, com um pouco de descrença no rosto. — Vai fazer alguma coisa relacionado a isso na faculdade? 

— Eu ainda não sei. — Disse, dando de ombros. — Na verdade, acho que vou fazer Direito. 

Olhei-a com alguma surpresa. Imaginar Josie, tão delicada, no meio de um tribunal. Ao mesmo tempo, eu sabia que ela era empenhada em defender as pessoas desde sempre. E ela era boa nisso.  

— Direito parece combinar com você.  

— E você? Vai fazer algo relacionado à pintura? 

Ouvir ela citar pintura fez com que meu sangue voltasse a ferver e eu desviasse o olhar, lembrando que foi ela que queimou as pinturas do meu pai. Tudo bem que ela podia me detestar e vice-versa, mas isso foi muito baixo. Aquelas pinturas meu pai havia feito para mim e todo mundo sabia que elas significavam meu mundo depois que meus pais morreram em um acidente de carro.  

E ela simplesmente queimou. 

Respirei fundo tentando pensar que eu precisava me manter calma e fria para executar a minha vingança. 

— Eu também não tenho certeza. Gostaria, mas eu também gostaria de me encaminhar para algo que me colocasse na carreira policial. Talvez eu também faça Direito afinal de contas. Parece que não se livrar de mim tão cedo.  

— Provavelmente não iremos para a mesma universidade Hope. 

— Quem sabe? Parece que o destino sempre nos mantém juntas. — Novamente pisquei para ela. 

— Para o seu desgosto, não é mesmo?  

— Eu nunca disse isso. 

Dessa vez, ela realmente me deu atenção porque suas mãos deixaram o livro em cima da mesa enquanto os olhos me encaravam com clara descrença daquilo que eu tinha acabado de dizer. 

— Sim, você já disse. 

— Ah, Josette, por favor, isso já faz muito tempo. Não somos mais crianças. 

— Josette. 

— Hã? 

— Você sabe que todo mundo me chama de Josie. Você me chama de Josette. Isso já mostra muita coisa.  

— Isso não significa nada. Olhe, eu não vim aqui te pedir ajuda? 

— Porque você precisa passar. 

— Não necessariamente. Porque acreditei no seu potencial para me ajudar. Não sou mais aquela garota implicante. Eu nem mesmo sei porque a gente se implicava. 

— Nem eu. — Deu uma risadinha leve, olhando para o livro e sacudindo a cabeça de leve. — Mas entendo no Ensino Médio. É meio que uma rixa histórica entre líderes de torcida e nerds. Se não tivesse um desses nem seria o Ensino Médio. Nós fomos sorteadas para bater essa cota. 

— Não quero mais bater essa cota. — Disse e estendi minha mão sobre a mesa para colocar sobre a dela brevemente, a que estava pousada sobre a mesa. 

Mais uma vez consegui sua atenção porque seus olhos novamente deixaram as letras do livro para me encarar. Parecia surpresa e sem reação e suas bochechas ganharam um tom rosado que me fizeram acreditar que eu estava seguindo o caminho correto. 

— Um pouco tarde demais para isso, não acha? 

— Não, não acho. Especialmente quando a gente pode ir para a mesma Universidade. — Sorri de lado. — Vamos lá, me diz que você também não quer mais fazer parte dessa rixa estúpida que nenhuma de nós duas lembra como começou. 

— Eu nunca quis, Hope.  

É mesmo? Queimar coisas tão importantes para mim não me parece uma boa maneira de demonstrar isso. 

— Então estamos bem? 

— É uma palavra forte. Mas... talvez estejamos em um caminho assim. — Um sorriso pequeno, tímido e doce decorou seu rosto.  

— Já é um começo. 

— Hope...  

— Sim? 

— Eu realmente nunca quis viver nessa guerra com você. Nem eu e nem Lizzie. Quando a gente era menor, a gente realmente queria se aproximar de você. De verdade mesmo. — O rosto dela parecia um tanto quanto triste e saudoso em falar disso. — Não sei porque você não quis. Mas tudo bem, já ficou lá atrás. 

Engoli em seco, devagar. E então comecei a recolher os materiais. 

— Eu preciso ir. Amanhã a gente se vê às seis? 

— Às seis.  

— Então até mais, Josie.

Josie 

— Josie, entrega.  

Assim que eu entrei no corredor dos armários Landon me parou.  

— Hã? 

— Aqui, Hope me pediu para te entregar. 

Ele me estendeu uma tortinha que parecia ser de cereja. Eu adorava cerejas. Perguntei-me se ela sabia disso ou se foi simplesmente um golpe de sorte. Junto à tortinha tinha um pequeno bilhete. 

”Josie, não vou poder estar às seis, problemas em casa. Mas sete e meia eu vou estar lá. Sei que é tarde, mas vou te esperar lá. Espero que possa ir.”

Sete e meia era realmente tarde, mas acho que não seria um problema esperar. Eu tinha mesmo que estudar algumas coisas. Não seria um sacrifício tão grande esperar. 

— Obrigada Landon. — Dei uma mordidinha na torta sentindo o sabor maravilhoso praticamente desmanchar na minha boca. — Está maravilhosa, a tortinha. 

— Não sabia que você e Hope estavam conversando. Bandeiras brancas? 

— ...bom, parece que sim. Estou ajudando ela com literatura. Parece que as coisas... bem, estão se encaminhando bem, mas eu não tenho certeza... 

— Fico feliz mesmo de vocês estarem... bem, se “encaminhando”. Sempre achei que se adorariam se parassem para conversar decentemente sem ficarem se alfinetando por nada. 

Sorri de maneira doce para Landon. Ele era um ponto neutro. Participava tanto do grupo de Hope por ser irmão de Rafael e também era amigo do meu grupo. Em suma, ele era amigo de pessoas que, em geral, não se batiam completamente. Sempre imaginei que não deveria ser fácil para ele. Landon, desde que eu me lembre, era a favor dos grupos se conhecerem melhor. 

— Talvez você realmente tenha razão, sabe? 

— Eu sei. Agora vem, vamos para a aula antes que eu roube essa tortinha que parece estar uma delícia. 

~X~ 

— Você ficou. 

A voz feminina me despertou do livro que eu lia e, quando ergui os olhos, encontrei Hope Mikaelson encostada em uma das estantes olhando para mim com um sorriso incrivelmente doce.  

— Sim, fiquei. — Foi minha vez de sorrir. — Depois de você me comprar com aquela tortinha, não tinha como não ficar. Adoro torta de cereja. Na verdade, adoro cereja. 

— Eu sei.  

Mordi o lábio de leve com aquela frase. Ela sabia? Como ela sabia? Aliás, qual seria a razão dela saber?  

— Bom, senta aqui. Vamos estudar. Já que chegamos mais tarde, é melhor a gente agilizar para não sairmos daqui muito tarde. 

— Oh, você tem planos para mais tarde? Porque eu não queria atrapalhar... talvez com a Penélope? 

O tom dela foi um pouco insinuativo a falar de Penny e eu senti minhas bochechas corarem de leve, olhando para meu livro para disfarçar. 

— Não, a única coisa que tenho me esperando mais tarde são minhas cobertas e minha Netflix.  

— Mas Penelope com certeza adoraria estar junto com as suas cobertas, estou errada? 

— Nós somos só amigas por mais que todo mundo insista em pensar o contrário. Juro. 

— Mesmo? Isso quer dizer que você está sem compromissos? — Perguntou enquanto distribuía seus livros e anotações pela mesa em que eu estava sentada.  

— É... 

Era difícil para mim falar de relacionamentos por motivos de não ter tido nenhum realmente sério. Isso porque eu era o tipo de pessoa que passa despercebida. Amo Lizzie e isso não é, de forma nenhuma, uma reclamação. Mas minha irmã gêmea é reluzente, linda, líder de torcida, carismática e falante. O brilho dela me ofusca e isso me fazia passar sempre despercebida pelas pessoas. Ninguém olha para mim como algo que poderia ser um romance. Geralmente eu sou a garota que as pessoas gostavam de ter como melhor amiga. 

Completamente diferente de Lizzie e também completamente diferente da própria Hope. Nunca tinha visto Hope com relacionamentos sérios, apesar de praticamente toda a escola desejar algo com ela. 

— As pessoas dessa escola são cegas. Deixar alguém como você na pista... que absurdo. 

Corei. Corei profundamente. Nunca tinha pensado, nem em cem anos, ouvir isso da boca dela. Especialmente da dela. Seria algo muito surpreendente ouvir isso de alguém tão bonita, popular e desejada como Hope, mas era ainda mais surpreendente por ser ela. A garota que por tanto tempo implicou com minha existência e, depois, simplesmente nunca mais olhou para mim. 

— Você está vermelha? 

— Hã... acho que estou com calor. — Pigarreei, sem graça. — Vamos começar a estudar? 

~X~ 

— Meu Deus! 

Eu e Hope ficamos estudando e conversando, mesclando estudos e conversas. Não pensei no tempo passando nem nada disso. Só percebi que deveria ter prestado atenção nisso quando ouvi um barulho de tranca e, no segundo seguinte, todas as luzes da biblioteca se apagaram. 

Dois fachos de luz saíram da lanterna do celular de Hope e do meu.  

— Não está tão tarde! — Falei indicando para o horário.  

Hope, já estava na porta, tentando abrir e comprovando que o barulho de tranca que tínhamos ouvido era a porta da biblioteca sendo trancada. Ela tentou gritar com alguém para ver se era ouvida, mas aparentemente, nada.  

— Vou ligar para a escola. 

— Pode deixar que ligo. 

Ela tentou uma vez. Uma segunda vez. Uma terceira. Eu ia ficando cada vez mais agoniada. Quando ela percebeu que o número ligado não ia atender, ela disse que ia ligar para o Rafael. Não entendi a ligação até ela me explicar que ele sabia onde ficavam as chaves extras da escola e que poderia nos ajudar. Ele atendeu logo de primeira e trocaram poucas palavras antes dela desligar. 

— Ele disse que vai vir abrir, mas que vai demorar um pouco porque ele não está em casa, está longe. 

— Ah, ótimo. — Suspirei e voltei a me sentar na mesa, colocando meu celular com a lanterna ligada para cima.  

Ela veio para o meu lado e colocou o celular, também com a lanterna ligada, em cima da mesa. As lanternas davam um pouco de iluminação ao local que estava com todas as luzes apagadas. Por alguns minutos, ficamos em silêncio completo e eu pensei que acabaria por ficar assim, quando ela quebrou o silêncio. 

— Sinto muito por você e Lizzie não terem conseguido se aproximar de mim quando tentaram. Eu sempre fui muito fechada, mas... depois que meus pais morreram isso ficou muito pior. Eu não queria me aproximar de ninguém. Só queria... ficar sozinha. Não criar laços porque laços fazem doer. Na minha cabeça, se eu não me aproximar de ninguém eu nunca vou me machucar.  

Virei minha cabeça para ela vendo em sua expressão o quanto ela estava sendo sincera. 

— Por isso você não deixa ninguém se aproximar de verdade? 

— Sim. — Falou, em um fio de voz. — Especialmente pessoas que podem ter a capacidade de se aproximar demais. — O sorriso dela ficou maior, um pouco frouxo e eu tentava desesperadamente não me apegar ao que aquela frase poderia significar.  — Sabe, quando eu era criança, eu comecei a implicar você e Lizzie por causa dos nossos pais. Eu achava que a mãe de vocês era a culpada por meus pais não estarem juntos e descontava isso em vocês. Sinto muito.  

Estava surpresa por ela estar me falando tudo aquilo. Por que só agora? Por que só agora ela dizia tudo isso? 

— Hope, não tem que sentir muito. Nós éramos crianças... foi o seu jeito de lidar com isso. 

— Quando ele morreu, ela também ficou arrasada. Lembro de olhar nos olhos dela e ver a minha dor. Sei que foi difícil para vocês também, ter que lidar com o quanto ela ficou mal. — Suspirou. — A gente se apoiou muito, sabe? Eu e sua mãe. Sabia que ela iria ter gostado muito de que eu me aproximasse de vocês, finalmente, mas... eu preferi continuar com as implicâncias. Como eu disse, eu tenho dificuldades de abaixar os muros. Parecia mais seguro. — O braço dela estendeu e senti sua mão sobre a minha, me causando um arrepio. — Sabe de uma coisa? Eles estão completamente baixos agora. 

Engoli em seco, sentindo algo se remexer dentro de mim. Senti meu corpo ir perdendo a temperatura e alguma coisa tornar difícil meus pensamentos.  

— Você merece mais do que muros levantados para o mundo. — Foi só o que eu consegui falar. 

— Devia seguir seu próprio conselho sabia? — Falou e então, de repente, mudou completamente o assunto. — Você vai ao baile? 

A mudança súbita me deixou um pouco confusa. No momento estávamos em falas absurdamente profundas e, de repente, ela pergunta sobre o baile. De toda forma, pareceu que o clima de seriedade e profundidade e perigo se dissipou. 

— Não, não vou. Não gosto muito de festas.  

— Como assim? Não vai me ver sendo coroada? Por que não Josie? Todo mundo vai, esse baile é tão esperado! Não custa nada se divertir um pouco!  

— Eu não sei. Eu nem danço! 

— Claro que dança! Só preciso do parceiro certo. Quer ver? 

Ela se levantou de uma vez e colocou uma música no celular. “Entertainer” do Zayn. Olhei estranho, confusa e então ela me estendeu a mão. 

— Hope, não... 

— Josie, vamos. Só tem a gente aqui. Eu faço questão. 

Olhei para seus olhos brilhantes e a mão estendida e então suspirei, derrotada. Levantei-me e aceitei a mão estendida. Segurei a mão dela e ela levou minha mão livre ao seu ombro e a dela livre foi parar firme na minha cintura, me causando um arrepio que subiu por toda a minha coluna até à nuca.  

— É só me seguir. Prometo que vou te guiar.  

E então ela começou a se movimentar. A primeiro momento, eu estava tensa e por isso os movimentos saíram um pouco difíceis. Mas, depois dos primeiros segundos, pareceu que eu era feita para a forma como ela me guiava. Eu nem precisava olhar, ela conseguia me fazer de massinha de modelar e eu ia para onde ela ia. Seguia seus movimentos com delicadeza, meus pés se movendo quase que com perfeição.  

Eu nunca tinha tanta facilidade para dançar como naquele momento. Sempre foi difícil para mim. Eu não tinha o mínimo talento para guiar uma dança, mas era também difícil ser guiada pois, para mim, sempre foi difícil abrir mão de pensar demais e simplesmente seguir outra pessoa. Mas ela conseguia fazer isso com uma facilidade absurda. Eu não precisava pensar para segui-la.  

Hope era pouco mais baixa que eu, cinco centímetros. Isso fazia com que eu sentisse sua respiração diretamente em meu pescoço. Isso me causava arrepios pelo meu corpo inteiro sem que eu conseguisse me conter.  

— Você gosta? — Sussurrou.  

Não sabia exatamente do que ela estava falando, se era de sua respiração no meu pescoço ou da dança. Preferi acreditar que era a segunda opção. Por isso, me limitei a responder: 

— Muito. 

Ela sorriu e fez com que eu girasse ao redor de seu braço, me trazendo de volta. Quando ela me puxou novamente senti que nossos corpos estavam mais colados do que estavam antes e isso fez com que tudo em mim arrepiasse e estremeci de leve.  

— Você sente como seu corpo me segue? — Sussurrou. — Ele me responde, Josie. Você me responde.  

Senti seus lábios deslizando pelo meu pescoço e isso fez com que eu estremecesse em seus braços. A essa altura a gente se mexia bem pouco e eu apenas a seguia. Não conseguia pensar no que estava acontecendo. Simplesmente seguia, como se o botãozinho da minha realidade tivesse sido completamente desligado. Só conseguia seguir ela, sentir ela, sem parar para pensar.  

Sua boca subiu pelo meu queixo e eu conseguia sentir a respiração quente batendo contra meu rosto, acariciando minha pele que estava quente a essa altura do campeonato.  

Fechei meus olhos. 

E, mesmo de olhos fechados, consegui detectar quando a luminosidade se tornou maior do que estava. Hope me soltou quase que no mesmo momento enquanto eu abria os olhos e olhava para as luzes novamente ligadas. Menos de três segundos depois, Rafael passava pela porta.  

— Oi meninas. Prontas para irem para casa? 

Minhas bochechas estavam queimando. Eu mal conseguia olhar para Hope. E só conseguia pensar: quase aconteceu mesmo o que eu achei que iria acontecer?  


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