Estereótipos escrita por Camélia Bardon


Capítulo 2
She did ballet


Notas iniciais do capítulo

Como prometido, trouxe o segundo e último capítulo ♡ Espero que vocês gostem de ler tanto quanto eu gostei de escrever!
(E também fiz a doida e resolvi fazer capas para os capítulos xD)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783961/chapter/2

A semana de detenção fora até produtiva. Era engraçado ser considerada uma “detenta exemplar”. Claire sempre estava lá, terminando suas lições enquanto convivia com gente da pior espécime – matadores de aula, namoradores de corredor, burladores de gabaritos... Geralmente, a bailarina permanecia absorta em seus deveres e músicas variadas, se perguntando como alguém teria paciência para ficar o dia encarando adolescentes em silêncio. Não tinham; do contrário não a deixariam sozinha. É óbvio.

Quando não estava cumprindo o tempo de detenção, Claire se ocupava de ensaiar com ms. Delacour e as demais meninas e meninos – poucos, mas existentes! – a coreografia de O Quebra-Nozes. Era uma de suas coreografias preferidas. No entanto, seria de muita coincidência e uma sorte que não tinha se ela, Claire, representasse Clara.

Quer dizer. E ela não representaria. Até Rosalya, a Clara, torcer o tornozelo duas semanas antes da apresentação final. Como sempre prestara atenção às coreografias, ms. Delacour colocara-a no lugar da amiga. E Claire não sabia se estava contente ou decepcionada com a notícia.

Não era a mais competente das pessoas. Se esforçava, mas não estava ao nível de Rosalya. E era justamente isso que pensava quando foi abordada pelo único colega de detenção divertido que conhecia. Ultimamente ele andara a cumprimentando. Sempre com o mesmo clima espinhento. Quando não estivesse, Claire o estranharia.

— Que cara de enterro é essa, tigresa? Perdeu as lentes?

Claire riu com amargura, trancando o armário com pouco ânimo.

— Não, estou enxergando perfeitamente, obrigada — por ela, terminaria a frase ali. Porém, ele estava começando a identificar suas falhas. Então, acrescentou: — Enterro, só se for o da sua dignidade.

— Não soou muito convincente. Algo perturba a sua Força?

— Está fazendo referências a Star Wars agora? — Claire ergueu uma sobrancelha.

— Talvez. Convivência excessiva com o Armin. Esqueça que eu disse isso. Mas falei sério. Está parecendo totalmente abalável. Onde estão suas garras retráteis?

— Estão escondidas — ela suspirou, abrindo um sorriso cansado. — E você, o que apronta hoje?

Castiel não se deu por vencido. Cruzou os braços e escorou-se no armário de Claire, impedindo sua passagem. Quando tentou contorná-lo, ele seguiu seus movimentos. Tal atitude a fez respirar fundo, exasperada.

— Você mente muito mal, garota insuportável. E normalmente, essa é uma ótima característica em... caráter — ele pareceu fazer um esforço enorme para encontrar as palavras. Somente por isso, ela deu uma chance para que falasse. — Pode confiar em mim. Quer dizer, eu... não que eu me importe. É que é... hum...  irritante conversar com alguém com cara de quem foi atropelado por uma manada de elefantes.

— Nunca me senti tão à vontade — em resposta, Claire riu fraco, mas sentiu o peso dos ombros abrandar um pouco. — Para ser sincera, é verdade. Estou uma pilha de nervos.

Ele meneou a cabeça, indicando para que Claire continuasse a narrativa. Então, ela contou o caso. Em todos os momentos, sua expressão avaliativa não se alterou. Ao fim, ele pigarreou.

— Está nervosa por apresentar uma dança?

— Não apenas por isso. Por ter pouco tempo de ensaio, agora que foram trocados os papéis, por isso e por... por não achar que sou boa. Quer dizer... eu gosto muito de estar no palco. Mas não de estar no centro dos holofotes. Isso é tarefa para Rosalya.

Castiel fez o inesperado. Iniciou uma gargalhada contínua e ininterrupta. O que fez com que todos no corredor olhassem para ele. Claire sentiu as bochechas pegando fogo. Era disso que eu falava! Escondeu-se atrás da muralha de gente que ele era, e ergueu os olhos castanhos para seu rosto.

— Por que está rindo, seu maluco?

— A tigresa? Com problemas de autoestima? Corta essa! Só a sua determinação me assusta. Isso é suficiente para deixar qualquer no chinelo. Já se viu fazendo as coisas na força do ódio?

— Não, não vi — ela não aguentou e riu. — Força do ódio?

Ele riu, mais descontraído.

— É! Sabe, quando fica toda séria e bufando. Geralmente quando fica assim na detenção, é porque vai ser um dia produtivo.

— Pensei que não reparasse nesse tipo de coisa — Claire comentou casualmente.

E observou o rosto dele logo em seguida ficar tão vermelho quanto o cabelo. Pego no pulo!

— E quem disse que eu reparo? É óbvio, só isso. Não vá ficar se achando.

— É claro — ela riu, com maldade. — Bem... obrigada pelo incentivo, mesmo que seja um dos mais estranhos que já ouvi na vida.

— Disponha, madame — Castiel sorriu, mas pareceu a ela um arreganhar de dentes. — Mas falei sério. Vai se dar bem nessa, não se preocupe.

Claire sorriu, aliviada. Ele era mesmo um punk fajuto.

 

As duas semanas passaram como um borrão. Apesar de já saber a coreografia de cor e salteado, Claire treinou todos os dias, incessantemente. Não queria admitir, mas sentia certa falta dos tempos de detenção. No entanto, as piscadelas no corredor vindas de Castiel que substituíram as trocas de farpas costumeiras igualmente valeram a pena.

Seu parceiro de dança, Lysandre, também a tranquilizara. Disse que Claire seria uma ótima Clara. No entanto, até o último segundo deu o melhor de si. Então, após passar duas horas equilibrada em sua sapatilha de ponta – e mais os quinze minutos do intervalo sendo recheada de elogios por Rosalya, que assistia tudo de camarote dos bastidores do anfiteatro –, Claire pode finalmente relaxar.

Ainda era possível escutar os aplausos quando a cortina se fechou. Lysandre abriu um sorriso gigantesco para ela, o que Claire considerava raridade, por mais que tivessem um relacionamento amigável.

— Viu? Eu disse que conseguiria.

— Obrigada, Lys — ela ergueu-se nas sapatilhas para beijar sua bochecha, gesto usual entre os dois. — Vai levar a Rosa na cadeira de rodas hoje?

— Ah, vou. Meu irmão voltará tarde do trabalho hoje.

— Entendi — Claire sorriu, desatando as sapatilhas para enfiar-se em seu tênis confortável. Escutava a chuva cair do lado de fora, então resgatou seu sobretudo para poder atravessar o caminho até o vestiário em paz. — Boa sorte, então. Ela deve estar detestando ficar quieta.

— Nem me fale — Lysandre gargalhou, em tom baixo. — E boa volta para casa para a senhorita Claire-Clara!

Claire gargalhou com o apelido, sentindo a tensão em seus ombros dissipar-se. Despediu-se dos dois amigos com um aceno, jogando a bolsa com a troca de roupa por cima do ombro. Estava prestes a colocar os fones de ouvido para escutar seu grunge acolhedor, quando escutou um assovio do lado oposto ao anfiteatro.

— A tigresa vai embora sem se despedir? Olha, eu sabia que era insolente, mas não pensei que era tanto!

Claire virou-se para encarar a figura trajada de preto, encostada nos armários do corredor como se tivesse programado a cena com antecedência. Sorriu sem perceber, aproximando-se de Castiel quase como uma gatuna, mesmo.

— Não me diga que estava assistindo — Claire ergueu uma sobrancelha, abrindo mais o sorriso.

— Talvez... Lysandre disse que quem assistisse ganharia presença garantida, então eu vim!

— Ah, Lysandre disse? — ela não pode evitar de rir, colando-se aos armários junto a ele. — Desde quando ele lhe diz coisas?

— Ora, desde quando ele é meu amigo.

Claire franziu a testa, ao passo que ele riu de sua expressão.

— Logo você, que tem cara de poucos amigos, é amigo daquela criatura angelical?

— Ué, nunca ouviu o estereótipo de anjos e demônios sendo amigos? Não tem uma série sobre isso?

— Tem! É Good Omens, mas não diz isso que é pecado — ela riu, baixo, dando um soquinho amigável em seu ombro. — Eu acho que, por baixo de tanta aparência, você tem um coração.

Castiel gargalhou, esforçando-se para manter o tom maldoso no riso. Apesar disso, não passou despercebido à Claire o vermelho que manchou suas bochechas. E nem a ele, pelo visto, pois revirou os olhos para ela, gesto que só fazia quando sabia que tinha sido vencido em algo.

— Que seja, que seja.

— Vai ficar aí parado ou vai me deixar ir para casa? Estou exausta — Claire provocou, colocando as costas da mão sobre a testa dramaticamente.

— Vou, madame — ele desencostou-se do armário, erguendo as mãos em defensiva.

— Obrigada, Cassy!

Claire passou por ele bem a tempo de escutar os resmungos provenientes do apelido. No entanto, também ouviu o atrito de seu tênis no chão ao dar um giro em ângulo reto – tanta geometria vai acabar me matando um dia! —, o que significava que ele tinha decidido segui-la pelo corredor. Claire sorriu sozinha, ciente da sombra atrás de si.

Atravessou todo o campus até a quadra, atravessando-a com o som dos passos de Castiel em seu encalço.

— Vai ficar me seguindo mesmo? — indagou ela, parando de frente para a porta do vestiário, de onde as demais bailarinas saíam, já trocadas. Algumas delas trocaram sorrisos com Claire, que os devolveu, apesar de constrangida. — Não tem nada melhor para fazer?

— Não — ele sorriu, irreverentemente. — Na verdade, esse é o melhor que eu posso fazer.

Claire recostou-se no batente da porta, aguardando até que todas as meninas houvessem se retirado. Então, ergueu uma sobrancelha e o rosto para olhar para ele.

— E o que quer dizer com isso?

— Quero dizer exatamente o que ouviu. Achou que estivesse te seguindo à toa?

— Bem... sim. Sempre está fazendo tudo à toa. Não está?

O comentário da garota pareceu descontrair a tensão ambiente, visto que Castiel começou a rir. Em seguida, como sempre fazia, a risada rouca contagiou-a a ponto de rir junto a ele. Daí, veio o silêncio, cobrir a atmosfera como quem cobre os móveis com um lençol para a mudança.

O subconsciente de Claire enviou-lhe um aviso. É a sua chance. Chance de quê? Consultou a racionalidade que ainda lhe restava – e obviamente, esta apontou ser uma terrível ideia. Mesmo com uma resposta negativa, Claire arqueou o corpo em direção a ele.

Ao invés de um protesto ou um resmungo, ela foi bem recepcionada. Castiel passou o braço ao redor de seu corpo bem ao tempo de Claire fechar os olhos e erguer na ponta dos pés para beijá-lo. Diferente do que havia figurado (e fingido que não!), não fora nada violento; pelo contrário, não podia ser mais calmo e tão certo. Tanto que, quando interrompeu o beijo para sorrir, ele brincou, ainda de olhos fechados:

— A tigresa, além de mostrar as garrinhas, resolveu cravá-las no meu peito?

— Só de leve — ela riu, com o coração batendo forte. — Te disse que você tinha um coração.

— Que seja... coração é que se dane.

Sem pedir permissão, Castiel a tomou nos braços e beijou-lhe com um pouco mais de ânimo do que da primeira vez.

E tudo que Claire conseguia pensar era:

De fato. É um punk fajuto. Assim como eu.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

E aí? Querem me abraçar? Me bater? Os dois? A glicose deu conta? Me contem tudo ♡
Até uma próxima, um beijão no coração de vocês ❀



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Estereótipos" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.