Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 81
O que você tem pra me dizer, Ágatha?




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/783908/chapter/81

Capítulo 81

O que você tem pra me dizer, Ágatha? 

 

I

Salamanca, Espanha

Noite de 2 de agosto de 2017

 

— Licença, Ágatha, eu tô entrando… — disse Sakura, fechando a porta atrás de si. Kero viu uma almofada e deu um salto nela.

— Fazia tempo que eu não me deitava numa coisa tão fofa assim! — disse o guardião amarelado, jogando o corpo contra o objeto.

Ágatha sorria. Os três estavam em um apartamento hipotecado, comum por todas as grandes cidades de Espanha e não tão diferente do apartamento de Sakura em Deusto. A cozinha era pequena e os cômodos eram bem modestos. Haviam três quartos: um para a mulher de tranças e outros dois para as crianças dela.  

— Pode ficar à vontade, Sakura. — disse Ágatha.

— Obrigado! Vou aproveitar um pouquinho mesmo. — disse Sakura. Ela sentou-se na mesa e serviu-se de um copo de café. Abriu o pacote de bolacha de água e sal e devorou com voracidade. Kero se juntou a mestra também. 

— Tô vendo que vocês devem ter passado por uns perrengues grandes… — comentou Ágatha.

— Eu sei que essa manteiga não faz bem pro coração, mas faz tempo que eu não como nada direito que eu nem ligo! Tô muito magra! — disse Sakura.

— Então… A gente andou fugindo faz exatos um ano hoje por toda a Espanha… viajamos por tudo quanto é canto só pra que a Ordem não encontrasse a gente… Ou essa tal de Torre Negra, sei lá… — disse Kero, triturando uma bolacha de água e sal maior que ele. 

— A gente fugia porque a gente tava treinando, sabe? A gente não podia ficar muito tempo num lugar só, porque… vai que me rastreiam… Daí eu fui burra por continuar aqui em Salamanca e você me descobriu! — disse Sakura, cuspindo um pouco dos farelos de bolacha, enquanto mastigava e falava.   

— Que burra o quê, Sakura! A gente nem sabia direito se os caras ‘tavam de olho na gente ou não! Seu poderes mudaram muito de uns tempos pra cá… — disse Kero. 

— É verdade! Eu só te reconheci porque eu cheguei a ver você. Se não fosse por isso, teria pensado que era uma outra pessoa… — disse Ágatha. 

— Mas e a tal de “energia Clow” que o Lorenzo falou, hein? Isso não conta não? — perguntou Sakura.

— Isso só conta porque eu te descobri primeiro. Fora que o Lorenzo é médico como você e é um cara inteligente. Se não fosse por isso… Acho que você poderia ficar por Salamanca mais um tempinho… — disse Ágatha, sorrindo. 

— É… Eu acho que eu tinha que ser mais discreta… — disse Sakura.

 

II

Salamanca, Espanha

Outro lugar… 

 

Era uma rua totalmente coberta por paralelepípedos. A fraca luz amarelada de um poste na rua iluminava as casinhas antigas daquele lugar, cheias de cores e coloridos nas paredes. De uma daquelas casas, duas crianças saíam, agasalhadas por conta do frio da noite. Uma terceira mulher mais velha saiu logo depois das crianças.

— Você sabe, Victor, a Ágatha não quer ver você por aqui. — disse um mulher de cabelos loiros castanhos, com rabo de cavalos. 

— Eu sou o pai deles, não sou, Adriana? Eu tenho direito de ver eles, e também... Não sei se eu vou durar muito depois de umas coisas… — disse Victor Delgado, um homem de barba e cabelos bem aparados. 

— Deixa, tia, deixa! O papai não visita a gente faz tempo! — disse um rapaz de cabelos escuros e compridos.

— Tia! O papai só vai levar a gente até a casa da mãe e vai embora! — disse uma menina de cabelos amarelos.

— A polícia ainda tá atrás de você, Victor, você bem sabe. Não é bom você se deixar ser visto… — disse Adriana.

— Eu sei, eu sei! Eu vou tentar provar a minha inocência nesse caso! Eu sou inocente, essas acusações são falsas! — disse Victor.

— Não acredita em você nem mesmo a tia Graciela, sua própria mãe, Victor! Ela sabe da Ordem do Dragão e sabia que isso só ia te dar dor de cabeça… — disse Adriana. As crianças começavam a se preocupar. Victor calou-se. — Bem, vou deixar vocês em paz. Adeus, primo. Boa sorte na sua defesa. — A mulher fechou a porta atrás de si. Só ficaram Victor e as crianças. Os três começaram a caminhar pela rua.

— Papai, magia é ruim? — perguntou o rapaz.

— De forma alguma, Bernardo. O papai tá trabalhando em um mundo em que gente com magia, como a gente, não fique refém dos bancos, das hipotecas e de porcaria nenhuma do sistema capitalista! — disse Victor.

— A mamãe falou que você tá errado, papai! Magia não foi feita pra ganhar vantagem em cima dos outros. — disse a menina. 

— Ariela, minha filha, você acha justo o papai ralar, ralar e ralar e não ganhar nada com o esforço dele? — perguntou Victor. A menina se calou. — Eu tô cansado disso, minha filha! Se eu não trabalhasse, até que valeria, mas eu trabalho pra burro e não vejo reconhecimento! Por mais que eu trabalhe, não vejo nada mudar, só o serviço aumentando! Absurdo isso! 

— Você tá fazendo direito, papai. Você vai conseguir coisa melhor… — disse Ariela, com lágrimas nos olhos. 

— Eu só quero viver do lado de vocês de novo, meus filhos, e dar tudo o que vocês merecem, sem precisar contar com a caridade da tia de vocês. Ou vai me dizer que vocês gostam de ficar naquela casa barulhenta direto? — disse Victor. Bernardo e Ariela ficaram pensativos. — Vamos, sua mãe deve estar esperando vocês. Não podemos atrasar. 

 

III 

 

Voltando a mesa da cozinha de Ágatha, Sakura e Kero arregalaram os olhos de admiração.

— Você se casou com seu próprio primo? — perguntou a Cardcaptor. 

— Sim. Não foi bem um casamento. Eu engravidei quando tinha uns 17 anos. Meu primo foi meu primeiro amor, sabe? Essa coisa de adolescente… — disse Ágatha.

— Sei… Esse negócio de primeiro amor é uma droga mesmo! Ai, ai! Ó negocio de conto de fadas esse! — disse a Cardcaptor, concordando.

 — Sei… então, eu comecei a trabalhar desde cedo. Só agora que juntei um dinheiro pra fazer enfermagem. A vida era meio sofrida, mas até que a gente vivia bem juntos. O Victor sempre me ajudou a cuidar dos meninos. Mas a coisa mudou de uns anos pra cá.

— Como assim mudou de uns anos pra cá? E me explica esse negócio direito de vocês se juntarem com a Ordem do Dragão? — perguntou Kero. 

— A gente sempre foi da Ordem do Dragão, tanto eu como o Victor. A velha Mercedes, antiga Interventora de Leão, era a nossa mestra. O velho Santiago ajudava ela. Sabe, eles viviam uma vida tranquila. Eles me falaram que nos anos da segunda guerra mundial, teve uma peste que matou todos os Interventores do palácio flutuante. Eles ficaram arrasados e fugiram pra Salamanca. Nunca foram casados um com o outro, mas sempre foram amigos e amigos das nossas famílias.

— Tô vendo que uma coisa bem grave deve ter acontecido na Ordem nesse tempo. Todo mundo só vive falando disso… Desse tal de Interventor da Catalunha — disse Sakura.

— E foi grave mesmo. Eles sempre falaram de um palácio flutuante nos céus e de dragões que voavam a rodo nas nuvens no tempo da Elsa Nuet, a Interventora chefe anterior. Depois que ela morreu, entrou um outro interventor que acabou com tudo. Depois da peste, ele proibiu que os outros interventores tomassem discípulos. Eu e o Victor entramos na Ordem meio que na clandestinidade, pra não deixar as armaduras morrerem… 

— Será que foi por causa disso que o Victor mudou? — perguntou Sakura. 

— Você tá certa. Foi por causa disso mesmo. Há nove anos atrás veio a crise financeira global e o Victor perdeu o trabalho. Ele tava pagando a faculdade de direito na época e não conseguiu mais voltar. As crianças tinham uns dois anos na época. Ele ficou arrasado. A gente vivia em Madri. A gente foi despejado e teve que voltar pra Salamanca. O choque de ver a polícia tirando a gente a força do prédio foi uma coisa que marcou ele… 

— Nossa! Agora a história tá ficando interessante… Então, ele se negou a cumprir as ordens de despejo? — disse Kero. 

— Sim, e me arrastou junto. Falou que os policiais não iam ter coragem de expulsar uma mãe de família com filho de colo. Engano dele. Eu fiquei muito pê da vida com ele, sério mesmo. Depois disso, nossa relação começou a desandar… 

— Mas ele não arranjou emprego mais? — perguntou Sakura.

— Até que ele arranjou uns bicos, mas nada com um contrato muito longo que permitisse ele juntar dinheiro pra ir pra Madrid terminar os estudos, sabe? A nossa preocupação era nossos filhos.

Sakura e Kero se olharam, sentindo empatia por ela. Ágatha continuou.

— Até que um dia o Victor conseguiu muito dinheiro, muito dinheiro mesmo. Eu perguntei o que era e ele não me respondeu. Do nada, ele apareceu com um diploma de direito nas mãos. Daí, eu comecei a desconfiar e descobri que ele tava usando magia pra ganhar dinheiro e conquistar o diploma de direito, crime inafiançável na magia. 

— Hoe! Dá pra usar magia pra isso? — perguntou Sakura.

— Sim! Até pra fabricar ouro dá. — respondeu Kero.

— Pois é, depois disso, a gente teve uma briga feia e se separou. — disse Ágatha, começando a chorar. — Isso é errado! Ele falou que essa minha ética toda tava levando nossa família pra miséria, que eu tava errada em não querer tirar proveito das armaduras, que a velha Mercedes e o velho Santiago não estavam aqui pra dar o pão de cada dia pra gente, pros nossos filhos… — Foi horrível! Foi horrível! Eu proibi ele de ver meus filhos, nossos filhos, mas sei que ele arranja um jeito de ver eles escondido de mim… — disse Ágatha, chorando. Kero voou para pegar um lenço para ela e Sakura aproximou a cadeira para abraçá-la. 

— Você fez o que era certo, Ágatha! Cadê a boazona da dona Beatriz numa hora dessas, puxa! — indagou Sakura.

— Eu pergunto a mesma coisa… Eu acho engraçado o Victor ser acusado de fazer parte de uma rede internacional de tráfico de drogas pela autoridade mágica, enquanto que o crime dele foi transmutar cascalho em ouro e vender no mercado negro! Muita corrupção, sabe? Se não fosse o meu apego à Ordem, os conselhos da Gotzone e do Zigor, eu ficaria louca… — disse Ágatha. Sakura nem quis comentar nada e Kero reparou.   

De repente, Ágatha sentiu um raio atravessando-lhe a cabeça. 

— Meus filhos! — disse a mulher.

— Meus filhos, como assim? — perguntou Sakura. Kero ficou calado. 

— O Victor… O Victor tá aqui! — gritou Ágatha. — Você tem que fugir, Sakura! 

— Fugir? — questionou-se Sakura. — Fugir pra onde? Eu já fugi demais! Tô cansada disso! Fora que eu quero testar uma coisinha… — disse Sakura, sacando um maço de cartas da mochila.

— Sakura! Não me diga que… — disse Kero, assustado.

 

IV

 

Andando até um canto da rua de paralelepípedos, Victor, Bernardo e Ariela chegaram no prédio de apartamentos onde vivia Ágatha. 

— Chegamos, gente. O papai vai ter que ir agora. Fiquem com Deus e protejam a mamãe! — disse Victor, beijando o rosto deles.

— Tchau, papai! Vê se volta, tá? — disse Ariela, chorando. Bernardo enxugou as lágrimas dela.

— O papai vai voltar sim… O papai vai voltar… — disse Bernardo. De repente, o corpo deles começou a flutuar nos ares. Os olhos dos dois brilharam em azul, para espanto de Victor. 

— Filhos? 

— A Cardcaptor… Ela está aqui? — disseram os dois.

— Ha? Como assim? Ela tava em Gijón de manhã? — disse Victor, assustado.

“Isso é verdade o que eles estão falando?”, disse uma voz na mente dele.

— Comandante, você aqui? — disse Victor, olhando assustado para todas as partes. 

“Eu sempre acompanho vocês. Não se assuste. já basta o Ignacio ter achado que podia parar a degeneração do corpo dele com a armadura da Ordem e ter arranjado um jeito de morrer no meio do caminho, eu tive que arranjar meus meios de vocês não me traírem, afinal, não basta vocês já estarem mortos…”, disse o comandante. Os filhos de Victor olharam assustados para o pai. Já não flutuavam mais como antes e escutaram tudo.

— Papai… — começou Bernardo.

— Você não tá mais vivo, papai, é isso? — perguntou Ariela. O homem de cabelos curtos, quase carecas, ficou indignado. 

— Eu sempre fui leal com você! Como é que você mete meus filhos no meio disso tudo! — disse Victor, indignado.

“Prove, Victor, prove! Me traga Sakura Kinomoto”

— Mas aqui? Agora? 

“Que outra hora vai ter? A mulher viveu fugindo o tempo todo da gente! Capture ela Victor!”, disse a voz, sóbria como sempre. 

— Tô vendo que não tem jeito mesmo… — disse Victor, olhando para Ariela e Bernardo, que já não brilhavam mais. O olhar das crianças era de medo e espanto. — Pelos poderes da Torre Negra! — Uma armadura negra encobriu o corpo do homem. Sakura, Ágatha e Kero desceram do prédio de apartamentos e encontraram as crianças e Victor na rua.

— Então… Você tava aí mesmo… — disse Victor.

— Kero, pega os meninos e tira eles daqui! Eu e a Ágatha cuidamos do resto! — Ordenou Sakura. O grande leão dourado abocanhou as crianças pelo pescoço e jogou-a nas costas dele. Ele abriu as asas e voou para longe. Victor nem interferiu, apenas olhou de longe.

— Eu prometi pros meus filhos que voltaria… — disse o homem de armadura negra, sacando sua arma multifuncional em forma de lança.

— Receio, Victor, que não vai ter mais volta nem pra mim, nem pra você… — disse Ágatha, sacando sua maça estrela. 

Os dois correram um contra o outro.

 

Continua…    

 

     

  

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.