Uma Canção de Sakura e Tomoyo: Finalmente Juntas escrita por Braunjakga


Capítulo 77
O que me satisfaz é ver todo mundo juntos




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Capítulo 76

O que me satisfaz é ver todo mundo junto

 

I

Gijón, Espanha

Começo da noite de 2 de agosto de 2017

 

A brisa marinha começava a ventilar a grama do penhasco. Sakura, Paco e Lorenzo observavam o horizonte com preocupação no olhar. 

— E foi isso o que aconteceu. Eu só lamento não ter segurado aquele escudo. Eu podia ter segurado mais, mas eu não consegui… Quando eu voltei pra Madrid, a Idoia também já era, um veneno esquisito tomou conta do corpo todo dela — disse Kero, finalizando a história. 

— Eu me sinto meio culpada por isso, sabe? Eu sou fraca demais pra enfrentar eles logo de cara! Por que gente tem que morrer por minha causa? Acho isso injusto, injusto mesmo! — disse a moça de cabelos castanhos, revoltada.

— Sakura, depois do que eu vi hoje, eu sinto, como mago, que você vai ter um papel muito grande lá na frente. Acredita mais um pouco, vai… — disse o médico.

— O problema não é acreditar, Lorenzo, o problema é que eu fico pensando quantas pessoas vão ter que morrer por minha causa!  

Vendo a irritação de Sakura, Paco tocou na armadura de sua querida Jéssica e disse: 

— “Aparezca, Dragón!” — disse o rapaz. A armadura colou no corpo dele na hora e começou a eletrocutar o rapaz. Sakura, Lorenzo e Kero pararam de conversar e correram para acudí-lo. Ele desmaiou na grama quando os três se aproximaram.

— Paco! — disse Lorenzo, pegando no pulso dele. Estava fraco, mas ainda pulsava. — Ele é um comum, não tá acostumado com magia ainda! Droga! Se eu não fizer alguma coisa…  — disse o Interventor. Sakura chegou perto dele e tocou no peito de Paco, protegido pela armadura. A mão dela brilhou em arco-íris e Paco tossiu, como se tivesse sido salvo de um afogamento. 

— Você tá bem? — perguntou a jovem médica. 

— Sakura… Agora eu sinto na minha cabeça… Todo o conhecimento dos Interventores das Astúrias, desde que Lluis Soler deu essa armadura pra Rita Alonso no século XVI… Graças a você… — disse o rapaz, apertando a mão dela. A Cardcaptor olhou-o confusa. — Não fica nervosa, a gente tá aqui por você…

— Que é isso! eu só… Coloquei um pouco de energia na minha mão… Eu tentei fazer uma massagem cardíaca misturada com um desfibrilador improvisado com magia… — Sakura ficou encabulada com o agradecimento dele — E outra: eu não preciso da ajuda da Ordem não! Deixa que eu resolvo meus problemas sozinha! Nem na época que eu pegava as cartas, eu queria envolver o povo, nem meu pai, nem meu irmão…

— Mesmo que você não queira, a gente tá envolvido nisso, Sakura! — disse uma menina de armadura vermelha como sangue, posando ao lado da Cardcaptor. Outros interventores da Ordem apareceram ao lado dela. Kero reconheceu na hora uma deles.

— Lorena Ortiz! Você por aqui? — disse o guardião. 

 

II

 

Já era noite. Em poucos momentos aquele penhasco começou a encher de Interventores. Eles resolveram montar uma tenda grande para acolher todo mundo. Aquilo começou a se parecer mais com uma grande cabana de campanha militar. Tinha até uma mesa tática no meio, com um grande mapa da Espanha. Lorenzo e Kero observavam a carta geográfica junto com alguns Interventores. A Cardcaptor resolveu andar no meio do povo de armadura vermelha, agora sem o mesmo medo de antes.

— Como pode uma menina tão nova como você andar com uma foice dessas? Você não tem nem 18 anos! puxa vida! — disse Sakura, se espantando com o tamanho da foice de Lorena. 

— É a vida. A dureza da roça me fez assim… Quando a gente perde tudo, a gente tem que pegar o que tem na mão e tentar reconstruir, né? Meu Vô me ensinou… — disse Lorena. ela não queria falar muito, pois tinha perdido o avô e a irmã recentemente. Sakura entendeu os sentimentos pelo tom de voz que ela usou e apertou fraternalmente o braço dela, transmitindo o seu pesar pela situação toda. 

 

A

 

Enquanto andava, um fantasma chegou perto dela e se apresentou:

— Oi, Sakura! 

— Hoe!! Que diabos é isso? — disse a Cardcaptor, aflita. Ela andou para trás e tropeçou num tronco de madeira. Todo mundo riu. O fantasma ajudou a levantar a cardcaptor, mas Sakura fez uma cara que estava pegando numa coisa nojenta. 

— Eu entendo o que você tá sentindo. Eu também… Essa nova vida que eu tenho. Sou o Santiago Martinez, novo interventor da Cantábria. 

— Oh! Acho que eu me lembro de você! Aquele Hernán Cuesta não era conhecido seu, né? 

— Eu sei o que você fez com ele e agradeço. Hernán Cuesta era um vendido que tá pagando pelo que fez no inferno! Ele matou muita gente com aqueles poderes dele… 

— Bem… Você morreu também, é?

— Na verdade, eu sou basco de Barakaldo. A Gotzone quem me escalou pra ser Interventor da Cantábria. Eu não queria, mas fazer o quê? 

— Mas fazer o quê? Aquela bruxa te transformou num fantasma com que direito? — questionou Sakura.

— Não é direito, é dever. A Ordem não pode ficar desprotegida de ameaças espirituais. Por isso, o Interventor da Cantábria é escolhido pra proteger a Ordem de ataques psíquicos. Possessão espiritual, controle mental, tentativas de assassinato telecinéticas, essas coisas… Mas, pra isso, eu não posso viver como as pessoas comuns. Vou ficar como fantasma a minha vida toda até meu corpo morrer, daqui a uns 200 anos… — disse Santi, com um sorriso triste nos lábios espirituais.  

— Vocês da Ordem só vivem falando em sacrifícios, né? Será que vocês não tem direito à uma vida normal não, hein? — perguntou Sakura. 

— Fui eu que escolhi isso. De todas as Ordens mágicas do lado cinza da vida, a gente é a que tem mais princípios. As outras só querem saber de zuar com magia e não duram muito tempo. Se não são pegas pela “mulher”, acabam brigando e somem do mapa… E outra: eu acho divertido o que eu faço, apesar de ter horas que cansa… Eu namorava, agora é como se eu tivesse morrido pra minha mina… — disse Santi. Sakura também ficou tocada com o que ele disse, mas o arrepio que ele causava era mais forte e não quis mais conversar com ele. 

 

B

 

A capturadora de cartas se aproximou de três meninas com tridentes na mãos, que a olhavam desde que aquela tenda de campanha foi montada.

— Oi meninas. 

— Oi Sakura. Foi você quem prendeu a nossa mestra, né? — disse uma menina loira com rabo de cavalo e cara fechada, quase adolescente, como os demais que ela conversou até o momento. Sakura não hesitou e encarou as meninas de volta.

— Claro que fui eu! Eu prendo todos vocês se peitaram comigo de novo! — disse Sakura, orgulhosa. As três meninas se olharam mais uma vez. Uma menina negra, de óculos e cabelos encaracolados, se levantou. A tensão surgiu no ar.

— Você foi incrível, Sakura! Foi incrível mesmo! Sou sua fã faz cinco anos! Se você não tivesse prendido a nossa mestra, a gente estaria morta agora! — disse a menina, animada, com os olhos brilhando. Sakura ficou confusa e as outras duas meninas do lado dela fizeram não com a cabeça. A loira de rabo de cavalo deu um tapa na própria testa. 

— Peraí, que história é essa? — perguntou-se Sakura, cruzando os braços.

— Sou a Samanta Gutiérrez, Interventora de Alicante. Aquela de cabelo preto é a Elena Rubio de Castelló e a de rabo de cavalo é a Cristina Molina de Valência! — disse a menina, apresentando as companheiras. As meninas levantaram a mão se apresentando. 

— É uma longa história… — disse Cristina, a menina de rabo de cavalo.

 

[Flashback]

 

Valência, 12 de Outubro de 2016

 

Memórias de Cristina, Elena e Samanta. 

“A gente faz estágio de ADM no arquivo geral de Valência. Somos amigas e estamos nos primeiro ano de facul. Um dia, a gente tava pegando uns livros pra digitalizar em pleno feriado. Que droga!”

— Lena, que cê tá fazendo aí em cima moscando? Manda esses livros pra cá! Cê tá enrolando aí faz tempo! — eu disse, no pé da escada onde tava a Elena.

— Cris, você não tá achando estranho? — perguntou Elena, segurando um livro velho na mão.

— Estranho é a gente ter que trabalhar no feriado quando o povo tá na rua! Com você ainda moscando ai, Lena, A gente não vai terminar nunca! — disse eu, nervosa.  

— Não tô dizendo isso. Tá sabendo que os três Interventores das Baleares morreram? — perguntou a Elena pra mim. Eu gelei meu coração na hora.

— Que droga é essa, Lena? 

— É verdade, Cris, a Gotzone falou comigo. O Manuel, a Mariana, a Luciana… Os três já eram, Cris! — disse Elena, nervosa. 

— Gotzone, é? — disse eu, cruzando os braços e olhando pro chão — Ela podia tirar a Mercê daquela prisão no Japão, isso sim é fazer alguma coisa pela gente! 

— A mestra Mercê tava errada, Cris! A gente não tinha que ir atrás das cartas! Ainda bem que a gente não foi junto! A Sakura ia fazer picadinho de nós!

— A gente só não foi porque a gente tinha 13 anos, Lena! Lembre-se disso! 

— Puxa, Cris. Eu tenho medo. A Gotzone me falou que foi o Interventor da Catalunha! — disse a Cris. Eu até arregalei os olhos de surpresa, mas não quis me impressionar porque eu já tava muito nervosa. Eu não quis acreditar que gente dentro da Ordem estava destruindo a Ordem. Preferi pensar que tudo era culpa da Sakura. — Ele matou os três das Baleares. Os três! — disse a Cris. Eu fiquei tão nervosa que fechei a cara de vez e berrei.

— Para, Menina! Para de falar besteira e vamos trabalhar! Vocês falam tanto de Sakura que eu tenho vontade de dar uma surra na Samanta de tanto que ela fala nela! A gente tinha que ter vergonha, falando o nome dessa mulher que quebrou as pernas da gente! — eu disse. 

— Socorro! — De repente, a gente ouviu um grito lá fora. Era a Samanta. Ela tinha ido até o administrativo pra ver quantos livros a gente tinha que digitalizar. Eu senti todo o medo da Cris e o meu próprio medo naquele grito. A gente viu da janela que a Samanta corria feito louca. Um cara com asa de dragão corria atrás dela. Ele usava a nossa armadura e tinha uma capa vermelha nas costas com a bandeira da Catalunha. Eu não quis acreditar. Pensei que era uma fraude. Não dava nem pra ver o rosto dele, devia ser fraude. Foi então que ele sacou o arco e disparou contra a Samanta. Ela caiu só de sentir a flecha passar de raspão. Meu Netuno! A gente sentiu que aquele era o lendário arco Yoichi, que Lluis Soler conseguiu nas Filipinas! Eu não acreditei. Chorei quando vi minha amiga no chão, prestes a ter o mesmo destino do pessoal das Baleares. 

— “Aparezca, Dragón!” — Eu, Cristina, gritei. A armadura de Valência grudou no meu corpo e o tridente apareceu na minha mão tão depressa que eu nem senti. Eu pulei da janela do prédio, cinco andares de altura sem pensar muito. Eu quase enfiei o tridente no desgraçado, mas pegou no chão. 

— “Aparezca, Dragón!” — A Lena fez a mesma coisa que eu e pulou sem pensar muito. Ela também tentou enfiar o tridente nele, e quase acerta em mim. Tudo bem. Eu fiquei pê da vida mesmo quando aquele cara deu um murro na Lena. Saí feito louca tentando acertar o meu tridente no capacete pra ver qual era a cara do desgraçado. 

— Sakura! É você? 

— Sakura agora é parte da Ordem? Ela pode usar esses poderes, será? — disse ele. A aura do maldito brilhou em vermelho. Só quem é da Ordem pode fazer aquilo. Ele era da Ordem. Ele era o Interventor Comandante. Eu gelei na hora a ponto de querer ir no banheiro! parecia que tudo o que eu acreditei até agora era mentira. Meu chão desabou. Eu não consegui fazer nada. O cara tava apontando o arco pra minha cabeça e eu nem reparei. Só acordei quando a Lena e a Sam começaram a atacar o desgraçado na minha cara

— Aparezca, Dragón! — disse a Sam. A armadura apareceu nela também. E elas me defenderam de uma morte certa e continuaram lutando com ele até ele andar pra trás.

— Ora, ora, pelo que eu vejo, a Mercê Más e o Sergio Busquets antes dela continuaram a fazer recrutamentos ilegais em Valência sem eu permitir. Tudo bem, eu vou acabar logo com isso! — disse o desgraçado. Ele se levantou no ar e deu um soco no chão. A Sam e a Lena tomaram um choque daqueles. Eu nem sabia o que fazer. Só peguei a minha lança e levantei contra eles. Daí, uma voz apareceu na minha cabeça: 

— Cris, você tá aí! 

— Mercê? É você? Você tá aqui? — eu quis até chorar de emoção ouvindo a minha mestra. 

— Ainda tô presa no Japão, mas a gente é a Ordem do Dragão e dá um jeito de se virar, não é mesmo? 

— Mercê… 

— Olha, Cris, não quero ver você chorando! De todas as meninas, você é a mais chorona e não gosta de admitir! Assim que pensar em chorar, quero que você, pare pegue esse choro engolido e acabe com ele! 

— Mas como eu vou fazer isso, Mercê? Ele é mais forte que a gente! 

— Eu vou te emprestar meu poder… Fica tranquila que eu vou lutar por você! — disse a Mercê. Eu fiquei tão aliviada que pensei em me ajoelhar. Mas daí, pensei no que a Mercê disse e resolvi correr até ele, sem pensar muito. A energia da Mercê tava entrando dentro de mim, o poder mágico dela, as memórias, o espírito. Eu tava sendo possuída, mas preservando a minha consciência. Tudo o que eu pensei foi em tirar as meninas daquele sufoco. Ele podia matar elas a qualquer momento. 

Ataquei a cara dele e enfiei o meu tridente tão fundo que ele teve que tirar. Ele era forte, mas eu era mais forte ainda. Puxei o tridente da mão dele e continuei atacando e atacando o desgraçado. Nem dei tempo de ele fazer nada, só queria saber quem estava por trás daquela máscara. 

— Esse poder não é seu… Estou vendo… Uma Interferência… Só pode ser a Mercê… Por que você se volta contra mim, mulher? 

— Porque você não é interventor de porcaria nenhuma mais! Você só é uma fraude que mandou a gente se ferrar aqui e no Japão! Eu senti quando você matou os outros! O plano não era as cartas, era eliminar  a gente, né? — Era a Mercê quem falou, usando meu corpo.

— Olha quem fala… Convocando ilegalmente essas meninas pra Ordem quando eu não ordenei… Você vai ter o que merece! — disse o Interventor. Ele esticou os punhos no ar e um choque bateu no meu peito. Eu nunca tinha sentido uma dor como aquela. Pensei que fosse morrer. Era o mesmo choque que as meninas sentiram. Eu finalmente entendi o que era ser parte da Ordem quando eu não me deixei cair com aquele choque. Agarrei com mais força ainda o tridente na minha mão e gritei: 

— Maremoto! — Uma onda gigante apareceu do nada. Eu nem soube explicar o que era aquilo. Só sei que era o poder da Mercê dentro de mim. Eu não conseguiria fazer aquilo sozinha. Eu só fazia umas magias médias de água e olhe lá. Eu tava longe daquele nível. O importante era que eu consegui encher o pátio do prédio de água e empurrei o desgraçado pra parede. As meninas também ficaram encharcadas, mas tudo bem, nossos poderes são ligados à água mesmo. Aquilo só revitalizou as duas. Apontei o tridente pra ele e uma rajada de água, parecida com uma broca, acertou o peito dele. Eu consegui ferir o desgraçado só de ver ele se contorcendo de dor. As meninas não ficaram para trás e nós três acabamos com ele juntas, com os nossos tridentes apontados para o peito dele. Eu era mais forte, a Mercê tava comigo. O que eu achei mais interessante era que a fraqueza dele era água. Eu tava começando a perceber isso e aumentei a dose só pra ter certeza. Acho que ele deve ter percebido o que eu tava tentando fazer. Ele bateu asas e sumiu. Eu caí no chão na hora, cansada.

— Cris! Cris! — disseram as meninas, vindo me acudir. A Mercê falou com a gente mais uma vez.

— É nessas horas que eu tenho que agradecer por estar presa! Quem sabe, eu não teria sido morta por ele já! — disse ela.

 

[Fim do flashback] 

 

Depois da longa narração, Sakura se sentou ao lado de Cristina, Elena e Samanta. Era ela quem não mais descolava os olhos e ouvidos dela. 

— Por isso, Sakura, a gente te agradece. A gente te agradece pela sua luta, porque se não, a gente nunca teria percebido que ele era uma fraude e já teria matado a gente. Acho que foi isso que deixou a gente alerta na hora, né, meninas? — perguntou Elena. As três sorriram de leve. 

— Por isso, Sakura, eu te admiro muito! Muito mesmo! — disse Samanta, com brilho no olhar. Ela agarrou as mãos da Cardcaptor como Tomoyo agarrou as suas um dia, pedindo por uma filmagem. — Se você precisar de mim, se precisar usar a minha casa pra passar um tempo, eu vejo o que eu posso fazer! Meus pais moram em Alicante, eles vão te receber! Minha mãe é enfermeira, sabia? — disse a menina. Sakura até que gostou de Samanta, mas a sua desconfiança com a Ordem era mais forte. Então, soltou-se das mãos dela. 

— Eu já passei por Alicante e não quero voltar mais. Agora eu tô em… Bem não interessa e… 

— Em Salamanca, Sakura? — disse uma loira de tranças. Não era Gotzone. 

— Ah… Você deve ser a Ágatha, né? — disse a Cardcaptor. 

— Que bom que se lembrou de mim! — disse Ágatha. 

— Eu nunca me esqueceria da mulher que ajudou a Meiling… E nem dessa maldita maça que derrubou ela do carro… 

— Aquela era a Laura, não eu… — disse Ágatha.

— Aquela loira aguada me falou. Sabe, ela podia ter morrido se você não tivesse segurado a pressão na cabeça dela com as escamas de dragão.

— Eu sou enfermeira, já vi casos assim de gente que bateu a cabeça de moto na rua… Eu só tentei ajudar… — disse Ágatha. Sakura e a Interventora sorriram uma para a outra como se fossem amigas de anos.

— Como você sabe que eu tava em Salamanca? 

— Eu nasci lá. Tava visitando a minha mãe e vi você na faculdade… Minha irmã tá estudando Biologia lá, sabe… — disse Ágatha. 

— Vacilei… Achei Salamanca tão bonita… Já tava até me acostumando… — disse Sakura, coçando a cabeça. Samanta voltou a agarrar as mãos dela, para choque de Sakura.

— Então, Sakura! Já que seu álibi já era, vamos pra Alicante? O raio não cai duas vezes no mesmo lugar! Os caras da Torre não vão nem desconfiar… A Comunidade Valenciana também é muito bonita, tem praia e fica perto de Barcelona! — disse Samanta, com os olhos brilhando. Sakura sorriu de leve com o gesto dela. 

“A Tomoyo ia gostar dessa aí!”, disse Sakura. Ela se soltou das mãos de Samanta mais uma vez. 

— Tô fora. Vou continuar com o Kero-chan… — disse Sakura. Samanta se lamentou e Cristina zoou da amiga. No fundo, A Cardcaptor odiou fazer aquilo, mas decidiu não olhar para trás e foi conversar com outros interventores. Ágatha continuou falando com as três.

 

D

 

Sakura voltou até a mesa onde estava Lorenzo e Kero. Havia uma bola de cristal, onde eles falavam com uma Interventora que não estava lá. 

— E então, Laura, como vão as coisas aí em Cartagena? — perguntou Lorenzo. 

— Estou um pouco preocupada. Eu estou pronta pra qualquer sacrifício que eu tenha que fazer. Já me separei de tudo o que me prendia.

— Tenha esperança…

— Esperança nunca foi parte da Ordem, Lorenzo, você bem sabe. Nem fazer acordo com os outros… — disse Laura, vendo que Kero estava ao lado dele — A gente apenas luta e espera pela regeneração do poder do Dragão. 

— Não pense assim… 

— Não é questão de pensar, é questão do que a Ordem foi e é desde o começo. Esse sentimento de esperança só deixou a gente mais mole… Elsa Nuet era uma separatista com esperanças, Martí Piqué era um cozinheiro bobo… A gente não podia deixar esse tipo de coisa acontecer desde o conheço, nem esse tipo de gente entrar na Ordem… — disse Laura. Ela viu a aproximação de Sakura e desligou. 

— Vocês, da Ordem do Dragão, são bem sombrios, não é? — perguntou Sakura.

Passos saíram de trás dela. Era Ágatha. 

— Pi Sunyer, nossa fundadora, uma vez, entrou em uma fortaleza recheada de soldados do califado de Córdoba. A chance de morte era certa. Ela não tinha os recursos que a gente tem agora. Foi então que ela falou pra Josu Amorebieta, o primeiro Interventor da Galicia, que ela não dependia da esperança, só dependia dela mesma. Uma esperança em um futuro incerto era nada. Ter o escudo dele, a arma lendária da Galícia, era tudo… Isso marcou um antes e um depois na história da Ordem… — explicou Ágatha.

— É… eu até entendo esse jeito de vocês, mas é a esperança que tá me segurando… Se não fosse por isso, eu estaria ferrada faz tempo! — disse Sakura. A Interventora de Leão tocou gentilmente em suas costas. 

— Eu sei, Sakura… Essas são só palavras de uma mulher amargurada… É parte da nossa autonomia. É parte de não depender dos outros sempre… Tem gente que não leva a sério, tem gente que leva… 

— E você, Ágatha, o que pensa disso, hein? — perguntou Sakura.

— Eu penso que vai dar tudo certo! — disse a loira de cabelos trançados. Sakura sorriu dentro da alma com ela.

 

D

 

Nesse instante, mais três Interventores pousaram na reunião, ao lado da mesa de Lorenzo. Eram dois homens mais velhos, acima de 50 anos e uma menina jovem. Os demais se aproximaram para ver.

— Sou Josu Inarritu, Novo interventor de Ceuta, a pedido da Gotzone.  

— E sou o Manuel Zuzarren, interventor de Melilla.

A moça jovem se aproximou de Sakura e os demais interventores fizeram uma reverência respeitosa para ela.

— Gabon On (boa noite), Sakura, Eu sou a Babi Sagastizábal, enviada da Gotzone para as entranhas da Torre Negra. 

— O quê? — perguntou a Cardcaptor.

— Ela é uma espiã, Sakura! — disse Kero.

— Bárbara é mais que uma espiã. Ela nasceu em uma família de magos, mas não desenvolveu magia. A armadura da Ordem a aceitou mesmo assim. Agora, ela arrisca a vida pra que a gente tenha um pouco de paz… — disse Lorenzo.

— Com a Babi de olho neles, a gente tem mais chances de evitar que mais gente da Ordem morra, como aconteceu na Andaluzia. — explicou Ágatha. 

— Gentileza sua, eu só faço o meu trabalho. Afinal, o que um bando de interventores está fazendo reunida aqui, chamando a atenção da Torre? — perguntou a moça. Todos se olharam.

— A gente tava celebrando um pouco a reunião… Eu já sou um fantasma mesmo… — disse Santi Martinez.

— A Jéssica se foi, Babi… — disse Paco López — Ela deixou a armadura dela comigo… Eu nem entendo o porquê…. Eu só sou um comum… Eu não deveria usar um troço desses… 

Babi ficou espantada vendo-o.

— Dizem que a Ermessenda de Girona, a quarta comandante da Ordem, não tinha magia. Ela não deixou nada! Nenhum grimório, nenhum diário, nada! Que mago faz isso? Só se não tiver magia pra não falar o que fez… — disse Cristina Molina.

— É mesmo, ela não tinha magia mesmo… — disse Elena Rubio. Babi ficou mais triste ainda. Lorenzo Percebeu.

— Bem, não vamos discutir quem tem ou quem não tem magia por aqui… — disse Lorenzo — O que importa é que a gente tá reunido aqui porque sozinhos, não somos nada, mas com a Sakura… Somos tudo! Ela tem um poder incrível dentro dela! A Jéssica pegou ela em Salamanca pra ver se ela pode ajudar a gente… É por isso que a gente tá junto aqui, Sakura. Você aceita lutar do nosso lado? — perguntou o jovem médico.

— A gente jura te defender, Sakura! Vamos proteger sua família, seu filho! — disse Samantha Gutierrez, quase implorando aos pés dela. Sakura hesitava diante do sorriso sincero dela.  

— Olha… Eu sei que os caras da Torre ‘tão tanto atrás de mim quanto de vocês, mas a gente não pode ser amigos. Não por enquanto. Minha família, meu pai, meu irmão também tá na mão de vocês, não tá? — perguntou Sakura. Ninguém soube responder — Eu só vim pra Espanha porque eu tô atrás deles também. Já vai fazer três anos que eu tô nessa busca. 

— Sakura! Eu juro que eu falo com a Goti! A gente vai proteger todo mundo! — disse Samantha, ajoelhada aos pés dela. Sakura não resistiu e acariciou as bochechas lisas da menininha de cor.

— Se levanta, Samantha. Não precisa de nada disso. Enquanto que os meus objetivos e os da Ordem forem os mesmos, a gente não vai ser inimigos, mas enquanto que eu estiver atrás do meu irmão e do meu pai, eu ainda sou a pior inimiga de vocês! O Lorenzo e a Jéssica viram que eu fiquei mais forte, eu acho que sou capaz de enfrentar todos vocês agora… 

— Afrontosa! Gostei! — disse Samanta, com brilho no olhar.

— Vamos Kero — O grande leão dourado deu um salto no meio dos Interventores, e Sakura montou no guardião. Os dois deram um salto no ar, tão rápidos quanto as asas transparentes vermelhas que eles tinham.

— Neus Artells era mais forte… — comentou Lorenzo — Aliás, Babi, algum recado da Gotzone?  

— Sim. Eu e ela estávamos com a Laura em Cartagena. Ela está pronta pra se sacrificar… — explicou a moça.

— O quê? A gente tem que impedir isso! — disse Samantha. 

— A Gotzone sabia que vocês iam fazer isso e ordenou que ninguém saia desse rochedo até tudo acabar — disse Bárbara. Todos os Interventores ficaram indignados com a decisão da loira de tranças.

 

Continua… 

 


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