Muitas formas de dizer obrigado escrita por Lux Noctis


Capítulo 1
Único




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Respirava fundo, expandia os pulmões, esforçava-se ao máximo. Dava o seu melhor em meio a respiração de concentração total. Os olhos fechados, a postura exemplar enquanto sentado a meditar. As mãos unidas apenas pelas pontas das falanges, sequer parecia mover os músculos. 

Sentia o vento, não um forte, apenas o bater de asas suaves de borboletas que ousavam voar próximas à seu rosto; não incomodava-se com isso. Tudo parecia mais nítido, mesmo que de olhos fechados, quando mantinha a respiração de concentração total por mais tempo. Até mesmo os aromas, como o de glicínias que conseguia notar bem ali, no alto daquela construção onde agora servia de abrigo à eles; Tanjiro, Inosuke, Zenitsu e Nezuko. 

Sentia algo a mais. Um aroma diferente, não feliz, não triste… vazio. Era tentador abrir os olhos, por isso o fez. Ele não estava tão próximo, mas o aroma vinha direto à seu nariz. De pé, olhava para o horizonte, para o pôr-do-sol. Tamioka Giyu cheirava à vazio. 

Notou que ele optava por se manter longe, indiferente à contatos. Talvez se sentisse mais confortável assim. Por isso permaneceu ali, sentado, dando a ele espaço, tempo. Quem sabe no momento certo ele não falaria? Talvez estivesse ali apenas supervisionando-o no treino, em meio à sua busca por manter a respiração controlada. 

—  Falhou. 

Fora tudo o que ele lhe disse. E ele tinha razão, havia cessado o controle sobre sua respiração, o peito acelerava. Estava tão grato por ele se arriscar, por colocar sua reputação em vida em risco, apenas para assegurar que ele e Nezuko ficariam bem. 

Estava grato demais para saber como se controlar e não falar, respiração centrada ali não era opcional! 

—  Obrigado, Tamioka-san. —  Meneou a cabeça em completo agradecimento, as mãos ainda frente ao corpo, um sinal de respeito verdadeiro.

—  Não precisa me agradecer, apenas informei que falhou em seu treino. 

Ele não via o quanto Tanjiro lhe era grato, não é? Havia assegurado o bem estar daquilo que lhe era mais importante; sua irmã caçula, a única família que havia lhe restado. 

—  Não sei se um dia conseguirei agradecer o suficiente. —  Os olhos traziam um brilho, eram lágrimas que escapavam sorrateiras, silenciosas. Iluminavam tanto quanto a luz do sol que ainda incidia naquele telhado. 

Giyu o olhou, a postura ainda exemplar. Parecia cansado, por isso sentou-se, ainda mantendo uma distância entre ele e Tanjiro. 

Ficaram em silêncio, apreciando o sol que escondia-se para tão logo dar lugar à lua. Era tarde, eles sabiam. Não deveriam ficar ali, por mais que o aroma de glicínia os agraciasse com sua proteção. Tomioka fora o primeiro a se colocar de pé, mas esperou por Tanjiro. Esperou que ele se aproximasse, para que seguisse a passos calmos. Quando desceram, ainda se encararam por alguns segundos, dando à Tanjiro a coragem necessária para se inclinar e abraçá-lo. 

Desconfortável, a princípio. Estranho, incompatível. Giyu estava sem reagir, sentia os braços ao seu redor, pequenos em comparação a si. Sentia o carinho. 

Fechou os olhos por breves segundos, tempo suficiente para que Tanjirou se inclinasse ainda mais, ficando na ponta dos pés para beijar sua bochecha, desejando um boa noite, e mais uma vez agradecendo por se arriscar por eles. 

Naquele momento, onde o desconforto dava lugar ao aconchego, Tanjiro sentiu no ar o aroma mais leve, um resquício de felicidade muito bem camuflada em meio ao desinteresse. Quando sorriu à ele antes de entrar para descansar, sentiu-se bem por fazê-lo bem. 

À Tomioka restou a lembrança do toque quente dos lábios em seu rosto, do abraço caloroso. Da audácia! Restou também aquele pequeno raio de sol em sua mente, em seu peito. Um pequeno pontinho de calor em meio ao cinza no qual vivia. Era curioso como pequenos gestos tiravam o amargo de quem vivia em meio à depressão e indiferença. Tanjiro era isso, um pequeno e imparável pontinho de luz e energia, que vinha calmo como água, e quente como fogo. 

E ali, notou que haviam muitas maneiras de se dizer obrigado, e sua preferida certamente fora o toque casto daqueles lábios em si. 


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Notas finais do capítulo

Críticas, sugestões, receitas de algo que posso comer enquanto tomo café?



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