Dracônico escrita por scararmst


Capítulo 1
Dragão na Lua


Notas iniciais do capítulo

Surpresaaaa hahahaha
Muitissimo obrigada a @LaDanoninha e a moça que não quis me falar o user por terem betado isso aqui pra mim ♥
Veredicto é meu amorzinho, eu fico louca de ver uma história que tem uma personagem que eu fiz ir tão longe, é muito animador. Muitíssimo obrigada por esse presente maravilhoso que Veredicto é @quillang ♥
Espero que goste ^^



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Quando Ada rezou para Jorge mais cedo, para que fosse buscá-la para dar um passeio, não achava que fosse de fato ser atendida. Seu pai devia ser um homem muito, muito ocupado, e por mais que fosse filha dele, ainda não sabia onde estava na fila de prioridades do homem. Nunca soubera quem era seu pai, tudo ainda era muito recente. Ele parecia gostar dela, mas o quanto?

E, no entanto, ali estava ele na porta de sua casa. Jorge usava blusa e calça de linho branco e tinha um sorriso grande no rosto. Aquilo afastou os receios de Adalet. Era claro que ele estava feliz em vê-la.

— Então, você quer dar uma volta?

Adalet deu de ombros. Sua mãe não estava em casa e não ia voltar tão cedo. Poderia  desaparecer e voltar e ela nem ficaria sabendo.

— Eu ainda não te conheço muito bem. Estava me perguntando se… Bem, se você gostaria de dar um passeio, ou algo do tipo. Passar um tempo por aí.

— Parece bom — Jorge respondeu.

E com isso Ada saiu da casa e os dois começaram a andar.

Ela não sabia bem onde estavam indo, e não fazia ideia se Jorge tinha escolhido algum lugar. Talvez estivessem apenas andando sem rumo pela cidade, mas isso seria o bastante para ela. Só queria conversar um pouco com ele, saber melhor quem seu pai era. Ouviu toda a história sobre como ele e sua mãe tinham se conhecido, e todo o resto, mas não sabia nada sobre a vida de Jorge antes disso. Parecia certo saber.

— Então… Como aconteceu? A coisa toda do santo, sabe?

— Por teimosia — ele respondeu, com um sorriso largo.

Adalet não pode evitar de sorrir também. Dava para ver de onde ela tinha tirado sua tenacidade.

— Era o ano de 303, e eu presenciei um milagre. No meio de um campo de batalha. Naquela época, fazendo tão pouco tempo de toda a coisa com Jesus Cristo, não havia muito espaço para católicos no mundo. Isso deve ser difícil para você de imaginar, mas, bem, é como era.

Realmente. Adalet tentou visualizar um católico passando pelo que um judeu passava hoje em dia. Não parecia fazer muito sentido. 

Os dois acabaram parando em um descampado, onde Adalet viu uma cesta de piquenique e um pequeno amontoado de lanças e bastões. Ela levantou a sobrancelha, curiosa, e seu estômago roncou na mesma hora. Estava faminta.

— Que milagre foi? O fortuito aparecimento de comida quando estava morrendo de fome?

Eles riram, e Adalet o seguiu até a toalha de piquenique. Haviam vários pães, uma garrafa de vinho, outra de suco de uva, frutas, patês e mais uma grande quantidade de coisas. Ela esticou a mão para a garrafa de vinho, mas seu pai foi mais rápido, a tirando de perto e colocando o suco na mão dela.

— Você não tem graça nenhuma — ela comentou, servindo o suco para si.

— E você tem dezesseis anos. Eu sou um pai moderadamente responsável.

— Só moderadamente, espero.

Jorge a deu um olhar que deveria ser de repreensão, mas não conseguiu evitar o leve curvar no lábio e acabou ficando tudo muito engraçado. Adalet riu e aceitou o suco que o pai serviu para ela. Era dos artesanais. Muito saboroso. Quase como vinho, mas sem o álcool. Não era ruim.

— Mas então, o milagre? — Adalet perguntou, enchendo um pão de presunto e começando a comer como se não visse comida há semanas.

— Hm. Você tem meu apetite. Que bom que calculei isso — Jorge comentou, fazendo um sanduíche igual para si. — Um colega de batalha. Mortalmente ferido. Não deveria ter sobrevivido. Eu não sei dizer bem porque, mas naquela hora eu queria que qualquer coisa acontecesse para que ele não morresse. Qualquer uma. E então uma luz desceu do céu e a ferida simplesmente desapareceu. 

— Oh.

Foi tudo que Adalet conseguiu responder. Realmente soava como um milagre.

— Eu não soube a que atribuir isso na hora, mas depois encontramos um crucifixo debaixo do travesseiro dele. Aconteciam muito mais milagres naquela época. Talvez Deus estivesse desesperado para conseguir fieis. Então, eu me tornei um homem cristão, o que era proibido naquele tempo. Não importava o quão bom soldado eu era, Diocecliano, o imperador romano da época, ficou puto o suficiente para mandar me torturar até eu mudar de ideia.

Mais uma vez, ela não sabia o que dizer. Sabia que a história ia acabar em morte, claro que sabia. Era assim que se virava santo, afinal de contas. Mas ainda assim, ouvir o pai falar sobre isso era uma coisa inteiramente diferente.

— Eu sinto muito…

Jorge deu de ombros.

— Foi há muito, muito tempo atrás. Enfim, eu chamei bastante atenção com essa reação, os cristãos ganharam forças e até a esposa de Diocecliano se converteu. Daí ele não viu saída a não ser mandar me degolar.

O mais bizarro foi Jorge rir depois de falar isso. Mas Adalet gostou. Decidiu que gostava muito do humor de seu pai. Era como se tudo que sempre sentira que não pegara de sua mãe, estivesse ali.

— Isso não deve ter sido muito legal.

— Foi rápido demais para eu sentir alguma coisa. A próxima coisa que eu sei é que eu estava morto e, de repente, Deus pôs a mão na minha cabeça no paraíso e eu ganhei esses benefícios santos todos. Demorou muito mais para a humanidade me reconhecer como santo, mas eu não ligava muito. Nunca liguei. E eu conheci Jesus depois! — exclamou. — Ele é o cara, Ada. Super gente fina. Simpático mesmo. Dá pra ver porque o povo rico caçava ele daquele jeito. Ele era uma ameaça a pessoas arrogantes.

Ela abriu um sorriso. Tentou imaginar seu pai e Jesus sentados conversando num bar. A cena parecia engraçada, mas legal. Jesus parecia o tipo de pessoa muito legal para se conversar depois de beber umas.

Adalet terminou o sanduíche e pegou mais um. Sentia que mal tinha começado a comer. Deu algumas mordidas, pensando, tentando absorver tudo que descobriu nos últimos instantes. Era bastante coisa. E ainda tinha mais que ela queria perguntar. Que queria saber. Adalet escolheu sua próxima pergunta.

— Mas a pergunta mais importante: você matou um dragão na lua?

Ela não conseguiu disfarçar a empolgação na voz. Pensar que pudesse ser filha de um homem capaz de fazer uma coisa dessas era muito animador. Sentiu uma corrente de adrenalina passar pelo corpo, esperando avidamente pela resposta. Primeiro Jorge riu. E ela teve que esperar mais um pouco pela resposta.

— Aaaah, sim e não. Depende do ponto de vista — Jorge respondeu, coçando o queixo, pensativo.

Adalet, que esperava um “não” direto, estava bem surpresa com o “talvez”.

— Como disse?

— Certamente não na Lua. Não, isso foi ilusão de ótica. As pessoas criaram uma boa lenda ao redor disso, sobre eu ter salvo uma princesa de ser entregue como sacrifício há um pavoroso dragão. Uma versão diz que fugi e me casei com ela, — ele riu, sarcástico. Parecia se divertir com a versão. — outra sugere que eu pedi a cidade para que se convertesse ao cristianismo como pagamento.

— E qual é a versão verdadeira?

Ele balançou a cabeça para o lado, devagar, como se calculasse alguma coisa.

— Um pouco de cada. Para começar, não era um dragão. Era um demônio.

Adalet se contorceu um pouco, em surpresa. Pela primeira vez percebeu que se santos, anjos e o paraíso eram verdadeiros, então as outras coisas deveriam ser também. Ela engoliu em seco. Ada soube que Jorge percebeu o nervosismo dela, então ficou satisfeita por ele não comentar nada.

— Demônios podem ter várias formas. — ele continuou. — Alguns são reptilianos e tem asas. Por isso chamavam de “dragão”. Ele estava atazanando uma pequena vila, pedindo que lhe entregassem sacrifícios para comer. Meninas. Eu acabei chegando depois do demônio ter exigido a filha do rei. A menina tinha oito anos, coitadinha.

Jorge fez uma pausa e Adalet percebeu como a expressão do rosto dele mudou por um instante. Ela mordeu seu sanduíche, dando ao pai o tempo que ele precisou.

— No fim das contas, eu consegui salvar a menina, mas não sem antes lutar contra o demônio no alto da colina ao amanhecer, quando a Lua estava descendo. Para uma vila de pessoas supersticiosas poderia parecer muito bem que eu o tinha levado para a lua. E depois quando eu voltei com a cabeça do monstro, dizendo que Deus os havia abençoado a serem livrados daquela maldição, a maioria se converteu ao cristianismo. As histórias aumentaram depois daí. Eu deixei.

Sim, Adalet conseguia ver isso. Ela também deixaria. Parecia uma boa reputação para se ter. Jorge comeu o resto do sanduíche e deu mais um gole no vinho, se levantando e se espreguiçando.

— E então? Quer aprender a usar uma lança?

Adalet o olhou, surpresa. Aquilo parecia divertido, é claro que queria!

— Aaaah… Eu acabei de comer…

— Você tem minha constituição, garota. Levante daí, vamos lá!

Ela sorriu e se pôs de pé, pegando um dos bastões de madeira. A ideia de saber usar algumas daquelas armas foi instantaneamente aprasível, e ela se perguntou o quanto seu pai estaria disposto a ensinar.

Quem sabe um dia não seria uma grande guerreira, como Jorge? Ela conseguia se ver assim. Vestida de armadura, com uma lança na mão e o pé em cima da cabeça de um demônio morto.

Adalet sorriu. Realmente tinha muito mais do que imaginou do pai em si. Era como encontrar o caminho para seu destino.


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Notas finais do capítulo

Leiam Veredictoooooo é maravilhosa, de verdade! @quillang é uma lindíssima ♥
https://www.spiritfanfiction.com/historia/veredicto-interativa-16616817/

Beijos a todos!



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