Desencontro escrita por psc07, AliceDelacour


Capítulo 1
(Des)encontro


Notas iniciais do capítulo

NOTAS INICIAIS MANU:
Oi pessoal! O mês de outubro chegou ao fim e com ele finalizamos o #Jilytober2019 tbm! Foi um prazer ter participado desse festival com todas vocês! Apesar dos problemas do meio do caminho e dos meus sumiços hehehe deu tudo certo!!! Escrever essa última fanfic com a Paula foi incrível, primeiro porque ela é uma pessoa super dedicada (ao contrário de mim) e queria escrever tudo com antecedência (e eu deixei tudo pra ultima hora hehehe) e segundo porque ela é uma escritora fantástica com um estilo de escrita maravilhoso! Paula, foi um enorme prazer! Espero que possamos continuar nessa parceria! Bjs e divirtam-se


NOTAS INICIAIS PAULA:
Eu nem acredito que realmente estamos no fim do #Jilytber2019. Quando eu e Manu falamos no twitter que deveríamos fazer o festival, não imaginei que levaríamos para a frente de verdade. Mas felizmente levamos, e fico muito feliz em ver tudo que ocorreu. Às fanfics que ainda não: lerei todas e comentarei em todas. Muito obrigada por participarem conosco e ajudarem a reviver esse fandom. Carol Queiroz, toda a arte do Jilytober ficou sensacional porque você é sensacional! Manu, obrigada por ser tão maravilhosa e companheira nessa empreitada. Não vamos deixar esse fandom morrer!!!
Espero que curtam nossa história.



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James Potter se orgulhava em dizer que ele tinha uma inteligência acima do comum.

Ele não estava completamente errado em sua afirmação.

Ele também se destacava em outros campos: era um artilheiro excepcional, tendo levado seu time ao título do campeonato diversas vezes; também era mais bonito que a maioria de seus colegas (com exceção clara de seu melhor amigo e irmão Sirius Black); era um dos amigos mais leais que qualquer pessoa podia pedir; era um dos principais responsáveis pelo planejamento para as famosas pegadinhas dos Marotos…

Não se restringia a isso, claro. Mas eram coisas que todos lembravam ao ouvir o nome de James.

Também logo vinha à mente das pessoas, ao pensar no filho único de Euphemia e Fleamont Potter, Lily Evans.

Para sermos justos, é preciso entender que ao se pensar em Lily Evans, James Potter também vinha junto.

A história deles, com brigas e provocações, começou naquele fatídico 01/09/1971. Talvez, se considerarmos todos os eventos que os trouxeram para perto, tenha começado alguns meses antes, quando a vida de Lily mudou para sempre ao receber a carta de Hogwarts. Se formos ser ainda mais criteriosos, começou quando eles nasceram, mas assim conseguiríamos chegar até o Big-Bang, e isso seria contraproducente.

De maneira arbitrária, portanto, vamos definir a primeira vez que eles se falaram como o início da história, no já supracitado 01/09/1971 – esse evento já é conhecido por alguns como aquele em que Lily e James brigaram pela primeira vez, e por causa de Severus Snape.

Spoiler: não seria a última vez.

Muitas pessoas diziam que o problema de James Potter e Lily Evans era que eles eram muito diferentes: ela extremamente responsável e bondosa, enquanto ele não se preocupava com muita coisa e às vezes podia ser quase cruel.

Há quem (e receio que me incluo nisso) ache que era o oposto: eles eram muito parecidos, mas com uma ou duas diferenças cruciais, o que fazia com que eles se desentendessem quase que por princípio. 

O lado Grifinório sempre falava mais alto numa discussão, ambos tinham uma bússola moral apontando para o mesmo Norte, eram extremamente inteligentes e adoravam ter a última palavra numa briga.

Então ao longo dos anos era de se esperar que se dessem bem em alguns momentos, e… hum, não tão bem assim em outros. 

James e seus amigos estavam muito empenhados em se divertir e apoiar uns aos outros com tudo o que tinham.

Lily sentia que precisava absorver tudo que fosse humanamente possível daquele fantástico mundo que lhe tinha sido ofertado.

E assim eles seguiram, entre conversas e brigas, até um outro Momento Crucial (™) da história de James Potter e Lily Evans.

Não que James tivesse planejado convidar Lily para sair enquanto ele… se divertia com Snape. Para ser justo, ele também não tinha planejado nada que envolvesse Snape. Não dessa vez, pelo menos.

Mas do mesmo jeito que parecia ser impossível separar James e Lily da mente, quando se pensava em Snape e nos Marotos… problemas sempre vinham juntos. Essa parte da história também começou naquele fatídico 01/09/1971, mas não precisamos nos delongar nisso.

O que interessava, de fato, era a situação: James Potter e Sirius Black apontando a varinha para Severus Snape, enquanto James Potter convida Lily Evans para sair.

De novo: ele não planejara aquele momento; simplesmente acontecera.

Talvez porque ele já vinha reparando em Lily de um jeito diferente havia algum tempinho. No início do quarto ano ele não fora o único a virar a cabeça quando a ruiva passou pelo corredor – tudo bem que no caso dele também foi porque ela estava acompanhando de Snape, e Sirius tinha tido uma ideia brilhante. Ele não soube dizer muito bem, mas algo ali estava diferente.

E ele se pôs a observar a garota que ele, mesmo que relutantemente, já tinha grande respeito. Não tinha muita coisa diferente assim; eles tinham algumas aulas juntos como sempre, e ele via claramente nela a vontade de aprender. Também ficava impressionado em como ela sempre estava disposta a ajudar pessoas.

Reparou, num dia, que quando Lily ria um de seus olhos se fechava mais que o outro, e ela tinha a mania de passar as mãos no rosto após uma gostosa gargalhada. Percebeu, ainda, a ruga que se formava quando ela estava muito concentrada. Notou que quando ela estava desconfortável ela não cruzava os braços como a maioria das pessoas, mas sim cerrava os punhos e os colocava atrás das costas.

Remus Lupin foi o primeiro a desconfiar que James estava passando um tempo maior que o normal observando Lily, e não apenas admirando fisicamente a colega. Remus tinha a sensibilidade de conseguir notar essa mudança, e também a sensatez de não falar nada até seu amigo voluntariar algo a respeito.

Sirius Black reparou em seguida, mas, desprovido das características supracitadas, comentou tão logo percebeu.

“Cara, você tá vidrado em Evans.” Sirius disse numa tarde em que James seguira a ruiva com o olhar “Por que não chama ela pra sair?”

“Quê?” James exclamou. Ele e Peter não haviam se dado conta do que estava acontecendo “Por que eu faria isso?”

“Hum, porque ela não consegue andar sem que você fique encarando a garota e sair com ela, dar uns bons amassos e tal, vai ajudar.” Sirius respondeu, como se estivesse explicando a uma criança que não se podia roubar. James negou com a cabeça.

“Não é nada disso…”

Mas a semente da dúvida havia sido implantada na mente do garoto, e quando a sugestão de Sirius surgiu em sua cabeça naquela noite antes de dormir, James começou a ponderar quão certo o amigo estaria.

Porém ele ficou com receio de agir, e os amigos sabiam muito bem o motivo: porque apesar de toda a inteligência inerente a James Potter, ele era pavoroso quando se tratava de garotas.

Não que ele assediasse meninas, nada disso. Ele era pavoroso no sentido de que ele não conseguia manter uma conversa minimamente normal quando falava com algum possível interesse romântico.

James gaguejava, balbuciava coisas idiotas, contava piadas terríveis e interpretava muito mal as intenções femininas – ele não conseguia saber se a garota estava interessada nele ou não.

Talvez tenha sido essa última falha que tenha levado James a dizer que nunca mais azararia Snape caso Lily saísse com ele.

Mais tarde, quando Remus perguntou que diabos ele estava pensando, nem mesmo o próprio James conseguiu responder.

No final das contas, o saldo desse Momento Crucial (™) foi um distanciamento ainda maior entre James e Lily. 

James, como bom adolescente, tinha uma tendência para o drama e afirmava veementemente que a situação toda o torturava, e pedia encarecidamente aos amigos que deixassem a ruiva para lá.

Mesmo que ele continuasse a juntar as iniciais dos dois secretamente.

No início do sexto ano, em um dos primeiros momentos de lucidez de James quando se tratava de Lily Evans, ele decidiu que seria bom se desculpar por toda a cena.

Lily cerrou os punhos e os colocou atrás das costas.

“Que seja, Potter. Só não apronte nada disso de novo, está bem?”

James assentiu com firmeza.

Claro que não foi capaz de cumprir completamente. Afinal, ele era um Maroto. Recebeu algumas detenções, mas menos que no ano anterior – em parte porque estava perdendo um pouco a graça de ser reconhecido por prender Madame Nor-r-r-a no lustre.

Segundo Remus, ele estava amadurecendo.

Segundo Sirius, ele estava ficando chato.

Segundo Peter, ele deveria comprar mais doces.

Foi uma grande surpresa para ele quando Lily o cumprimentou no corredor no dia que as flores começaram a desabrochar após um inverno frio. Ele sabia que a garota amava a primavera – indubitavelmente por influência da mãe, como ele já a ouvira falando – e James tinha consciência de que ele fora abençoado pelo bom humor da ruiva naquele dia especial.

Ele não se incomodava com isso; ela falara com ele voluntariamente, e isso era o importante.

Bom, justiça seja feita: ela não parecera muito feliz ao ouvir que Flitwick colocara os dois para fazer dupla num projeto. James franzira a testa, mas preferira ignorar.

“Hey, Evans.” Ele cumprimentou no final da aula “Como prefere fazer?”

A garota ergueu as sobrancelhas.

“Quer dizer que você pretende participar do trabalho? Estava planejando fazer sozinha.” Ela explicou. 

“Uh, claro que quero participar. É em dupla. Preciso te ajudar. Não seria justo.” James balbuciou. Evans o olhou atentamente (provavelmente tentando entender onde estava a pegadinha) e suspirou.

“Certo. Hoje depois do jantar na biblioteca?” Ela sugeriu. James abriu um enorme sorriso.

“Definitivamente. Estarei lá. Biblioteca. Ótimo lugar, muitos livros para usarmos.” Ele tagarelou. A ruiva franziu a testa mais uma vez.

“Er, ok…”

James a observou saindo e sentiu um aperto em seu ombro.

“Nós realmente precisamos treinar isso, Pontas.” Sirius lhe disse. James ergueu as sobrancelhas.

“Treinar o quê?”

Seus três amigos lhe encararam.

“Como falar com Evans sem parecer um completo retardado.”

James franziu o cenho, aparentemente sem entender muito bem o que o amigo estava dizendo.

“Vamos, temos até o jantar…”

Obviamente que cinco horas não seriam o suficiente para James deixar de ser um desastre com garotas, principalmente se fosse Evans, mas ele ouviu o que os amigos tinham a dizer.

Bem, ele ouviu, mas só guardou um conselho, e foi de Remus: “pense antes de falar, Pontas. Você não é tão idiota quanto parece na frente dela”.

James ficou com isso na cabeça até chegar na biblioteca. Evans estava na porta, aparentemente esperando por ele.

“Não está atrasado, bom. Vamos antes que a biblioteca fique cheia. Precisamos de uma mesa.” Evans falou quando o viu.

Sim, não estou atrasado, isso é bom. Devo responder isso? Acho melhor não. E sim, ela está certa, devemos entrar logo. Me lembro bem de quando estávamos pesquisando sobre animagos que ficava cheio esse horário. Hum, por que ela está me olhando assim? Ah, seu idiota, deve ser porque você está parado olhando para ela sem falar nada… um sorriso… isso, agora sim…

“Certo, vamos.” Ele murmurou finalmente, seguindo uma Lily Evans confusa até a seção de Feitiços. Ela pegou dois livros e sentou numa mesa próxima, com James sentando-se à sua frente.

“Que tal se cada um fizer sua parte e depois discutimos?” Evans sugeriu. Levou dois segundos para James assentir e pegar um dos livros em silêncio “Okay, então você faz as primeiras questões, e eu as últimas.”

Mais uma vez James apenas assentiu. Eles trabalharam em silêncio por cerca de uma hora, até Madame Pince avisar que estava na hora de saírem da biblioteca.

“Você conseguiu terminar?” Evans perguntou enquanto eles devolviam os livros para a prateleira.

Cinco segundos de silêncio.

“Hum, não. E você?”

“Também não. Podemos repetir amanhã?”

“Claro!” James disse imediatamente, depois fez uma careta “Droga, não. Eu tenho treino amanhã. Quadribol. Eu tenho treino de Quadribol. Com o time. Não sozinho, claro. Não faria sentido.”

Evans ergueu as sobrancelhas.

“Depois de amanhã?”

James respirou fundo.

“Certo. Por mim seria perfeito.”

Evans franziu o cenho.

“Bom, okay… eu tenho reunião de monitores agora. Direto para o Dormitório ou lhe darei uma detenção, Potter.” Evans disse com um pequeno sorriso.

James soltou uma gargalhada rápida, depois se virou e saiu num passo apressado para a Torre.

Bem, ele ponderou, podia ter sido muito pior.

Sirius concordou – Remus não pode opinar pois estava na mesma reunião, mas fez uma careta com o relato.

“Bem, ela talvez ache que você desenvolveu um retardo mental pela demora em falar, mas pelo menos não lhe acha mais arrogante!”

Não é preciso mencionar que a notícia não deixou James muito animado.

Então ele fez a única coisa que julgou possível: tomou uma poção relaxante antes de ir novamente para a biblioteca.

Surpreendentemente, funcionou: ele não fez longas pausas, mas estava relaxado, e não foi tão terrível. Fez até uma piada ou dois que resultou na risada de Evans.

“Devo admitir que fiquei surpresa em quão produtivo foi esse trabalho.” Ela disse enquanto eles saíam da biblioteca.

James passou uma das mãos pela nuca, bagunçando o cabelo. 

“Não fique surpresa” Ele sorriu, sentindo a cabeça um pouco leve por causa da poção. “eu sou um bom aluno, quer ver minhas notas nos NOMs?”

A ruiva empurrou-o pelo peito, e o calor que a mão dela deixou perto de seu coração apenas serviu para deixá-lo com a cabeça ainda mais nas nuvens. 

“Deixe de ser bobo” Lily rolou os olhos. “eu sei que você é inteligente.”

Parando de caminhar, James sentiu que precisa sentar um pouco. Lily Evans lhe deixava nervoso demais e, apesar de ter tomado a poção calmante e ainda sentir seus efeitos, parece que os olhos verdes brilhantes dela e o sorriso de lado estavam acabando com todos os efeitos da poção. 

“Sabe…” A ruiva colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha esquerda e olhou por entre os cílios para ele. “Você também é legal, até.”

Pronto.

Agora sim seu coração havia voltado a bater como se ele tivesse acabado de vencer o campeonato de quadribol. Ou a taça das casas. 

“Legal?” James murmurou, quase não escutando a sua voz por cima das batidas de seu coração. 

“Até.” Ela piscou, segurando a alça da bolsa e girando sobre os calcanhares. “Vejo você por aí, James.”

Ah.

Oh, Merlin. 

“... Vejo você também.” James murmurou para o vazio, minutos depois, enquanto ainda encarava o espaço onde ela havia desaparecido. 

E foi assim que as coisas mais ou menos começaram a mudar. 

Eles não eram… amigos, mas também não eram meros colegas de classe. 

As vezes seus olhares fechavam durante uma aula e Lily iria sorrir para ele e colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha. As vezes ele iria dar bom dia e ser retribuído. 

Eles estavam naquele estranho estágio de formação de amizade, até que… Não estavam mais. 

Uma noite James Potter foi dormir como conhecido de Lily Evans e no outro dia ele acordou como amigo dela.

“Oi, Lily, bom dia.” Ele havia murmurado, sentando na mesa da Grifinória no Salão Principal. “Oi meninas, bom dia.”

Um coro de vozes femininas lhe retribuiu o bom dia. James arrumou os óculos no rosto e começou a se servir o café da manhã, até que alguém deslizou ao seu lado na mesa e um vulto vermelho encheu sua visão. 

“Oi, James.” Lily estava sem fôlego. “Eu e as meninas vamos estudar no lago hoje a tarde, você e Remus querem ir?” 

Eles nunca mais haviam estudado juntos. 

“Ahn… Estudar? Sim! Eu adoro estudar.” Ele gaguejou, sentindo o calor subir por seu pescoço e orelhas. “No lago?”

“Isso” O sorriso dela era brilhante e deixava-o um tanto tonto. “As duas, pode ser?”

“Ótimo! Duas é um horário muito bom.” Merlin, por favor alguém o acertasse com algo.

E - num gesto que quase o fez desmaiar - ela se inclinou para frente e deixou um beijo em sua bochecha direita. 

“Legal, James, vejo você!”

Não havia sido a única vez que eles haviam saído juntos. Depois dessa tarde de estudos no lago, vários outros encontros se seguiram. 

Estudos na biblioteca. Cervejas amanteigadas na Sala Comunal da Grifinória. Jogos de quadribol juntos. 

Sirius, Remus, Peter, Emmeline, Alice, Mary… James e Lily. Todos eles, as vezes com algumas variações, mas sempre em um grupo de amigos. 

Os meses se passaram e a cada dia James e Lily se tornavam cada vez mais amigos. 

“Cara” Sirius havia reclamado, uma vez. “eu sei que você é apaixonado pela Lily, mas eu sou seu melhor amigo. Você é obrigado a passar tempo comigo, pare de ir beijá-la em armários de vassouras e jogue uma partida de snap explosivo comigo.”

James - por óbvio - havia ficado em um vermelhão.

“Sirius!” James se inclinara sobre a mesa, com os olhos arregalados. “Não fale isso assim, vai que ela escuta? Você ‘tá maluco!”

“É óbvio que vocês estão a fim um do outro, pare de ser um frangote e chame ela para ir a Hogsmeade.” 

“Somos amigos.” Ele dissera, colocando um ponto final na discussão. “Não vou assustar a Lily a chamando para Hogsmeade.”

Sirius apenas rolara os olhos. 

Dias depois Lily havia deslizado na cadeira ao seu lado durante o café da manhã. James se lembraria daquele dia para toda a eternidade. 

Seu cabelo vermelho estava escovado e brilhante. Lily usava os brincos favoritos dela - pérolas, que sua avó materna havia lhe dado dois Natais atrás - e brilho labial. 

“Oi” Ela havia suspirado em seu ouvido. “bom dia.”

“Oi” James estava totalmente sem fôlego, como sempre ficava quando Lily estava perto demais. “bom dia.”

Ela havia mordido o lábio inferior e enrolado uma mecha de cabelo entre os dedos. 

“Está livre neste sábado?”

James inclinara a cabeça para o lado. 

“Sábado? Sim, é final de semana de Hogsmeade, não é?”

“Isso, do Halloween…” Lily largara a mecha de cabelo e se inclinara para mais perto dele. “Pensei em irmos juntos pro Três Vassouras, o que você acha?”

“Hogsmeade?” Seu coração estava acelerando, a respiração dela batendo em seu nariz apenas o deixava tonto. “Mesmo horário de sempre?”

O sorriso que ela havia lhe dado tinha sido o mais brilhante de todos o que ela já havia enviado em sua direção. 

“Isso, fantástico James… Vejo você!” E com um beijo em sua bochecha, Lily desapareceu pela porta, deixando-o para trás tonto demais para pensar no que havia concordado.

No sábado James havia escolhido sua melhor camisa e suas vestes mais novas. Havia tomado banho com muita antecedência e secado o cabelo cuidadosamente. Na verdade, ele havia feito tudo com tanta antecedência que estava pronto antes de todo mundo.

“Vocês não vão se arrumar?” Ele havia perguntado para os outros Marotos, que estavam todos espalhados por suas camas, cada qual em um estado diferente de preguiça. “Saímos daqui meia hora, o Três Vassouras vai lotar.”

Remus havia inclinado a cabeça para o lado. “Meia hora?”

“Sim, nossa saída com o pessoal? Com as meninas?”

“Sirius, Peter, achei que a gente ia só almoçar com as garotas.” Remus virou o rosto para os outros dois rapazes. 

“E vamos.” Sirius rolou na cama. “James é que vai se encontrar com Evans.”

James apoiou as duas mãos na cintura. 

“Não, vamos todos sair juntos, no mesmo horário de sempre.” Ele retrucou. 

“Não, não vamos.” Foi a vez de Peter. “Sirius, Remus e eu vamos almoçar com as meninas, você tem um encontro com a Lily.”

O coração de James falhou uma batida.

“Não.”

“Sim.” Sirius levantou. “Qual é, Pontas? Ela contou para nós que chamou você para um encontro em Hogsmeade quarta-feira, que loucura é essa?”

Nesse momento, James não conseguia mais respirar. 

“Encontro?” Sua voz saiu engasgada. “Eu e Lily?”

“Merlin, você é muito lerdo! Como é que conseguiu tantos Ótimos nos NOMs?!” Peter resmungou, também sentando-se na cama. “Lily chamou você para sair, você aceitou, deu! Pronto!”

Remus se engasgou com o riso. James sentiu seu rosto se transformando ainda mais em uma expressão de pânico.

“Acho que vou vomitar.” 

“Você estava bem cinco minutos atrás, Pontas.” Remus colocou a mão em seu ombro. 

“Bem, sim.” James respirou fundo. “Isso porque eu achava que iríamos sair em grupo!” 

Ele andou de um lado para o outro em meio as camas e bagunças do quarto masculino. 

“Vocês tem certeza que só vai sair nós dois?” James perguntou, encarando Remus. “Isso não é uma pegadinha, ou é?”

Os três Marotos o encararam. 

“Pontas” Sirius falou, seu sotaque aristocrata soando ainda mais acentuado. “você acha mesmo que iríamos fazer uma piada com isso?”

James encarou-os de volta. 

“Certo, a gente iria, mas isso não é uma piada!” Sirius exclamou. “Pontas! Para de andar de um lado pro outro, tá me deixando tonto!”

“Bom, eu não posso parar de andar de um lado pro outro porque é assim que eu penso, e estou precisando pensar no momento” James respondeu.

“Pensar em que, exatamente?” Remus questionou, franzindo a testa.

“Primeiro na roupa que eu vou usar, porque essa claramente não é suficiente.” James replicou.

“O que tem de errado com essa roupa?” Peter sussurrou para Sirius, que apenas riu.

“Depois… por Merlin, onde vou levar Lily?” James continuou no seu monólogo, ignorando os amigos.

“Você acabou de dizer que iriam ao Três Vassouras, Pontas,” Remus disse calmamente. James apontou os indicadores para o amigo lupino.

“Verdade! Mas um encontro só no Três Vassouras é suficiente?” James se questionou. Sirius rolou os olhos.

“Ela te chamou pro Três Vassouras, não foi?” Sirius disse “Então é suficiente.”

James assentiu com a cabeça.

“Flores! Eu não tenho flores!” Ele exclamou. Silenciosamente Remus conjurou um belo buquê de flores variadas. “Mas se isso realmente não for um encontro, eu vou parecer um babaca…”

“Por que isso não seria um encontro?” Peter questionou, confuso.

“Porque, caro amigo,” James respondeu fazendo aspas no ar, “eu não consigo confiar completamente em vocês!”

Sirius não segurou mais o riso.

“Caramba, Pontas! Apenas aceita que você finalmente conseguiu seu encontro com a ruiva, ok?” Sirius disse “Qual o grande problema?”

“Eu precisava de mais tempo pra planejar, ok? Meu encontro com Lily precisa ser perfeito!”

“Entendi. Você precisa enganá-la com um encontro, já que sua personalidade e aparência física não ajudam?” Sirius perguntou. Remus teve que fisicamente impedir James de bater em Sirius, que gargalhava.

“James, se acalma!” Remus pediu, olhando para o relógio “Você tem 15 minutos pra se recompor, porque Lily estará no salão da Grifinória esperando por você.”

James emitiu um som esganiçado (que pode ou não ter feito os amigos rirem), e se virou para o guarda-roupas. Apesar de todas as risadas e provocações, os Marotos, vejam bem, são muito unidos: Remus ajudou James com a roupa, Sirius anotou dicas do que fazer em Hogsmead enquanto não iam para o Três Vassouras, e Peter lhe contou de uma sorveteria escondida que prometia ter a melhor sobremesa do vilarejo.

James hesitou ao pegar o buquê, mas no final acabou levando – e ignorou os gritos de boa sorte dos amigos.

Ele chegou no Salão Comunal com três minutos de sobra. Não tinha outra coisa a fazer, a não ser (você provavelmente adivinhou) andar de um lado para o outro.

“Hey.”

James estava de costas, mas ele seria capaz de reconhecer aquela voz em qualquer lugar do mundo. 

Se James já não estivesse perdidamente apaixonado por Lily Evans (mesmo que ele ainda não identificasse), qualquer dúvida que ele tivesse a respeito da característica dessa saída teria sido sanada: Lily claramente estava arrumada para um encontro.

Mas James sendo James – perdidamente apaixonado por Lily Evans e, não vamos esquecer, ele era pavoroso quando se tratava de garotas – ele apenas via Lily estando mais bonita que o normal.

Lily, apesar de não ser pavorosa com garotos, estava levemente nervosa. Mas ela não perdeu o que James trazia na mão.

“Você me trouxe flores.” Ela comentou simplesmente.

James engoliu em seco. Aquele não era um comentário de quem tinha gostado. Ele ia matar Remus! A não ser… bem, ela também podia estar surpresa, porque aquilo não era um encontro.

Nesse caso, ele iria matar os três.

“Uh, Lily,” James começou, coçando a nuca e corando um absurdo, “veja só, você sabe como os meninos são… bem. Do jeito que somos, né? Adoramos fazer o outro parecer um idiota para rir depois.”

Lily soltou um risinho com isso.

“Certo, e…?” Ela estimulou. James suspirou.

“Talvez você já saiba disso, talvez não, mas preciso falar. Eu sou péssimo com garotas.” James exclamou. Lily ergueu uma sobrancelha, e James fez uma careta. “Ah, ta vendo, é isso que to falando. Eu sou péssimo com garotas em geral, segundo Sirius, e com você parece que é pior ainda. Remus diz que é porque gosto de você mais do que já gostei de qualquer outra garota.”

Lily sorriu mais.

“O ponto, James?”

“O ponto é que eles me fizeram acreditar que você tinha me chamado pra um encontro.” Ele disse.

Lily assentiu.

“Hum, sim. E?”

“Não, eles me disseram que era um encontro… tipo, um encontro romântico, tipo eu abrindo portas, puxado cadeira, pagando a conta, te emprestando meu casaco, flores, um beijo antes de você ir pro seu quarto… coisas assim” James explicou.

“Bom…” Lily disse lentamente, se aproximando de James, “eu me arrumei pra um encontro romântico. Esse delineado aqui não é a toa, sabe, é para você se perder em meus olhos.”

“Eu faço isso bastante…” James balbuciou, e Lily sorriu.

“Essa roupa aqui é novinha, e eu estava esperando para um dia especial.” Ela continuou.

“É uma bela roupa,” ele replicou, tentando disfarçar o olhar de apreciação ao corpo da ruiva.

“Eu disse pros nossos amigos arranjarem outro lugar que não seja o Três Vassouras…”

“Eu ficaria mais nervoso que o normal com eles lá, vendo um encontro nosso,” James concordou. Lily sorriu mais, e dessa vez os corpos dos dois estavam se tocando. Ela apoiou as mãos no peito de James.

“Esses sapatos matam meus pés, mas eu fico na altura perfeita para isso…”

James podia jurar que naquele momento ele teve uma experiência extra-corpórea – que os lábios de Lily nos seus eram suficientes para ele ver Deus e ainda assim voltar para Hogwarts porque o verdadeiro paraíso era no beijo daquela ruiva.

“Eu sei que você é um desastre com garotas, James,” Lily disse quando ela se separou do beijo. As mãos dele envolvendo a sua cintura eram muito confortáveis. “Por isso eu achei que era melhor lhe chamar. Mas nunca imaginei que você não fosse entender.”

James riu.

“Eu nunca imaginei que você fosse me chamar prum encontro.”

Lily finalmente pegou as flores – que James jogara no sofá para beijá-la de maneira apropriada – e sorriu.

“Se você achava que não era um encontro, então por que trouxe as flores?” Ela questionou.

“Porque tinha tipo, 0,0001% de chances de ser, e nessa possibilidade ínfima, eu tinha que ter certeza que eu estava fazendo alguma coisa certa.”

Lily sorriu e se aproximou para dar mais um beijo nele.

“Vamos, então? Você me prometeu comida paga, e isso eu não recuso.”

James riu e pegou a mão dela na sua, entrelaçando as duas.

No grande esquema das coisas, James sendo pavoroso com garotas não interferiu no seu plano de vida, no final. Aquele Halloween não fora o primeiro que ele passaram juntos, mas certamente teve um significado especial.

Na história de James e Lily, o Halloween sempre ficará marcado pelo último, aquele do ano de 1981.

Por que então não lembrarmos de todos os prévios – e todos os momentos, em todas as possibilidades – que passaram juntos? 


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