Uma hora. Uma hora e nada de Claire voltar pra casa. Ela nunca havia demorado tanto. O cemitério não era longe, Claire demorava no máximo de vinte a vinte e cinco minutos. Patrick então resolveu ir até lá, talvez ela tenha perdido a noção do tempo.

O local estava completamente taciturno e vazio, porém isso mudou assim que adentrou e encontrou sua filha no chão.

— CLAIRE!!

Sua menininha estava caída em frente o túmulo de Carolin, mais pálida que o normal e de olhos abertos. A boca entreaberta e as estranhas veias pretas em seu rosto eram tão assustadoras quanto o fato de sua garotinha de doze anos estar morta.

Não havia ferimentos, nem lesões de defesa, o que fez Patrick imaginar que a mesma entidade que matou sua esposa, havia matado sua filha. Mas quem acreditaria? A morte de Carolin foi dada como suicídio, o homem sempre escondeu de Claire a verdade, não só sobre o laudo do legista como também de sua suspeita paranormal. Portanto, Claire de nada sabia sobre o óbito da mãe.

Pediu socorro em desespero e aos prantos.

A ambulância chegou, e como previsto, era tarde para salvar a menina. O estado do corpo não condizia com a temperatura do fígado e a hora da morte. Parecia que Claire estava há horas sem vida naquele lugar e não apenas uma, o que levou os investigadores a suspeitarem do pai, levando-o para interrogatório na delegacia.

~ ✝ ~

Claire abriu os olhos e estranhou o lugar onde estava. Num momento estava em um cemitério e no outro… numa floresta escura e nebulosa.

Sentiu o frio arrepiar seu corpo e balançar as folhas das árvores sem vida daquele lugar. As folhagens não eram verdes e vivas, bonitas e cheirosas. Não. Eram amarronzadas e mortas, secas e podres. O cheiro não era dos melhores e a sensação que lhe causava era que a bondade nunca passou por ali, sentiu que estava nas trevas, um lugar que jamais recebeu luz. O silêncio era incômodo, só se ouvia o barulho do vento. Era horripilante.

E lá estava ela, sozinha. E honestamente, não queria companhia nem lugar como aquele, pois certamente não seria boa.

Levantou-se e começou a andar cautelosamente abraçando os próprios braços. De seus lábios, um ar gélido saía capacitando-a de ver sua cor.

Seus pés faziam barulhos de folhas pisadas e galhos se quebrando, mesmo que andasse o mais devagar possível.

Ouviu som de passos e parou. Voltou a andar e ouviu o mesmo som, fazendo com que parasse novamente olhando pra trás. Nada. Concluiu que eram seus próprios passos até parar novamente e o barulho continuar, aumentando cada vez mais como se estivesse indo em sua direção.

Claire estava apavorada olhando para todos os lados, mas não havia ninguém ali além dela.

Foi andando pra trás atenta a qualquer cantinho e quando se virou para seguir em frente, lá estava a figura novamente, sorrindo-lhe da mesma forma de antes.

E mais uma vez Claire gritou com o susto, afastando-se da desconhecida no mesmo instante.

— Te assustei de novo!?- disse ela sorrindo satisfeita.

— Você?- indagou a menina ainda apavorada. — O que fez comigo?

— O que acha que fiz com você, Claire?!- falou em tom óbvio e deu um passo pra frente, fazendo Claire dar outro pra trás.

— Eu estou morta?- desesperou-se. — Cadê meu pai?

— Lá em cima.- lentamente ela ia falando e se aproximando, enquanto Claire evitava ficar perto.

— “Em cima”?- ergueu as sobrancelhas em choque. — Eu estou no inferno?

— Não, mas está perto.- ela sorriu mais uma vez.

— Meu lugar não é aqui, eu nunca fiz nada ruim.- seus olhos acumularam lágrimas ao dizer.

— Sua mãe fez.

Bomba! Como assim? Claire ficou com uma interrogação na face e estranhou. Lembrou-se que no cemitério aquela mulher havia dito que conhecia sua mãe e que elas eram amigas. Como assim agora ela dizia que sua mãe era má? E por que havia tirado sua vida se ela nada havia feito? Sequer conhecia a própria mãe, quem dirá essa estranha! Claire tinha muitas perguntas.

— Minha mãe não era má.- lágrimas escorreram e ela afirmou, mesmo sem ter certeza.

— ERA SIM!- exclamou a desconhecida com raiva, fazendo Claire se assustar e tropeçar caindo no chão de costas.

Com medo, Claire se arrastava ainda de costas pro chão, se afastando da figura enquanto a mesma insistia em se aproximar. Sua expressão era de ódio, seus olhos voltaram a ficar brancos e ela andava lentamente causando pavor em qualquer um que estivesse ali.

— Era insistente, debochada, zombava de coisas que não conhecia, insultava coisas que não acreditava. Eu fiz ela acreditar e nunca mais esquecer.

— Foi você que matou a minha mãe?!- sua voz embargou. Mais afirmou do que perguntou.

— Persegui ela, perturbei ela, a fiz enlouquecer.- sorria perturbadoramente enquanto falava. — Por acaso já ouviu alguém falar que ela era louca?

Como ela sabia disso? Claire até pausou a fala ao responder, estava interessada em saber dos fatos, mas mesmo assim se afastava.

— Os vizinhos… diziam isso.

— Eu causei isso.- mais uma vez ela pronunciou uma frase satisfeita. — Não foi surpresa pra ninguém ela ter se matado. “Fantasmas não existem” ela dizia. “Espíritos malignos não existem” ela dizia. Não só provei que existia, como transformei a vida dela num inferno.- contou com raiva e satisfação na voz. — Me diverti a torturando e ouvindo seus gritos. Ela tanto me chamou, que eu atendi.

— Eu não entendo… Por que ela faria isso?

— Porque era estúpida!- vociferou. — Seu pai acreditava nessas coisas, mas não ficava procurando com o que mexer. Sua mãe brincava, insistia que eu desse algum sinal de existência, insultou minha inteligência. Fiquei na cabeça dela dia após dia...- falou lenta e pausadamente, causando mais pavor na menina, depois voltou ao normal. —… mas parei um pouco quando você nasceu. Quis deixar que ela aproveitasse os últimos momentos com você, quis que ela ficasse com você pelo menos um pouquinho pra ela sentir a dor de te deixar. Quis que ela visse você crescer com a dúvida de sua morte, quis que ela visse você e seu pai sofrendo por ela, quis que ela visse vocês MORRENDO por ela, quis destruir tudo o que ela amava.- então, riu ao lembrar. — Seu pai eu nem vou precisar trazer pra cá, está sendo suspeito de matar a filha de doze anos e jogar o corpo em frente o túmulo da mãe doente.

Claire arregalou os olhos e soltou mais lágrimas. Seu pai? Suspeito de assassinato? Mas não foi ele, foi ela!

A entidade prosseguiu.

— Então com licença, pois quero assistir isso de camarote.

— Não! Espera!- Claire se levantou tentando pará-la, porém inutilmente, pois a figura desapareceu. — Deixa ele em paz!- gritou em prantos. — Por favor…- soluçou.

O silêncio se instalou na floresta. Só o que se ouvia era o choro de Claire.

A menina de cabelos brancos se viu novamente sozinha naquele lugar horrível, sem ter ideia de como escapar. E claro que vendo aquele sofrimento todo, o mal que ali havia não hesitaria em deixá-la em completo desespero, até que ela caísse na loucura.

O barulho de passos voltou, o assovio horripilante do vento também retornou, o barulho das folhas também surgiu, assim como gritos e risadas. Até que sussurros pronunciando seu nome começaram a vir de todos os lados.

Claire tapou os ouvidos pedindo para pararem, seu coração batia desesperadamente em completo terror, suas pernas tremiam e ela não conseguia abrir os olhos de tanto medo que sentia. Encolheu-se no chão ainda com os ouvidos tapados e implorando para pararem de lhe perturbar daquela forma, chorando e rezando pra sair daquele lugar.

Não demorou para Claire ouvir seu nome sendo chamado, mas por uma voz conhecida e acolhedora, não por uma que lhe causava medo.

Era a voz de sua mãe.