É noite.

A menina está correndo.

Todos estão arrumando os últimos preparativos para a comemoração da data festiva. Fantasias horripilantes, abóboras com sorrisos macabros e morcegos de borracha são avistáveis a cada esquina da aldeia, em todas as ruelas e trechos.

Mas a menina continua correndo.

Não importa para ela as travessuras.

Não importa para ela que seus amigos queiram pedir junto dela doces nas casas dos moradores.

Porque, para ela, o dia do Halloween não é festa.

É um dia de esperança.

Ela finalmente para de correr.

Um sorriso esperançoso contrasta com aflição as lágrimas que escorrem por suas bochechas, lavando a maquiagem que a sua mãe passou a última hora tentando ajeitar.

Ela olha para o cemitério e caminha com cuidado por entre as muitas lápides, as pernas envolvidas pela névoa branca que paira acima do chão.

O coração está acelerado, mas não por causa da corrida.

Quando finalmente encontra o túmulo de seu tio — um homem que ela jamais teve a chance de conhecer além dos relatos contados por sua mãe e professores —, a menina se ajoelha ao lado dele.

Espera que ele apareça.

Todos os anos.

É o seu ritual.

“Os mortos andam entre nós na noite de Halloween”, disse sua mãe quando ela era muito pequena.

As lágrimas continuam rolando, consumindo um pouco da luz do sorriso fragilizado.

Se sua mãe não mentiu, por que então seu tio nunca apareceu para ela?

Seu pai está a observando com o corpo agachado, escondido em um arbusto, ao lado da esposa.

É uma novidade angustiante para ele ver sua filha tão aflita no primeiro Halloween que está passando em casa, depois de tantos anos longe em missão.

Os dois se entreolham em silêncio, e como se pudessem conversar apenas com o olhar, ele faz um movimento rápido com a mão e assume a forma do irmão falecido.

Uma saudade aperta o seu peito, acompanhando muitos outros sentimentos que ele tenta não reviver. Sem que faça nenhum barulho, ele se expõe e alcança a menina entristecida.

A mão dele a afaga com gentileza e cuidado, como se ela pudesse se quebrar caso ele não fosse comedido, e o rosto da menina reage ao toque, olhando para cima de súbito.

— Achou que eu não apareceria? — recita Sasuke com a voz do irmão mais velho, antes de ser envolvido em um abraço forte, que duraria pelo restante da noite.