Obliviate escrita por crowhime


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Outra Regulus/Remus que ninguém pediu. Mas eu quero e é isto :x



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Remus demorou a abrir os olhos naquela manhã. Estava torpe como se ainda estivesse sonhando. Suas pálpebras estavam pesadas quando se separaram, e seu olhar se fixou no teto, ainda sentindo as lágrimas quentes escorrendo pelo rosto, molhando a pele e caindo sobre os lençóis.

Levou uma das mãos até a bochecha molhada. Por quê?, se perguntava, não conseguindo se lembrar do que havia produzido tamanha angústia em si. Era um sonho: um sonho triste. Tão triste ao ponto de fazê-lo derramar lágrimas reais. Mas o quê?

Sentia-se vazio, mas secou as lágrimas e se levantou.

Havia uma guerra acontecendo: não havia tempo para se preocupar com sonhos ruins quando a realidade já era tão cruel.

 

No dia seguinte, nada parecia real. Na sua face, o rastro quente, uma última lágrima solitária caindo em seu dorso quando se levantou sobressaltado. Num segundo, a imagem estava ali, no outro, desaparecendo como fumaça. Esfregou os olhos com raiva, frustrando-se por sua incapacidade de recordar. Siga em frente, Lupin, disse para si mesmo.

 

O imperativo, dia após dia, foi se provando cada vez mais difícil.

Não era um sonho ruim, rapidamente percebeu. O ruim era acordar. Às vezes, chegava a acordar soluçando como uma criança perdida, e nunca conseguia entender o que estava faltando. Seguia em frente, com o vazio pesando seu peito. Não podia parar. Algumas noites, o cansaço era tanto que desmaiava de exaustão e não havia sonho algum, e quando acontecia era ainda pior, como se estivesse deixando algo para trás. Algo realmente importante. E a dor que isso causava era a pior que já havia experimentado (e, acredite, já havia experimentado muitas).

"Regulus Black não é visto faz quase duas semanas", ouviu um dos membros da Ordem relatar naquela tarde, e as sobrancelhas de Remus se franziram, embora ninguém houvesse dado muita atenção a sua figura silenciosa no canto da sala. "Não conseguimos saber se ele está em alguma missão secreta para Você-Sabe-Quem, perdemos seu rastro (...)"

Regulus… quem? Irmão de Sirius Black. Um comensal da morte. Seguidor de Voldemort. As informações se juntavam em seu cérebro, e não fazia o menor sentido como aquele nome continuou a ressoar em sua mente. O que teria de tão importante em um jovem seguidor do lado inimigo?

Estava cansado, concluiu. Sua percepção estava mexida pelas noites conturbadas e dias vazios; ao ponto de distorcer a realidade para preencher sua existência.

"Remus, você está bem?"

A voz inquisidora veio de sua lateral, Peter o fitava preocupado. Teve a impressão de ver uma sombra distinta em seu olhar, mas, novamente: estava cansado. Não deu importância, especialmente porque acabou atraindo a atenção de outras pessoas por perto, e sentiu-se constrangido por ser objeto de análise e distrair os presentes do relatório apresentado sobre as recentes atividades de comensais conhecidos.

"Só um pouco de cansaço. Nada que ninguém aqui já não conheça." Remus blindou-se com a brincadeira, mas agora era Dumbledore quem o fitava compreensivo por cima dos óculos de meia lua, agora o recinto inteiro parado o fitando. Quis esganar Peter por aquilo, mas se conteve.

"Tire o resto do dia, Remus."

"O quê? Não mesmo. Isso não é nada. E é injusto, todos aqui estão assim."

"Calma, meu jovem… todos precisamos de descanso às vezes. E você não tem parado nas últimas semanas."

"A guerra não dá tempo para descanso. Ela não espera ninguém."

Não queria responder ao diretor de Hogwarts, ele sempre havia o ajudado muito, e era quem o havia mostrado uma possibilidade diferente… mas aquele assunto estava o irritando.

"Nem a vida, caro Remus. Nem a vida." Dumbledore sorria singelamente, mas suas íris brilhavam como se soubesse mais do que qualquer um ali, o que não deveria, de fato, ser um exagero. "Você parece como se estivesse perdido. Se encontre, e retorne para nós."

Aquele era o tom que usava quando queria dizer que não havia mais discussão, fazendo com que Remus se desse por vencido, o desconforto crescendo no peito. Será que Dumbledore tinha alguma ideia do que estava acontecendo consigo? A vida não esperava: isso era um fato que também conhecia. Mas nem sabia o que estava perdendo àquela altura, como ele queria que resolvesse algo? Adoraria perguntar, porém deixou para depois, decidindo não atrapalhar mais o andamento da reunião e aparatando de volta à sua casa.

A solidão parecia que queria consumi-lo. Já estava acostumado a morar sozinho e não via problemas nisso, até gostava da paz e do silêncio e poder ficar apenas consigo mesmo. Mas agora em seu quarto, as paredes pareciam crescer, dobrando-se por cima de si e o engolindo. Era opressor. Assim, jogou-se na cama, esperando ser esmagado.

Não foi.

Mesmo com todo o peso, acabou sendo envolto pelos doces braços de Morfeu.

Era só um sonho, mas estava feliz e completo. Nada faltava naquele momento. Estava no trem, voltando de Hogwarts, James, Sirius e Peter também estavam lá, mas disse que os veria mais tarde pois precisava patrulhar os corredores. Não se lembrava daquilo acontecendo, mas tudo parecia tão certo que não questionaria, nem mesmo quando um vulto agarrou sua mão e o arrastou pelos corredores do trem, afastando-se das cabines e o levando até a área de trás do mesmo, onde ninguém mais passava. Seus lábios foram tomados em um beijo acalorado, e foi ele mesmo quem prendeu o outro contra a parede.

Não conseguia ver quem era. Uma sombra ocultava a identidade do desconhecido e não conseguia reconhecer quem poderia ser, mas os dois pareciam felizes naquela lembrança.

"Não sei o que vou fazer sem você, Remus…", 

… Lembrança?

Acordou assustado, sem realmente querer despertar daquele sonho. Se sentou rapidamente, a respiração descompassada chiando e seus olhos arregalados.

A percepção lhe atingiu como um soco. Não era o que faltava. Mas sim quem faltava! Havia se esquecido de alguém importante, muito importante, e sentia que precisava se lembrar o quanto antes. Tentou forçar a mente, afundando os dedos nos cabelos, sorvendo o ar pela boca para se controlar.

Era desesperador. Suas memórias estavam ali. Lembrava-se do trem, dos amigos, da patrulha, mas algo faltava: fragmentos que não encaixavam, que pareciam errados, pois não deveriam estar ali. Como se uma grande parte, parte importante de sua vida tivesse sido perdida, e sua mente tentasse preencher os buracos para evitar que ficasse louco, mas não adiantava, pois doía e ele sentia vontade de chorar.

Faz quase duas semanas que perdemos o rastro de Regulus Black. Lembrou-se repentinamente, o que lhe deu um pico repentino de energia e fez com que se levantasse em um salto. Aquele nome era importante: e não fazia quase duas semanas também que aquela sensação de vazio havia começado?

Graças a sua amizade com Sirius, sabia onde encontrar Regulus. Na realidade, era uma aposta: se ele não era visto há duas semanas, não havia a menor garantia de que ele estaria na casa da família Black. E também não é como se pudesse entrar, a casa era protegida por inúmeros feitiços, e mesmo que não, não podia simplesmente bater na porta e perguntar pelo herdeiro da família sangue-puro. Assim, apenas ajeitou o capuz sobre a cabeça, procurando um ponto bom, escondido, mas com visão para o local em que ficava a casa, e esperou. Por mais que odiasse estar de mãos atadas, ao menos agora tinha um plano de ação.

A noite já avançava, e Remus estava cansado de sua vigília e não ter nada para fazer, quando foi surpreendido por uma varinha pressionada contra suas costas. Não havia sentido ou ouvido ninguém se aproximar, então era deduzível que se tratava de alguém habilidoso suficiente para enganar seus sentidos, e os músculos se tensionaram quando imaginou que poderia se tratar de um dos seguidores do Lorde das Trevas. Havia sido descuidado. Deveria imaginar que o terreno estava sendo vigiado. Quis mover discretamente a mão e empunhar a própria varinha, mas a voz logo ressoou baixa e ameaçadora, impedindo-o de concluir o gesto.

“Levante as mãos lentamente e as deixe onde eu possa ver. E vire-se lentamente.”

Precisou conter um suspiro derrotado. Era isso que ganhava por ficar distraído, com os pensamentos longe. Então lhe restou obedecer, elevando as mãos com cuidado e se virando lentamente para a silhueta que o abordou. A figura também vestia um capuz que projetava uma sombra sobre o rosto, a iluminação escassa tornando impossível fazer reconhecimento, mas seu coração palpitou no peito quando percebeu apenas o brilho de surpresa cruzar os olhos por debaixo do capuz. A voz já não possuía a mesma frieza, soando agressiva quando demandou: “saia daqui”, e podia ser loucura de seus sentidos quando pressentiu medo naquelas palavras. Deveria estar mesmo fora de si, pois era o próprio Remus quem estava na posição de ameaçado, logo, ele quem deveria sentir  medo e receio ali, mas estranhamente estava tranquilo, mesmo com a madeira da varinha tocando-lhe as costelas, como se estivesse prestes a lançá-lo para longe com um feitiço.

Atreveu-se a abaixar lentamente as mãos, avançando um pequeno passo para testar terreno, percebendo que o outro recuava igual distância, comprovando que não seria atingido ao menos por enquanto, sendo o próprio Remus a pressionar o corpo contra a varinha que o ameaçava.

“... Regulus?”, podia estar enganado, mas experimentou chamar o nome que martelava em sua cabeça. Faria algum sentido ser ele à espreita da própria casa. E o silêncio que se seguiu foi uma resposta mais do que satisfatória, fazendo-o acreditar que seu palpite estava certo e de que era o jovem herdeiro dos Black à sua frente. Retirou o próprio capuz, abaixando as mãos, tendo certeza de que havia sido reconhecido muito antes, mas mesmo assim anunciando: “Sou eu. Remus Lupin. Lembra de mim?”

Podia ser ilusão de sua cabeça, estava tendo muito delas, mas achou ter visto a varinha tremer e hesitar por um milésimo de segundo, e foi este intervalo de tempo que teve para segurar o pulso e ombro do mais novo antes que ele desaparatasse para longe dali. Lupin mal teve tempo de recuperar-se da sensação ou pensar onde estariam, pois Regulus o empurrava com a mão livre, fazendo-o se desequilibrar e cair, e ainda assim não o soltou, levando-o junto, e logo os dois estavam rolando pelo chão: Remus tentava conter o outro enquanto este se debatia, acertando-o alguns tapas e empurrões com a mão livre. O capuz também havia caído, revelando a face contorcida, os dentes cerrados com força, e os olhos tremeluzindo.

Por trás da raiva que queimava, havia dor.

Era um olhar familiar a Remus. Era o mesmo que possuía anos atrás. Antes dos amigos. Antes de Hogwarts. Antes de… tudo.

Vacilou por um segundo, e foi suficiente para um dos tapas pegar em seu rosto, e Remus rangeu os dentes com raiva. Exaltou-se, perdendo a paciência e agarrando a mão no ar, prendendo-o definitivamente junto ao chão, mas foi só quando ergueu o tom e bradou que Regulus parou de se mover abaixo de si.

“Quer ficar quieto?!” As palavras soaram mais brutas do que queria, quase como um rosnado. Se assustou o outro, ele fez um bom trabalho em não demonstrar, apenas os orbes cinzentos se revolvendo através das pálpebras estreitas. Remus se sentiu mal por gritar e quis soltá-lo, mas tinha certeza de que no momento em que o fizesse, ele sumiria de sua vista e, nesse momento, sabia que nunca mais o veria.

O pensamento fez com que perdesse o ar. Tinha tantas perguntas, tantos questionamentos, e seu coração parecia ser esmagado por uma mão de ferro com a simples ideia de Regulus ficar permanentemente fora de seu alcance. Não entendia, e ficou a observá-lo, como se fosse descobrir todas as respostas dentro daqueles olhos que se tornavam frios como uma blindagem, fitando-o com desprezo.

Na melhor das hipóteses, seria estuporado e teria de consegui-las à força, como observou silenciosamente e admirou como Regulus conseguia continuar a segurar a varinha.

“O que está fazendo aqui?” Foi o sonserino quem cortou o silêncio, roubando-lhe a primeira pergunta com tom cortante e indiferente. Mesmo subjugado, ele ainda conseguia ostentar uma expressão altiva.

“Regulus…” murmurou o nome de modo incerto, mas a expressão se suavizava. Não compreendia o motivo, mas só parecia certo como soava em seus lábios.

“Eu responderia logo, antes que te mande para longe.”

Apesar da ameaça, acabou rindo, balançando a cabeça negativamente.

“Se fosse fazer isso mesmo, você já teve muitas chances.” Devolveu com ironia. Não havia deixado de perceber que não havia hostilidade no rapaz, apesar das expressões que exibia e falas cortantes, como se quisesse afastá-lo. E acertou em cheio, mais uma vez: o olhar do outro vacilou, e ele evitou fitá-lo, incapaz de sustentar a fala. “Eu sei reconhecer uma ameaça quando vejo, Regulus. E você não está com nenhuma intenção de me machucar.”

A respiração do mais novo chiou como se estivesse frustrado. Remus não sabia o que esperar, mas certamente não era a mágoa tomando conta de sua expressão quando o sonserino finalmente voltou a fitá-lo, o olhar fulminante e desesperado.

Por que você está aqui?!” Dessa vez, Regulus quem se exaltou, praticamente gritando. Não combinava com a imagem que ele passava, a imagem da qual Remus se recordava, e isso o assustou por um momento… Ou talvez fosse o impulso que precisou segurar de tocar e acariciar seu rosto. Mexido, afrouxou o aperto nos pulsos do mais novo. A varinha escorregou dos dedos do sonserino, que rapidamente se sentou por baixo do mais velho, liberando-se do aperto e agarrando-lhe as vestes com violência, balançando-o com toda força que tinha no momento, descontrolado, as bochechas vermelhas e respiração ruidosa, a voz se despedaçando. “Por quê? Você não devia! Não era para você vir atrás de mim! Você só tem que ficar longe de mim e ser feliz! Não estrague tudo!”

As costas de Regulus tremiam, não conseguia mais ver sua expressão pois ele havia abaixado a cabeça, fazendo os cabelos escuros caírem e esconderem sua face.

Novamente, aquele impulso irritante de abraçá-lo. Estava irritado. Não importasse o quanto vasculhasse os cantos remotos de sua mente, não conseguia entender as vontades repentinas. Não havia nada que o ligava àquele garoto! Eram inimigos, e deveriam estar tentando se matar, que direito ele tinha de dizer o que deveria fazer? Que direito ele tinha de se mostrar tão vulnerável a sua frente?

“Estragar tudo?” Repetiu, mal disfarçando a irritação na voz ou em seus gestos, pois igualmente segurou e puxou o outro pelas vestes, aproximando as faces ameaçadoramente. “Quem é você pra me falar isso?! A culpa disso tudo é sua, não é?”

Regulus estremeceu, mas nem por isso recuou.

“Eu estou tentando te salvar, idiota! Te dar uma porcaria de futuro que você tenha possibilidade de ser feliz! Se ainda não entendeu, pegue esse conselho e vai embora, e esqueça que me viu. Esqueça tudo sobre mim!”

Esquecer, ele disse. Remus sentiu um nó se formar em sua garganta, sufocando-o, sua cabeça latejando, parecendo prestes a explodir. Tudo que Regulus dizia, o delatava. Ele havia feito algo consigo, feito com que se esquecesse dele, aquele tempo todo era ele quem estava faltando.

Queria se lembrar. Realmente queria se lembrar! Por que não conseguia? Se era tão importante, então… por quê?!

“Você não tem esse direito!” Gritou, empurrando-o, fazendo com que Regulus precisasse apoiar os antebraços para não cair direto no chão. “Como acha que posso ser feliz quando parece que um pedaço de mim foi arrancado? Quando esse vazio continua me perseguindo? Não seja prepotente. Eu não quero essa sua salvação! Por que fez isso?”

Regulus ficou onde estava, fitando o outro, atônito. Os dedos chegavam a ficar brancos de tanto que pressionavam o chão, a mágoa crescendo em seu olhar, embora os lábios cerrados tentassem servir como contenção, parecia que desmoronava. Sua expressão era de quem estava prestes a chorar. Não é justo, Remus pensava. Não era justo sentir-se mal por ele, não quando sequer lembrava do laço que os unia. Quis gritar, mas Regulus foi mais rápido. Sua movimentação foi repentina, ele simplesmente empurrou Remus, fazendo-o cair sentado no chão enquanto ele mesmo se levantava.

“Por quê? Você ainda pergunta?” Soltou uma risada desesperada e incrédula. “E eu achando que você já tinha entendido tudo agora. É porque eu te amo, idiota!”

Regulus praticamente gritou as últimas palavras.

Elas eram estranhas, mas, ao mesmo tempo, familiares.

A cabeça de Remus girou e ele sentiu como se fosse desmaiar. A dor era excruciante e o torturava. Apertou os olhos com força, precisando segurar a cabeça com uma das mãos, sentia como se uma força invisível a pressionasse. Um grande fluxo de informação era liberado dentro de sua mente.

Regulus Black era quem faltava.

Agora se lembrava porque se sentia tão vazio. Nunca havia experimentado aquele sentimento antes, que aquecia-lhe o peito e lhe arrancava sorrisos fáceis e naturais. Um sentimento recíproco, e que apenas Regulus fazia com que sentisse como se fosse digno, porque nunca, em toda sua vida, o foi. Cada pequeno momento o enchia de alegria, mesmo os piores deles, desde a aproximação silenciosa em noites de estudo na biblioteca até as conversas mais pesadas e secretas.

“Eu vou debandar, Remus.” As palavras soaram mais baixas que um sussurro em suas lembranças mais recentes, como se alguém pudesse ouvi-los. Ele não o fitava, dando mais atenção que o necessário ao ato de se vestir. Lembrava de seu coração errar uma batida e sentar-se na cama com surpresa e alegria advinda daquela declaração. Ignorava todo o medo que ela causava: traições não eram facilmente perdoadas e o Lorde das Trevas não aceitava demissões. Mas sentiu-se orgulhoso mesmo assim. Não costumavam falar sobre aquilo, mas nada combinava com o garoto gentil todo aquele terror a que fora submetido tão jovem, quando achava que não havia escolha. Abraçou o mais novo por trás, apoiando o rosto em seu ombro e suspirando aliviado.

“Vai poder ficar comigo toda noite, então.” Pronunciou-se com egoísmo, tentando amenizar o clima pesado, tendo o rosto tomado entre as mãos do mais novo. Tinha julgado seu sorriso como assustado e também pudera, mal podia imaginar o peso que aquela decisão carregava e o medo que deveria trazer.

“Eu te amo, Remus. Irei amar até o fim dos meus dias.”

Relembrando, percebia que era um sorriso melancólico. O beijo teve um gosto salgado de lágrimas não derramadas, e despedida.

Não havia visto a varinha sendo empunhada, a palavra amarga sendo sussurrada em seu ouvido sem que tivesse tempo de reagir.

“Obliviate”.

A voz preocupada chamando seu nome soava como um eco distante. Não soube em que momento começou a chorar, levando as mãos até o rosto e o escondendo nas palmas, sentindo-se sufocando nos próprios soluços. Como foi capaz de esquecer tudo aquilo? Sentia o toque quente envolvendo-lhe as costas e, mesmo com a raiva, concentrou-se no calor para abrandar os próprios sentimentos. Podia se afogar naquele momento, e não ligaria.

Agarrou novamente a camisa do outro com uma das mãos, dessa vez com menos força, mas não demonstrando a mínima intenção de soltá-lo.

“Por quê, Reg…?”

Sua voz soou fraca e embargada, mas algo em seu olhar - talvez o brilho de reconhecimento - fez com que ele suspirasse derrotado, e abaixasse a cabeça enquanto respondia.

“Porque era o melhor para você. Não adianta falar que não, eu sei que nunca te mereci… E eu preciso fazer... algo. Se te falasse, você insistiria para me ajudar, eu sei que viria atrás de mim e eu não posso deixar você jogar sua vida no lixo.” Murmurou, levantando os olhos para encará-lo. “E se eu ficasse com você, eu… acho que perderia a coragem.”

Admitiu, os ombros recaindo e se encolhendo, envergonhado. Remus ainda estava confuso sobre alguns pontos, porém pode compreender a linha de pensamento. Antes que falasse algo, porém, uma risada frustrada e melancólica escapou dos lábios de Regulus.

“Eu só não contava que meu feitiço ia ser um desastre.”

Remus ainda conseguiu sorrir de leve, mesmo sabendo que não deveria. Só estava tão aliviado por recuperar o que havia sido perdido que não deu espaço para outros sentimentos.

“Não foi. Eu realmente esqueci. E foi… desesperador.” Guiou uma das mãos até a face do rapaz, tocando a lateral da mesma. “Eu só me recusei a aceitar. Perder algo importante… Mesmo não sabendo o que era, me deixou vazio.”

“Você sabe ser teimoso…”

Regulus sussurrou, fazendo-o alargar o sorriso.

“Eu sei. Você mesmo disse: eu iria atrás de você. Com ou sem feitiço. Eu te seguiria até o inferno, Regulus Black.”

Com estas palavras, Remus se inclinou, capturando os lábios alheios em um beijo saudoso. Parecia uma eternidade, ao mesmo tempo em que parecia a primeira vez. Ainda queria dar um soco nele por todo o desespero causado, mas depois de experimentar o nada, estava feliz de ao menos poder se lembrar. Era o suficiente. Mesmo quando ele demorou a reagir e retribuir o beijo com a intensidade que lhe era característica, porque sabia: mesmo que ele não demonstrasse muito, Regulus sentia em excesso. Havia aprendido. E se apaixonado por isso também. Mesmo quando as mãos do sonserino hesitaram antes de envolvê-lo, pressionando-o com força, beirando o desespero.

Os lábios partiram o contato quando o oxigênio se fez necessário, mas Regulus continuou a segurá-lo com força, como se não quisesse deixá-lo ir. E Remus também não queria. Temia soltá-lo e ele evaporar à frente de seus olhos. Com um suspiro, Remus afundou o rosto na curva do pescoço de Regulus, apertando-o mais contra o próprio corpo.

“... Perderia a coragem do quê?” indagou, as palavras de antes martelando em sua cabeça, embora tivesse medo da resposta. Sentiu os dedos de Regulus tremendo em sua pele, apertando-o ainda mais. Ele engoliu a seco, como se ponderasse se deveria responder ou não.

“...” Regulus suspirou.

“Reg.” Novamente a voz de Lupin soou. “Eu estou aqui. Olhe para mim.”

Havia se afastado apenas o suficiente para fitar a ele, que tinha o olhar desviado. Demorou, mas Regulus ergueu os olhos para fitar a Remus, e era visível sua relutância.

“Regulus.”

Cedeu à forma como ele chamava seu nome, e terminou contando tudo. Sobre como o Lorde das Trevas já não era mais humano, sobre o que fizera com Monstro, sobre as horcrux, e também como iria roubar o medalhão para destruí-lo - e seria sua sentença de morte. Essa última parte, não precisava falar. Lupin deduziu por si só.

“Nem pensar! Você não vai fazer isso. Não sozinho.” Remus protestou.

“É por isso que não queria te falar… por isso que você ficaria melhor sem mim.” Ele disse, sem parecer feliz, as palavras amargavam. “Eu nunca vou conseguir te fazer feliz. Era melhor que nunca se lembrasse, assim você teria uma chance. Não posso te arriscar também. Você já me deu mais do que mereço. Se puder morrer com esses sentimentos, eu não ligo. É o suficiente.”

O mais velho franziu o cenho, e suas mãos apertaram ainda mais os braços de Regulus, e temeu causá-lo dor, porém não conseguiu se controlar.

“Mas eu ligo. Eu não ficaria melhor em um mundo sem você.” Constatou, a voz firme. “Não tenho dúvidas disso. Não vou deixar você se matar assim.”

Regulus desabou naquele momento.

Estava tentando ser forte. Fazer o que deveria fazer, fazer o certo ao menos uma vez.

Não podia deixar Remus sofrer com aquelas memórias. Era melhor para ele que simplesmente esquecesse, então as carregaria para o túmulo junto consigo, e seria como se nunca tivesse existido.

Tudo que restava era ir à caverna e pegar o medalhão. Gastou tempo pesquisando, entendendo melhor o que eram as horcrux, e isso lhe aterrorizou. Depois do que havia acontecido com Monstro - e como se arrependia de tê-lo cedido para os propósitos do Lorde das Trevas - não deveria ficar surpreso, mas sentiu-se desesperado. Já havia aprendido, àquela altura, os horrores dos comensais, e se odiava cada segundo por se obrigar a cumprir aquele dever, porque era tudo que tinha - além de Remus - mas aquilo era outro nível. Demorou alguns dias até acostumar-se com a ideia, pois achava estar preparado, mas ainda tinha medo. Tinha medo de morrer. E estava certo de que aquele era seu destino. Não havia como sobreviver após trair o Lorde das Trevas.

Então, aceitou. Estava em paz com aquilo. Remus estaria bem sem aquelas memórias. Acharia alguém decente, alguém melhor, formaria uma família no futuro e tudo ficaria enterrado quando se fosse daquele mundo. Ninguém se lembraria, ninguém sentiria sua falta… Mas estava tudo bem. Não era como se não estivesse acostumado à solidão. Ninguém saberia o que houve e ele enterraria o legado da mais antiga e nobre família Black consigo. Melhor assim, pensava.

Estava pronto para ir. E havia uma beleza particular em aceitar a morte. Uma paz que nunca havia sentido.

Partiria no próximo dia. Não tinha mais pendências. Inclusive, ainda pode desfrutar de um último beijo com Remus... Era tudo que poderia querer, a lembrança lhe dando forças para seguir com os próximos dias. Mas Remus estragou tudo, incluindo sua resolução, quando apareceu diante de si. De início, não notou, sequer imaginou que fosse ele. Receava ser um dos fiéis seguidores de Voldemort, que poderia finalmente ter se dado conta de sua ausência, e mandado alguém atrás dele. Não sabia se conseguiria cruzar a linha se necessário, e matar mais alguém, mas quando percebeu que se tratava de Lupin, teve certeza de que não conseguiria fazer nada com ele. Por mais que devesse atacá-lo, deixá-lo inconsciente e apenas seguir com sua missão. Ficou balançado.

E agora, Remus estava ali. Por mais que o quisesse - e oh, como queria! - sabia que era tudo que não deveria acontecer. Não podia tê-lo ao seu lado. Agora já não estava mais tão certo, não estava mais tão em paz com seu destino.

Ainda assim, ele o abraçava e dizia que iria junto. Que "não ficaria melhor em um mundo sem você". Assim, as lágrimas se formaram em seus olhos e Regulus afundou o rosto no peito do mais velho para se esconder e contê-las. Não podia chorar. Que direito tinha de fazê-lo?

Nenhum.

E, mesmo assim, chorou.

Lupin não o soltava. Não sabia se era as mãos dele tremendo em suas costas ou suas costas tremendo sob as mãos dele: talvez ambas as opções. Sua garganta se fechava com o nó ali formado, o peito doendo como se uma mão invisível comprimisse seu coração.

Engolindo um soluço, ele o puxou, escalando seu corpo em busca de unir mais uma vez os lábios. O beijo era salgado, com gosto de lágrimas, e Regulus mais uma vez se agarrava a ele como se sua vida dependesse disso, puxando-o e chocando seu corpo contra o do mais velho, até que este perdesse o equilíbrio e acabasse caindo no chão. O sonserino se deitou sobre ele, sua respiração descompassada fazendo com que arfasse.

Remus sorriu para ele quando recuou e o mirou, erguendo uma das mãos até seu rosto, acariciando a lateral dele.

"Fica comigo, Reg… por favor. Vamos para casa." O pedido não passou de um murmúrio e sua expressão era de partir o coração. Regulus se encolheu, apertando os olhos com tanta força que achou que poderia cegá-lo, incapaz de conter o sentimento borbulhante, assentindo fracamente com a cabeça.

Com casa, obviamente, não queria dizer a mansão Black. Remus morava sozinho em uma casa pequena, apertada, mas era o melhor lugar do mundo para Regulus, que se afundou nos braços do amante assim que aparataram de volta à casa dele. Não queria ouvir. Não queria falar ou conversar, assim não teria de pensar. Deixava-se levar pelo silencioso desespero, afogando-se naquele sentimento.

As roupas não faziam mais sentido estarem nos corpos e foram abandonadas no chão. Remus ficou todo tempo o segurando com força, chegava a doer, como se caso o soltasse, fosse evaporar. Regulus também sentia como se isso não estivesse longe da realidade, apertando-o contra si para evitar que desaparecesse.

Mesmo nos braços de Remus, não conseguiu dormir. As vozes em sua cabeça voltavam a fazer  barulho. E ele, mesmo dormindo, mantinha-se a segurá-lo contra o peito, embora com o enlace fraco.

Um suspiro baixo cortou o silêncio da noite.

Não deveria estar ali.

Lamentava pelo que podiam ter sido. Lamentava viverem em um tempo que não deveriam se amar. Um tempo em que estavam fadados à tragédia.

Não havia esperança, embora se atrevesse a pensar que dias melhores poderiam vir. Ao menos para ele.

Tocou o rosto de Remus suavemente, contornando suas feições com as pontas dos dedos com cautela, temendo acordá-lo.

"Eu te amo, Remus…" Sussurrou para a noite, um segredo que se perderia nas estrelas. "Sinto muito."


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Notas finais do capítulo

Ai meu ship.



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