Oitenta vezes. Foi o numero de vezes que tentei me matar naquele mês sem o minimo sucesso. Nem de longe eu conseguia chegar perto de quem queria e todos diziam que eu começava a ficar sem inspiração para novas tentativas.
    Comecei a ficar conhecida. Vinte cortando os pulsos, três me jogando de um penhasco, dez dando um tiro no coração, mais umas trinta me jogando da ponte caindo diretamente no mar, entre outras vezes... e nada. Nenhum sucesso, todas as vezes algo me acontecia. Meu sangue parava de circular e como se criasse uma nova rota de fuga, passava por outra veia e não saia nem um pingo de sangue daquela veia. Todas as vezes, como se um anjo aparecesse ou colocassem colchões no chão, eu simplesmente não batia contra o chão, as balas simplesmente pareciam sumir no momento certo fazendo-me verificar se havia mesmo carregado a arma. Outras vezes, simplesmente conseguia respirar debaixo d'água como se algo me cobrisse contra a agua. Como era possível?
    Me dizeram que Deus não achava que fosse a minha hora. Outros se desesperaram dizendo que era o fim dos tempos, o Apocalipse, onde ninguém poderia morrer. Mas isso era falho. Só eu não morria, os outros continuavam a morrer, cada vez em mais números. Será que ela se revoltou e resolveu matar à todos?
    Não acreditei que ela poderia estar com tamanha raiva de mim.
    Me senti tão sozinha e minha nova companheira, minha amiga era a depressão. Eu tinha pelo menos 30 por mês; e em todas as minhas depressões eu tentava inutilmente me matar.
- Esta ficando louca, Lis. Devia parar com isso. - Era o que todos me diziam.
- Vai pra merda! - Foi a ultima coisa que falei com os seres humanos. Depois disso me tranquei em meu apartamento.
    Durante aquele mês eu nao trabalhei, não fui para a faculdade, não vi meus pais, não liguei para ninguém... Eles sabiam o que acontecia pelas noticias no jornal. Eu sabia que ela também sabia o que acontecia comigo.