Todos os meus músculos gritavam em protesto contra aquela coisa que acontecia dentro do meu corpo. Tremia por fora e por dentro. Choro e desespero estavam por vir, eu sabia. Eu morria por dentro. Ele me magoava e sabia disso. Tudo o que eu tinha que fazer era tomar coragem e manda-lo embora.
Estranho. Eu ainda não tinha começado a chorar e nem me desesperar. Algo dentro de mim indicava que eu estava criando um "escudo" contra ele. Desastroso. Eu tinha que tomar uma decisão rápida e eu não sabia qual!
Minutos se passavam e eu continuava calma. Não demorou muito até que ele me magoou novamente. Daquela vez foi mais forte e meu "escudo" cedeu drasticamente me obrigando a ter uma crise. Meu corpo já estava marcado e nada que fizessem ia mudar isso. Estava vermelho e quase sangrava. O suor que escorria pelo meu corpo fazia com que aquilo ardesse. Eu queria que aquilo parasse o mais rápido possível, mas como obter sucesso quando alguem faz questão que você fique mal?
Eu queria ir para um lugar mais calmo - adiantar minha viagem para o céu. Eu estava certa do que queria e me sentia bem sentindo aquela vontade louca de morrer. Eu tinha dois passos curtos entre a loucura e o suicídio.

Mais alguns segundos e eu iria deixa-lo. Eu não tinha coragem para isso. Mais uma vez ele me magoou e eu não tive escolhas. Aquele era o meu destino. Aquela era a minha sina: eu morreria por ele. Eu nao tinha motivos fortes o suficiente para continuar viva.
Entre nos dois o silencio prevalecia. Dentro de mim angustia. Dentro dele insatisfação. Deixei que o silencio tomasse conta de nos dois. Não tínhamos nada para dizer um ao outro.

Deixei as marcas se aprofundarem e me derreti entre sangue e amor. Deixei escapar um gemido entre os dentes. Ele estava calmo; não se preocupava com o que aconteceria, mesmo sabendo que eu estava prestes a morrer.
Me desliguei de sua voz e de suas lembranças e me concentrei inteiramente na minha dor enquanto provocava mais dor externa. Aquilo começava a me incomodar mais. Eu não ia parar tão perto do fim, ia?!
A escuridão alcançou meus olhos e já não ouvia mais nada. Ela chegava lentamente com um belo sorriso estampado no rosto. Agradeci aquilo com todas as forças dentro de mim. Ela me abraçou calorosamente e sussurrou em meu ouvido:

- Esta prestes a acabar, meu anjo, espere mais um pouco. - Enquanto falava comigo, tentando me tranqüilizar, beijava minha face carinhosamente.
Como era bom te-la por perto falando coisas lindas e... me beijando! Ela sem duvida era a minha única amiga, a única que me amou incondicionalmente, a única que me compreendia e mesmo sabendo que era "obscura" mantinha-se perto de mim. Eu amava o quanto ela me amava. Amava como ela me possuía devagar e com desejo.

Eu queria poder te-la por um momento para lhe explicar como era bom te-la ali. Será que ela sentiria o mesmo?
- Sim, eu sentiria, meu amor. Acalme-se e relaxe agora. - E me beijando apressadamente me fez esquecer do porquê estava ali com ela.
Era tão gostoso sentir sua mão percorrer o meu corpo com desejo (talvez tenha sido a única que me desejou com tamanho desejo.) Eu queria possui-la como ela me possuía. Queria poder te-la como ela me tinha. Queria poder ama-la como ela me amava, queria...
- Já me sinto bastante honrada por você ter tido tanta pressa para me ver. - Ela sorrio alegremente e me deu um ultimo beijo caloroso. - Alguma coisa para dizer?
- Eu te amo, Morte. - Eu sorri e dei leve beijos em sua boca.
- Eu também te amo, querida Elis. - Ela riu e me apertou num abraço.