Uma Filha Do Cemitério De Čelákovice escrita por kagomechan


Capítulo 3
A mulher misteriosa




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Ciara não era de recusar uma oferta daquelas depois do que aconteceu, por mais que não soubesse quem era a estranha mulher. Tentaria ao menos resolver esse problema e talvez tentar entender mais do que havia acontecido.

— Aquele homem… quem era? - perguntou Ciara.

— Um verme. - respondeu a mulher - Isso é tudo o que precisa saber.

— Pra ter virado um morcego e pelas presas… eu chutaria que ele era um vampiro. Mas falar isso já me parece estranho… vampiros não existem… - disse Ciara.

— Que explicação daria para o que acabou de ver então? - perguntou a mulher com um sorriso desafiador enquanto andavam.

— Alguns fazem pegadinhas de Halloween mas… - disse Ciara demorando para continuar sua frase - Isso não parece isso… eu… eu não sei como vou conseguir dormir hoje sabendo que vampiros aparentemente existem.

— Não precisará se preocupar com isso se não convidar nenhum para entrar em seu quarto de hotel. - disse a mulher - Ele é seu. Mesmo que seja só alugado.

— Tenho que juntar coisas de prata também? - perguntou Ciara.

— Isso é para lobisomens. - respondeu a mulher dando uma risada.

— Oh… acho que é… - disse Ciara com uma risada nervosa tentando mostrar estar mais calma do que realmente estava - Será então que tenho que comprar aquelas lâmpadas que imitam a luz do sol? Luz do sol funciona contra vampiros né?

— Uma lâmpada dessas não deve passar de um escudo mas, sim, luz do sol. - concordou a mulher.

Brevemente, Ciara aproveitou a chance da conversa para prestar atenção na mulher falando. Contudo, não via nada de extraordinário nos dentes da mulher. Talvez isso fosse bom. Ainda sentia que estava fazendo uma péssima escolha em confiar naquela mulher. Todavia, suas breves olhadelas não passaram despercebidas. Apesar disso, a mulher nada disse.

Alguns minutos depois de caminhada, as duas chegaram diante do hostel de Ciara. Foi uma caminhada cheia de perguntas sobre vampiros mas sem muitas respostas definitivas. A misteriosa mulher desviava do assunto ou só respondia aquilo que já se podia ter certeza depois da experiência pela qual Ciara havia passado ou depois de ver um ou dois filmes de terror. Com um suspiro aliviado, Ciara agradeceu aos deuses por ter chegado no hostel. Com um sorriso e se sentindo culpada por ter julgado mal a mulher, Ciara olhou para ela para agradecer.

— Obrigada. - disse Ciara - Ainda vai ser difícil dormir mas, obrigada pela companhia.

— Nada… - disse a mulher - Minha mãe sempre dizia que uma mulher tem que ajudar a outra.

— Gostei da sua mãe - disse Ciara rindo - Aliás, terminei sem saber seu nome.

A mulher parou por uns segundos pensando se deveria ou não se apresentar. Dando de ombros para as vozes internas que julgavam a situação em sua mente, ela respondeu:

— Amálie. Me chamo Amálie. - respondeu a mulher.

— Que nome bonito e diferente! - disse Ciara.

— É relativamente comum por aqui. - disse Amálie.

— Meu nome é Ciara. Sou da Irlanda, por lá não é muito comum. - disse Ciara.

— Bem, Ciara da Irlanda, tome cuidado e tenha uma boa noite. - disse Amálie.

Um sorriso abriu no rosto de Amálie e Ciara viu com seus próprios olhos as presas crescendo naquele sorriso. Ciara ficou de olhos arregalados e Amálie riu antes de virar um morcego e voar pela noite.

A jovem viajante não sabia dizer por quanto tempo ficou ali boquiaberta tentando processar a situação, mas sabia dizer o quanto havia dormido aquela noite: nada. Cada barulho dos galhos de uma árvore perto, cada madeira rangendo do prédio, cada passo dos outros hóspedes era um motivo para ela se assustar. Até que, com o passar das horas, o dia amanheceu revelando as olheiras em seu rosto.

Ciara focou nas atividades que tinha que fazer. Arrumar a mala, checar passaporte, contar o dinheiro… estava na hora de preparar as coisas para deixar Praga para trás e partir para a próxima cidade. Com a pesada mochila nas costas, ela deu um último olhar não só para o hostel, como também para a rua na qual ele estava. Não muito surpreendentemente, ela não via nenhum morcego por ali.

Em seu caminho até a estação central de Praga, ela resolveu passar pela igreja onde quase um desastre aconteceu na noite anterior. A luz do sol brilhando forte a dava talvez mais confiança do que ela deveria ter e foi exatamente por isso que ela entrou no cemitério. Timidamente, ela passou pelos vários túmulos ignorando o padre que também caminhava por ali. Ciara tentava se lembrar qual túmulo Amálie estava botando uma vela na noite anterior. Se fosse da mãe, Ciara se sentia na obrigação de agradecer a mãe de Amálie pela ajuda que a filha lhe dera. Essa ideia então lhe pareceu estúpida. Amálie era uma vampira… não era? Será que tinha mesmo algum parente enterrado naquele cemitério?

A pergunta rapidamente foi resolvida quando um túmulo se mostrou diferente dos demais. De longe, ele parecia só mais um túmulo cuja grama não havia sido cortada a muito tempo, mas, de perto, Ciara viu que a grama escondia o fato de sobre onde estaria enterrado o caixão existir uma grade de ferro. De repente, a irlandesa lembrou de ter visto sobre isso na internet. Antigamente as pessoas faziam isso em túmulos para evitar que os mortos se levantassem como vampiros ou zumbies.

— Ah, outra viajante? - disse uma voz atrás de si fazendo Ciara se sobressaltar mas logo suspirando aliviada ao notar que era o padre - Lamento. Não tive a intenção de assustá-la.

— Tudo bem… desculpa… é que foi uma.. .longa noite… - justificou Ciara.

— Ah sim. Viajar pode ser bem cansativo. - disse o padre olhando para a absurdamente grande mochila em suas costas - Entendo que Praga tenha muitos atrativos, mas ainda acho peculiar vez ou outra surgir alguém querendo olhar esse túmulo.

— Outros vem até aqui? - perguntou Ciara.

— Sim. Claro. Alguns viajantes e jovens movidos pela curiosidade de ver um túmulo.. vampírico…  - disse o padre julgando a ideia como tola e ridícula - Não me importaria se fosse só a curiosidade, mas notei desde que comecei a tomar conta dessa igreja de que uma mesma garota vem periodicamente.. aposto que são esses jovens com essas idéias tolas de imitar filmes de terror.

— A idéia de vampiros é muito popular por aqui? - perguntou Ciara imaginando que talvez soubesse quem era a tal garota sobre a qual o padre falava.

— Ah sim. Desde muitos séculos atrás. Numa cidadezinha à leste daqui, chamada Čelákovice, está localizado o maior cemitério vampírico do mundo. Um homem achou por acaso quando queria fazer uma reforma no jardim dele. - disse o padre achando graça da situação que levou à descoberta -  Dizem ser vampírico por causa de como os corpos foram enterrados. Vários deles. Dizem que é do século 11.

— Sério?! - perguntou Ciara surpresa.

— Sim sim. - afirmou o padre - Apesar de ninguém saber exatamente qual a história do cemitério.

Ciara teria adorado ficado conversando mais com o padre, mas eventualmente teve que ir pois se não perderia o trem. Seu caminho até a estação de trem foi cheio de questionamentos em sua mente e, após entrar no trem de alta velocidade que a levaria ao seu próximo destino, ela se perguntava se um dia iria encontrar a misteriosa vampira de cabelos negros de novo para enchê-la de perguntas que faria de tudo para ter respostas.

 


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Notas finais do capítulo

o cemitério vampírico de Čelákovice existe mesmo e de fato é o maior cemitério de vampiros do mundo. n q tenha muito para competir.

espero q tenham gostado, ainda n sou muito boa de fazer coisas darks (E coisas pequenas kkk). foi legal para treinar de toda forma. beijinhos e até a proxima história que nos encontrarmos ♥



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