Já tinha ido a centenas de bailes como aquele, tudo em nome da fundação Stride, que sempre apoiava causas humanitárias, ciências e tecnologias e por trás dos panos, os Anormais. Até porque a fundadora da Stride é uma anormal.

— Senhora Elizabeth, eu sei que eu sou boa nessas coisas, sorrir, cumprimentar e ouvir, mas a Rae sabe distrair essas pessoas. – Tudo o que queria naquele momento era pegar seu carro e voltar para seu apartamento tirar aquele vestido apertado e se livrar dos saltos torturantes.

— Adalind, não preciso que distraia ninguém, represente a fundação e entregue a minha mensagem, depois saia. – Sua voz era calma do outro lado da linha, mas sua autoridade era clara.

O barulho ao fundo atrapalhava a chamada, então deixou o canto perto da janela e foi até um corredor afastado.

— Meu tempo no Texas me deixou enferrujada. Se a Rae não tivesse ocupada...

— Adalind.. – Podia imaginar o sorriso do outro lado, que sempre lhe dava motivação de seguir em frente. – Texas mostrou que você se encaixar em qualquer lugar.

— Tem razão, e eu só preciso aguentar por umas duas horas.

Meia hora foi o máximo que conseguiu antes de aceitar cada taça de champanhe que os garçons que passavam ao seu lado serviam, não era como se pudessem fazer qualquer efeito, o teor alcoólico era baixo, e seu metabolismo impedia de ficar bêbada.

— Me daria à honra desta dança, senhorita..? – O cavalheiro era um jovem que parecia estar tão entediado quando a loira. Uma dança seria uma ótima distração.

— Stride, Adalind Stride. – Estendeu a sua mão e o deixou guiar até o centro do salão. – E qual seria seu nome?

— Dimitri Karaulov. – Seus olhos clareavam com a iluminação do ambiente, mas o sorriso era de tirar o fôlego.

— Um russo. – Gostava da Rússia, tinha ótimas lembranças do país. – Seu país de origem é encantador.

O tempo passou rápido em quanto estava com uma companhia tão agradável quanto aquele jovem rapaz, caminharam até o bar depois que foi insuportável continuar dançando em cima daqueles saltos monstruosos. Em meio aos drinks algo atrás do russo lhe chamou atenção, uma figura bem conhecida na sua família. Se despediu do rapaz que pareceu muito confuso e seguiu discretamente o homem de cabelos espetados, Nikola Tesla.

Seus passos rápidos mostrava preocupação, ele estava agitado, algo estava acontecendo ou estava para acontecer.

— Vamos Helen. – Murmurava Tesla.

Seguiram para longe do barulho do salão e entraram em um corredor largo. Um péssimo lugar para se esta quando seguia alguém, mas precisou seguir em frente, uma vez ou outra precisou se esconder atrás de uma pilastra ou uma estatua quando o vampiro olhava para trás desconfiado.

Tesla fez uma curva no corredor quando uma mulher de cabelos vermelhos apareceu trajando vestes bem inapropriadas para um baile de gala.

— Helen! Graças a Deus – Ele estava aliviado, seja qual era o problema era serio Nikola Tesla não ficava abalado por qualquer coisa. – Onde esta o Jonny?

— Pensei que estava com você, antes de nos separarmos ele falou que iria procura-lo. – Eles se encararam com os olhos arregalados.

— Essa não. – Falou Tesla preocupado.

— Talvez vocês só se desencontraram. – Helen Magnus tentou ser positiva.

Quando Adalind piscou seus olhos para lubrifica-los um homem todo de preto com um sobretudo longo apareceu atrás da Magnus e quebrou seu pescoço de mãos nuas. Tesla gritou o nome da cientista e partiu para cima do homem.

Adalind tampou a boca com suas mãos para impedir um grito de sair. Trabalhava com a Stride, mas não estava acostumada com mortes, e muito menos assassinatos. Quando aceitou a missão de ser a mensageira foi justamente porque era improvável ter que lidar com cenas como a que tinha acabado de testemunhar.

— De todos os assassinos que poderiam cruzar o meu caminho tinha que ser justo o Druitt? – Lamentou Adalind em sua mente. Suas mãos foram para dentro de sua bolsa de mão, agarrou o relógio de bolso e ficou com a mão no botão.

— Você matou a Helen, Jonny! – Gritou em quanto iniciava uma luta corporal.

John Druitt não disse uma única palavra, sua mente nem parecia estar consciente do que acontecia.

Em quanto à briga se desenrolava os objetos de decoração eram destruídos. Tesla foi jogado contra a parede destruindo um quadro abstrato, que deveria custar mais de cinco dígitos. O embate não demorou muito para ser finalizado, Druitt tinha a vantagem, e na primeira oportunidade arrancou o coração de Nikola Tesla.

— Não! – Druitt encarou Adalind com um olhar vazio. Desesperada clicou no botão e sua consciência foi transportada há uma hora no tempo.

— Adalind, não preciso que distraia ninguém, represente a fundação e entregue a minha mensagem, depois saia. – Tinha voltado para o momento que conversava com a Elizabeth sobre suas inseguranças.

Foi para um canto afastado onde o barulho da musica não atrapalharia a conversa e repetiu as mesmas falas que havia dito na primeira vez que conversaram.

— Meu tempo no Texas me deixou enferrujada. Se a Rae não tivesse ocupada...

— Adalind..Texas mostrou que você se encaixar em qualquer lugar. – Disse sua tutora

— Tem razão, e eu só preciso aguentar por umas duas horas.

Desligou o aparelho e o devolveu a sua bolsa, com pressa andou até o corredor onde havia seguido Tesla e Magnus, obviamente eles não estariam por lá, mas precisava saber por onde eles poderiam ter entrado, Magnus não vestia trajes a rigor e nem o Druitt, somente Tesla estava vestido para a ocasião.

— Ele esta na festa! – Deduziu a loira. Pensou em sair procurando pelo vampiro, mas já estava no corredor, iria procura-lo em outro momento, ainda tinha uma hora antes do desastre acontecer. Verificou cada porta que seguia ao longo do corredor e nada dos integrantes do trio, estava começando a se preocupar, os minutos estavam se passando em breve eles seriam mortos.

Seguiu para o outro lado do edifício, precisava cobrir terreno e rápido. Para sua sorte conseguiu encontrar um deles, John Druitt, não era muita sorte levando em conta que ele era o protagonista das histórias de terror que ouvia da senhora Elizabeth, mas era o que tinha.

O Estripador estava caído no chão em quanto seu adversário estava por cima dando socos em sua face, mas ambos se distraíram quando a porta do cômodo foi aberta, Druitt aproveitou para teleportar e por três segundos torturantes Adalind esperou, até que o ex-noivo de Helen Magnus caiu do teto caindo em cima da mesa, quebrando-a, seu adversário que tinha a face ocultada pela penumbra do cômodo apareceu de pé ao seu lado. Com brutalidade ergueu o homem caído pelas vestes e o encarou.

Com a imagem do estripador assassinando Helen Magnus e Nikola Tesla em mente, Adalind Stride levantou a saia do vestido e pegou sua arma sônica e disparou no adversário de Druitt, a arma disparava ondas sônicas para atordoamento, sua potencia estava equilibrada para adversários bem maiores, então o oponente de John Druitt foi jogado pela janela do edifício.

Suas pernas correram direto para o homem ferido em meio aos restos do que um dia foi uma mesa. Ele tinha alguns hematomas e cortes espalhados em áreas visíveis como a face e o pescoço.

— Você esta bem? – Perguntou em quanto se aproximava com cautela. O Druitt lhe encarou confuso, imaginando porque motivos uma jovem garota estaria fazendo naquela sala e como acabou sendo salvo por ela.

— Quem é você? – Disse com outra pergunta.

— Adalind. – Respondeu a loira apontando sua arma atordoante para o coração do estripador. – Quem era o cara que estava te dando uma surra?

Os olhos do Druitt se semicerraram, seu orgulho masculino tinha sido ferido ao perder o combate contra um adversário magricela.

— Deixe que os adultos cuidem disso. – A loira arqueou a sobrancelha irritada.

— O mesmo adulto que acabou de ser salvo por uma garotinha? – Rebateu Adalind com um sorriso debochado. – Essa arma que eu estou apontando para você pode não ser letal, mas pode fazer um estrago se eu apontar para sua cabeça.

O homem sorriu, e em seguida desapareceu da vista da loira, que ficou confusa, mas não por muito tempo. Druitt reapareceu as suas costas, imobilizando seus braços, a deixando incapacitada de usar sua arma.

— Se não quiser ter uma morte lenta e dolorosa você deve ficar longe do meu caminho. – Avisou com seu forte sotaque inglês.

— Acredite tudo o que eu mais quero é ficar longe de você, mas você matará o Tesla e não posso permitir isso. – Disse Adalind sem deixar transparecer seu medo pela a ameaça.

Druitt apertou ainda mais seu braço contra suas costas.

— O que quer dizer com isso? – Perguntou confuso.

— Por algum motivo você irá para o outro lado do prédio e irá matar a Helen Magnus e o Nikola Tesla. – O aperto a incomodava então disse o que o mesmo queria saber.

— Como sabe disso se não aconteceu ainda?

— É complicado, mas resumindo: Minha consciência voltou no tempo. – Explicou a jovem Stride. – Mas acho que mudei a versão, você se separou da Magnus e veia para essa sala lutar contra aquele cara, e eu interferi.

— E ele não pode influenciar minha mente contra os outros. – Completou o Druitt, soltando Adalind.

— Então você me deve um obrigado. – Disse cheia de pose, mas foi ignorada pelo Druitt.

— Me leve até onde você os viu – A garota suspirou, e então guiou o homem até o maldito corredor. Nenhuma palavra fora dita pelo caminho, Adalind não se incomodou com o silêncio, a presença do Druitt a intimidava a ponto de não conseguir encara-lo por muito tempo.

Ao chegarem no corredor avistaram a figura de Tesla e Magnus, ao se encararem viram que seus olhos estavam vazios, como se sua mente consciente estivesse sido desligada e seus corpos fossem controlados como marionetes.

— Chegamos tarde. – Comentou Adalind dando um passo para trás.

Helen Magnus partiu para cima do Druitt, que tentou contê-la sem lhe machucar muito, mas a arma que ela empunhava dificultava as coisas. Já o Tesla se virou para Adalind que correu desesperada para longe do perigo, no entanto não pode ir muito longe por causa do vestido e pelos saltos, acabou tropeçando e caindo da escada.

Quando percebeu o que tinha acontecido Tesla estava em cima de seu corpo com suas presas amostras e seus olhos negros brilhando, soltou um grito quando sentiu a mordida em seu pescoço. Durante a queda havia perdido sua arma, mas por sorte sua bolsa caiu perto de seu corpo e tateou o relógio e clicou no botão.