A Flor de Cerejeira do Mar escrita por BellatrixOrion


Capítulo 6
Capítulo 6 – A Flor de Cerejeira do Mar


Notas iniciais do capítulo

Eu sei , eu sei. Estou atrasada.
Mas, a última semana foi uma correria fora do normal. Estou me recuperando ainda da maratona.

But enfim, estou aqui com o último capítulo da Flor de Cerejeira do Mar ♥

Espero muito que vocês gostem, admito que chorei enquanto escrevia esse final, que foi uma verdadeira surpresa até para mim, porque não tinha sido assim que eu havia imaginado, mas foi a maneira correta de trazer uma conclusão a essa história que vai estar guardada comigo por muto tempo ♥

Enfim, chega de enrolar! Boa leitura! Nos veremos lá embaixo!

~Bellatrix ♥



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Capítulo 6 – A Flor de Cerejeira do Mar

Eu ainda tenho um sonho

Como a luz fraca no céu noturno

A pessoa em minhas lembranças deslumbrantes

Lembro-me vagamente

~*~

Nas pétalas de flores espalhadas pelo vento

Eu sinto o seu aroma quente

Como se estivesse passando por

Nosso curto encontro

~*~

Da luz das estrelas no céu

Eu posso sentir sua respiração quente

Como o destino, se eu pudesse

Permanecer com você

E respirar

~*~

Sob o mesmo céu

Estou com você

Eu tenho medo de que nós sejamos apagados

Se eu pudesse caminhar até

O horizonte do mar azul

Eu jamais soltarei sua mão

Wind Flower – [The Legend of the Blue Sea]

~*~

Os canhões troavam, as bandeiras brandiam.

A multidão da cidade aproximava-se cada vez mais do navio que flutuava tranquilamente no porto náutico. A frente deles, noivo e noiva caminhavam e acenavam alegremente vestidos em seus trajes nupciais. O momento estava enfim chegando.

— Nos casaremos ao nascer do sol, Sasuke-san! Será a mais bela visão que verá em toda a sua vida!

— Você é esta minha bela visão, querida Karui.

— Sim... Eu sou.

No centro do convés do navio fora erguida uma suntuosa tenda de púrpura e ouro. Estava repleta de luxuosas almofadas para os recém-casados, que deveriam dormir ali naquela noite fresca e calma. As velas inflaram com a brisa, várias lanternas de toda sorte de cores foram acendidas, o sacerdote já preparava-se para o início da cerimônia e as pessoas já começavam a espalhar-se barco a dentro.

Quando todos já estavam a bordo, o navio deslizou leve e suavemente sobre os mares claros.

Naruto continuava esquivando-se das servas encarregadas de servir os convidados com litros e litros de sake. Ele perguntava-se como era possível nenhum dos tripulantes ter passado mal ou colocado tudo para fora depois de tanta bebedeira.

Injuriado com tudo o que acontecia, decidiu descer até o porão do navio mais uma vez, buscando refugiar-se daquela festa infernal e saber como a amiga muda estava. Mas, tamanha foi sua surpresa ao depara-se com um gigantesco buraco no chão do cômodo. Água e mais água inundavam o lugar. Perguntava-se como raios o navio não tinha já começado a reclinar a àquela altura, porém, foi surpreendido quando um corpo irrompeu as águas intrusas e o puxou de encontro a elas.

No susto, acabou fechando os olhos. Mas não deixou de lutar para tentar sair do aperto ferrenho que o parecia puxar cada vez mais para o fundo. O ar estava prestes a acabar, mas enfim ele tomou coragem para abrir os olhos e encarar seu raptor, porém o que suas írises azuis não esperavam era encontrar um rosto tão angelical. Os curtos cabelos negros estavam repicados e sem corte correto, os olhos perolados eram sérios e incisivos, mas o que realmente o assustou não foi o fato da jovem mulher estar nua da cintura pra cima, mas sim que da cintura para baixo não existia nada além de uma longa e escura calda de peixe.

Por um misero segundo esqueceu-se que precisava segurar o ar, abrindo a boca e exclamando em espanto. Entretanto só foi dar-se conta de sua tolice quando percebeu sua visão escurecer e seus pulmões serem invadidos pela água salgada.

Notando a atitude curiosa do humano, Hinata parou o seu nado e voltou a encara-lo interessada, pequenas bolhas ainda deixavam a boca do loiro desconhecido, mas foi ai que pode perceber que ele não parecia estar encantado como os outros presentes na festa, não havia rastros de magia ali, por isso o levou de volta para a superfície com agilidade, especificamente, para o buraco que levava ao porão do navio.

Assim que sua cabeça emergiu, a tosse o acometeu, expelindo todo e qualquer resquício de água que ainda poderia existir dentro de si.

— Porque não está encantado? Não se rendeu ao engano da feiticeira?

— Eu... Cof cof... Não faço ideia do que está falando!

— Quem é você? Seu nome! — Inqueriu firme.

— Na-naruto!

— Na-naruto?

— Hinata! — Sakura surgiu no meio das águas ao lado de Tenten — Este é aquele que Sakura nos avisou para não machucar! O humano amigo do amante dela.

O entendimento recaiu sobre a morena, ajudando prontamente o loiro a sair dali e refugiar-se na superfície ainda firme do porão.

— Peço desculpas por ela — A mulher de cabelos castanhos voltou a falar — Ela não poderia deixar que ninguém que estivesse sob o encanto de Karui descobrisse que estamos aqui.

Naruto, obviamente, continuava a encara-las sem realmente acreditar, certamente pensava que havia batido a cabeça com força em algum momento que lhe tinha fugido de sua memória — Sereias? Então as pérolas... Eu sabia que havia algo, mas nunca pensei que... — A rosada apenas acenou que sim, entendendo onde o amigo tentava chegar — Espere! Sakura, seus cabelos... — Ela o interrompeu com um acenar de mão, ergueu-se das águas e foi de encontro a ele, envolvendo-o em um longo abraço. Não era necessário mais nada enfim, ele já tinha compreendido o que ela queria dizer.

Afinal, foi um longo ano convivendo juntos para tal.

— Não há tempo para explicações, mas Sakura não tem muito tempo — Hinata voltou a falar atraindo a atenção dos dois amigos, porem agora da sua maneira mansa e costumeira. Naruto não pode deixar de pensar que era uma voz incrivelmente doce e acolhedora — A mulher que está prestes a se casar com o seu amigo é uma feiticeira maligna. Ela enfeitiçou Sakura e seu destino com magia negra. No momento que ela se casar com o homem, Sakura morrerá. Por isso, precisamos impedir antes que o dia amanheça.

— Nos ajude humano, por favor — Foi a vez de Tenten se pronunciar, alcançando a margem do assoalho, encarando-o firmemente — Ela precisa de nós.

— O que devo fazer?

~*~

Os marinheiros e convidados dançavam alegremente no convés. As luzes coloridas das lanternas tornavam o ambiente festivo e agradável. Afastados dali, Naruto circundava seu braço direito com o de Sakura, mantendo-a sempre próxima de si. A menina agora estava trajando uma roupa diferente, parecia-se muito com as servas da bruxa que andavam de um lado para o outro no convés do navio. Seu rosto estava coberto por um véu e seus cabelos, agora curtos, ocultados com uma considerável camada de pigmento vermelho, que o próprio Naruto havia furtado momentos atrás na cozinha do navio.

Sakura não pôde deixar de pensar naquela primeira vez em que tinha emergido do mar e contemplado uma cena de festejos jubilosos igual a esta que se desenrolava diante de si naquele momento. Ela sabia que aquela era a última noite que veria o príncipe, por quem abandonara sua família e seu lar, por quem sacrificara sua linda voz e sofrera horas de agonia sem que ele suspeitasse de nada. Era a última noite em que respiraria o mesmo ar que ele, contemplaria o mar profundo e o céu estrelado.

Suspirou.

Mas, se era essa a maneira de salva-lo, faria de bom grado.

Ao longe, no meio de tantos convidados, ela pode ter um vislumbre de seu amado Sasuke. Ele beijava sua adorável noiva, que brincava com seu cabelo escuro. Sentindo o aperto em seu peito doer muito mais que a dor que afligia seus pés cutucou o braço do amigo e acenou, estava na hora. Ele a soltou ainda relutante e se afastou por entre a multidão, mas não o suficiente para perde-la de vista.

Os tambores começaram a tocar mais uma vez, anunciando a dança pré-cerimonial. Todas as servas pausaram seus serviços e se dirigiram até o centro do convés, onde os noivos e o sacerdote já aguardavam. Todas tornaram a dançar, não um conjunto de movimentos sincronizados e espelhados, mas cada uma a sua maneira. Tudo era regozijo e diversão, a aura de alegria dos convidados enfeitiçados inebriava o ar. E agora ela entrou na dança, desviando e precipitando-se com a leveza de uma andorinha. Nunca antes ela dançara com tanta elegância. As facas pareciam ainda mais afiadas de encontro aos seus pés, poderia jurar que eles até mesmo sangravam sem que ela percebesse, mas manteve a postura calma e contida, como todas as outras assim faziam.

Sentia o assoalho de madeira firme contra seus pés, suas irmãs ainda mantinham o navio flutuando, mas sabia tamanho esforço que elas estavam precisando fazer. Precisaria ser rápida.

Imperceptivelmente, Sakura aproximou-se mais e mais de onde os noivos estavam, a lâmina escondida no obi de seu kimono trazia-lhe um calafrio todas as vezes que sentia o metal frio contra o tecido da roupa, transpassando para a sua pele.

Quando viu que já estava próxima o suficiente, num movimento rápido, tirou o punhal e avançou na direção de Karui.

Ela não teria outra chance caso está falhasse.

Infelizmente, para seu infortúnio, o movimento foi parado poucos centímetros antes de atingir a bruxa. Sasuke a olhava com aqueles olhos opacos e sem vida enquanto segurava firmemente a lâmina do punhal com sua mão esquerda. A madeira do chão estava se tornando vermelha a cada gota de sangue que caia do Uchiha.

— Olá querida, já iria mandar lhe trazer, mas vejo que você se adiantou para vir até mim — o sorriso doce estava ali mais uma vez, jamais se assemelharia ao diabólico e cruel que Sakura encontrou nos seus delírios — Guardas, prendam-na.

Dois homens fortes agarraram seus braços, obrigando-a a ajoelhar-se. Seu rosto estava próximo a pequena poça de sangue que deixara a mão de seu amado e não pode evitar que o aperto em seu peito se tornasse ainda mais sufocante. Não haveria outra chance.

— Não sei quem pode ter te ajudado a escapar, mas admito que seu cabelo está horrível. Não só por esse pigmento exagerado, mas também esse corte tenebroso. Bem, deve ter sido impossível desfazer o nó que os soldados fizeram... Enfim, que bom que está aqui — Pegou o punhal que Sasuke ainda segurava firmemente. O jovem príncipe o encarava quase como se estivesse em transe, mas a bruxa não deu muita atenção ao comportamento estranho, voltando-se para Sakura logo em seguida, deliciando-se com toda a situação —  Eu iria deixar para lhe ver morrer se dissolvendo nas espumas do mar ao amanhecer, seria uma visão majestosa, digna de uma grande pintura para eu pendurar no quarto imperial do palácio, porém, graças a sua petulância, lhe presentearei com uma morte docemente dolorosa... E talvez até faça uma pintura dela também — Jogou o punhal diante de si e pisou sobre a lamina afiada e brilhante, estendeu a mão para um dos soldado, e este lhe entregou prontamente sua arma. Uma longa lança de lâmina curvada — Curiosa para encontrar-se com a morte?

  Orgulhosamente, a pequena menina ergueu o tronco, levantou o queixo e encarou os olhos verdes transmutados da feiticeira. Mesmo que aquele fosse o seu fim, não teria medo, não poderia. Havia prometido a si mesma.

 Não conseguindo evitar, direcionou seus olhos na direção do jovem príncipe, dono de seu coração, queria lhe pedir perdão por não poder salva-lo. Mas Naruto estava ciente agora, suas irmãs encontrariam outra forma de parar Karui, e tudo estaria bem. Sasuke poderia viver uma vida longa e feliz ao lado de alguém que ele amasse, e o mais importante, estaria vivo! Ela queria partir com essa esperança.

Entretanto, tamanha foi a sua surpresa ao ver um leve brilho retornar aos olhos negros, que agora não estavam mais focados na grande ferida que se abrirá pela palma de sua mão, mas sim nela. Em Sakura. Nos olhos de Sakura. A menina quase perdeu a respiração.

“Será possível...?”

— Agora, desespere-se, Sakura — Sua atenção foi trazida de volta para a bruxa ao ouvir sua voz, sua própria voz, lhe chamar — E MORRA!

Tudo aconteceu muito rápido, num momento a única coisa que podia ver era o movimento preciso de Karui para ataca-la, no outro, seus olhos verdes esmeraldinos arregalaram-se em horror ao ver diante de si Sasuke sendo atravessado pela lâmina da lança.

— O-o que?

— AGORA! — A voz de Naruto reverberou no meio da multidão, esganiçada e desesperada, todos os convidados pareciam enfim estar começando a sair do transe que estavam contidos, assustando-se com o inesperado grito do guarda loiro de olhos azuis. No mesmo instante, o navio começou a reclinar, suas irmãs não estavam mais evitando o inevitável submergir da estrutura de madeira e isto deixou a mulher maligna desestabilizada, ela acabou soltando a lança num momento de desequilíbrio, libertando também o punhal mágico que se encontrava preso sobre seus pés.

Sakura não soube dizer, mas foi como se seu corpo tivesse se movido sozinho.

Aproveitando o descuido dos guardas, ela avançou até o punhal.

Seus pés doíam muito mais que em qualquer outro momento, quase que insuportavelmente, porém não parou.

Ela agarrou a arma reluzente e a fincou, bem no centro, do ventre da feiticeira.

Gotas do sangue rubro-negro pingaram sobre si.

 Imediatamente uma onda de choque saiu do corpo da mulher, afastando todos que ainda estavam próximos dela. Uma aura negra vasava da ferida que o punhal havia aberto. Karui se contorcia em agonia e desespero, sentindo toda a sua transfiguração lhe deixar, assumindo assim sua verdadeira forma. Os tentáculos cresceram e tomaram boa parte do convés, seus cabelos volveram-se longos e seus olhos voltaram a ser afiados e amarelos.

Mas, ainda não tinha acabado.

No momento seguinte, Karui começou a sufocar, como se uma grande mão estivesse enfiando-se por sua garganta, enquanto ela retorcia-se e transfigurava-se, suas servas também faziam o mesmo, voltando a sua forma original como serpentes do mar.

Naruto encarava tudo horrorizado, queria correr até Sakura e o amigo ferido, mas ele precisava proteger as pessoas. Cortava as cordas dos pequenos barcos com agilidade para que estes despencassem em direção ao mar. La em baixo, as irmãs de Sakura ajudavam pegando-os e os posicionando para receber os tripulantes ainda a bordo.

Naruto agarrou primeiro o Imperador, e sem cerimonias, o lançou para fora do navio. Foi fazendo isso com todos que podia, confiando que as sereias os ajudariam assim que atingissem as águas.

O Pandemônio era aterrador.

Enquanto isso, Sakura encontrava-se abraçada ao corpo de seu amado, a longa arma ainda estava fincada nele, e ela não sabia o que fazer além de chorar. As pérolas que abandonavam seu rosto rolavam pelo convés, até cair no mar.

Então, o urro de dor finalmente saiu das cordas vocais de Karui, mas não era mais a voz de Sakura que provinha de sua garganta, e sim a sua própria. No mesmo instante a garota de cabelos rosas sentiu uma leve coceira no céu da sua boca lhe acometer, provocando uma tosse muito parecida com a de um humano depois de quase se afogar.

Enfim, sentiu uma lufada de ar inunda-la.

E junto deste, sua voz.

— E-eu... Minha voz... Minha voz!

Mas, não parou por aí. Suas pernas tornaram-se moles, não conseguia ter controle algum sobre elas, se estivesse de pé certamente teria caído, uma dor horrível a inundou. Sentia seus ossos unindo-se uns aos outros, viu quando as escamas começaram a rasgar sua carne, protuberando-se por sua pele e, enfim, a cor verde esmeralda pintar-se sobre si mais uma vez, depois de tanto tempo.

Sua calda estava de volta.

A magia negra havia sido quebrada.

— Não... Não, não, não, NÃO! SUA MALDITA! — A feiticeira estava furiosa, ainda contorcendo-se em pavor e em agonia. O machucado ainda gotejava, mesmo com a faca firmemente presa ao seu abdômen, seus cabelos desgrenhavam ao vento e ela podia sentir a morte tórrida à espreita.

Sakura não queria prestar atenção a bruxa, estava concentrada demais em arrastar o corpo semiacordado do príncipe Uchiha até a poça de sangue de Karui do que em qualquer outra coisa. Se aquilo a havia trazido de volta, tinha que traze-lo também. 

A falta das pernas agora era penosa, mesmo com sua força revificada a locomoção não era rápida o suficiente, sem contar que o navio estava cada vez mais inclinado, ela estava indo contra todas a leis naturais por aquele homem.

— Por favor... Não morra!

Mas, antes que pudesse enfim alcançar o sangue, sentiu as mãos calejadas e ásperas do príncipe agarrar firmemente seu braço.

Olhando para ele, não pôde mais se mover.

— Sakura... Eu... Eu...

— Por favor, não fale, eu preciso alcançar o sangue para te salvar, aguente só mais um pouco e então...

— Era você... — Ele a interrompeu — Sempre foi você...

— Oh meu amor — Mesmo estando como sereia novamente, as lágrimas não a deixaram, despencando melancolicamente por seu rosto pálido — Não posso te perder! Não agora!

— Vocês.... — Karui interrompeu. Ela estava próxima agora, muito próxima — Vocês vão pagar! PAGAR COM SUAS VIDAS! EU NÃO IREI SOZINHA!

Mas antes que ela assim pudesse fazer qualquer coisa, o punhal começou a emitir uma luz ofuscante, tão ofuscante que a queimava por inteiro e estremecia os mares.

— NÃO! NÃO!

— Uma troca equivalente — Sakura murmurou, lembrando-se das palavras de Karui no dia em que afirmaram o acordo.

Enfim, uma explosão aconteceu.

A mulher polvo se foi.

O navio, submergiu.

E, juntos, Sasuke e Sakura foram lançados no mar no momento em que o sol nasceu.

~*~

Dois corpos encontravam-se desfalecidos sobre a areia branca da praia. O vento forte arrepiava suas peles e os pequenos grãos amarelos pinicavam, tornando o desconforto um motivo suficiente para desperta-los.

A primeira a abrir os olhos foi Sakura, que retomando suas lembranças, ergueu subitamente seu tronco encarando o jovem príncipe a baixo de si. A lança havia se quebrado na queda, mas uma parte da arma perfurante ainda estava atravessada pelo tronco de Sasuke, provavelmente era isso que ainda o mantinha vivo. Sua Yukata nupcial estava completamente manchada de carmesim, estraçalhada pelos pedaços de madeira quebrados provenientes do navio, sua aparência era deplorável, entretanto, seu rosto pálido parecia em paz, como em todas as vezes que eles estiveram juntos e puderam adormecer um nos braços do outro.

A menina tentou se sentar, mas logo lembrou-se de sua calda, fazia tanto tempo desde que esteve com ela pela última vez que ainda parecia um sonho, seus movimentos eram restritos em terra, mas olhar para a face tão calma do Uchiha estava lhe causando um desespero aterrador.

— SOCORRO! SOCORRO! EU PRECISO DE AJUDA!

Olhou por todos os lados em busca de algo, mas não havia ninguém naquela praia deserta.

Então, buscou no mar algum auxílio.

E realmente pensou tê-lo encontrado.

Das espumas das ondas pode ver suas irmãs e sua avó emergiram, cada uma puxava consigo uma corda e está encontrava-se firmemente amarrada nos barcos que carregavam os passageiros do navio real.

A esperança voltou a brotar no peito da jovem sereia.

— Vovó Tsunade! Por favor! Ajude-me a salva-lo!

— Minha querida... — Ela respondeu triste, olhando profundamente para os olhos verdes da menina ainda na margem da praia, um pouco distante da neta — Não há mais nada que...

— NÃO! Não diga isso! — A interrompeu — Ele não pode morrer! Não agora, não depois de tudo o que tivemos que passar!

— Sakura...

Enquanto conversavam, os passageiros dos barcos haviam enfim alcançado a costa, mas não moviam um musculo se quer. Todos encaravam a cena com uma tristeza imensa, nem mesmo a surpresa e o encanto diante de criaturas tão místicas eram capazes de diminuir a dor que lhes arrebatava os corações. O próprio Imperador, que tentava ao máximo manter sua postura firme, quase não cabia dentro de si mesmo, a imagem de seu filho estirado como morto o estava matando igualmente, como se já não bastasse ter perdido sua amada esposa e seu filho mais velho anos atrás... Tudo o que lhe restava era Sasuke, e nem mesmo ele Fugaku teria mais.

 Naruto, por outro lado, estava parado junto aos barcos, havia ajudado as sereias a desloca-los até ali, suas roupas estavam encharcadas e seus grandes olhos azuis abatidos, mas certamente não era por causa do cansaço. Ver o corpo de seu melhor amigo daquela forma o enchia de uma profunda tristeza. Dentro de si ele já sabia que não havia nada a se fazer, restando-lhe apenas lamentar e chorar pelo amigo que não teria nunca mais.

Porém a verdadeira dor da culpa não estava sobre os ombros dele, mas sim sobre os ombros de Sakura.

Sasuke se feriu por sua causa.

Para salva-la.

Dentro de sua mente, ela não se importaria em morrer para garantir a vida do príncipe humano, mesmo que a consequência fosse dissolver-se como espuma pelas ondas do mar. Saber que ele estaria bem e vivendo sua vida seria o suficiente para faze-la partir em  paz, mas agora não é mais esta a realidade, um tênue fio ainda o mantinha respirando e ela não fazia ideia por quanto tempo esse fio iria aguentar.

Ainda tentando argumentar com Tsunade, sentiu um toque leve e suave sobre sua mão que ainda encontrava-se sobre o peito do rapaz, atraindo sua atenção. Agilmente todos direcionaram suas atenções para o Uchiha, este gentilmente acariciava a mão alva da sereia enquanto um sorriso fraco desenhava-se por seus lábios rachados.

— Sakura... Quem podia imaginar... Que era você... — Ele começou a dizer, mas era tão baixo que somente quem estivesse muito próximo poderia escutar — Não... eu deveria ter percebido, seus olhos seriam o bastante como minha certeza...

— Você não faz ideia do quanto desejei te contar... Até pensei que poderia desenhar e tentar te explicar, mas sempre que me lembrava que você poderia sentir medo ou nojo de mim, eu recuava. A ideia de te perder sempre me aterrorizou..., Mas, agora eu vejo que se ao menos tivesse lhe contado, teria aproveitado cada um dos nossos momentos sem arrependimentos e você não estaria assim, a beira da morte — Lágrimas grossa escorriam mais uma vez por suas bochechas pálidas, os olhos verdes estavam ainda mais inchados e avermelhados e era com muito esforço que ela não deixava que sua voz embarga-se — E agora, estou prestes a te perder para sempre!

— Não... Se culpe... Não será para sempre, Sakura... — Com muito esforço, ergueu sua mão esquerda para ir de encontro ao rosto choroso da menina, limpando as tantas lágrimas que continuavam a cair de seus olhos — Nossos corações ainda vão se encontrar, mesmo que seja na eternidade.

— Eu não sou como vocês, humanos. Não possuo uma alma imortal para a eternidade, meu amor. Quando o meu dia chegar, eu voltarei a ser como a espuma do mar, e me dissolverei pelo infinito oceano.

— Então... — Fez uma pequena pausa — Eu te darei... uma alma imortal.

Aqueles que o ouviram, encararam-no em questionamento e duvidas, não conseguindo entender o que o príncipe queria dizer, mas Tsunade e todas as irmãs da menina compreenderam e sentiram seus corações se inundarem com um sentimento que não poderia ser explicado em palavras, apenas por lágrimas, que elas não estavam permitidas a derramar.

— Como... Como sabes...?

— Se eu ama-la... — A interrompeu — ... Mais que meu pai e minha mãe, e reconhece-la diante dos céus... Minha alma será a sua.... E você será minha.

— Ele sabe sobre a magia profunda... — Tsunade murmurou para si mesma, ainda sem acreditar.

— Sei que não me resta muito tempo..., Mas, eu ouvi está história de minha mãe quando ainda era viva... Que as sereias sofriam muito por não possuírem uma alma imortal... E essa era a única maneira de salva-las do seu fim.

Tanto sua mãe quanto seu irmão mais velho viviam a lhe contar histórias sobre o mar, o Imperador era o único que não sentia essa atração tão eloquente pelas profundezas quanto o restante de sua família. Sasuke sempre desejou encontrar as coisas que ouvia de suas histórias, mas nunca pensou que isso poderia um dia realmente acontecer.

— Eu — Continuou — Sasuke Uchiha... Aceito você, Sakura, como a única em meu coração. Mesmo que não... possa... te prometer que estarei ao seu lado, prometo que meu coração sempre pertencerá a você, por toda eternidade... Porque eu te amo, minha flor de cerejeira do mar.

Naquele instante, mais uma lágrima rolou, porém, desta vez o que abandonou o rosto da sereia não foi uma pérola comum, está era de um rosa quase translúcido, mas também era a mais bela pérola que já se viu um terra ou em mar.

Uma lágrima de felicidade.

Uma pérola de amor.

— Eu, Sakura... Aceito você, Sasuke Uchiha, como o único em meu coração. Eu esperarei até que chegue o dia em que nossos corações enfim voltarão a se encontrar. Eu prometo que será para toda a eternidade, porque eu também te amo, meu amor.

— E me prometa, Sakura... Que não vai chorar muito por minha causa... Porque eu fui muito feliz... Graças a você.

Inclinando-se sobre seu débil corpo, ela o beijou com todo o sentimento que a transbordava.

Nesse mesmo instante, a mão fraca do menino, despencou, abandonando seu rosto.

O fio foi rompido.

E sua vida se foi.

~*~

Naquela mesma praia uma estatua foi erguida em honra ao amor puro e verdadeiro daqueles dois amantes.

Que uniram seus mundos, desfizeram o poder de uma entidade das trevas e provaram que o amor não está apenas ligado ao sentimento afetuoso, mas sim ao desejo constante pelo bem supremo da pessoa amada tanto quanto pode ser obtido.  

Se tudo o que entendemos por amor for a ânsia de sermos amados, nossa condição é deplorável.

Mas, se compreendemos que o amor está muito acima disso, então estamos prontos para ele.

O amor é paciente e bondoso.

O amor não é invejoso e nem busca os seus próprios interesses.

O amor tudo sofre, tudo espera e tudo suporta.

Sakura viveu ainda por mais 283 anos. Viu o mundo da superfície crescer e evoluir. Viu o imperador morrer em sua solitária velhice e ser substituído por um outro, e outro depois deste.

Viu quando o palácio deixou de ser um palácio e passou a ser uma casa.

Viu as crianças crescerem, amadurecerem e partirem.

Viu guerras começaram e acabarem.

Mas ela sempre estava lá, a frondosa cerejeira fincada nas rochas do paredão que cercavam o antigo palácio. Sakura viu quando enfim aquela única raiz conseguiu alcançar o mar. Juntas, passaram por muitas coisas, mas continuaram firmes, fincadas cada uma naquilo que as mantinha de pé. A cerejeira nas rochas, enquanto Sakura em sua esperança.

A sereia de cabelos rosas viveu também uma boa vida ao lado de suas irmãs e o resto de sua família, viu cada uma se casar e construir uma família. Até mesmo Hinata, assim como ela, escolheu se apaixonar por um filho da terra, mas muito mais prudente que seu eu jovem, a sereia de cabelos negros escolheu fazer da maneira certa. Ela abdicou de sua calda, é verdade, mas não havia nenhuma magia negra envolvida, por isso ela pode ser feliz.

Sakura sempre ia visitar a irmã e Naruto na casinha costeira que construíram e viveram por lá até o fim de suas vidas, cercados por seus filhos e netos.

Enquanto ela, continuou a simplesmente viver.

Conheceu muito mais do mundo do que pensou que seria possível. Encontrou lugares e pessoas. Humanos e seres dos mares. Viveu sua vida ao lado daqueles que eram importantes para si. Mas, é claro, nunca foi o suficiente.

Por isso, quando enfim o dia de sua morte chegou ela partiu com seu coração em jubilo.

Foi até a praia onde a estátua que fora erguida em sua homenagem se encontrava, colocou gentilmente a perola cor-de-rosa, que nunca a deixou nesses longos anos, e a ostra que recebera como presente de sua mãe, sobre as mãos entrelaçadas do casal de pedra.

 Com o sorriso no rosto, deixou seu espírito ir em paz, morrendo no mesmo lugar que anos atrás Sasuke também se foi.

Sakura, diferente de nós humanos, não temeu a morte, ela a ansiou por todo esse tempo que pode viver, e a abraçou alegremente, como uma velha amiga, quando enfim esta chegou, tendo plena certeza de quem encontraria quando alcançasse o outro lado.

Seu corpo não se dissolveu, como fora dito, mas foi abraçado pelas areias da praia e guardado em seu interior.

Uma ótima maneira da natureza dizer: Ela foi uma filha do mar, mas também uma moradora da terra.

Pois, por muito e muito tempo ela estaria em contato com as águas salgadas do imenso azul, mas jamais deixará o mundo da superfície que a encantou.

O mundo onde pôde compreender o significado do amor.

 ~*~


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Notas finais do capítulo

E fim.



E calma pessoal, não me matem, ainda vai ter mais um cap de epilogo, então o adeus definitivo será adiado um pouco mais, entretanto, já gostaria de agradecer a todos que favoritaram, comentaram e ajudaram a Flor de Cerejeira do Mar se tornar uma experiencia tão inesquecível ♥ Vocês foram incríveis. Meus mais sinceros agradecimentos a todos vocês!

Espero vê-los nos próximos projetos dos contos de fadas!

Obrigada por tudo ^^

~Com carinho, Bellatrix ♥



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