Hermanos Continuação escrita por Leh Linhares


Capítulo 9
Os Pais




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Pov. Lucrecia

Já acordo um pouco agitada, tive um sonho um pouco desagradável com meus pais, daqueles sonhos que apavoram por soar exatamente como a vida real. Nele meu pai expulsou meu irmão mais uma vez e me deixou sozinha. Procuro por Valério no quarto, mas não o encontro e temo que meu sonho seja, na verdade uma realidade. Será que eles chegaram antes de eu acordar e mandaram Val embora?

Antes de eu entrar em um completo desespero, Valério entra no quarto com um café na mão e uma sacola, respiro aliviada e tento esconder meu nervosismo, mas falho miseravelmente, Valério só olha para mim e parece entender tudo.

— Bom dia, bonita. Desculpa te deixar sozinha, fui só comprar um café e algo para comer. Eles ainda não chegaram.

— Tudo bem, Val. Eu só me assustei de não ter você aqui, pensei que nosso pai pudesse ter te expulsado.

— Já te falei que ninguém vai me expulsar dessa vez... – Tento acreditar no que ele diz, mas não consigo. Tenho tanto medo, uma agonia estranha que parece me avisar que as coisas não vão acontecer como gostaríamos. – Que foi eu disse algo errado? – Diz ele enquanto segura minha mão sorridente. Queria ter aquela esperança, a verdade é que encontrar meus pais depois de tudo e pedir ajuda soa desesperador...

— Eu só queria ter essa esperança, não consigo parar de pensar que vai dar tudo errado, que é melhor só fingir que está tudo bem de novo.

— Olha pra mim Lu você não tá sozinha, ok? Vamos enfrentá-los juntos, ouviu? Eu sei que você consegue, sempre foi a melhor convencendo o papai no que fosse. Dessa vez, não vai ser diferente!

— Ok, Val. Só não deixa eles te expulsarem, preciso de você aqui. – Confirmo ainda um pouco nervosa segurando a mão dele com força.

— Óbvio, nada me tira daqui bonita.

— Que horas eles falaram que vinham?

— Só falaram que viriam pela manhã, nada de horário. – Num instinto depois de ouvir isso largo a mão dele, me faz falta seu toque, mas no fim acho que não é um bom momento para trazer o que temos para a discussão. Quero facilitar ao máximo a conversa com meus pais.

Valério parece incomodado com o afastamento, porém não diz nada, me passa um croissant que comprou e continuamos a manhã conversando. Ele me entretém contando como é ficar na casa do Samuel, me conta sobre o bairro, a mãe dele, o apartamento e parece simplesmente maravilhoso. Eu me pego pensando em como Samuel deve estar e fico com vontade de vê-lo, é mais uma pessoa que devo um pedido de desculpas, ele me salvou e o que eu fiz? Tentei me matar de novo...

Me distraindo dos meus pensamentos meus pais chegam, minha mãe tem olheiras e parece realmente preocupada. Meu pai, por outro lado, parece ter a face de sempre, fria e despreocupada. Os dois se aproximam da minha cama, mas não me abraçam ou me tocam. E sinto falta disso, mesmo nossa relação nunca tendo sido desse tipo.

— Pai, mãe... – Tento falar alto, mas saí um sussurro de tão baixo, me sinto envergonhada de ter que submetê-los a isso, sei que não é minha culpa, Valério já disse, mas continuo me sentindo culpada por ter tentado de novo e por estar fazendo todo mundo passar por isso.

— O que ele está fazendo aqui? – Fala meu pai apontando para o Valério raivoso.

— Foi ele quem me salvou, por favor deixem que ele fique. O que eu preciso dizer eu não consigo falar sozinha.

— O que houve, filha? Nos falaram algo sobre você ter excedido as medicações do coração, deixei anotada a quantidade do lado da sua cama exatamente para que isso não acontecesse. – Não é possível que ela ainda acredita que isso foi um acidente? Pensei que seria mais fácil admitir isso, mas aparentemente ainda não é, talvez nunca seja.

— É... – Respirei fundo e com algumas lágrimas nos olhos continuei. – Não sei como dizer isso, não sei o que falaram para vocês, mas isso não foi um acidente. Eu não me confundi, nem agora, nem na outra vez, eu não excedi o número de comprimidos ou de drogas por descuido. Eu... bem... é difícil falar isso, mas eu estava tentando... tentando morrer. – Quando eu termino de dizer estou chorando desesperada com medo muito medo da resposta.

— O que? Não, filha, foi um acidente. Os médicos disseram da outra vez... – Minha mãe me respondeu atordoada. Meu pai segue em completo silêncio como se não estivesse me escutando.

— Eles só sabem o que eu falei a eles, mãe. Essa é a verdade. E eu precisava contar para vocês, porque preciso de ajuda. Não posso mais viver assim, não sei quanto tempo até tentar de novo, se eu não receber ajuda. Me sinto terrível por fazer vocês passarem por isso e de algum modo isso me dá ainda mais vontade de só deixar de existir. – Val chora do meu lado e dá a minha mão em sinal de força.

— Você está exagerando, devem ser as medicações falando, você vai se sentir melhor quando chegar em casa. – Fala meu pai ignorando tudo o que eu disse.

— Pai... – Me surpreendo por enfim ouvir a voz do Valério. – Ela não está exagerando, eu recebi uma mensagem dela, se despedindo e a quantidade que ela tomou, pai, não pode ser chamada de acidente nem pelos médicos. Pergunte a eles, e essa não foi a primeira vez, depois da Lu se recuperar eu descobri que na outra vez ela tinha me deixado uma carta de despedida. Ela tentou se matar, pai e precisa da nossa ajuda para se recuperar. Não vire as costas pra ela como fez comigo.

— Se ela tentou alguma coisa foi por culpa SUA! Pelo o que fez com ela, você devia se envergonhar de estar aqui. – Diz ele enquanto segura o braço de Valério ameaçando levá-lo para fora do quarto.

— EU NÃO SOU PERFEITA, PAI. NÃO É CULPA DELE, NEM DE VOCÊS, É MINHA. SÓ MINHA! VALÉRIO NÃO SABIA DE NADA E SE ELE ESTIVESSE COMIGO SABERIA, PORQUE ELE SEMPRE SABE DE TUDO. E EU SEI QUE O SENHOR NÃO ENTENDE NOSSA RELAÇÃO, NEM EU ENTENDO, MAS POR FAVOR NÃO VAMOS DISCUTIR ISSO HOJE. POR HOJE EU SÓ SEI QUE PRECISO DE AJUDA... – Grito entre lágrimas e minha mãe se aproxima de mim.

— Amor, deixa ele, podemos decidir isso depois. Lu não precisa disso agora. – Meu pai solta ele e raivoso começa andar de um lado para o outro no quarto.

— Será que você pode me explicar como ele faz uma coisa dessas com você e você continua defendendo ele? Claramente você precisa de ajuda, isso só pode ser uma doença. – Eu engulo seco, essa sem dúvida era a pior coisa que ele poderia dizer. Penso um pouco antes de responder, o quarto está em silêncio esperando que eu tenha coragem e responda algo.

— Ele é meu melhor amigo, independente e por tudo que fizemos juntos, meu meio-irmão, meu tudo. Sem ele nada faz sentido.

— Lucrecia, você está se ouvindo? Ele é seu irmão, irmão, isso não é nem um pouco aceitável. E se você acha que eu vou deixar isso acontecer pelo que você disse que fez a si mesma está muito enganada. Nada mudou, ele segue fora de casa e você por essa palhaçada está deserdada. Vou pagar todos os gastos do hospital, mas nada mais que isso. Vou preparar sua documentação de emancipação, se ele é seu tudo ele pode encontrar algum modo de te sustentar. – Meu pai diz isso e saí do quarto batendo a porta.

— Ele com certeza não quis dizer nada disso, vou conversar com ele, vou convencê-lo, filha. Vou convencê-lo. – Fala minha mãe atordoada e saí correndo atrás dele.

Começo a chorar desesperada, já esperava uma má resposta do meu pai, mas ser deserdada e abandonada depois de tudo? Como ele pode ter coragem de fazer isso com alguém que acaba de dizer que tentou se matar?

— Por que ele tem que ser sempre tão cruel, Val? – Digo entre lágrimas.

— Não sei, Lu, mas não importa eu tô aqui, e vou estar para sempre aqui. E nós vamos encontrar um jeito de te ajudar com ou sem a ajuda dele, ok?

— Ok, o que eu seria sem você?

— Nesse momento rica. – Val brinca e eu sorrio mesmo sendo tudo tão recente. Ele é o único capaz de me fazer feliz desse jeito mesmo nos piores momentos. E talvez nunca ninguém no mundo compreenda o quanto nos amamos e o quanto precisamos um do outro, mas hoje não quero me importar com a opinião alheia. Hoje somos eu e ele contra o mundo como sempre foi. O beijo como nunca e ele me corresponde, estamos novamente juntos e por alguns segundos consigo ignorar tudo o que nosso pai disse e focar no hoje. Espero conseguir continuar fazendo isso.

 


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