POV Adrien

Ficamos estáticos quando a guardiã apareceu.

— Não pode ser - Nino murmurou - Você...

Alya parecia em choque enquanto eu simplesmente explodi em raiva

— Que brincadeira de mal gosto é essa? - praticamente gritei - Acha engraçado brincar com a gente desse jeito?

— Não estou brincando, Adrien - ela falou se aproximando de nós

— Impossível - Alya murmurou olhando-a

— Não é ela - afirmei sentindo as lágrimas se formarem - A verdadeira Marinette, morreu nos meus braços há dez anos.

— Adrien, fica calmo - Plagg me chamou - Ela é a Marinette.

— Não, não é - falei me recusando a entender

— Sei que é difícil assimilar essa informação de uma hora pra outra... - A mulher a nossa frente começou a falar

— Difícil? - perguntei irritado - Difícil foi ver a areia cobrindo o caixão. Difícil é você lamentar a morte de uma amiga.

As lagrimas corriam dos meus olhos, percebi que as minhas palavras a afetavam, seus olhos estavam se enchendo de lágrimas, mas não me importei

— Difícil é ver a melhor amiga partindo diante dos meus olhos - continuei irritado - Então não venha me falar sobre o que é difícil.

— Acha que foi fácil pra mim? - ela perguntou quase gritando e algumas lágrimas caírem dos olhos dela

— VOCÊ NOS FEZ LAMENTAR A SUA MORTE POR DEZ ANOS - gritei olhando-a

— NÃO TINHA OUTRA ESCOLHA - Marinette gritou de volta me calando e respirou fundo tentando se acalmar - Eu queria voltar, mas não podia.

Ficamos em silêncio, Alya pareceu voltar um pouco a si, começou a se aproximar da Marinette.

— É você mesma? - ela perguntou incerta e Marinette assentiu

Em um movimento rápido e desesperado, Alya abraçou a Marinette com força e deixou algumas lágrimas caírem.

— Senti tanto a sua falta - Alya falou olhando a Marinette

— Eu também, vamos nos sentar - Marinette falou mais calma e secou as lágrimas - Tenho certeza de que estão cheios de perguntas.

Eu ainda não conseguia acreditar, aquela era a Marinette diante dos meus olhos, ela estava diferente desde a última vez que a vi. Ela havia escurecido o cabelo, não era mais o preto azulado, agora estavam completamente negros como uma noite sem estrelas, seu rosto agora trazia traços mais maduros e seu corpo agora era de uma mulher, não havia mais as marias-chiquinhas ou as calças rosa, ela usava uma calça de tecido leve preta, uma blusa branca sem detalhes, ela se sentou em um poltrona que ficava em frente ao sofá. Alya se sentou e eu a acompanhei assim como o Nino que estava quieto.

— Trouxe a água pra vocês e o açucareiro, caso precisem - Guilhermo falou pondo a bandeja no centro e pegou a xícara - E pra você trouxe um chá

— Sabe que detesto chá - Marinette falou enquanto ele ajeitava a xícara

— Por isso mesmo que trago - ele falou entregando a xícara

— Você é um idiota - ela falou olhando-o

— É de camomila, querida - o Guilhermo falou e deu um beijo no topo da cabeça dela - Está precisando

Essa demonstração de carinho me incomodou. Esse Guilhermo tinha acesso a casa dela e eles pareciam ser próximos de alguma forma. Mas até que ponto? Não tenho tempo pra pensar nessas coisas, preciso entender o que está acontecendo aqui

—.Você é insuportável - ela falou quando ele começou a se afastar

— Agora sabe porque não tenho muitos amigos - Guilhermo falou perto da porta - Se precisar de algo, é só avisa

— Obrigada, Guilhermo - Marinette falou e ele saiu

Ficamos em silêncio, Alya tremia um pouco, Nino pegou um copo com água e entregou a ela. Marinette não demonstrava ansiedade, estava calma, serena como o Mestre Fu demonstrava a maior parte do tempo, Tikki se aproximou da portadora pousando em suas mãos. Marinette não parecia ter presa e estava nos dando o tempo para aceitarmos que ela realmente estava ali.

— O Mestre Fu disse que não poderia fazer nada por você - falei olhando-a - Como está aqui?

— Sinceramente, nem eu sei explicar - ela respondeu com sinceridade

— Plagg? - eu o chamei, desde o meu surto ele ficou um pouco mais afastado - Como aconteceu?

— Não temos como explicar - Plagg respondeu - Foi uma surpresa pra todos.

— Em toda a história, apenas 4 pessoas conseguiram ter acesso ao poder total - Tikki comentou - Mas os resultados não foram bons, um morreu antes mesmo de usar o poder, outro enlouqueceu querendo destruir tudo e todos ao redor e o outro...

— Morreu logo após usar o poder total - Plagg completou - E teve a Marinette.

— Seus pais foram reconhecer o corpo, eles te viram naquele necrotério - Alya falou olhando-a

— O Mestre Fu, cuidou disso junto com a Trix - ela falou olhando a pequena raposa flutuando perto da Alya

— Eu vi você morrer. Senti seu coração parar de bater e sua respiração parar - falei olhando-a - Isso foi ilusão também?

— Não, naquele momento o meu coração batia tão devagar que era quase imperceptível e a respiração quase inexistente - ela respondeu - Mestre Fu disse que no momento antes de passar pelo portal, eu acabei me mexendo e ele me levou direto pro templo no Tibete.

— Por que ele não contou que você estava viva? - Nino perguntou intrigada

— Era perigoso - Marinette respondeu - Não sabíamos quais seriam os efeitos colaterais de ter usado tanto poder.

— Como assim? - Alya perguntou olhando-a

— Ela poderia não ser ela mesma - Plagg respondeu - Ela poderia ter enlouquecido, era arriscado deixá-la.

— Fiquei em coma por dois anos - Marinette falou olhando a xícara a sua frente - Quando despertei, passei meses sendo observada diariamente e sendo avaliada para terem certeza de que não surtaria e mataria as pessoas a minha volta ou faria algum mal a mim mesma.

— Porque não voltou? - perguntei e ela me olhou com um sorriso triste

— Eu tentei - ela falou me olhando - Mas tudo estava diferente. Meus pais haviam ido embora, vocês finalizando o ensino médio, a vida seguiu e eu não pertencia mais aquele lugar.

— Poderia ter falo com a gente - Alya falou com uma pouco de frustração

— E o que aconteceria? - Marinette perguntou e suspirou - Naquela tarde vocês perderam uma pessoa, eu perdi tudo. Amigos, família, sonhos, minha vida, eu não tinha mais nada. Vocês estava tendo uma vida, indo atrás dos seus sonhos, não podia interferir nisso.

— Não deveria ter mentido para gente - murmurei olhando-a

— Depois que acordei do coma, Mestre Fu concluiu o meu treinamento pra ser a guardiã da caixa do Miraculous - ela falou como se não tivesse me escutado

— Porque veio falar com a gente depois de dez anos? - perguntei olhando-a

— Por que preciso de ajuda - ela admitiu abaixando o olhar - Não sabia mais o que fazer.

— O Miraculous roubado? - Nino perguntou e ela assentiu - Diz que não foi o do Pavão ou da Borboleta.

— Esses estão seguros, não se preocupe - Marinette assegurou - O Miraculous que foi levado foi o do Tigre e mais quinze pessoas com ele.

— O quê? - perguntei surpreso

— Sequestraram quatorze jovens que estavam em treinamento aqui - Marinette falou me olhando com tristeza - E o portador do Miraculous do Tigre.

— Quem atacou tinha alguma Miraculous? - Nino perguntou

— Não, mas ele não teve escolha - Marinette falou - Tinha um dos nossos como refém exigiram o Miraculous em troca da vida do garoto. O Miguel tentou ir embora, mas feriram o garoto e ele fosse embora matariam a garoto.

— E agora tem um Miraculous em posse dessas pessoas - Nino falou pensativo - Imaginam o estrago que pode acontecer?

— É por isso que preciso de ajuda - Marinette falou nos olhando - Aqueles sete adolescentes que viram foram os que conseguiram fugir antes de serem raptados.

— Como aconteceu? - Nino perguntou

— Apesar da maturidade que eles adquiriram com o treinamento, ainda são novos - Marinette começou a responder - Então os levamos para aproveitarem um pouco. Durante a ida o ônibus foi atacado e mais da metade foi levado. Apenas o Miguel estava com o Miraculous, Guilhermo estava cuidando do templo.

— Onde estava? - perguntei olhando-a

— Tibete - ela respondeu me olhando - Estava conversando com os outros guardiões para saber dos outros templo. Guilhermo me informou o que aconteceu e voltei o quanto antes, ele havia conseguido trazer as crianças pra casa, mas as demais já haviam sumido.

— Sabem onde eles estão? - Nino perguntou

— Ainda não - ela respondeu com sinceridade - Além da nossa própria investigação estamos com a ajuda da polícia para localiza-los mais rápido.

— A polícia sabe quem são? - Alya perguntou.

— Não, tudo que eles sabem é que podemos contatar portadores - Marinette respondeu e suspirou pesadamente - Sei que não tenho direito algum de pedir algo a vocês depois de tudo, mas não vejo outra saída. Preciso de ajuda pra resgatar as crianças e o Miraculous.

— Pode contar comigo, Mari - Alya falou firme pondo o copo vazio na mesa se centro

— Tô nessa - Nino falou e eles me olharam esperando a minha resposta

Mesmo eu estando magoado por ela ter mentido, estava feliz por ela estar viva, mas não tenho tempo pra ficar pensando nisso, temos uma nova missão a ser cumprida.

— Vamos traze-los de volta - afirmei e ela deu um sorriso aliviado

— Obrigada - ela falou nos olhando - Enquanto não localizamos eles, cuidarei para que estejam prontos para lutar.

— Mesmo com a experiência que temos? - Nino perguntou e ela assentiu

— A atual idade de vocês altera os poderes da sua transformação - ela falou simplesmente - Precisarão estar familiarizados com as mudanças.

Nós assentimos e ela se levantou. Nossos kwamis estavam no balcão da cozinha observando tudo em silêncio.

— Vou te mostrar onde é o quarto de hóspedes - ela começou a seguir em direção ao corredor

— Não podemos ficar - falei e ela me olhou - Como disse temos uma vida.

— Sabem onde estão? - ela perguntou me olhando e neguei com a cabeça - Toulouse.

— Como é? - Nino perguntou surpreso

— Estão um pouco longe de casa - Marinette falou simplesmente

— Não podemos - Alya falou preocupada - Temos nossos empregos lá e...

— Pedirei ao Guilhermo que os levem para suas casas, preparem uma mochila e liguem para o trabalho, avisem que estão doentes - Marinette falou com tranquilidade

— Isso fácil, o difícil é comprovar que estávamos doentes - Nino falou passando a mão na nuca

— Deixem isso comigo - ela falou simplesmente e mandou uma mensagem do celular - Por aqui.

Ela seguiu o caminho pelo corredor e nós acompanhamos.

— São esses - ela falou indicando duas portas - Fiquem a vontade para escolher.

— Porque justamente dois quartos - Alya perguntou simplesmente e Mari riu

— Sei que você e o Nino estão morando juntos - Marinette falou

— Como? - Alya perguntou curiosa

— Nunca deixei de me preocupar com vocês e mesmo de longe procurava saber como estavam - Marinette falou baixando o olhar - Queria ter certeza de que estavam bem.

Ouvimos a porta da frente ser aberta e o Guilhermo entrar, ele estava com o Miraculous do Cavalo.

— Marine, a Bianca quer falar com você - Guilhermo falou olhando-a

— Marine? - perguntei confuso

— Longa história - ela respondeu simplesmente - Sabe o que fazer, Guilhermo.

Ela começou a se afastar indo em direção a porta da saída

— Podemos? - ele perguntou e assentimos

Ele fez a transformação e usou o poder especial do Miraculous abrindo dois portais, um dava para o meu apartamento e o outro pro apartamento da Alya e do Nino.

— O portal vai ficar aberto por dez minutos - Guilhermo falou e nós passamos.

Fui direto pro quarto, peguei a mochila e comecei a arrumar enquanto ligava pro meu pai.

— Oi filho - ele falou assim que atendeu

— Vou ter que ficar fora por alguns dias - falei simplesmente

— O que aconteceu? - ele perguntou preocupado

— Estão precisando do Chat Noir - respondi, como ele sabia não queria mentir

— Tenha cuidado, meu filho - ele falou

— Vou ter - respondi fechando a mochila - Até mais.

Peguei mais alguns itens pessoais, coloquei a mochila nas costas, quando estava sai do quarto meus olhos pararam nos bonecos de pano da Ladybug e do Chat Noir que ficavam na estante do meu quarto. Pensei em quantas vezes desejei que a Marinette estivesse de volta, mas nunca imaginei que poderia ser desse jeito.

Peguei os bonecos, coloquei na mochila e fui em direção ao portal. Assim que passei o portal foi fechado e segundos depois Alya e Nino chegaram e o portal foi fechado. Guilhermo desfez a transformação e alimentou o kwami.

— Estarei aguardando vocês na sala para poder acompanha-los ao refeitório - Guilhermo falou e assentimos

Escolhei o quarto, guardei a mochila, nos encontramos na sala e seguimos para o elevador. Descemos para o térreo e ele nos guiou para o refeitório, assim que entramos alguns olhares se voltaram para nós, vi Marinette sentada ao lado de uma garota que aparentava ter uns 15 anos, elas conversavam enquanto jantavam, ela deve ser a tal Bianca.

Guilhermo nos guiou até uma mesa que estava com uma farta refeição, nos servimos e fomos para uma mesa vazia, sentei em uma cadeira que eu podia observar a Marinette, ela tinha um olhar atento a garota a sua frente, a menina um olhar triste, olhando-a nesse momento ainda podia ver um pouco da minha Marinette nela, a garota que se preocupava com o próximo, que estava sempre disposta a ajudar, o mesmo olhar e toques acolhedor.

— Eu ainda não consigo acreditar que é a Mari - Nino falou e o olhei

— Tentaram imaginar como ela se sentiu todos esses anos? - Alya perguntou e baixei o olhar pensativo - Nós tivemos um ao outro pra nós apoiar.

— Não consigo imaginar o que passou na mente dela - admiti após pensar um pouco

— Nem eu - Nino falou

— Ela deve ter passado por muita coisa nesse período. Espero poder saber tudo o que aconteceu - Alya falou olhando-a - Mas estou feliz em tê-la de volta.

— No fundo, eu também - falei olhando-a abraçar a garota como se aconsolasse