Mentiria em dizer que não era difícil vê-lo o dia inteiro, semanas, meses, deitado naquele colchão forrado pelo lençol cor azul piscina e ficar ali, parecendo estar embalado por tristeza eternamente.

Os fios brancos mais compridos do que comumente lembrava-se, sua pele quase tão pálida quanto eles. Os ruivos encontravam-se apagados como sua pessoa, o olhar para o canto da parede, parado, vazio.

Eijirou gostava quando os amigos o comparavam com uma rocha, aquele que não veio de cima, porém agora mostrava-se como eles, tão firme quanto. Ele só não sentia-se tão imponente e resistente como uma, quando olhava para o namorado naquele quarto de tal forma.

Talvez Todoroki fosse a água que o furava, transbordando em sentimentos conflituosos. E Kirishima deixava-os fluir. Pensou, inúmeras vezes, que carregar o relacionamento nas costas não poderia ser algo saudável, ele não era obrigado a nada daquilo.

Mas amava Shouto, amava-o tanto que quando escutou o ranger da cama, preocupou-se de imediato, e veria se ele estava bem, todavia, não precisou.

A roupa amarrotada, o rosto amassado de tanto ficar de lado e bruços por tantas horas, às vezes, em cima do travesseiro afundado e por outras só no macio do colchão já escuro em certa região que suas lágrimas habituaram-se a cair; estava ali, de pé, em uma expressão perdida.

Em três anos de namoro, Kirishima aprendeu que a hora de acordar e levantar dele era delicada, por isso seu silêncio veio. Viu-o atravessar o corredor de forma lenta, até chegar à cozinha em que encontrava-se, o arrastar da cadeira no assoalho não incomodando-o, e ele sentando-se logo em seguida.

A mão foi até o pote de bolachas de água e sal e mais algumas misturadas de embalagens que abriram e não comeram tudo, pegando uma ao encará-la por um longo minuto. O mastigar que veio de Todoroki foi lento, apreciado por Eijirou, que estava indescritivelmente feliz, olhando-o da pia onde coava seu café no filtro.

Serviu o café em dois copos, levando um até a mesa e repousando-o perto de Shouto.

— Está bem adoçado, como você gosta — falou baixo, a mão passando pelos fios misturados em carícias suaves.

Kirishima curvou-se para deixar um beijo leve, porém demorado na têmpora direita dele, a mão deslizando pelo braço até chegar aos dedos longos e frios. Entrelaçou-os, sentindo-o encostar-se minimamente em si, relaxando.

Algumas coisas são importantes demais para desistir.

E shouto era importante, não havia resquícios de dúvidas que fizessem Eijirou pensar que deixaria-o em qualquer momento que fosse naquela fase difícil de sua vida.

E para Kirishima, ver Shouto criando forças para sair da cama, comer uma bolacha, tomar seu café amargo, transformara-se na sua maior felicidade dos últimos seis meses de relacionamento.