"As pessoas são maravilhosas como pores do sol se você as permitir.
Quando olho para o pôr do sol, não me vejo dizendo, 'Suavize o laranja um pouco no lado direito'. Eu não tento controlar um pôr-do-sol.
Eu o observo com admiração enquanto ele acontece."

O som da música ecoava por todos os lados. As duas sentiam os olhares ao redor caindo sobre elas, porém tentavam não se importar. Elas tinham, afinal, algo mais importante para resolver agora. Estavam numa festa, o cheiro de álcool emanando por todo o ar, mas precisavam conversar num lugar mais tranquilo. Precisavam realmente sair dali.

Seguiram lado a lado até a saída, sentindo os cochichos ao redor de ambas. Sim, estavam falando das duas; elas sabiam disso.

Em silêncio, a jovem mulher de cabelos curtos e loiros, um corte masculino que moldava perfeitamente seu rosto, ligou seu carro e abriu a porta para a companheira. Ao seu lado, sentou-se uma mulher com idade similar a dela. Cabelos castanhos ondulados cobriam suas costas e uma franja reta moldava seu rosto angelical. As suas colocaram os cintos, olharam uma para a outra e sorriram finalmente.

Sim, finalmente elas iriam conversar sobre aquilo.

A mulher de cabelos loiros dirigiu em silêncio, o semblante sério e concentrado não desviava da pista a sua frente. Estava quase anoitecendo e um restinho do pôr do sol desenhava o horizonte. Na rua quase deserta, aquela imagem parecia uma pintura em aquarela.

— Estamos quase chegando — a mulher de cabelos loiros disse, dando a seta no carro e virando uma rua à esquerda.

Pararam poucos minutos depois em frente a uma empresa de Design Gráfico – o lugar onde a jovem trabalhava. Ainda era cedo, provavelmente poderia haver funcionários trabalhando ainda, mas aquele era o lugar mais familiar e acolhedor que Marie podia imaginar.

— Lyanna — Marie disse, estacionando e desligando enfim o carro. – Chegamos.

As duas entreolharam-se em silêncio.

Lyanna colocou sua mão em cima da mão trêmula de Marie. As duas trocaram um olhar mudo, mas cheio de significado.

Havia chegado a hora.

Saíram do carro e entraram de mãos dadas na empresa.

— Oi, gente — Marie cumprimentou alguns de seus colegas que ainda estavam ali. Seu rosto estava corado levemente — Esta é Lyanna.

A jovem cumprimentou a todos com um sorriso no rosto e as duas seguiram escada acima, para o lugar onde ficava o estúdio de Marie.

— Aqui é lindo — Lyanna disse assim que a companheira abriu a porta, olhando para todos os tons coloridos que cobriam as paredes, suas cores fortes que contrastavam com a suavidade do restante da sala.

— Sinto que esse é o melhor lugar para conversarmos. — Marie disse, jogando-se numa cadeira giratória e respirando fundo.

Lyanna colocou sua bolsa em cima da mesa e sentou-se de frente a Marie. Uma gota de suor escorreu pela lateral de seu rosto em formato de coração. Sim, ela estava ansiosa, e seu coração nunca batera tão forte quanto naquele momento.

Percebeu que Marie estava inquieta, provavelmente com mil pensamentos ocupando a sua mente ao mesmo tempo. A jovem mulher olhou firmemente para Lyanna e subitamente exclamou, numa voz ao mesmo tempo séria e perdida:

— Eu vou fazer igual um rapaz. Eu vou pagar...!

— Não — Lyanna respondeu espantada. — Não é isso que eu quero.

Notou que os olhos daquela que amava estavam se enchendo de lágrimas, lágrimas que logo começariam a cair.

Lyanna engoliu em seco. Ela sabia que Marie nunca tivera num relacionamento ideal, bom para ambas as partes. Para ela sugerir algo como aquilo, que poderia facilmente ser uma ofensa para muitas pessoas, provavelmente já fora um fato infeliz que acontecera em algum momento do passado de Marie...

Lyanna respirou fundo, sacudindo a cabeça para tentar não pensar nisso. Então, gentilmente abriu um sorriso e aproximou suas mãos do rosto de Marie, segurando-o calidamente com ambas as mãos.

Em silêncio, aproximou sua face da dela, os lábios cuidadosos, calmos, mas que não demoraram a se tocar. Beijaram-se devagar, sem pressa, porém ao mesmo tempo aquele era o beijo mais intenso de suas vidas. O beijo que mudaria tudo.

Por fim, se afastaram por um momento, rindo juntas ao mesmo tempo em que olhavam nos olhos uma da outra. Lyanna tirou uma mecha loira que descia pelo rosto de Marie, colocando-o atrás da orelha, e deixou sua mão repousando ali, na pele macia daquela mulher que ela tanto amava.

Era a primeira vez em suas vidas que Lyanna e Marie tinham uma única certeza tão verdadeira assim. Lyanna aproximou-se mais de Marie, que mantinha os olhos fechados diante do toque suave dela, beijou de leve sua bochecha e sussurrou em seu ouvido:

— É você que eu quero, Marie. Cada pedacinho de você.

Marie então desmoronou. Ao ouvir aquelas palavras da pessoa que ela mais amava, toda a barreira que ela havia criado ao longo da vida para repelir pessoas e as dores que as mesmas tinham lhe causado havia desmoronado de uma só vez. E Marie nunca se sentira tão leve quanto naquele momento, flutuando no ar como uma nuvem que atravessa os céus.

— Eu te amo, eu te amo como nunca amei ninguém, Lyanna – lágrimas começavam a escorrer pelos seus olhos, no entanto as duas sabiam que aquelas eram lágrimas de alegria, afinal. – Amo tanto que todo meu corpo chega a doer só de pensar em ficar longe de você.

Então, as duas sorriram. Lyanna abraçou Marie, que retribuiu rapidamente o gesto, e as duas se beijaram mais uma vez.

Agora, elas enfim tinham a certeza daquilo que tanto haviam esperado.

E nada mais importava além daquilo.