Star Wars- Coração Rebelde escrita por Daniela Lopes


Capítulo 10
Alianças e traições


Notas iniciais do capítulo

As peças do conflito entre a Resistência e a Primeira Ordem se movem. Aliados e inimigos podem mudar de lado inesperadamente e as consequências disso vão mudar o rumo da próxima batalha.



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Em Crait, Leia Organa sentiu uma agitação na Força. A sensação vinha de Luke, seu irmão e a outra era Rey, cuja alma parecia ter sido despedaçada, mas Leia ainda não sabia a causa. Uma terceira sensação era de desalento e estava mais próxima. Saindo da sala de comando, seguiu até a ala dos dormitórios da base, Dentro de um dos alojamentos, ela encontrou Shae Wendallis chorando, abraçada aos joelhos e a cabeça apoiada neles:

—Querida criança...

        Shae ergueu o rosto e enxugou rapidamente a face molhada. Sorriu sem jeito:

—Oh! Senhora Leia! Desculpe! Eu...

—O que te aflige?

            A jovem vira o rosto para a parede. Parecia pensar no que responder até que:

—Eu... Estão acontecendo coisas muito... Estranhas comigo desde que você me resgatou. Eu sinto... Coisas esquisitas, confusas e assustadoras! É como se tudo ao meu redor estivesse vivo. Eu não sei explicar isso! Parece que eu percebo o que as pessoas estão pensando ou desejando, sei lá! E também eu senti uma tristeza tão profunda... Vindo de alguém distante e me deu tanta vontade de chorar! Essa pessoa está perdida e muito assustada, mas eu não sei onde está e o que devo fazer.

            Leia sorri e se senta ao lado da moça:

—Também senti essa tristeza, Shae. Ela vem de uma amiga nossa que está em poder de Snoke.

            Shae exclama e fica pensativa. Então diz:

—Você disse que tem algo que quer que eu saiba, mas não sei se quero isso.

            Leia ri:

—Mesmo que eu não te conte, você descobrirá em breve e não gostaria que fosse dessa forma.

—É... Tão ruim assim?

—Não pra mim, menina. Isso me trouxe esperança.

            Shae franze o cenho e Leia segura sua mão:

—Quando me contou que uma estranha presença dominou você e meu filho Ben...

            O rosto da jovem cora violentamente e ela baixa o olhar:

—Ainda estou tentando assimilar isso. Não entendo como me deixei...

            Leia fala sem rodeios:

—Você será mãe.

            Shae ergue o rosto. Os olhos muito abertos e a boca aberta, sem conseguir emitir qualquer palavra. Por fim, ela saltou da cama e colocou as mãos na cabeça e começou a andar de um lado a outro do aposento. Ela ficou daquele jeito por alguns minutos, para em seguida sentar-se de uma vez na cama.

            Leia riu e esperou a jovem se acalmar. Shae a encara por um segundo e a general falou:

—Serei avó! De duas garotinhas...

—Oh, céus!

            Shae toca a barriga e seus olhos se enchem de lágrimas:

—Então tudo o que venho sentindo nos últimos dias...

—Vem delas, minha querida menina. Mesmo ainda tão pequenas, suas filhas já são sensíveis à Força cósmica aqui fora. Elas herdaram isso de meu filho...

            Shae fecha o semblante:

—Kylo Ren...

            Leia segura a mão de Shae:

—Não. Kylo, não. Apenas Ben poderia doar amor e eu garanto que era ele quem estava com você nesse momento.

            Shae passa a mão na nuca, desconfortável:

—Ele... Sabe?

            Leia fecha os olhos e se concentra:

—Não. Ben não sabe nada. Elas não permitiram enquanto o pai for aprendiz de Snoke.

—Elas podem fazer isso?

—Sim. Querida. E muito mais! Oh, eu estou tão feliz e cheia de energia! Agora mais do que antes, precisamos derrubar a Primeira Ordem!

            Ambas sorriem e se abraçam por um momento. Shae sente o calor daquele contato e fica emocionada. Apesar da boa convivência que tinha em seu antigo grupo e do clima de amizade que todos tinham, ela não mantinha contato estreito com nenhum deles. Nem mesmo seu líder. Muitas vezes chorava às escondidas e sempre se mostrava forte e ativa frente aos companheiros de causa. Havia momentos alegres e divertidos, mas faltava a sensação de ternura e acolhimento.

            A Resistência rebelde parecia uma grande família e muito disso graças a Leia Organa, o coração da causa.

            Shae afagou as costas da general:

—Obrigada...

            Se afastam e Leia sorri:

—Preciso voltar à sala de comando. Se tiver fome, procure a cantina ou...

—Ficarei bem, senhora... Gostaria de ter algo pra fazer. Pra ajudar...

—Procure o mestre da oficina. Ele vai te indicar algo. Fique bem!

            Shae sorri enquanto Leia deixa o alojamento. A jovem toca a barriga e fica pensativa. Então, sentindo-se um tanto tola, mas não menos emocionada, ela murmura:

—Olá... Sou... Shae Wendallis e sou... A mãe de vocês.

            Finn estava sentado diante de uma caixa de peças de caça sujas ou enferrujadas. Ele esfregava uma delas com força, usando um líquido polidor e desengraxante, enquanto pensava em Rey sob o domínio da Primeira Ordem. Na pior das hipóteses, Kylo Ren estaria interrogando sua amiga à base de tortura e isso deixava o ex-stormtrooper furioso e impotente.

            Próximo dali, Rose Tico observava o rapaz e decidiu aproximar-se. Levava uma garrafa de bebida quente e falou:

—Dia difícil?

            Finn ergueu o rosto na direção dela e suspirou:

—Ainda não consigo acreditar que Rey ficou para trás... O que podem estar fazendo com ela agora? Nós a abandonamos e ela...

            Rose balançou a cabeça:

—Não. Rey é forte e corajosa. Todos aqui falam dela com esperança e creem que voltará para nós! Ela é uma heroína, assim como o Sr. Dameron e você.

            Finn olha Rose, surpreso:

—Eu? Um herói?

—Sim. Você salvou Poe Dameron, enfrentou Kylo Ren e a Primeira Ordem ao se juntar à Resistência. E quase morreu defendendo sua amiga...

            Finn sorri:

—Somos todos heróis aqui, Rose. Você também.

—Eu?

—Foi esperta em descobrir como tirar a Primeira Ordem do nosso rastro. Nesse instante, estaríamos debaixo do fogo daqueles miseráveis, sem chance de nos defendermos!

            O rosto de Rose fica corado e ela sorri sem jeito. Ainda corada, ela mostra a garrafa:

—Ah... Eu... Aceita uma bebida quente? É um chá que minha irmã gostava muito e me ensinou a fazer...

—Sim. Eu aceito.

            Rose enche uma caneca e entrega a Finn. Ele sorve o líquido e exclama:

—Oh! Isso é muito bom! Acho que vou querer mais um pouco, por favor!

            Contente, ela serve mais do líquido fumegante e perfumado:

—Vejo que tem muita “diversão” pela frente... Quer uma ajuda aí?

—Não vou recusar... Mas coloque luvas grossas! Essas coisas estão tão sujas e velhas que podem cortar suas mãos e te matar!

            Ela ri e pouco depois, estão ambos entretidos em limpar as peças e conversar sobre suas experiências de combate. Naquele momento, não perceberam que Poe Dameron os observava e sorria. Leia Organa aproximou-se dele, pouco depois:

—Comandante.

            O piloto virou-se:

—General.

—Preciso conversar com você...

—Sobre como vamos resgatar a Rey? Eu já trabalhei alguns esquemas e posso...

—Não, meu caro... Sobre outra coisa...

            Dameron ergueu uma sobrancelha:

—Nós... Não vamos resgatá-la, não é?

—Não ainda. Rey vai nos dizer quando precisará de ajuda. É sobre Shae Wendallis...

—A garota que você salvou de Kylo Ren. O que tem ela?

—Preciso de um imenso favor seu...

            Apreensivo, Poe escuta Leia, que sorri:

—Primeiro quero me desculpar por derrubar você na Raddus. As coisas estavam um tanto fora de controle, não acha?

            Ele coça a nuca e suspira:

—Eh. Eu estava... Sob muita pressão. Desculpe também...

—Certo. Sobre a menina Shae, preciso que a proteja se algo vier a acontecer comigo ou com a Resistência. É imprescindível que essa moça fique à salvo, mesmo que para isso, você deva levá-la para fora da galáxia.

            Poe analisa o rosto de sua comandante. Ela nunca pediria algo assim se não fosse realmente importante:

—Quem é essa garota?

            Leia suspira:

—Ela carrega dentro de si a esperança da galáxia.

—Esperança? Dentro dela? Como...

—Ela está grávida de meu filho... Ben Solo.

            A expressão perplexa de Poe Dameron é quase cômica:

—Espera... A garota... E aquele sujeito travadão? Eles... Oh! Desculpe! Eu esqueci que ele é seu filho! Mas... Está falando sério sobre isso?

— Sim. Por isso conto com sua ajuda, Poe. Essas crianças são tudo o que resta da minha família, se tudo o mais for destruído. Salve-as por mim! Posso contar com isso?

            Poe segura as mãos de Leia:

—Farei o meu melhor, senhora.

—Obrigada, meu caro. Fico mais tranquila sabendo que posso contar com você. Agora pode me contar como pretende resgatar a Rey... Logo o momento de ajudá-la vai chegar e temos que estar preparados, não é?

            Ele sorri e segue com Leia para a sala de comunicações da base. Todos os aliados estavam ocupados, consertando alguma nave, inventariando armas e munições, cuidando dos feridos. A Resistência tentava agilizar suas tarefas antes de voltar a enfrentar a Primeira Ordem e seu imenso poderio. Naquele momento, Leia precisava da resposta de seus aliados espalhados pela galáxia.

            Kylo Ren examinava o sabre de luz que Rey trouxera consigo. O objeto pertencia a Luke Skywalker, estava impregnado da energia do velho mestre jedi. Seria a arma com que Ren decapitaria seu tio, mas suas mãos tremiam ao pensar no que faria. Então um dos cavaleiros de Ren, o piloto e atirador Kuruk, avisou:

—Estamos sobre as coordenadas.

            Kylo olhou pela escotilha da nave e avistou um conjunto de ilhas rochosas e irregulares que quebravam a monotonia daquele imenso volume de água. O piloto encontrou uma rocha mais plana e firme e pousou a nave com precisão. Quando os sete guerreiros saíram já de armas em punho, Kylo alertou-os:

—Não se enganem quanto ao jedi Skywalker. Ele é velho, mas é astuto e perigoso. Eu o quero vivo, não me importa em quais condições...

            Em grupos de dois, os cavaleiros de Ren se separaram e começaram a vasculhar cada canto daquela ilha. Dois deles, Vicrul e Ushar, viram o caça X-wing pousado numa base de pedra metros abaixo do paredão onde estavam e Vicrul falou pelo comunicador:

—Há um caça rebelde logo abaixo de nós, ao sul do ponto onde pousamos... Parece bem antigo e está sendo preparado para sair do planeta.

            Kylo ergue o olhar para a escadaria à sua frente:

—Então o velho decidiu terminar com seu exílio ou fugir pra mais longe...

            Terminou de subir as escadas e deparou-se com um amplo salão escavado na rocha. Dentro dele, havia uma piscina rasa esculpida na rocha com mosaico de pedras no fundo, formando um tipo de emblema da antiga Ordem jedi e dentro dela se acumulava água que caía em gotas do teto.

            O silêncio e austeridade do lugar convidavam à meditação. Havia uma forte energia ali e Kylo Ren a sentiu. Um pouco mais à frente, uma abertura levava a um mirante, onde uma pequena plataforma de rocha lisa erguia-se diante do precipício. De lá, a vista de toda a ilha era fantástica.

            Kylo tocou a rocha. Rey estivera ali, descobrindo mais sobre si mesma e sobre a Força ao seu redor. Mais sobre a escuridão também.

            O pupilo de Snoke fechou os olhos e lançou sua consciência. Imagens diversas vieram a ele e inundaram sua mente e espírito de energia. Então ele vislumbrou o buraco na rocha logo abaixo de onde estava, um local de escuridão, onde nada crescia à não ser um musgo escuro e de aparência repugnante.

            Esse lugar chamou por Rey e agora clamava por Kylo Ren, quando sua mente vagou até a entrada e mergulhou, pousando junto a uma parede de rocha lisa e polida tal como um espelho. Ele viu sua imagem refletida por um segundo, mas esta converteu-se em Ben Solo, que o encarava com olhos cheios de pena.

            O reflexo tocou a rocha fria e translúcida e seus dedos a atravessaram com se fosse água para, em seguida, agarrarem o pulso do Comandante da Primeira Ordem com força. Kylo tentou se libertar, mas a imagem atravessou por completo a parede e se posicionou frente ao guerreiro do lado negro. Kylo riu:

—Um truque!

            Então Ben Solo sacou de um sabre de luz e atacou. Rapidamente, Ren defendeu-se e atacou de volta, cortando o ombro de seu álter ego. Imediatamente ao golpe, o ombro de Kylo Ren abriu um corte e sangrou, fazendo-o recuar assustado.

            Ben Solo suspirou:

—Vê? O que tentar fazer comigo, voltará contra você.

            Com fúria crescente, Ren gritou:

—Sua fraqueza será sua destruição.

—Minha? Não percebeu que eu sou você? Não posso ser destruído. Por mais que tente me ignorar, estarei sempre aí, na parte mais funda e escondida de sua alma... Para recordá-lo do mal que fez.

            Kylo gira o corpo e ataca novamente, tentando calar aquela figura, mas este segura o golpe e diz:

—Tem medo de mim, Kylo Ren, porque tenho algo que te falta... O amor de minha mãe, Leia Organa. Enquanto ela tiver fé em mim, eu jamais vou deixá-lo em paz!

            Kylo Ren grita:

—Não! Desapareça! Você não é nada!  Nada! Eu não preciso de...

            A imagem de Ben Solo se torna transparente, o sabre de luz é desligado e um sorriso condescendente surge em seu rosto pacífico:

—Você sabe que estou certo... Não há escuridão suficiente em você para fazê-la recuar...

            Então a figura se dissipa no ar e Kylo Ren desperta no mirante, a poucos passos do abismo, suado e confuso com a visão. Ele se apoia na rocha lisa, toca o corte no ombro e mira o horizonte, murmurando:

—Não posso me deixar levar por isso... Leia Organa pode estar morta agora, eu vi a ponte de comando explodir... Não há como escapar daquilo! Não há mais nada... Nada.

            Uma voz madura e familiar soa logo atrás dele:

—Engana-se, meu sobrinho. Leia se recuperou da explosão e está tão viva quanto eu ou você. Ela ainda espera seu retorno. Ela ainda acredita no bem que resiste à escuridão. É por isso que ela ainda luta...

            Kylo ergue o corpo e aciona o sabre de luz. Se vira devagar, tremendo com um ódio crescente ao encarar o tio:

—Luke Skywalker.

            O mestre jedi sorri, cansado:

—Olá, garoto. Parece transtornado... O que o buraco mostrou a você?

            Kylo inclina a cabeça:

—O que sabe sobre aquele lugar? Sobre o que eu vi?

            Luke senta-se junto à pequena piscina e molha as mãos na água fria e cristalina que se juntava nela:

—Um buraco na rocha. Ou um espelho... Ou sua verdadeira face se manifestando através da Força.

            Kylo ri:

—Minha verdadeira face? Não seja ridículo!

—Estou desarmado, Ben... E sei que meu sabre está com você agora.

—Vim matar você, jedi! Não perca seu tempo comigo.

            Luke parecia ainda mais velho aos olhos de Kylo Ren, e falou com voz cansada:

—Se me matar agora, serei um fantasma a te assombrar para sempre, garoto. Se for uma luta justa...

            Kylo joga o sabre para Luke:

—Pegue. Desarmado ou não, o resultado será o mesmo... Sua cabeça aos pés de Lorde Snoke!

            Então Luke olha ao redor:

—Espere...

            Kylo Ren exclama ao sentir uma aura de hostilidade vir na direção deles. Eram os Cavaleiros de Ren e suas intenções estavam claras como água para o aprendiz de Snoke. Eles estavam ali para matar tanto Luke Skywalker quanto o próprio Kylo, seu comandante.

            Os seis perigosos guerreiros surgiram à entrada da caverna. Armas em punho e postura tensa. O Comandante da Primeira Ordem voltou-se para eles, imperioso:

—Como eu disse antes, Luke Skywalker é minha missão aqui... Fiquem fora disso.

            Um dos Cavaleiros, Vicrul, falou friamente:

—Mudança de planos, “Comandante” Ren. O líder supremo quer duas cabeças pelo preço de uma.

            Luke olhou de esguelha para seu sobrinho:

—Seus amigos?

            Kylo , encarando seus adversários e sentindo a fúria crescer dentro de si, respondeu:

—Não.

            O velho jedi sorri no canto da boca:

—Ótimo. São três pra cada um de nós!

Continua...


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Notas finais do capítulo

Mais um capítulo!
Peço desculpas aos leitores que acompanham a fic Coração Rebelde. Gostaria de postar com mais frequência, mas com essa situação de pandemia, meu trabalho na empresa dobrou de volume! Tem pessoas em tele trabalho, então nosso atendimento interno agora abrange também a parte física desse grupo. É cansativo e minha cama está cada vez mais sedutora. Sempre gostei de escrever até tarde da noite, quando posso ficar sozinha com minhas ideias, mas até isso tá complicadinho. Tenho um bom material adiantado, mas ele pede revisão enquanto passo a limpo. Esse capítulo 10 eu decidi dividir para aproveitar melhor a interação entre Kylo e Luke nos próximos capítulos.
Um abraço e boa leitura!



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