The Jibblets escrita por Carol McGarrett


Capítulo 1
The Jibblets


Notas iniciais do capítulo

Bem é isso que dá juntar uma série, um gênero musical, meu lado roqueira e seis músicas que são praticamente clássicos.
Espero que se divirtam lendo tanto quanto eu me diverti escrevendo.
Ah, vou deixar o link das músicas no Youtube nas notas finais, para quem quiser ir lendo ao som do setlist da The Jibblets, assim como qual música foi ideia de quem!
Boa leitura!



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Era um dia como outro qualquer, exceto pelo fato de que não havia absolutamente nada para se fazer… coisa rara de se acontecer com a equipe de elite do NCIS, mas milagres existem e hoje era um dos escassos dias em que Tony, Ziva e McGee ficaram apenas a olhar as horas passarem, porque até o temido chefe dos três tinha decidido dar uma sumida e perturbar a Diretora.

Ziva, como de costume estava limpando suas armas, já tinha polido e limpado todas as suas facas até que virassem espelhos e agora se concentrava em sua pistola SIG, McGee estava jogando o último lançamento de RPG no seu computador e Tony estava folheando a última edição da GSM, edição de biquíni, quando um bip nos computadores indicou que um novo e-mail havia chegado.

Todos os três pararam o que estavam fazendo e suspiraram, quase no final do expediente e justo agora para aparecer um novo caso?

Como se fosse combinado, os três abriram o programa de e-mail ao mesmo tempo e viram quem era o destinatário da mensagem, Abby. Menos mal.

Se vocês estiverem tão atoa quanto eu, venham para o meu laboratório, eu tenho algo que vocês podem gostar.”

Os três, depois de trocarem olhares curiosos rumaram para o elevador e chegaram ao laboratório da gótica mais feliz que eles conheciam.

— Qual é a sua tão engenhosa ideia, Abby? – Tony quis saber de pronto.

— Oi para vocês, e eu tenho isso! - Abbs mostrou o folheto.

— Ah! Isso… - McGee não pareceu muito animado com o folheto.

— Sim, McGee!! Isso! – Abby deu uma pirueta ao responder.

— E o que é esse, “isso”? - Ziva perguntou entrando na conversa dos outros dois.

— Isso, minha adorada Ziva, é o concurso de bandas que tem todo ano, algum desocupado inventou de que as agências deveriam ter uma diversão em conjunto e criou este concurso. – Tony respondeu pelos dois, nem um pouco animado.

— Você está me falando que as agências federais montam bandas para competir nisso? – a ninja do Mossad estava incrédula.

— Sim… montam. – McGee respondeu.

— Ótimo!! – Ziva se animou para o espanto dos demais. - E como eu já estou aqui há dois anos e ninguém me avisou que tínhamos uma banda?

— Bem… é que a nossa banda é um fiasco tão grande que todo mundo prefere ignorar a existência dela para evitar ficar pensando no vexame anual. – Tony disse prestando atenção nas pessoas andando do lado de fora.

 - Que horror, Tony!! Como você pode falar uma coisa dessas! Aposto que eles dão tudo de si. – Ziva estava horrorizada com o tratamento dado à banda que ela nem sabia que existia.

— Se você souber o quanto eles são ruins cantando e tocando, não diria isso. – Tony retrucou.

— Mas são tão ruins assim?

Os outros três apenas confirmaram com a cabeça.

— Bem, mas não foi para falar da banda que existe e todos nós ignoramos a existência dela que eu chamei vocês aqui! – Abby cortou o papo.

— Mas você está com o folheto da apresentação! – McGee disse sem entender nada.

— É porque neste ano eu resolvi fazer uma coisinha diferente...

— Lá vamos nós, todos embarquem no “Expresso Abby da Loucura”! – Tony brincou e recebeu um Bert bem no meio do rosto.

— Qual é o seu plano, Abby? – Ziva perguntou se sentando em uma cadeira.

— Nós vamos ser a banda oficial do NCIS! – Ela disse dando outra pirueta e parando com um pulo.

— NÓS?! – Tony, Ziva e McGee responderam ao mesmo tempo.

— Uau! Gibbs treinou vocês tão bem, que até responderam em uníssono!

— Sem essa Abby. Pode parar, com as duas ideias. - DiNozzo disse mal-humorado, já rumando para o elevador.

— Mas gente! A ideia é boa! Podemos entrar em um consenso sobre quais músicas vamos tocar!! Eu sei que vocês no fundo, no fundo querem trazer esse título de volta para o NCIS!

— Correção Abbs, esse título nunca veio para o NCIS. – McGee falou, também já indo para o elevador.

— ENTÃO TEMOS QUE GANHAR! – Abby gritou da porta do elevador.

— Para isso precisaremos de uma banda! – Tony respondeu.

— Nós seremos a banda! NÓS!!! – Abby clamava.

— Como se algum de nós fossemos músicos! – DiNozzo retrucou.

— Espera... o NCIS nunca ganhou esse troféu? – Ziva perguntou espantada.

— NÃO! – Os outros três responderam ao mesmo tempo.

— Suponhamos que você esteja certa, Abby. Como quer formar essa banda?

— Fácil! Eu fico no baixo. Tony solo de guitarra. McGee guitarrista base. Você, Ziva, canta e o Jimmy como baterista.

— O Jimmy toca bateria? O gremlin da autópsia sabe tocar bateria? – Tony quase engasgou.

— Sabe... vocês não sabiam disso?

Os três se olharam...

— Por que não? Se não ganharam até hoje, que mal faz pagar um mico na frente de todo mundo? – McGee perguntou, já entrando na ideia da Abby.

— Eu gosto de cantar, não me importaria. E só por curiosidade, quem é o maior vencedor?

— O Serviço Secreto. – Tony respondeu com um muxoxo, parado no elevador e logicamente, bloqueando o acesso e o funcionamento.

— Também, eles não fazem nada, todo o serviço pesado é feito ou por nós pela turma do prédio Hoover...

— McFrustado, se a Kate estivesse viva ela seria capaz de te estrangular só por você ter dito isto.

— Eu acho que ela concordaria... afinal, ela abandonou o emprego dela lá e veio para cá. – Abby disse.

— Que seja. – Tony falou. – Mas sabem por que eles sempre ganham?

— Por que o Presidente manda?

— Não seus tolinhos. Porque eles não fazem nada, só ficam por conta de ensaiar com a banda deles!

— Nós vamos ter que ensaiar também! – Abby começou a se empolgar.

— Mas aonde? – Ziva questionou.

— Eu ainda não falei que aceito entrar na banda. – Tony interrompeu.

— Você vai Tony. E ponto final! – Ziva mandou. – Mas aonde vamos ensaiar?

— Aqui? – Abby perguntou indecisa. – Ou na garagem de provas.

— Para os dois lugares precisaremos de autorização. – McGee respondeu.

— E quem vai pedir essa autorização? – Tony perguntou.

— Fácil! A Abby pede ao Gibbs que pede a Diretora. Quer alguém com acesso mais rápido a ela do que “El Jefe?”

— Quem vai pedir ao Agente Gibbs para fazer o que?

Os quatro estavam tão distraídos com a conversa que esqueceram que Tony havia travado o elevador no andar e, também não ouviram quando a próprio Gibbs acompanhado da Diretora Shepard chegaram ao andar.

— Diretora! Gibbs!! Que bom que vocês estão aqui!! – Abby abraçou os dois ao mesmo tempo.

 -Abbs... – Gibbs tentou alertar a cientista.

— Isso é muito importante!! Vocês dois vão concordar conosco....

— Com a Abby, Chefe... A ideia é dela!! – Tony tentou se livrar da culpa por qualquer ideia louca, o que resultou em um enorme tapa na parte de trás de sua cabeça.

— Continue, Abby. – Jenny pediu a empolgada analista.

— Então, nós vamos representar o NCIS no concurso de bandas este ano! Não é uma ótima ideia? E vocês dois vão nos ver, não vão?

Gibbs e Jenny olharam de um para o outro e depois para os demais.

— Abbs....

— Então tá marcado, Gibbs! Eu sabia que você não iria nos deixar na mão. E você, Diretora?!

— Vou.... é claro. Que dia que vai ser?

— Três de julho. Véspera de feriado. Não tem como ninguém arrumar nenhuma desculpa! Mas voltando... nós vamos ter que ensaiar... – Abby disse olhando para Gibbs e Jenny.

— É claro... já basta um vexame anual. Dois nem pensar. – Jenny concordou com a gótica.

— Então... Eu estava pensando, podemos usar a garagem de provas para isso?

— Se for depois do expediente, não vejo problemas. – A Diretora disse sem pensar.

— YEAH!!! Papai e mamãe vocês são demais!!

— ABBY!!! – Tim, Ziva e Tony tentaram alertá-la.

— O que foi? – Ela perguntou inocentemente.

— Você escuta o que você fala? – Tony sussurrou para ela.

— Mas é claro, meus pais eram surdos, não eu, Tony...

— Pois não parece... mas, então, Chefe, Diretora, precisam de algo? – DiNozzo trocou o foco.

— Sim. – Os dois responderam juntos para a alegria de Abby. – Que você pare de travar o elevador aqui embaixo.

— Ah... isso. Eu não tinha notado! – Tony disse coçando a parte de trás da cabeça.

Tudo o que Tony teve como resposta foram duas encaradas.

— Até que tive sorte.... poderia ter sido muito pior. – Ele comemorou.

— Não brinque com a sua sorte, DiNozzo. Uma hora ela pode virar. – Gibbs alertou ao seu agente sênior.

— Sim, Chefe. Entendido. Mais alguma coisa?

— Voltem ao trabalho, deixem essa história de banda para depois.

— Sim, Senhora. – Os quatro responderam.

Quando o Chefe e a Chefe do Chefe já estavam bem longe e não podiam escutá-los, os quatro se olharam.

— Tudo bem, agora somos uma banda, temos onde ensaiar... – Ziva começou. – Mas qual será o nome e o que vamos cantar?

— Isso é fácil! – Abby abriu um sorriso diabólico.

 - Por que eu estou com medo deste seu sorriso, Abby? – Tim deu um passo atrás.

— Timothy McGee, até parece que você não me conhece... quando eu chamei vocês três aqui, eu já tinha tudo planejado.

Tony e Ziva trocaram um olhar. McGee engoliu em seco.

— Quer dizer, – DiNozzo foi o corajoso a perguntar. – que você já sabe como essa banda vai chamar?

— Mas é claro. – O sorriso de Abby era ainda maior.

— Não me façam perguntar o nome desta banda! – Ziva disse.

Abby fez um suspense até que Jimmy Palmer apareceu.

— E aí, vamos ou não tocar no concurso desse ano?

— Vamos. E eles querem saber o nome da banda, Palmer!

— Peraí, o Palmer sabe o nome? – Tony perguntou injuriado.

— Eu sei. E até gostei!

— Tudo bem, você venceu, Abbs. Qual é o nome que você inventou? – Ziva se deu por vencida.

Abby se sentindo muito importante, ajeitou sua postura e soltou a bomba:

— “The Jibblets”!!!

— The o que?? – Tony gritou.

— The Giletes? – Ziva, sendo Ziva, soltou um de seus infames trocadilhos.

— “The Jibblets”! Gente, como assim vocês não entenderam a referência?

— Referência há que? – Tim estava, para dizer o mínimo, perdido.

— A eles!! – Abby achou que tinha explicado muito.

— E quem são eles? – Ziva perguntou, pois Tony, à esta altura, já tinha desistido de tentar entender como o cérebro de Abby funcionava.

— Gibbs e Jenny! – Palmer disse com o seu costumeiro sorriso.

— Deixe Gibbs saber que você chama a Diretora com toda essa intimidade para ver o que vai acontecer... – Tony ameaçou o Gremlin da Autópsia.

— Mas Jimmy está certo. O nome da banda é uma homenagem aos dois e como poderiam ser denominados possíveis bebês que eles tivessem juntos! – Abby explicou.

— Não... acho melhor nós não fazermos isso. Não vai dar certo... – McGee tentou, em vão, colocar um pouco de juízo na cabeça da amiga.

— Sim. Esse será o nome da banda e eu já mandei fazer até algumas camisas!! – Abby bateu o pé e correu para o laboratório, de onde voltou com uma blusa preta, totalmente estilizada, onde na frente poderia se ler “The Jibblets” em uma fonte que lembrava, e muito, uma escrita gótica.

— Meu Deus. Os dois vão nos matar. Depois nos ressuscitar; para então nos matar de novo com requintes de tortura e crueldade. – Tony murmurou ao ver a camiseta.

— E quando você planeja contar para os dois sobre o nome da banda, Abby? – Ziva perguntou.

— Quando eu mandar o convite de nossa apresentação para toda a banda!!

— Ou seja, vamos ensaiar a morrer, mas não tocaremos! – McGee disse finalista.

— Vocês têm muito medo dos dois, eles não são assim tão bravos. Na verdade, eu acho muito bem que, por trás daquela fachada de durão, Gibbs é um marshmellow bem fofinho, e Jenny, quando não está interpretando o papel de Diretora Poderosa, deve ser muito engraçada. 

— Ótimo que você pense assim, Abbs. Pois é você quem vai soltar essa bomba lá em cima! – Tony disse indo de vez para o elevador, sendo seguido por Tim e Ziva.

— Vocês vão ver! Eles são muito fofos e estarão lá para nos ver!! – Abby gritou antes que as portas se fecharam.

— Bem... agora vamos aos ensaios.

Toda essa conversa aconteceu dois meses antes da apresentação. E, uma semana depois, os cinco se encontraram na garagem de provas para discutir o repertório.

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— Você está me dizendo que temos que escolher cinco músicas? E todas devem ficar dentro de um mesmo gênero musical? – Ziva parecia receosa.

— Isso mesmo. E dentre as possibilidades que temos, acho que o rock poderia ser o gênero escolhido. – Jimmy deu a sua opinião.

— Concordo com o Gremlin. Rock é a melhor pedida. Quem tem outra ideia? – Tony perguntou, enquanto comia um pedaço de pizza.

Ziva, Tim e Abby não disseram nada.

— Martelo batido! Vamos de Rock. Nossas cinco músicas agora! – DiNozzo continuava a tentar controlar algo.

E aqui virou um pandemônio. Cada um tinha, pelo menos, umas três músicas das quais eles tinham certeza absoluta que eram perfeitas. A discussão permaneceu por alguns minutos, até que Ducky, que estava procurando seu assistente, apareceu na garagem.

— O que está acontecendo por aqui, crianças? – Ele perguntou do seu jeito costumeiro.

— Estamos tentando escolher cinco músicas para tocar no concurso de bandas. – Jimmy respondeu ao Dr. Mallard.

— Aquele do qual nunca ganhamos?

— Sim, Ducky, mas não temos um consenso quanto às músicas que vamos tocar.

— Por que cada um não escolhe uma música? Assim, todos terão sua favorita no show. – Ele foi diplomático.

— Duck-man você é um gênio! – Tony o elogiou.

— Às vezes me pergunto como você pode ser inteligente, Ducky! – Ziva disse e deu um beijo na bochecha dele.

— Não sou mais inteligente, minha querida Ziva, apenas mais vivido que vocês.

— Doutor Mallard  - Jimmy começou um tanto apreensivo. – O senhor vai na nossa apresentação, não vai?

Ducky ponderou por alguns instantes até que respondeu.

— Por que não? Quem sabe não serão vocês quem terá a honra de trazer o troféu para o NCIS pela primeira vez?

— É o que estamos esperando, Ducky! – Abby disse feliz e abraçou ao médico.

— Só não se esqueçam que antes da banda, temos casos para resolver, e se vocês não fizerem o trabalho direito, acho que um certo agente não irá poupar suas cabeças. – O bom Doutor falou indo para o elevador. – E Sr. Palmer, isso vale para o senhor também.

— Sim, Dr. Mallard, estou indo.

— Não esqueça a sua música, Jimmy. Nosso primeiro ensaio é hoje! – Abby gritou para o assistente da autópsia.

— A propósito, eu posso sugerir uma música para o encore? – Ducky peguntou antes que as portas do elevador se fechassem.

— Sempre, Ducky! Sempre! – Ziva respondeu.

— Então, ótimo. Quando o Sr. Palmer vier ensaiar ele trará a minha sugestão.

— Estaremos esperando! – Tony respondeu.

— Agora a pergunta que fica, que música Ducky gosta dentro do rock? Só o escuto ouvindo clássicas... – McGee ponderou e todos se olharam, realmente, qual seria a sugestão do médico legista?

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 O caso foi fechado rápido, e, assim que Gibbs dispensou sua equipe, os três rumaram para a garagem e esperaram por Abby. Os instrumentos já haviam sido montados em um local que não atrapalharia ninguém. Bastava, agora, cada um apresentar sua música, para que os ensaios começassem.

Abby e Jimmy não demoraram a aparecer e quando as músicas escolhidas foram dispostas para todos verem, cada um abriu um sorriso, era um setlist vencedor, se eles não estragassem as canções, é claro.

— Então vamos ao ensaio? – Jimmy perguntou já se aquecendo para assumir as baquetas.

— Está mais do que na hora!! – Ziva disse, começando a aquecer a voz. – Eu vou precisar de muito chá de gengibre se quiser ter voz para chegar ao final do concurso, porque, olha, tem uma aí que vai ser complicada de conseguir manter o tom.

— Vamos adaptar para ficar fácil para você, Ziva. Ninguém espera que sejamos profissionais. Apenas que não estraguemos as músicas. – Tony falou enquanto plugava a sua guitarra, e, de brincadeira, colocou uma cartola na cabeça, imitando o Slash.

— Então tá... peguem suas coisas e vamos lá! – Abby deu as ordens e os primeiros acordes da primeira música começou a soar pela garagem de evidência e a ressoar por todo o prédio do NCIS.

Era uma sexta à noite, e, como que por milagre não tinha uma viva alma dentro do prédio. Pena que não iria continuar desse jeito.

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Faltando um mês para a apresentação, os ensaios ficaram mais frequentes e, como cada um dos componentes da “The Jibblets” já tinha ganhando confiança suficiente, o volume das caixas de som foram aumentando no nível da confiança da banda.

Nesta semana em particular, apesar de ninguém ter pegado nenhum grande caso que os obrigasse a ficar até mais tarde, os que apareceram demandaram um pouco mais de atenção dos chefes das equipes.

Logicamente, nenhum relatório tinha que ser entregue no dia em que o caso era finalizado. Mas, como Gibbs não tinha mais nada o que fazer em casa, sendo que tinha terminado o seu último barco e o enviado para o México como um presente para sua afilhada, Amira, ele resolveu que poderia ficar até mais tarde, assim, pôr em dia tudo o que estava sobre a sua mesa.

Acontece que Gibbs não é lá muito adepto de música, principalmente Rock, e muito menos música extremamente alta, como a que os cinco estavam tocando agora.

De início ele resolveu ignorar o barulho, assim como ele sempre ignorava o toque de seu celular, mas não deu certo. Depois, ele disse a si mesmo que não estava tão alto assim. Afinal, eles estavam há uns dois andares abaixo de onde ele estava. Por fim, ele não aguentou mais aquele som ensurdecedor de bateria misturado com um solo interminável de guitarra e, furiosamente, se levantou da sua mesa.

Não, ele não iria na garagem brigar com Abby, Jimmy ou os três agentes da sua equipe. Não, a fúria de Leroy Jethro Gibbs tinha um destinatário certo. Ou melhor dizendo, uma destinatária certa. Subindo as escadas de dois em dois degraus até o quarto andar, Gibbs nem se deu o trabalho de bater na porta do escritório dela. Da culpada por ele ser obrigado a escutar TODOS OS DIAS, NAS ÚLTIMAS TRÊS SEMANAS, essa barulhada dos infernos. E entrou de supetão, acabando por assustar sua ex-parceira.

— Isso é sua culpa! – Ele bradou apontando para a porta aberta.

Jenny, calmamente tirou os óculos de leitura, depositando-os na sua mesa e encarou o agente.

— Pelo amor de Deus, Jethro. Nem está tão alto assim. Quando foi que você virou um velho tão ranzinza? – Ela encarou os olhos azuis furiosos na sua frente com um sorriso debochado no rosto.

Verdade seja dita, tinha dia que os ensaios realmente a tiravam do sério, mas, ver que Jethro estava mil vezes mais incomodado com aquilo do que ela, era uma espécie de vingança pessoal por todas as vezes que ele entrava sem bater em sua sala, batendo a porta na parede e bradando algo com ela.

Gibbs não comprou o sorriso de gato que comeu um canário de Jenny, e, tentando compor o olhar mais intimidador que conhecia, a encarou de volta. O sorriso dela só aumentou.

— Jethro, será que você se esqueceu que seus olhares NUNCA me assustaram, ou me instaram a parar de fazer alguma coisa? – Ela o provocou.

Não era do feitio dele desistir de uma briga, mas hoje, ele sabia que não ganharia dela. Então, Gibbs foi em direção às prateleiras no fundo do escritório, se serviu de uma boa dose de Bourbon e se jogou no sofá encarando a mulher ruiva a sua frente.

Shepard, por sua vez, estava esperando para ver qual seria a reação dele a tudo isto, e o olhava intrigada, uma sobrancelha levantada e o rosto apoiado na mão.

— Isso é sua culpa, e você sabe disso! – Gibbs jogou na cara dela, assim que ele se sentou no sofá.

— Fique à vontade com o meu Bourbon, Jethro. -  Ela foi sarcástica. – Mas não se esqueça de uma única coisa...

Gibbs levantou uma sobrancelha para a Diretora. Era incrível a capacidade que os dois, às vezes, tinham de conversar sem ao menos trocar uma mísera palavra.

— Se eu não tivesse concordado com Abby naquela tarde, você teria vindo ao meu encalço para que eu voltasse atrás e permitisse que eles ensaiassem aqui no prédio.

Gibbs sabia que ela tinha razão. Jenny sabia até como ele pensava. Como isso chegou neste ponto? Mas, como de costume, ele não a deixaria saber que, no fundo, ele concordava com ela.

— Não teria. Já que você sabe me interpretar tão bem, Madame Diretora, deveria saber que não gosto de música.

Jenny, vendo que Jethro tinha usado o infame apelido que ela tanto detestava, soube na hora de duas coisas, ela tinha ganho a guerra; e, segundo, Gibbs sabia que tinha perdido essa, mas não admitiria nem que a vida dele dependesse disso. Então, dando uma olhada para os – intermináveis – relatórios que estavam em sua mesa, ela resolveu ignorá-los por uma noite. Tirar sarro da cara de seu melhor agente era um programa de sexta à noite muito mais agradável. Assim, tirando os sapatos, ela imitou o gesto dele de um pouco antes, e depois de servir um pouco de Bourbon para si, se sentou na frente dele.

— Até onde eu posso me lembrar, sim... você gosta de música, ou então não teria me arrastado para a pista de dança naquele baile em Paris enquanto estávamos infiltrados. – Ela jogou verde.

Ele não se deixou abalar.

— Você disse tudo, Jen; estávamos infiltrados. Eu só dancei com você para manter o disfarce.

— Manter o disfarce. – Ela se recostou e o encarou. – Bela desculpa para o que aconteceu durante a dança.

Gibbs tentou de todas as formas se manter no presente, contudo, não conseguiu evitar que as memórias daquela noite invadissem sua mente. Não só o durante a dança, como o depois.

Jenny notou isso. E abrindo um sorriso, encarou o seu ex-parceiro e apenas disse:

— Se você quer continuar se enganando, continue, mas quem cantarolou aquela música foi você, e não eu. E só para constar, tire a sua cabeça daquele quarto, Jethro! – Ela deu um tapa do joelho dele e voltou para a sua mesa. E, assumindo o ar de Diretora, continuou: - Mais alguma coisa em que posso te ajudar, Agente Gibbs?

Gibbs foi trazido de volta para o presente, muito a contragosto, e encarou os olhos verdes à sua frente.

— Você é diabólica, Jen.

A gargalhada que Jenny deu poderia ter sido ouvida na sala dos agentes, se o som vindo da garagem de provas não estivesse tão alto.

— Se você acha que o som da banda está te incomodando, Jethro, saiba que eu posso ser mil vezes pior que eles. – Ela afirmou presunçosa.

Gibbs suspirou. Sim, ele sabia que isso era verdade também.

— E então, vai ficar aqui bebendo do meu bourbon, ou vai lá para baixo e trabalhar? – Jen perguntou depois de alguns minutos de silêncio.

— Vou ficar aqui e beber de graça, o que eu tinha em casa acabou, já está tarde para achar algum lugar aberto, e, já que vou ficar com dor de cabeça de qualquer jeito, talvez a bebida me ajude a dormir mais rápido. – Gibbs respondeu à altura.

— Você quem sabe, o fígado é seu mesmo. – Ela deu de ombros – E só um alerta: se você pegar o sono aí, vai ficar por aqui mesmo, eu não vou te levar para casa...

Em resposta ao que havia dito, Jenny apenas recebeu um meio sorriso debochado.

Três horas depois, no meio da madrugada, quando os cinco já haviam acabado o ensaio do dia, Jenny tentava de todas as formas acordar o Marine desmaiado em seu sofá.

— Vamos lá, Jethro. Você está acordado! Pode parar de brincar com a minha cara.

E nada de Gibbs se mexer.

— Tudo bem, durma por aí. Tomara que você amanheça com um tremendo torcicolo. – Ela disse e deu as costas para o agente, pegando a sua bolsa, rumou para porta. Quando estava já no elevador, voltou para a sua sala.

— Seu bastardo, filho da mãe! – Ela xingou. – Por que será que eu simplesmente não posso te abandonar por aqui? – Jenny perguntou enquanto arrastava um Gibbs semiconsciente até o seu carro, já que seu detalhamento de segurança tinha sido dispensado horas atrás. 

— Um dia, Jethro, você vai me pagar! – Jenny ainda xingava quando o ajeitou em um dos quartos da sua casa.

— Esse vai ser o dia! – Gibbs murmurou.

— Como é que é? – Jenny sibilou da porta.

— Não vai ficar? A cama é grande!

— Seu filho da mãe! – Ela respondeu irritada e bateu a porta.

— Não bate a porta, minha cabeça está doendo. – Ele teve a cara de pau de gritar.

— Bastardo! – Foi a resposta que ele recebeu.

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Faltava uma semana para o concurso. E os cinco intensificaram ainda mais o ensaio. Desta vez, já sabendo que o barulho seria maior, a Diretora emitiu um comunicado informando que só quem estava trabalhando em algo muito importante, deveria ficar após às 19:00. Com isso, não teve um agente que ficasse para escutar os ensaios finais. Nem mesmo Gibbs ou a própria Jenny, que, depois daquela noite, estavam em um verdadeiro pé de guerra.

— Eu creio que as três primeiras músicas de nosso setlist estão mais do que perfeitas, bem como o encore. Mas eu não entendo o que houve com as duas últimas! – Ziva disse exasperada. Ela vinha ensaiando em casa também, além de ouvir as mesmas músicas todos os dias para que não errasse a letra ou confundisse alguma palavra.

— E eu sempre achando que a segunda seria a mais complicada... – Tony disse.

— Pois é. O tom da quarta não está ficando bom. – McGee concordou.

— Podemos focar nestas duas pelos próximos quatro dias e deixar para ensaiar as três primeiras somente um dia antes... – Jimmy falou.

— Não sei... será que vai dar certo? – Abby parecia apreensiva.

— A esta altura? TEM que dar certo, Abbs. Já estamos ensaiando há muito tempo para desistir agora.

— Eu concordo com o Tony. Desistir agora, depois de tudo isso, é fora de cogitação. – Ziva falou.

— Vamos lá, gente. A parte mais difícil já foi... e as duas músicas não estão tão ruins assim. – Palmer tentou animar os amigos.

— Mais umas cinco vezes? – Ziva disse olhando para o restante da banda.

— Até a perfeição! – Abby gritou e eles recomeçaram a introdução da música escolhida por McGee.

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Era primeiro de julho, dois dias antes da apresentação. Entre os cinco, eles sabiam que mais nada poderia ser feito, apenas repassar o setlist mais algumas vezes.

A proximidade do concurso significava outra coisa, além do nervosismo óbvio, era o dia de distribuir o convite oficial e as camisas. Sim, Abby tinha saído do controle e fez uma camiseta da banda para cada um dos funcionários do prédio.

— Se só o nome da banda em um pedaço de papel já me dava calafrios sobre qual vai ser a reação dos envolvidos no nome, imaginem agora que temos uma camiseta para cada um neste prédio? – McGee começou.

— O maior problema não é esse... vocês se esqueceram que o Chefe e a Diretora mal estão se falando nas últimas semanas? – Tony fofocou.

— Eu andei ouvindo uns boatos por aí... – Ziva deixou a frase no ar. Ela sabia que não era certo falar sobre a vida pessoal de seu chefe e de sua amiga, mas a notícia já estava se alastrando mesmo.

— Qual deles? Todo dia tem um novo por aí... – McGee perguntou curioso.

— Oras, que a Diretora levou o Gibbs para a casa dela... – Abby apareceu do nada com a informação.

— Quando foi isso? – Tony se interessou pela conversa, na verdade, se eles estivessem fofocando sobre o carinha das cartas, ainda sim seria mais interessante do que a papelada na frente dele.

— Dizem que há umas três semanas. Quem falou foi um dos agentes, ele é responsável pela segurança da casa dela. – Abby disse em tom conspiratório.

— Não me diga!! – Tony já visualizava uma nova aposta vindo no horizonte.

Abby deu uma boa conferida nos arredores, antes de soltar a parte final da fofoca:

— Ele passou a noite toda lá. E foi ela quem dirigiu no outro dia, ele estava com a mesma roupa. Ela o trouxe para o Estaleiro para pegar a caminhonete dele. O segurança do sábado de manhã os viu.

— Eu sabia que tinha algo ali!! – Tony bateu a mão na mesa.

— Tinha algo aonde, DiNozzo? – Gibbs apareceu do nada e todos quatro engoliram em seco.

— Oi Chefe! No carro de nossa vítima, Abby descobriu que os freios foram adulterados. – Ele se safou.

— Isso mesmo, Gibbs! Aqui está o meu relatório. E tome mais isso aqui! – Ela estendeu o convite e a camisa com o emblema da banda.

Gibbs, pegou o folheto e olhou a data e hora, só para fingir interesse. Foi então que sua mirada foi atraída pelo nome mais estranhos que ele já vira.

The Jibblets.

De onde Abby tinha tirado esse nome, dessa vez? E ele olhou com um pouco mais de atenção. E não pode acreditar. Como é que ela tinha criatividade para juntar justo o nome dele com o dela?

E para piorar a situação, a camiseta era o logo, ainda maior.

Gibbs não disse nada, ele deixou o surto para Jenny. Do jeito que as coisas andavam entre eles, ele tinha certeza que ela não iria querer o nome dela junto com o dele no nome de uma banda de jeito nenhum.

Abby passou o restante da tarde distribuindo o convite e a camiseta para cada um dos funcionários do NCIS, não importava o que eles faziam, se eram agentes de campo com uma arma na cintura, ou se ficavam o dia inteiro com o esfregão na mão, ela queria todo mundo lá.

As duas últimas camisetas tinham destino certo, a antessala e o escritório da direção.

Com Cynthia a entrega foi fácil. A fiel secretária da Diretora apenas olhou para o nome da banda e sorriu dizendo:

— Vocês são malucos de colocar isso como nome de uma banda.

— Não somos não, Cynthia. Vai dizer que você não gostaria de um ou uma Jibblet correndo pelo prédio?

Cinthya deu outro sorriso e terminou de dizer:

— Do jeito que os dois andam? Nem na próxima vida.

Abby deu um sorriso triste, mas, mesmo assim, não desanimou.

— Pelo menos você vai?

— Não sei o setlist completo, mas sim, eu estarei lá. Nada pode ficar pior do que nos últimos anos.

— Eu acho que estamos um pouco melhores que a banda anterior. – Abbs respondeu. – Ela tá aqui, não está?

— Sim. Mas, pela sua vida, bata antes. Porque ela pode achar que é o agente Gibbs e só Deus sabe como ela pode te receber.... – Cinthya aconselhou.

— Mas é lógico que eu ia bater!

— Então boa sorte!

— Obrigada!

Abby deu três batidas na porta e aguardou. Poucos segundos depois ouviu a Diretora chamando para entrar.

— Boa noite, Abby. Em que posso te ajudar?

— Bem, Jenny... eu vim entregar o convite e a camisa de nossa banda. Você vai, né? Você já deu a sua palavra...

A Diretora deu uma olhada em tudo o que a aguardava e respirou fundo, era sem chance ela conseguir ir na apresentação. Mas, ao invés, confirmou presença, uma desculpa plausível poderia aparecer até no dia 03.

— Ótimo! Aqui estão!! E quero te ver com essa camiseta! – Abby disse, atropelando as palavras e saindo apressada do escritório.

— Bem... já que é assim... qual é o nome da banda e por que fizeram tanto suspense com ele? – Jenny disse depois de ficar sozinha em seu escritório.

Quando ela abriu a camiseta, precisou de, no mínimo, uns três minutos para processar o que havia escrito de branco no tecido preto.

THE JIBBLETS.

Jenny queria e precisava bater ou brigar com alguém. Com Abby era fora de cogitação, por mais que ela não tenha gostado no nome, era impossível ficar com raiva de Abby.

Mas ela poderia canalizar a raiva dela para outro lugar, para a pessoa que também estava presente no nome da banda.

Gibbs.

E ela iria fazer isso. Ah, ela iria! Ainda mais depois que a fofoca de que ela o ajudou se espalhou pelo prédio da forma mais errada e inconveniente possível e ele não mexeu um músculo para que parassem de falar besteira!

Pegando o telefone, ela discou o ramal da mesa dele, era um número que ela sabia de cabeça.

— Gibbs. – A voz dele soou do outro lado da linha.

— Agente Gibbs, na minha sala, agora! – Ela disse e desligou o telefone.

Jenny pacientemente levantou de sua cadeira e abriu a porta, a pobrezinha não precisava ser ainda mais maltratada. Antes que pudesse se sentar em sua mesa, ela ouviu os passos dele subindo as escadas. Não tardou e ele entrou sem cerimônias na sala dela, deixando a porta aberta.

— Feche a porta.

— Posso saber por quê? – Ele respondeu no mesmo tom frio que ela tinha usado.

— Porque eu não quero ainda mais fofoca sobre nós rondando este prédio.

O sorriso debochado dele ao fechar a porta não passou despercebido a ela. E, com a porta fechada, Gibbs se jogou na cadeira de frente para a mesa dela.

— Nós dois precisamos conversar.... – Jenny começou.

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 Depois de passado o maior temor da banda – sim, eles agora se consideravam como uma banda, e não uma equipe – os cincos ficaram mais aliviados, mas não menos preocupados. O silêncio à volta deles era perturbador demais.

— E então, nenhum dos dois disse nada?

— Nada, Tony. Silêncio total. Tudo bem que logo que eu entreguei o convite e a camiseta, eu saí correndo, mas se eles quisessem dizer algo, eles teriam dito.

— Isso é certo. E como nada foi falado... – Tony deixou a frase solta.

— A “The Jibblets” vai tocar hoje à noite! – Ziva levantou o braço como se estivesse fazendo um brinde.

— A “The Jibblets” e que nada possa nos fazer sermos piores que nossos antecessores! – Abby puxou o brinde.

— A “The Jibblets”!!! – Os demais entoaram.

Faltavam poucas horas para a apresentação e Abby começou a se perguntar se todo mundo iria aparecer.

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 Gibbs estava em seu porão, depois de comprar um bom estoque de Bourbon e ter em sua mente qual será o seu próximo projeto, algo chamou a sua atenção.

Era o folhetinho preto, com a data, hora e o nome da banda da NCIS. Ele pegou o folheto na mão e ponderou. Deveria ir ou não nesse lugar?

Por um lado, ele não era amante do gênero, nem mesmo quando serviu e seus companheiros de batalhão ligavam o som na maior altura com os últimos lançamentos. Mas por outro lado, era a banda de seus agentes e ele havia dado a sua palavra para Abby, mesmo que os demais não tenham entendido.

A camiseta também estava por ali. E ele começou a rir da ideia do nome. Só da ideia, já que tudo isso tinha acabado com ele como culpado. Justo ele! Jethro ainda podia ver a expressão de fúria no rosto de Jen no dia em que ela o chamou em sua sala....

E sabendo que a ruiva em questão deve estar evitando o concurso na mesma ferocidade que ele, Gibbs teve uma excelente ideia. E esperava que desse certo ou que ela não o matasse quando ele soltasse a bomba.

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Jenny estava sentada em seu escritório, óculos na ponta do nariz, uma xícara de café ao alcance da mão e, muita vontade de jogar tudo aquilo na lareira e atear fogo. Ah, se ela pudesse fazer isso....

Mas ao invés, lá estava ela, entediada, lendo a mesma linha da mesa página pela décima vez, sua mente pedindo uma folga que ela não queria dar. Até que o seu olhar foi atraído por um pedaço de papel preto com letras brancas.

O concurso!

E ela voltou no tempo, quando estava na faculdade e costumava ir em shows de rock... ela tinha certeza que, se ela procurasse com vontade, eram grandes as chances de encontrar uma camiseta preta com o slogan da banda “Bon Jovi”, ou até mesmo a sua camiseta surrada da “Guns’n Roses”, isso se ela não encontrasse a camisa da “Queen”.

 - Eram bons tempos...  – ela suspirou.

E, fitando o pequeno convite, ela relembrou da promessa feita à Abby. Ela tinha dado a sua palavra de que estaria lá. E, pelo que ela pode escutar do setlist, a grande maioria das músicas eram de bandas das quais ela gostava, ou pelo menos escutava quando mais nova. Correndo escada acima, ela parou em seu closet e buscou por uma das camisas de banda que ela achava que ainda tinha. E logo a primeira que encontrou foi uma das mais velhas, a camiseta da “The Beatles”, que quase rimava com a banda pela qual ela torceria nesta noite.

Ela já estava a meio caminho da porta, quando a campainha tocou.

— Mas que coisa! – Ela reclamou por baixo da respiração e abriu a porta, para encontrar...

— Noite, Jen. Estou vendo que mudou de ideia e vai para a apresentação. – Gibbs deu uma boa olhada na mulher parada à sua frente, com roupas tão diferentes das quais ela usava no dia-a-dia, com a clara exceção dos saltos, estes permaneceram.

— Jethro... – Foi tudo o que ela disse. Na verdade, desde que ele havia repetido a infame frase, dentro da casa dela, Jenny vinha evitando qualquer contato que não fosse o profissional. Por incrível que pareça, ela tinha achado que tinha superado tudo. Mas não, ao escutar aquelas palavras, ela foi mandada de volta à Paris e a todas as consequências que a decisão que ela fez naquela noite a levaram.

— Isso é uma oferta de paz! – Ele começou depois de ler todos os pensamentos dela em sua própria face.

— Vestido de preto?! – Ela observou a camiseta que ele usava.

— Abby pediu para usar... – Foi a desculpa dele.

— A mim também, mas não estou usando, estou levando como se fosse uma bandeira. – Ela estendeu a camiseta.

Jethro esperou mais alguns segundos, até que ele conseguiu ler a indecisão nos olhos da diretora.

— Dessa vez sem fofoca. – Foi a promessa dele.

— Tudo bem. - Mas a fofoca era o de menos para Jenny.

A viagem de carro até lá foi feita em silêncio, apesar de que os dois tinham coisas a dizer, a explicar, mas nenhum queria começar a abrir as feridas mal cicatrizadas de seu romance.

Quando chegaram, faltavam menos de cinco minutos para que a “The Jibblets” subisse ao palco.

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— Abby, não fique assim. Gibbs não te deu certeza de que viria. – Tony tentou consolar a baixista.

— Esse é o problema, Tony. Ele me deu certeza. Quando ele disse “Abbs”, ali era a promessa dele para mim, de que ele viria ver nosso show.

— E se ele não estiver aqui?

— Aí, Tony, ele vai saber o quão bem eu posso me defender.

DiNozzo olhou para Abby com um misto de medo e tristeza. Até mesmo ele, no fundo, esperava que, pelo menos uma vez, Gibbs se juntasse a turma para uma noite de folga, mas, ao contrário de sua amiga gótica, ele não quis elevar as apostas de uma aparição de seu Chefe. Porém, a ausência do agente seria muito mais sentida por Abby, que via nele um pai substituto.

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O bar estava lotado, não só de agentes federais, mas também de curiosos, nos últimos anos, esse pequeno concurso havia virado um queridinho dos civis, que vinham ver os agentes federais quando não estavam trabalhando, só para ter certeza se eles eram de verdade mesmo.

E, foi assim, lotado com a população de uma pequena cidade, que Jenny e Gibbs encontraram o RockBar.

Para falar bem da verdade, Jenny até que gostou do lugar, era diferente de todos aqueles lugares chiques e cheios de etiqueta que ela passou a frequentar quando assumiu o posto de Diretora. Ali dentro, se ela desse sorte de não ser reconhecida, ela poderia ser a Jenny, não a mulher poderosa que reinava na NCIS.

Já Gibbs, bem, ele já teve a sua cota de bares na vida, alguns bem frequentados, outros, era melhor deixar as histórias enterradas por lá mesmo. Mas este aqui, ele até poderia aturar, e ele estava disposto a tentar pelo bem da promessa feita à Abby, para dar apoio à sua equipe e, por que não, tentar acertar as coisas de vez com a ruiva que estava alguns passos à frente.

Com pouco, finalmente Jenny achou uma mesa alta que tinha uma boa vista do palco, era afastada da agitação, mas, mesmo assim, se os cinco procurassem, eles os veriam sentados ali. Não demorou e Ducky também chegou. Ele sim, sendo um peixe fora d’água naquele ambiente.

— O que nós não fazemos por nossos amigos, não é mesmo? – Ele perguntou rindo quando encontrou os outros dois.

— Mudamos até o visual, não é mesmo? – Jenny sorriu. Ducky, assim como Gibbs estava devidamente trajado com a camiseta da equipe.

— Por falar nisso, onde está a sua?

— Olhe um pouquinho mais para frente, Ducky. – Jenny apontou. – Coloquei bem na ponta da mesa para mostrar por quem estamos torcendo. – Ela terminou com um sorriso.

— Bem, desse jeito não tem como eles não nos verem. – Dr. Mallard sorriu e voltou a sua atenção para o palco, a primeira banda, a vencedora do ano anterior, estava subindo no palco.

Assim como a “The Jibblets”, a banda do Serviço Secreto também tinha escolhido o rock como gênero. O que desagradou a Gibbs que se ofereceu para ir ao bar pegar as bebidas para os três.

Na oportunidade, Ducky não pode deixar de perguntar:

— Vocês dois resolveram as diferenças, minha querida?

Jenny suspirou, e optou pela verdade.

— Não. Hoje é só uma trégua. Os cinco merecem isso. Apesar do nome horroroso que escolheram para a banda.

Ducky riu do comentário.

— Mas creio que foi uma boa forma de homenagear a nossa estranha família. Você bem sabe, minha cara, que Abby a vê como uma mãe e a Jethro como um pai, e eu não duvido que os demais possam pensar de uma maneira muito similar.

A frase pegou Jenny de surpresa. Mas ela preferiu guardar a sua opinião para si, e resolveu prestar atenção no pequeno show.

— Eles ainda não terminaram? – Gibbs perguntou ao se sentar e distribuir as bebidas.

— Obrigada. Até que não são tão ruins assim. – Jenny disse.

— Mas é claro que não, Jen. O que o Serviço Secreto faz? Nada. Então todo esse povo pode ensaiar o ano inteiro, ao contrário de nós!

— Vejo que alguém já está entrando no clima da competição. – Ducky brincou.

— Deve ter a ver com os babacas que estão no bar distribuindo bebidas de graça para todas as mulheres das outras agências. – Gibbs respondeu mal-humorado.

— Deixe-me adivinhar. São do Serviço Secreto e já estão comemorando a vitória? – Jen disse sem tirar os olhos do palco.

— Sim.

— Bem, e por que não aproveitamos da generosidade alheia? Bebidas de graça nunca são demais, não é? Além do mais, hoje eles vão perder, então temos que aproveitar! O que vocês querem? – Ela brincou se levantando da cadeira.

— Por favor, Jen. E se te reconhecerem? – Gibbs segurou a mulher pelo braço.

Ela fez uma careta. Gibbs tinha razão. Ela tinha que tentar passar o mais despercebida possível, apesar de já ter visto o Diretor da NSA andando pelo local.

— Tudo bem. – Jenny respondeu e se sentou a contragosto ao lado do ex-parceiro.

Ao final da apresentação do Serviço Secreto, muito ovacionada pelos presentes, a banda na NSA subiu no palco.

— Isso vai durar a noite inteira? – Gibbs começou a reclamar.

— Creio, Jethro, que a ordem das bandas é a mesma da classificação final do ano anterior. – Ducky começou.

— Seremos os últimos então?

— Muito provavelmente, meu amigo.

— Isso vai ser interessante. – Jenny disse com uma risada quando o vocalista tentou dar um salto e acabou se esborrachando no chão.

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Nos bastidores, a tensão dos membros da “The Jibblets” aumentava. Depois do show do Serviço Secreto, toda aquela confiança que eles tinham começou a diminuir.

— Vocês viram se tem alguém da agência lá fora? – Palmer perguntou.

— Até onde eu pude olhar, eu vi algumas pessoas. Todos com as camisetas da nossa banda. – Ziva disse com um sorriso.

Eles estão entre essas pessoas? – Abby perguntou com esperança.

— Vá lá fora e olhe por você mesma! – A israelense desafiou.

Abby não esperou um segundo e correu para a saída dos bastidores. De início ela viu um monte de pessoas que trabalhavam na NCIS, mas não quem ela queria. Até que notou a camiseta da banda estendida como uma bandeira em uma das mesas. Antes mesmo de ter certeza de quem estava sentado ali, ela abriu um sorriso. Sim, ele veio e não veio só, e ela não se importava que Jenny não estivesse com a camiseta, afinal, uma bandeira como aquela era uma propaganda e um incentivo e tanto para eles! A The Jibblets realmente representava alguma coisa, nesta noite, pelo menos.

Na mesma velocidade em que foi conferir os presentes, Abby voltou para os bastidores.

— ELES ESTÃO AQUI! ELES VIERAM!! – Ela pulou e abraçou Tony!

— Eles? Achei que você estivesse preocupada somente com a ausência do Gibbs!

— Não Tony! Eu queria todo mundo aqui. E está todo mundo aqui! E quando eu digo todo mundo, eu digo do subsolo até o quarto andar! – Abby disse feliz.

Tony, McGee e Palmer olharam para Ziva.

— Sim, Ducky, Gibbs e até a Jenny estão lá fora. – Ela confirmou.

A banda do Serviço Secreto que se dane, eles iam levar esse troféu para o NCIS nesta noite!

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— Serviço Secreto, NSA, ATF, FBI, CGIS, CID.... está faltando alguém? Acho que o alfabeto inteiro está aqui! – Jenny suspirou cansada. Na verdade, ela estava brava consigo mesma por não conseguir mais aguentar virar a noite acordada em um bar.

—  Somos os próximos. – Ducky disse.

— Ainda bem.

Mal ela tinha fechado a boca, e a The Jibblets foi anunciada no palco. Logicamente o nome foi o que mais chamou atenção, mas bastou Abby começar os primeiros acordes de Come Together da The Beatles que todo mundo se concentrou na apresentação.

— Parece que você acertou na camiseta, Jen! – Gibbs precisou falar bem perto do ouvido dela para que ela escutasse, afinal, ela já estava de pé e ensaiando começar a dançar.

— Eu tento, Jethro! – Foi o que ela respondeu, sem olhá-lo.

Ao final da primeira música, os aplausos já eram muitos, mas as coisas só estavam esquentando. Pois logo em seguida, Tony e McGee deram o tom e Ziva simplesmente começou:

“This ain't a song for the broken-hearted
No silent prayer for the faith-departed
I ain't gonna be just a face in the crowd
You're gonna hear my voice when I shout it out loud”

E o refrão de It’s My Life, do Bon Jovi, foi cantado a plenos pulmões por todos, afinal, quem que nunca tinha escutado essa música na vida?

Sinceramente, o clima no bar era outro, todos estavam muito mais animados com estas duas músicas do que com todo o setlist das demais bandas.

Eles deram um minuto de pausa e cada um se apresentou ao público, logicamente os maiores sorrisos foram direcionados para a mesa onde os três estavam, agora de pé e, sim, dançando.

Bem, nossa terceira música, espero que cantem conosco também. – Abby disse. – Senhoras e Senhores....- Highway to HELL. – Ela gritou. E os aplausos foram tão alto quanto.

Quem estava sentado até então se levantou. A derrota dos demais estava selada, não importava quais músicas viessem agora.

Mas a melhor parte, foi logo na primeira estrofe, quando a música disse: “My friends are gonna be there too” Todos os integrantes da banda cantaram em uníssono.

Desnecessário dizer que o refrão foi cantado por todos, com direito à capela dos presentes, que já estavam pra lá de empolgados. Mas o que mais surpreendeu os músicos, foi um certo agente cantando o refrão. Algo que Tony anotou mentalmente, um dia ele iria perguntar para o Chefe onde foi que ele aprendeu a cantar essa música.

Quando todo mundo achou que não poderia melhorar. DiNozzo colocou uma cartola na cabeça, olhou para McGee e dando um sinal, os dois começaram os primeiros riffs de um dos maiores sucessos da Guns’n Roses. Sweet Child O’Mine era a próxima bomba que a “The Jibblets” soltava nesta noite. E Ziva, entrando na onda de Tony, fez a famosa e famigerada dancinha de Axl Rose. Foi aí que a casa foi à baixo. Nessa música não se soube quem deu mais show, se foi Jimmy na bateria, Tony e McGee nas guitarras, se foi Ziva que, mesmo com medo de desafinar, cantou com maestria, se foi Abby que acumulando a função de baixista e segunda voz, mostrou ter uma presença de palco imensa ou se foi a plateia que cantou e dançou junto e, ao solo de guitarra bateu palmas no mesmo ritmo da bateria. Ao final da música, quando Ziva conseguiu acompanhar a mesma nota da guitarra de Tony com a voz, a plateia explodiu em gritos e assobios. Mas os gritos e assobios mais altos vieram de Gibbs, Jenny e até mesmo Ducky. Pois é, esta já era uma noite memorável para os cinco presentes no palco.

— E agora, a nossa última música. – Ziva anunciou.

Abby foi para mais perto de Tony e juntos iniciaram os primeiros acordes de Nothing Else Matters. Eles encerravam com uma música um pouco mais lenta, mas não menos conhecida, já que a plateia acompanhava Ziva sem errar uma estrofe. E ela aproveitou e chamou todos eles para cantarem o refrão.  No solo de guitarra Tim e DiNozzo não mediram esforços e toda essa apresentação rendeu quase cinco minutos de aplausos, assobios e pedido de bis.

Vendo que não tinha jeito, que a audiência não deixaria a “The Jibblets” sair do palco se não cantasse mais uma música, os organizadores disseram: “Que venha o encore!”.

Os cinco se entreolharam, tirando Ducky, que foi quem escolheu a música, era uma surpresa para todos do NCIS a próxima canção.

Ziva, assumindo a pose de LeadWoman chamou a todos e pediu.

— Bem, diferente das quatro primeiras canções, esta é um pouquinho mais lenta, então, se quiserem dançá-la, fiquem à vontade, e se quiserem, podem cantar também.

O início da música foi um pouquinho alterado para se encaixar nos instrumentos que eles tocavam, mas, mesmo assim, todos reconheceram de pronto a melodia de “Love Of My Life” da Queen. E não foi um ou dois casais que foram para a pista de dança, todo mundo que tinha um par e até mesmo aqueles que não tinham, arrumaram um e começaram a dançar.

Foi nesse momento que Gibbs resolveu que seria uma boa hora para tentar ajeitar as coisas com Jenny, e a pegando pela mão, a levou para a pista de dança, e, com a mesma música, fez exatamente o que ele havia feito em Paris, sete anos atrás, cantarolou toda a letra ao pé do ouvido dela.

Ao final da canção, quando todos se viraram para o palco para parabenizar a banda mais uma vez, ele, antes mesmo de virar, disse as palavras que ela tanto quis ouvir naquela noite.

Os dois se viraram e aplaudiram mais uma vez os cinco. Era visível nos rostos cansados dos agentes como eles estavam felizes e orgulhosos do que eles haviam conseguido.

Não, não era a resolução de um caso difícil, também não era nada relacionado ao trabalho, mas, para eles, conseguirem montar, ensaiar e tocar para todas aquelas pessoas sem ao menos um erro já era a grande vitória.

Não demorou e a banda vencedora foi anunciada, não teve nenhuma dúvida quanto à vencedora. The Jibblets.

A única pergunta feita quando o troféu – que nunca tinha ido parar no NCIS desde que o concurso foi aberto – foi entregue foi:

— Mas, afinal, o que significa “The Jibblets”?

Os cinco se olharam. No bar, quase todos esperavam pela resposta, porque até mesmo o pessoal da própria agência queria saber o que raios era aquele nome que a Abby havia inventado.

Ducky tentou se manter sério, mas ele sabia que ninguém ali soltaria o real significado no nome.

Jenny, por alguma razão, assim como Gibbs, prendeu a respiração. Ela já começava a pensar em como explicaria aquilo ao SECNAV, ele, por sua, já estava pensando em uma maneira de acalmar a ruiva caso o significado fosse dito.

Foi DiNozzo, com um sorriso zombeteiro no rosto, quem respondeu.

— Sabe o que é, gente, o nome e o significa é uma piada interna, então, nos desculpe, vamos fazer mistério!

Os gemidos de frustação abafaram os dois de alívio ao lado do palco. O segredo estava guardado, e, pelo menos até o próximo ano, o nome “The Jibblets”, assim como a banda, seriam muito comentados pelos corredores de D.C., para o deleite dos componentes e o total desespero do ~agora~ casal que nomeara a banda.

 


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Notas finais do capítulo

Setlist.

Come Together ?“ The Beatles ?“ Palmer - link: https://www.youtube.com/watch?v=45cYwDMibGo

It’s My Life ?“ Bon Jovi. - Ziva - link: https://www.youtube.com/watch?v=vx2u5uUu3DE

Highway to Hell ?“ AC/DC - Abby - link: https://www.youtube.com/watch?v=SMaVii7nnj4

Sweet Child O’Mine ?“ Guns’n Roses - McGee - link: https://www.youtube.com/watch?v=1w7OgIMMRc4

Nothing Else Matters ?“ Metallica ?“ Tony - link: https://www.youtube.com/watch?v=x7bIbVlIqEc

Encore: Love of My Life ?“ Queen (cortesia do Ducky) - link: https://www.youtube.com/watch?v=T73WhWTawCE

Ducky foi muito casamenteiro na escolha dele!!

Muito obrigada a quem leu!



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