Taisramore - A Cidade Proibida escrita por Ginty Mcfeatherfluffy, Gi47


Capítulo 1
Capítulo Primeiro




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Em uma noite calma e calorenta, vagava uma jovem mulher, dotada de belos cabelos cacheados castanhos e de maravilhosos olhos verdes; sua pele era um pouco bronzeada. Suas vestes eram finas, feitas de seda azul esverdeada; sua capa roxa esvoaçava à medida que ela se movia.

A jovem bruxa Ebony Ambermoon estava à procura de seu futuro possível concorrente nos negócios, Harry Goldblack. Ela fazia questão de ir o mais lentamente possível, não queria nem um pouco ver aqueles olhos negros, não tinha o menor interesse em se deslumbrar com aqueles fios loiros e brilhantes, ou de ficar arfando com aquele corpo muito bem construído.

Quando finalmente chegou ao lugar marcado, suspirou longamente e, aproximando-se do loiro que veio recebê-la, cumprimentaram-se com escarninho – Ora, veja só se não é a bruxinha sem vassoura. Por que será que se atrasou? Será que sentia o calor de uma fogueira? – Ele dá um meio sorriso ao fixar o olhar nos olhos de esmeralda da moça, e esta lhe respondeu à altura – Oh, você gostaria disto, não? Na verdade, cheguei atrasada porque não queria ver tua bela espécie em minha frente. – Harry ficou claramente ofendido – Algumas pessoas nos chamam de “fantasmas”. – E, Ebony não comoveu-se. – Algumas pessoas os chamam de idiotas.

— Deixemos os elogios para depois, Ambermoon. Vá direto ao ponto, sim? Qual tua oferta? – A postura da feiticeira era agora toda profissional – Muito bem, sabe que a guerra contra os humanos é iminente, e pelo que sei, os Fantasmas não tem como se defender. – O sorriso de desdém surgiu indisfarçadamente – Portanto, venho pedir o cessar dos ataques a nós e em troca lhes oferecemos recursos, mantimentos e tudo mais que demandarem.

— Na verdade, moça, tenho que dizer que... – As palavras enroladas de Harry foram interrompidas por um estrondo que conheciam bem e fora tão próximo, que foi como se Ebony tivesse recebido o balaço, bem no coração. E, cambaleante, ela teria encravado seu rosto no chão de pedra, não fossem as mãos ágeis de Goldblack. – Hora imprópria a senhorita escolheu para demonstrar teu afeto por mim, Ambermoon querida. – Como se Ebony não estivesse sobressaltada o bastante, o rapaz tinha que comentar absolutamente tudo. – Ah Goldblack, pelo amor de Deus... – Logo ela desprendia-se dos braços grandes do Fantasma e esforçava-se para se equilibrar novamente e ajeitar sua roupa. – Esse ruído que acabamos de ouvir confirma minhas palavras, será tão insolente a ponto de tratar isto como uma brincadeira?

O cenho do Fantasma vincou, recordando-se das palavras que ela havia dito antes do susto a que foram submetidos. – Disse que nós as atacamos? Cara Bruxa Sem Vassoura, há muitas luas nós não hostilizamos ninguém, tem acontecido exatamente o oposto. Eu estava viajando na ocasião em que isto iniciou-se, mas fui informado de que estavam com o rosto oculto, cheguei a pensar que fosse teu... bando. – Pois bem, vez dele sorrir desdenhosamente.

— Meu clã não é formado por covardes! – Ela cuspiu entredentes, deixando Goldblack tonto com seu olhar penetrante, que assumia uma cor de âmbar com pequenos pontos verdes ao redor da íris. Seria a primeira vez que o sujeito experimentava o poder de Ebony e provavelmente desejava que fosse a última. Já liberto do transe, ele começou a expor seu pensamento – Veja, minha cara, deixe-me dizer, antes que mais algum tiro nos interrompa: Primeiramente, não foi intenção chamar tão fino grupo de “covardes”, compreendeu-me mal. Segundamente, não começaríamos agora a atacá-las, ainda mais depois de tua visita cordial e posso assegurá-la, milady, que não precisamos de recursos ou nada que possa nos oferecer, afinal, não podemos morrer. Nada nos põe medo.

— Gostaria que nada me pusesse medo. – E, curvando-se, ia preparando-se para seguir seu rumo, quando a voz desagradável de Harry a fez parar. – Posso lhe acompanhar, minha cara? Odiaria que se machucasse, ou se perdesse... – A jovem havia perdido há um tempo a vontade de ser educada. – Não precisa se preocupar comigo, meu caro, sabe que posso cuidar de mim mesma.

— Oh, eu insisto. – E assim ele a pegou pelo cotovelo, e deram meia volta. Ebony começou, inocentemente enquanto cruzavam a Clareira dos Cristais, - Está uma noite tão calorenta, por acaso seria um cavalheiro e me levaria a algum lugar onde eu possa me refrescar? – Sua voz saíra mais doce do que pretendia.

— Se quer um lugar para se refrescar, sugiro Caveira e Ossos, apenas não estou muito certo se é lugar para uma dama. – Ela apenas lançou um olhar sugestivo a ele.

Sonhos podem ser realizados tanto quanto despedaçados e, aquele mais profundo, inalcançável e ridículo de namorar e, futuramente casar-se com uma ruiva de sua vila – a bela e adorável Clarisse Evans – foi justamente partido em milhões de pedacinhos. Darren O’Connel não era tão babaca ou feio para levar um fora de quem quer que fosse: seu cabelo era negro como ébano, olhos castanhos como carvalho e seu cavalheirismo era tão subestimado que dava a impressão de ser cafona, antiquado... Ninguém levava o pobre homem a sério!

Cansado de toda humilhação a que ela o submetera, ele parou de lamentar-se e levantou-se da pedra onde estava sentado; o rapaz não possuía família, nem amigos, porém, tinha algo que o manteve de pé até aquele momento: o desejo de conhecer novas pessoas, novos horizontes, oceanos, montanhas, de ultrapassar todas as fronteiras e desbravar aqueles lugares onde ninguém ousou chegar. Caminhara até certo ponto e chegara a um portão de aparência tão sombria que havia algo de cômico, nele havia uma placa com os dizeres:

Taisramore – Se fosse você, iria embora

 

Pela entrada, pôde constatar que o local era encoberto por uma névoa densa; munido de toda coragem e audácia que conseguira reunir, eis que o jovem abre o portão e adentra a tal Taisramore.

Admirando cada canto daquele lugar sombrio e cômico ao mesmo tempo, ele deparou-se com várias construções singulares, entre elas uma taverna; o homem achou curioso o nome escrito na grande placa de metal e resolveu entrar. O lugar estava repleto de singulares e curiosas criaturas, entretanto, observando melhor, avistava um casal relativamente normal que ocupava a mesa ao centro. Decidido, ele dirigiu-se até lá, sentou-se na frente deles e, audacioso, explicou-se – Perdoem-me o incômodo, mas notei que os senhores são os únicos dotados de normalidade deste lugar. – Darren sentiu o peso do olhar do loiro pela primeira vez e percebeu o quão translúcida era sua pele, reconhecendo então que estava diante de um fantasma – um fantasma de verdade. Ao desviar o olhar, em pânico, tomou conhecimento de que a moça ao seu lado era uma bruxa. Como? Ela conjurou uma garrafa de vinho, da melhor qualidade, diga-se de passagem. Aterrorizado, levantou-se da cadeira, porém, ao perceber que um lobisomem imitou seu gesto, tratou de sentar-se novamente, escondendo o rosto com uma das mãos, proferiu transtornado – Ah meu Deus, vocês são... monstros!

— Eu não sou um monstro, mas posso me tornar um. – Provocou Harry, com um sorriso malicioso e uma mão no queixo; a jovem ao seu lado procurou amenizar a situação. – Nós somos monstros, de fato, mas eu prefiro o termo “criaturas sobrenaturais que não poderiam ser vistas por humanos como você.” – A bruxa e o fantasma entreolharam-se, aparentemente invadidos pelo mesmo lampejo, que foi simplesmente, levantar o estranho de sua cadeira – onde parecia estar colado – e levá-lo para fora. – Posso lhe mostrar a saída, senhor? – Adiantou-se o amotinado, e isso até arrancou um sorriso, ainda que mínimo, da compenetrada dama; os três então dirigiram-se até a saída. Ebony e Harry conduziram o desconhecido até uma cadeira ali perto, enquanto ficavam de pé, pensando no que um humano poderia estar fazendo ali, tanto que Harry resolveu tirar esta dúvida. – Quem é você, e o que raios está fazendo aqui?

— Sou Darren O’Connel, e estou em busca de aventuras. – Revelou o rapaz, acuado, olhando fixamente para o fantasma. Ebony assente cautelosamente, com os braços cruzados e, virando-se para o mesmo, diz em tom de voz baixo – Acho que dá pra confiar, Harry. – Isto faz os olhos do loiro arregalarem-se, e dava para ver, mesmo que os olhos dele sejam tão pálidos, e exclamou, surpreso – Nunca imaginei que meu nome soaria tão bem vindo de teus lábios, querida. – Dando mais um de seus sorrisos sarcásticos, ela comenta – Muito lisonjeiro, Goldblack. – Observando a cena graciosa à sua frente, O’Connel começa a juntar as peças e algo vem à mente – Vocês são casados? Porque... se parecem com um casal que conheço, precisam ver... – O humano daria uma gargalhada, se a forma arrepiante do homem translúcido não se pusesse a centímetros de distância dele. – Você está brincando com fogo, rapaz. Vem a nossa cidade, entra em nossa taverna e, tem a audácia de perguntar se somos casados? – A bruxa, intencionando mais uma vez amenizar a situação, crava seus olhos nos de O’Connel e, (Harry levanta uma sobrancelha ao ver os olhos verdes transformando-se em âmbar) praticamente ordena – Você vai sair deste lugar e não causará mais problemas.

O humano estranho pisca algumas vezes e protesta, ofendido. – Como é? Não irei embora, acabei de chegar! Estou em um lugar repleto de monstros, por Deus! Nunca vi monstro algum em minha vida. Exceto a tia Morgana, mas isto é outra história. – Os olhos de Harry alternavam-se entre Ebony e o forasteiro cabeça dura e, constata o óbvio – Ele é... imune ao teu poder de persuasão, e nem eu sou imune a ele. Estranho. – A bruxa apoia seu queixo na mão, pensativa, concordando – Deveras, vou levá-lo ao clã. Levante-se e siga-me... Darren. – O Fantasma, por mais que não quisesse admitir – nem para si mesmo – não gostou nada da ideia de deixá-la sozinha, expor sua família para um ser daquela espécie letal, mesmo que seja aparentemente inofensivo; chama-a para perto e pergunta baixinho – Tem certeza disto? Digo, ele é um humano. Você mesma queria desesperadamente me convencer a ajudar vocês na guerra e tá se juntando a um cara que não sabe manter a boca fechada?!

— É muito meigo quando está preocupado, Goldblack, mas está cansado de saber que sei cuidar de mim e, digo pelas minhas Irmãs também. Tranquilize-se, sim? – Ambermoon faz de tudo para acalmá-lo, até passando as mãos sobre sua face quase invisível. Ele então, resignado, respira fundo e toca as mãos dela. – Então faça o favor de tomar cuidado,Ambermoon. – Sorrindo tristemente, ela retira suas mãos do rosto de Harry e segue viagem.

Antes de morrer, Harry orgulhava-se de ser um pirata, não daqueles maus, afinal era filho do grande Capitão Bootstrap Goldblack. Satisfeito por ter morrido de forma tão heroica – sim, ele entrepôs-se num duelo entre seu pai e o sanguinário Lazyjacks e assim sua vida fora arrancada dele, enquanto sua alma encontrava Taisramore e, por consequência, uma nova família. Enquanto pensava em sua vida, ele adentrava o bar que lhe pertencia, o Chaleira Furada, e ocupou um banquinho próximo ao balcão; enquanto pedia uma bebida a seu compadre Stein, sentiu que seus três amigos – Snout, Magooch e Scheaffer – vieram lhe fazer companhia. – Como vai essa vida fantasmagórica, meu querido amigo? – Saudou Snout.

— Você pode fazer o favor de calar-se?

— Dia difícil? – Perguntou o mais velho dos quatro e rejeitando completamente a ordem de Goldblack. – Nem faz ideia... – Suspira um dos fantasmas, bebendo num gole só sua cerveja amanteigada – Conheci melhor uma das Bruxas Sem Vassoura... Foi a melhor coisa que ocorreu-me, e em contrapartida, conheci um humano idiota e ela tá correndo perigo. - Os três fantasmas destamparam a rir e somente pararam quando a caneca fora arremessada neles. – Harry Goldblack tá com ciúmes, essa é boa!

— Não é nada disso, ora. Humanos são letais, e embora não possam fazer nada conosco, eu... Ah, por que estou aqui perdendo tempo com vocês? – Despedindo-se sem jeito de seus colegas, o fantasma sai de sua taverna.

A jovem bruxa e, o jovem humano estavam no clã das Bruxas Sem Vassoura enquanto ele era apresentado às melhores amigas – consideradas Irmãs – de Ebony. Eden é a rainha deste grupo, com cabelos longos, dourados e ondulados e, expressivos olhos castanhos; Margred, a princesa, contava com ondas de fogo sedosas e grandes e duas esmeraldas faziam as vezes de olhos. Diettingen, por sua vez, destoava das outras: Seus cabelos eram negros e curtos até o queixo. As feiticeiras acharam o humano bastante atraente, mesmo sabendo que aquilo era errado. Margred pediu licença e ausentou-se da reunião; Ebony não pôde evitar a preocupação que instantaneamente a ferroou e, seguiu-a.

— Ebony querida, e quanto ao humano? – Pergunta uma impaciente Eden; e ela, constrangida e com pressa responde um – Desculpe, Majestade. Depois falamos disto...

Logo após ter saído do bar, Harry vagava noite adentro, tão fatigado e bêbado que o que ocorreu em seguida podia ter sido alucinação, no entanto, longe disso. Uma mão grosseira e enluvada cobriu sua boca e o levou gentilmente até um beco próximo e, ao ter seus braços e lábios livres, o fantasma pôde então reconhecer seu captor. – Grunter, velho amigo. Que desprazer revê-lo. – Diz Harry, sorrindo amargamente e esfregando a boca para tirar qualquer vestígio das mãos imundas do sujeito dali. – Teu desprazer não é maior que o meu, acredite. Mas as surpresas estão apenas começando. – O pirata então foi acertadamente surpreendido por passos leves, satisfeitos e, femininos; então, quando a figura esguia aproximou-se da dupla, retirou o capuz, revelando assim uma mulher tão linda quanto perigosa. – Encantado com sua beleza, já nos conhecemos?

— Provavelmente não, não costumo conversar com animais. – E, com um movimento das mãos, ela o joga contra um muro – Tão... bonita quanto... ousada, hum? – Foi a resposta de Harry, o pirata-fantasma, que saía pausadamente, já que sua garganta estava comprometida. – Ah, Goldblack, deixe-me apresentá-los: Esta dama que encanta teus olhos e lhe pôs numa situação difícil, chama-se Margred Gower... – Sorrindo presunçosamente, ela completa - ... Conhecida como a bruxa mais poderosa da região...

— ...E também a mais traidora. – Virando-se para o loiro, diz em tom levemente irônico – É só lhe deixar por um momento e já se mete em encrenca. – Claro que Harry responde – Também estou feliz em revê-la, saber que está bem, que veio me salvar... – Mas é interrompido, e é incrível como aquele salafrário gostava de cortar os outros. – Chega! Gower, você conhece esta enxerida? – E a ruiva não perdeu a oportunidade de ofender a colega, quase irmã. – Ela é a bruxa mais fraca do clã das Bruxas Sem Vassoura... Ebony Ambermoon

          Ebony Ambermoon, porém, não havia ficado nem um pouco triste com isso, pelo contrário aquilo a divertiu tanto que até deu uma gostosa gargalhada, atraindo confusão para as outras três pessoas presentes naquele beco, então, disse após ter se recuperado, dirigindo-se à ruiva:

— Margred, você é uma princesa, chamar outra bruxa de fraca não é digno deste posto.

A traidora levantou uma sobrancelha e, para vingar-se da morena, atingiu-a com um feitiço; Ambermoon então, caiu no chão e bateu a cabeça. Harry, já liberto do feitiço que o aprisionava no muro, intencionava ver se a aliada estava bem, no entanto, Gower e Grunter o pegaram pelos braços e o capturaram, levando-o para o lugar mais sombrio de Taisramore: o Castelo das Trevas.

A bruxa, ao acordar, sentiu uma profunda dor de cabeça, com o intuito de amenizar a dor ela coloca a mão no lugar dolorido, percebendo que havia sangue ao tirar a mão, a morena rapidamente cura a si mesmo com sua magia. Levanta-se com dificuldade e cambaleia um pouco, e então, volta ao clã de bruxas sem vassouras a fim de dizer-lhes o ocorrido e pedir ajuda.

— Ebony, onde esteve? E minha filha, onde está? – Nem ao menos havia chegado e já estava sendo bombardeada por perguntas, isso é que é uma rainha preocupada com seus súditos!

— Majestade, é com grande pesar e... Raiva que digo que... Tua filha é uma tremenda traidora. – Revelou Ambermoon, tendo grande dificuldade em se conter, acabou por despejar logo a verdade pra cima de sua líder. Logo a imagem do humano inundou a mente da Conselheira – Se me é permitido saber, tem alguma notícia a respeito de Darren? – A benevolente líder ergueu uma sobrancelha à menção do primeiro nome do rapaz que, apesar de tão pouco conhecido, já era tratado com esta intimidade; Precisando retrair as lágrimas, Eden dá as costas para sua mais confiável seguidora, que entende o ato como um aviso para segui-la. As duas então, dirigem-se à Sala das Espirais, onde as irmãs bruxas já estavam reunidas e, aparentemente tensas; Darren também dava o ar de sua graça – pela primeira vez em sua vida, Ebony sentia-se realmente apreensiva.

Harry foi jogado violentamente ao chão, claro que isso o indignou, no entanto, levantou-se e observou a maravilhosa e obscura decoração daquele lugar: pilares feitos de mármore negro, com detalhes espiralados em forma de cobras rubras; o chão é composto por sombras que mais se assemelhavam a portais para a escuridão infinita; além de tudo isso, manchas de sangue ornamentavam toda a extensão do grandioso local, servindo como recordação – ao Senhor Murdock, proprietário do castelo – das vidas que ele ceifou. Tão distraído ele estava, que nem notou a bruxa traidora se aproximando, e pousando uma mão no ombro do pirata, ela sussurra – Gostou da decoração? Ótimo, porque este será teu lar a partir de agora. – E, dando dois tapinhas no rosto fantasmagórico, afastou-se. Respondendo à pergunta da ruiva, o loiro displicente, levantou os ombros, reconhecendo que estava em uma situação difícil - porém, no seu íntimo tinha esperança que ainda não era tarde demais – Bom, talvez com um certo toque feminino, quem sabe? - Sim, Harry Goldblack, pensou levemente em Ebony Ambermoon, ao formular essa frase despretensiosa. Incrível como a Bruxa Sem Vassoura o perturbava tanto, até mesmo em pensamento, pois em mínimos instantes, ele distraiu-se de tal maneira, que nem notou que a cobra ruiva ocupava o centro do hall daquele castelo. Grunter juntava-se a ela, com o que parecia ser uma euforia sinistra; Uma luz roxa emanava das mãos alvas enquanto lábios pronunciavam os Obscurius – poucas palavras que trazem os piores seres de volta à vida – e, um grito seguido de risos maléficos puderam ser ouvidos: Uma fenda abriu-se no interior do círculo, envolta em chamas belamente perigosas; Erguia-se aos poucos uma caveira que, tomava gradativamente as feições de Benedictus Murdock. Feições estas muito atraentes, diga-se de passagem: Cabelos como o breu, olhos que capturam o ar rosado da madrugada, além de um sorriso devastadoramente sedutor. – 100 anos naquele inferno me deixaram com uma vontade incontrolável de matar alguém... Ora, o que temos aqui?

— Permita-me apresentar-me, Milord... – Adiantava-se Grunter, sempre bajulador, porém seus lábios foram magicamente costurados por Benedictus, que estava no auge de sua impaciência para imbecis – Eu já tenho o desprazer de lhe conhecer, refiro-me a esta rosa com espinhos – Diz, galanteador, pousando um beijo na mão alva.

— Margred Gower é meu nome, Milord, ao teu dispor. – Palavras que deleitaram Lord Murdock ainda mais.

Na Sala das Espirais, Eden tinha suas mãos solenemente torcidas diante do peito; posicionava-se ao centro de uma grande espiral envolta por uma fina, mas estonteante cortina transparente cravejada de pequeninos cristais. Cortina esta que pendia de uma enorme coruja, com suas asas douradas e brancas abertas; Na dita espiral continha inúmeras cadeira feitas do mais puro cristal. As paredes deste recinto encantado eram absolutamente transparentes, proporcionavam às belas damas uma visão privilegiada de tudo o que ocorria naquela cidade; e sentiam-se seguras apesar de supostamente viverem em local tão exposto.  O posto de Ebony era ao lado direito de Darren, e à frente da Rainha; os outros assentos foram ocupados pelas feiticeiras restantes.

— Companheiras, tenho razões para crer que este cavalheiro em nossa presença seja um Pacificador. – Burburinhos, risos, sobrancelhas franzidas recepcionaram a declaração da grande líder. O próprio O’Connel não sabia se gargalhava ou chorava, ele buscava aventuras, correto, mas isto era um pouco demais...

— Certo, e o que seria um “Pacificador”? Não falo do sentido literal da palavra porque eu fui a escola, mas como me tornei isso? Nunca trouxe paz a nada ou ninguém... A paz nunca foi muito presente em minha vida.

A Rainha das Bruxas sorria maternalmente ao ouvir as palavras do humano, e pousou uma mão no rosto masculino. – Você possui um brilho dourado nos olhos que somente os Pacificadores possuem, e somente almas puras podem ter. Meu caro, o futuro de teu mundo, e do nosso está em tuas mãos.

— Obrigado, Majestade, por levantar minha autoestima. Mas, como é que eu posso salvar dois mundos se eu não consegui nem conquistar uma garota? Claro, era a mais esnobe da minha aldeia, mas mesmo assim...

Um sorriso de canto desenhou-se nos lábios carnudos de senhorita Ambermoon, e aproximando-se de Darren, ela pôs a destra no ombro alheio e com ternura, com origem desconhecida até por ela, sussurrou – Não acredito que essas palavras sairão de meus lábios, mas... Tenho fé em você, O’Connel.

A rosa com espinhos solicitou uma audiência privada com o ser das trevas que há muito segue, e este prontamente a atendeu, afastando Grunter da mesma. – Perdoe-me, Milord, mas o que pretende?

Com um sorriso odioso nos lábios finos e sem cor, Benedictus replica que pretende transformar Taisramore em Defacity. O pirata-fantasma, como paralisado, acaba por ouvir as palavras ditas com tamanho desdém, e com o intuito de feri-lo, ou pelo menos induzir uma dor que seja naquele ser das trevas, corre em sua direção, no entanto, só o que conseguiu foi atravessá-lo. Murdock então toma-lhe pelo pescoço, e de repente, a pele do pirata já não é translúcida, ele ouve e sente seu próprio coração pulsar, sente dor... Está vivo. – E este paspalho me ajudará. Digo, nos ajudará, minha bela. – Ao soltar Goldblack, aquele ser perverso ordena para que atem mãos e boca do prisioneiro, e prepararem-se para visitar uma velha amiga.

Na densa floresta de Taisramore, lá no canto mais escuro, na árvore mais solitária e antiga, lá você encontrará Pervinca, uma fada com cabelos violeta longos, pele lilás, olhos cor de vinho.


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