Intransigência escrita por Mari Mitarashi


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

O universo alternativo que se passa a história, é onde Amestris não massacrou Ishval, mas entrou em guerra com o país vizinho Drachma. A sua principal concorrente na disputa pelo poderio militar.

Eric Goodman é de minha total autoria.

O capítulo foi escrito de maneira massiva intencional para acentuar os sentimentos dos personagens em questão.

Desejo a todos uma boa leitura.



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“A Srta. Riza Hawkeye e o Sr. Eric Goodman tem o prazer de convidá - lo a cerimônia de casamento, que ocorrerá no dia 07 de setembro de 1915.

 

Ficaremos gratos com a sua presença.”





O belo convite com adornos dourados fora jogado na lareira, quase de imediato sendo consumido pelas chamas alaranjadas. O som característicos da madeira sendo consumida pelo fogo ecoava pelo quarto da mansão, a luz que vinha da lareira iluminava parcialmente o rosto inexpressivo de um homem amargurado por suas próprias escolhas.

 

Se Roy Mustang tivesse um poder com toda certeza escolheria o de voltar no tempo e consertar tudo de errado que fez, começando no dia que quebrou o coração da única mulher que já considerou amar. Nunca se arrependeu tanto de suas decisões como naquele momento, ele perdeu o amor de Riza para um drachmeno arrogante. E com ele, ela levou o seu prazer mais precioso, beber uísque; a cor da bebida lembrava os belos olhos do falcão atirador.

 

— Maldição! — A garrafa de uísque fora arremessada contra a parede do quarto, deixando uma mancha no papel de parede.

 

A dor em seu peito não podia ser mais contida, Mustang se sentia impotente diante da situação. Estava perdendo a mulher que mais amava e ele não podia fazer mais nada.

 

— Será que dá pra fazer menos barulho? — A voz irritadiça soou alta dentro do quarto chamando atenção de Roy para Edward. — Amanhã tenho trabalho para fazer.

 

O rosto cansado do químico indicava falta de uma boa noite bem dormida, Mustang sabia do histórico de insônia de Edward e as raras noites que ele conseguia dormir.

 

— Não enche, anão de jardim. — Resmunga Mustang voltando a atenção para o cacos de vidro no chão.

 

Edward arqueou as sobrancelhas grossas estranhando o mau humor do amigo aquela hora da noite, os seus olhos ágeis vasculharam o local rapidamente captando cada detalhe. O envelope branco em cima da mesinha de eucalipto o fez entender o que se passava, Roy havia finalmente recebido o convite de casamento de Riza.

 

— Amargurando a essa hora da noite? — Perguntou o químico entrando no cômodo.

 

Mustang não se virou, permaneceu olhando para a mancha de uísque em sua parede, tal atitude já estava começando a deixar Edward impaciente. O Elric sabia que Roy não iria ceder, preferia mil vezes a perder a mulher que ama a do que voltar em seus ideais. O cheiro forte da bebida já penetrava as narinas de Edward, não era agradável de sentir mas suportável para que ele tinha em mente.

 

Ele presenciou demais as lamúrias desnecessários de seu amigo.

 

— Ainda tem tempo para correr atrás dela. — Disse Edward se aproximando da lareira. — Ela pode mudar de ideia, sabia?

 

— Ela não mudou em anos, o que a faria mudar agora? — Riu o coronel amargurado. — Riza já tomou sua decisão.

 

— Talvez a Riza desistiria de se casar com o Eric, se você aparecesse na igreja. — Edward apertou os lábios fitando as labaredas dançando.

 

As palavras de Elric chamaram atenção de Mustang, Riza havia desistido dele por sua falta interesse na relação conturbada dos dois. Ela estava cansada de tentar salvar aquele sentimento sozinha, Riza tinha se cansado dele.

 

— Riza não voltará atrás. Ela é teimosa demais p’ra isso.

 

— Francamente, o único teimoso que vejo aqui é você! — A impaciência de Edward começava a escapar em sua voz. — A sua intransigência ultrapassa todos os limites.

 

— Minha o que?

 

Edward suspirou irritado com a estupidez do coronel. — Sua intolerância, Mustang.

 

Roy nunca se viu como intolerante, era um homem bastante aberto para novas experiências e ideias, graças a essa flexibilidade conseguiu subir sua patente no exército.

 

— Não sou intolerante, Elric, pelo contrário…

 

— Até alguém discordar de você, um belo exemplo disso foi a grande rainha de gelo. Qual era mesmo o nome dela? — Edward sorriu cínico, ele sabia que Olivier era uma ferida aberta para Mustang.

 

O coronel virou - se irritado para Edward, os seus olhos negros cintilavam com o fogo da lareira, as sombras causadas pela dança das chamas criavam imagens distorcidas no quarto escuro dando a impressão de monstros rastejando pela parede.

 

— Confesse, coronel. Mulheres de pulso firme o amedronta.

 

— Calado! — Exclama Mustang irritado. — Eu não fujo de mulher alguma.

 

— É mesmo? — O tom de deboche na voz do químico tornou - se evidente.

 

— Olivier foi uma exceção.

 

Elric afastou-se da lareira, os seus passos arrastados indicavam o seu cansaço, os belos olhos dourados olharam de esguio para Roy em sinal de aviso.

 

— Riza não irá esperar por você, Roy. — Aconselhou Edward. — Deixa - a ir ou fique de vez.

 

A porta pesada do quarto bateu com força deixando para trás Roy perdido em seu amargô, nem mesmo tinha mais o uísque para acalentar a alma.

 

— Ótimo, Roy. Grande ideia jogar a garrafa na parede.




Cemitério da cidade Central





— Riza vai se casar.

 

O vento gelado de outono soprou as folhas secas perto da lápide cinzenta, o grosso sobretudo azul da farda oficial do exército de Amestris acompanhou o embalo da corrente de ar que soprava com tanta intensidade aquela tarde ensolarada.

 

— Isso não é a pior parte de tudo, é com um drachmeno esnobe. — Resmunga Roy para lápide. — Ela está traindo o país se casando com o inimigo!

 

— Não estamos mais em guerra, Roy. — O corpo inteiro do coronel se arrepiou ao ouvir a voz conhecida de Mae Hughes atrás de si. — A Srta. Hawkeye é livre para amar quem ela quiser.

 

— Quer me matar do coração?! — Roy coloca a mão no peito suspirando aliviado.

 

A risada de Mae soou alta pelo vasto campo coberto por lápides, olhos castanhos por trás das lentes dos óculos caíram no nome esculpido na lápide, um sorriso cheio de saudades surgiu em seus lábios. A falta de que sentia de Berthold era imensa, ele fora o seu mentor e mestre durante os anos que serviu o exército.

 

— Veio contar a novidade para o velho? — A pergunta de Mae fez Mustang olhar para lápide.

 

— É. Ele ficaria realmente feliz ao ver a Riza casando, Berthold sempre quis isso. — Roy sorriu lembrando da preocupação do ex-coronel.

 

Mae colocou a mão sobre o ombro do melhor amigo em sinal de apoio, ele sabia que Roy estava se remoendo por dentro pelo casamento de sua ex-guarda-costa. Mas o orgulho de Mustang não o deixaria admitir os sentimentos por Riza, ele preferia ver a mulher que ama casando com outra pessoa do que a mudar.

 

— Ainda dá tempo de fazê-la mudar de ideia. — Sugeriu Hughes. — O casamento é só semana que vem.

 

— Nada fará Riza voltar atrás. Ela é teimosa demais.

 

Mais uma risada descontraída de Mae soou pelo cemitério, era cômico ouvir Mustang falar sobre teimosia sendo ele o teimoso número um do país.

 

— Espero que você não perceba óbvio tarde de mais, meu amigo. — Aconselhou o tenente.



⚖️



Riza Hawkeye nunca se imaginou em um relacionamento convencional, uma vida convencional. Agora estava ali, olhando para o reluzente anel de diamante em seu dedo anelar, experimentando o vestido que usaria em seu casamento com o homem que a ama. 

 

Ela estaria mentindo se negasse, que desejava secretamente aos fechar os olhos e abrir reencontrar Mustang parado em sua porta com um carrinho de flores pedindo perdão, porém eram delírios de sua mente conturbada.

 

Apenas a velha tensão pré-nupcial.

 

Eric era um bom homem, trabalhava como médico do exército de Drachma na época da guerra na fronteira, não tinha ninguém que não gostasse dele, exceto uma única pessoa. O Coronel Roy Mustang.

 

A relação entre os dois beirava ao ridículo, Roy com suas alfinetadas e Eric com seu sarcasmo sempre davam início a uma longa discussão sobre os resultados da guerra. Eram insuportável estar ao lado daqueles dois naquele tipo de conversa.

 

— És uma noiva tão linda. — Elogia a Madame Mustang.

 

— Realmente esse vestido ficou bonito em você. — Olivier concorda ao bebericar o champanhe oferecido pelo ateliê.

 

Riza se olhou no espelho pela primeira vez, o vestido estilo sereia acentua o belíssimo contorno do seu corpo, a parte da frente do vestido fechado era repleto de pedrarias que desciam o vestido até diminuírem acima da coxa; criando um degradê de pedrinhas, as costas possuía um belíssimo decote com as bordas com renda, o tule cobria a pele exposta nas costas seguindo o mesmo bordado na lateral do decote.

 

— Não gostou do vestido querida? — Pergunta Lust, a dona do ateliê.

 

— Sim, eu… — Riza se vira para a costureira. — É belíssimo, me sinto bonita nele.

 

Madame ria com a falta de jeito vinda de Riza, ela sabia que uma mulher como Hawkeye nunca tivera momentos como esse na vida de comprar vestidos para ir a festas. Berthold poderia ter sido um bom pai, mas não sabia nada sobre o universo feminino.

 

— Bonita não, você está maravilhosa. — Madame se aproxima de Riza e segura as mãos da atiradora. — Eu sei que já disse isso uma milhão de vezes para você, mas sinto que devo dizer novamente. Saiba Riza, que se eu tivesse uma filha eu gostaria que ela fosse como você.

 

Os olhos cor de mel encheram - se de lágrimas, os braços de Riza envolveram o pescoço de Chris em um abraço carinhoso. Riza chorava no ombro da Madame como uma criança, o seu rosto estava vermelho por conta do choro.

 

— Querida, não precisa chorar. — Diz Chris sorrindo.

 

— Madame, eu… — As fungadas atrapalhavam a saída da voz.

 

— Não precisa dizer nada querida. — Delicadamente Madame afastou Riza do seu pescoço, olhou fundo dos olhos tão aguçados e sorriu. — Gostou do vestido?

 

— Sim, é lindo.

 

— Então considere seu. Este é meu presente de casamento para você. — Revelou a Mustang.

 

Riza não se conteve e voltou a chorar passando a mão no vestido, ela nunca se sentiu tão amada por alguém como naquele momento.

 

— Contenha-se, Miss Hawkeye. — Olivier torceu os lábios irritada com a choradeira. — Você é uma mulher adulta e não uma criança. 

 

A general rolou os olhos ao ver Riza limpando o rosto com as costas da mão, ela levantou da poltrona onde observava todas as provas de vestidos. Ela estendeu a mão com lenço dobrado para que a ex - companheira de batalhão pegasse, um sorriso singelo surgiu ao ver Riza desdobrar o tecido e arregala os olhos.

 

— Olivier, eu não posso aceitar isso. — Riza empurrou o lenço de seda de volta para a general.

 

— É meu presente como sua madrinha. Não irei aceitar de volta.

 

O colar de prata com um pingente lápis-lazúli foi erguido do lenço, olhos da dona do ateliê e da Madame brilharam ao ver a jóia brilhando na luz.

 

— Olivier, deve ter custado uma fortuna. — Comenta Chris.

 

— Irá combinar perfeitamente com o vestido. — Lust rodopia sorridente.

 

Pela última vez Riza se ver no espelho imaginando o dia que dirá sim ao homem que a ama.



⚖️




— Passe a chave de fenda, Edward. — Pede Winry ao colocar um pouco de óleo nas engrenagens do automail da perna direita de Edward.  — Não sei como consegue quebrar minhas obras primas tão facilmente.

 

— Já lhe disse, minhas missões no exército exigem muito de mim. — Rebate o químico.

 

— E o que um químico faz de tão perigoso para destruir meu automail como se fosse feito de papel? — Winry perguntou olhando para o rosto cansado do marido.

 

Edward deu de ombros olhando para janela da oficina da Rockbell.

 

Os dias estavam estranhamente calmos depois do fim da guerra, e para Edward eram o mais puro tédio. Desde que fora dispensado de suas tarefas no exército, a vida como farmacêutico estava o deixando enfadado. O seu irmão mais novo teve mais sorte, vive no país da parte oriental do globo. Xing era belo de várias maneiras, desde da culinária à artes marciais, parecia um mundo paralelo em relação ao dele.

 

— Alphonse retornará quando? — Questiona a mecânica limpando a mão na flanela.

 

— Essa tarde, ele estará junto ao imperador Ling e sua esposa La Fan. — Edward virou - se para esposa.

 

— Estranho, a mídia não noticiou nada a respeito da vinda da família do imperador.

 

O Elric massageou a nuca aliviando a tensão que sentia a dias, olhos dourados fitaram o longo rabo de cavalo loiro da esposa mexer conforme os movimentos do corpo enquanto montava uma prótese em cima da bancada.

 

— Ele virá como um cidadão comum. — Edward ouviu um resmungo da esposa. — Ofereci a nossa casa como hospedagem.

 

O som da chave de fenda caindo contra a madeira do piso soou alto, Winry virou - se abismada com que ouvira. Os olhos azuis caíram sobre o rosto despreocupado do marido, a sua mão com a aliança de casamento pegou a primeira peça que viu e tacou com força contra Edward.

 

— Só agora que você me avisa! — Grita furiosa.

 

— Ei, Winry. Abaixe essa chave de fenda! — Edward se abaixou ao ver o objeto voar em sua direção.

 

Os gritos furiosos de Winry chamaram atenção dos gêmeos Elrics que estavam no andar debaixo da casa, Cornélio olhou para irmã que desenhava na folha branca de papel. 

 

— Mamãe tá brava de novo com o papai. — A garotinha loira diz com a língua enrolada.

 

— Espero que não precise levar o papai de novo para o hospital, Emi. — O garotinho olha para escada preocupado antes de voltar a ler o livro sobre mecânica.




⚖️



Riza sentia os dedos de Eric passar por entre os seus longos cabelos dourados, a respiração ritmada fazia a sua cabeça subir e descer suavemente sobre o torso musculoso.

 

— Aconteceu alguma coisa, Riza?

 

— Apenas estou cansada, hoje o dia foi puxado. — A ex-atiradora de elite murmurou. — Führer pediu para adiantar os exercícios dos novos alunos.

 

Eric arqueou a sobrancelha com a informação, a guerra havia terminado e ainda o Führer treinava suas tropas como tivessem em conflito com Drachma.

 

— É apenas o treinamento básico, Führer não quer que fiquemos enferrujados. — Riza se levanta do peito do noivo para encará-lo.

 

— Eu sei querida. Em Drachma fazemos o mesmo. — Eric sorria.

 

— Você não me disse como é Drachma. — Ela perguntou olhando nos olhos azuis do noivo.

 

O médico olhou para cima buscando as palavras certas para descrever Drachma, poderia começar descrevendo os belos campos verdes por onde brincava na infância, os prédios com arquitetura futurista ou até mesmo a calçada com mosaicos que contavam a história do país. Drachma era belo de todos os ângulos.

 

— O que você deseja saber? — Eric sorriu animado pela possibilidade de falar sobre sua nação.

 

— Conte - me como era a sua infância por lá…

 

— Bem, minha infância como sabe não foi nada fácil. Minha mãe trabalhava nas fábricas dia e noite para me sustentar-me, lembro bem que passava horas e mais horas brincando sozinho no nosso pequeno apartamento. — Eric fitava a parede com um olhar distante. — Ela mal tinha tempo para me ver, sempre trabalhando.

 

— E seu pai? — Riza atreveu perguntar.

 

As mãos de Eric pararam de fazer o carinho nos cabelos lisos e longos, o corpo todo do médico tensionou com a pergunta.

 

— Não tive pai, Riza. Nunca tive, apenas era eu e mamãe. — A dor era nítida na resposta de Eric.

 

Riza se sentiu culpada por causar sensações ruins no namorado, ela apertou a cintura larga arrancando um suspiro pesado de Eric. O carinho suave voltou para os seu cabelos, fazendo - o seu corpo relaxar e seus olhos pesarem a guiando para inconsciência noturna.

 

— Riza. — A voz distante a chamava de maneira carinhosa. — Riza, acorde. Está na hora.

 

Hawkeye se virou na cama deslizando os longos cabelos loiros pelo lençol branco da cama, os seus olhos estavam pesados demais para abrirem. Aquele era o seu dia de folga, não entendia o por que de Eric a está chamando aquela hora do dia.

 

— Acorde, Riza! — A urgência na voz a fez levantar a cabeça do travesseiros e olhar com um olho fechado a imagem turva de Eric. 

 

— Me deixe dormir, Eric. — Ela pediu com a voz rouca. — Depois eu tomo café.

 

O borrão preto se mexeu para mais perto cama, o toque suave de dedos longos e incrivelmente quentes percorreram a pele marcada das costa de Riza, a tatuagem danificada por queimaduras enfeitava aquela região de maneira sensual. Os olhos de Riza se fecharam ao sentir aquele toque morno em suas costas, desenhando círculos aleatórios de variados tamanhos; ela permitiu suspirar com o contato tão ternurento, sentido um perfume doce, mas ao mesmo tempo amadeirado, apenas existia uma pessoa que usava aquele perfume.

 

— Roy! — Exclama atiradora se afastando do dedos do Coronel, o lençol branco puxado para altura dos seios os cobrindos. — O que faz aqui no meu apartamento…?

 

— Führer pediu para pegar um papelada com você. — Responde o Coronel se levantando da cama. — Você tem um sono pesado.

 

Riza ainda piscava abismada com o Coronel parado no seu quarto olhando a decoração sem preocupação alguma, as janelas pesadas do seu quarto estavam escancaradas, dando o vislumbre da enorme amoreira que ficava em frente a calçada do prédio onde vivia a mais de sete anos.

 

— Como você entrou aqui?! — Riza sonda interessada.

 

Roy voltou a encarar a atiradora, as suas mãos nuas sem as típicas luvas brancas escorregaram para o bolso do sobretudo sumindo em meio ao tecido, os cabelos sempre cortados no estilo militar agora estavam grandes, escorrendo em um perfeito topete mediano; os olhos flamejantes ainda tinham aquele brilho perigoso que sempre encantou Riza.

 

O silêncio denunciava a resposta, Roy ainda tinha as cópias da chave do seu apartamento. Ela havia esquecido de pedir de volta, mas infelizmente era tarde demais.

 

— Onde estão os documentos? — Indaga Roy ainda a olhando. — Se me responder, eu posso pegá-los e sair logo daqui.

 

— Estão em cima da mesa do escritório, ao lado da pilha de pastas. — A loira respondeu devagar.

 

Mustang assentiu com a cabeça antes de virar as costas para Riza, ele sentia as mãos suarem dentro do bolso. Ver Riza Hawkeye apenas com um lençol era uma tarefa muito difícil, principalmente para ele que possuiu aquele exuberante corpo em suas mãos.

 

— Roy, espere. — Pediu relutante.

 

A voz indecisa de Riza o fez parar alguns passos da porta, os seus olhos puxados olharam por cima do ombro a face perdida da Hawkeye, com a mesma expressão no dia que ele a abandonou naquela festa maldita.

 

— Por que não mandou o Mae? — Questiona curiosa.

 

— Mae teve que se ausentar. A filha dele não está bem pelo que parece. — Disse em um tom ameno.

 

— E outros?

 

Roy mordeu os lábios irritado com a insistência de Riza ao saber porquê de ter vindo ali, ele poderia ter mandado qualquer subordinado, mas preferiu fazer o serviço. Por mais que tentasse se convencer que estava indo apenas para pegar os documentos e não ver Riza, a sua mente não o deixava crer nesse absurdo. Ele sentia falta da atiradora, do doce perfume que usava diariamente, do timbre agudo de sua voz quando se irritava com sua falta de interesse na documentação do QG. A ausência de Hawkeye estava o começando a perturbar.

 

— Riza, se estou aqui, óbvio que os outros estão ocupados. Agora se me der licença, preciso pegar esses documentos. — A resposta ríspida saiu do lábios finos do coronel.

 

— Desculpe… É que você não costumava muito sair do quartel para tarefas tão triviais, sempre mandava algum recrutar em seu lugar. — Riza mexeu-se na cama fitando as costas largas do seu ex-superior.

 

O som da maçaneta sendo girada foi a última coisa que Riza ouviu no quarto, rapidamente vestiu o blusão de Eric que estava jogando no chão servindo como um vestido mediando, os seus longos cabelos dourados permaneceram soltos escorrendo pelo blusão preto. Caminhou em direção a porta deixando para trás a confortável cama onde jazia a minutos atrás, o piso frio batia contra a sola rosada de seu pé provocando um arrepio pelo corpo. O apartamento estava vazio, renunciando a ausência de Mustang no local. Ele já havia partido, a deixando sozinha olhando para porta.

 

Riza não escondeu a decepção, ele somente veio para pegar a documentação e nada mais. Há meses que tentava falar com Roy, ligava sempre para mansão ou QG, porém sempre era atendida por Mae ou Edward. Se sentia cansada de tentar manter uma relação saudável com o coronel, parecia que a todo custo a tentava manter longe dele, como se os dois não se conhecessem.

 

A história que tivera com Roy era forte demais para poder esquecer, seu pai havia o acolhido em sua casa, ensinado os segredos de sua medicina baseada nas chamas; o fez ingressar no exército e pior de tudo, fora fazê-la se apaixonar por ele. Riza nunca esteve apaixonada por Roy, sempre o amou sabendo que nunca poderia ter algo mais com o seu coronel. A se ela soubesse, teria evitado tanto sofrimento pessoal.

 

— Espero que sejam esses documentos, ou Führer irá me matar. — Mustang coçava a nuca segurando o amontoado de papéis brancos.

 

— Roy? Ainda está aqui? — Riza sorriu sem perceber.

 

— Sim… — O coronel murmurou tirando os olhos da documentação. — Eu não queria atrapalhar o seu descanso mais do já fiz.

 

A atiradora balançou a cabeça negativamente, se aproximou devagar do coronel olhando fundo de seus olhos negros procurando algo que não sabia de fato o que era. Não existia mais a doçura em seu olhar, apenas a centelha das chamas vibrantes de sua alma vívida.

 

— Por que foi embora? — A mágoa transparecia.

 

A pergunta de duplo sentido foi proferida de Riza, a tempos que estava se torturando pensando no motivo.

 

— Eu preciso ir Riza, não podia mais me alongar. — Mustang baixou o olhar. — Eric não iria gostar de saber que estava falando com você no seu quarto.

 

— Compreendo, Roy. — Riza afastou-se dele caminhando para cozinha, não escondendo a sua decepção no olhar.

 

Mustang suspirou arrependido mais uma vez, se odiava por afastar a Hawkeye. No entanto, se sentía egoísta por cogitar destruir a felicidade de outro homem. Ele teve sua chance e a jogou fora, não seria justo com Eric.

 

— Adeus Riza. — Despediu-se querendo ficar.

 

— Adeus Roy… de novo.




⚖️



Os dias se passaram e Riza estava se preparando para o casamento.

 

A madame transbordava felicidades ao ver Riza vestida com o vestido, os cabelos presos em um coque chique e sua franja em um topete alto; o colar de lápis-lazúli repousa no peito delicadamente, a maquiagem natural acentua a beleza. Só restava o véu para ser posto no pente de prata — herança de sua  falecida mãe.

 

— Está tão linda. — Winry segurava as lágrimas para não borrar a maquiagem que havia acabada de ser feita por Lust.

 

— Muito mais apresentável do que os trapos vestidos normalmente por ela. — Rainha do gelo fitava Riza de sua poltrona, o longo vestido vermelho da general deslizava pelo carpete bege do ateliê.

 

Lust entortou os lábios com a alfinetada desnecessária de Olivier, a estilista ajeitava o saia do vestido a deixando perfeita. O vestido que usava era um preto — uma cor incomum para se usar num casamento. —  elegante, o decote na parte da frente realçava a tatuagem vermelho sangue de um dragão devorando a própria cauda. Aquele símbolo chamava atenção de todos, ninguém compreendia o porquê dela ter tatuado algo tão incomum na pele.

 

— Lust? — Riza chamou atenção da morena.

 

— Sim, Hawkeye. — Lust voltou belos olhos pretos para loira.

 

— O que significa essa tatuagem?

 

A bela mulher pousou a mão no peito automaticamente, contornando o desenho, ela lambeu os lábios carmim pensando no que diria.

 

— Este é símbolo da nossa família. Se chama Ouroboros, o símbolo de poder infinito. — Lust riu. — Meu pai acreditava que o conhecimento era chave para isso.

 

— Führer têm uma igual. — Madame disse recordando do símbolo nas costas de King.

 

— King é meu irmão mais velho. — A voz suave de Lust chamou atenção de todos. — Somos em sete. King, eu e Envy; meu irmão gêmeo, Gluttony, Greed, Sloth e Pride.

 

Olivier arregalou o olho amostra com a informação, King Bradley jamais contou sobre a sua família. O Führer evitava qualquer coisa que envolvem-se os seus laços sanguíneos.

 

— Algo bastante interessante. — Winry sorriu animada puxando Lust para outro lado para que ajudasse escolher um das jóias.

 

Riza sabia do caso desastroso da família Flamel, as marcas eram profundas na mente de todos os setes irmãos.

 

— Querida, precisamos colocar o véu. — Lembrou Chris ao pegar o tecido.

 

Riza olhou-se no espelho pela última vez vendo a bela mulher de branco encará-la de volta com um semblante tristonho, ela sentia culpada por não está sentindo alegria que deveria sentir no dia mais importante da sua vida.

— Quem irá levá-la ao altar? — Indaga Olivier.

— Eu não tinha pensado nisso. — Diz a  tenente olhando para janela. — Acho que terei que entrar sozinha.

 

⚖️






O carro preto contornava as ruas da central do país levando para o seu destino aquela cujo apelido era olhos de Falcão, a atiradora que carregava em suas costas milhares de mortes em prol do seu país, lutou bravamente nas linhas inimigas defendendo a segurança de muitos. Abandonou qualquer traço de sua vida anterior, nem mesmo esteve presente no enterro do seu pai, e como se arrependia de não ter dito o último adeus.

 

Ela escolheu seguir Roy, protegê-lo, ser os seus olhos, viver por ele; ser tudo que ele precisasse que fosse. Até mesmo morreria para o bem de Mustang, sentiu-se inspirada por ele, porém nunca cogitou que um dia fosse se apaixonar.

 

Roy é tudo que mais odiava, mulherengo; vivia pelos bares da cidade enchendo a cara e toda vez parava em sua porta com um buquê de flores. E ela, fechava a porta em sua cara, porém houve um momento que caiu nos encantos do coronel. Os beijos se tornaram lascivos, os toques suaves ficavam urgentes e ternos.

 

O falcão havia se apaixonado pelo caçador, ao ponto de não se importar com mais nada além dele. Quebrou as próprias asas para não voar longe o suficiente, prendeu-se alguém que não poderia dar o que tanto ansiava, amor.

 

Agora voava livre pelos céus, encontrou alguém que a amava como era, sem tirar ou por. O falcão era livre, contudo sentia falta daquele humano tão perturbado, por mais pudesse ser livre não se sentia assim.

 

O carro parou em frente a igreja, a despertando de suas divagações.

 

Riza suspirou pegando o buquê de lírios laranjas — as flores favoritas da sua mãe. —, a sua mão puxou alavanca que abria a porta, mas nada aconteceu. Ela começou desesperadamente tentar abrir sem sucesso algum.

 

— A porta travou, teria como… — As palavras foram morrendo ao reconhecer os cabelos negros de Roy por baixo do quepe.

 

Roy virou-se no banco do motorista tirando o quepe de seu cabelo liso, os olhos de cor de café cintilavam na direção da noiva, o terno escuro que usava estava amassado assim como o sobretudo por cima. Ela pode notar as olheiras debaixo dos olhos do coronel, denunciando a noite mal dormida.

 

— Me deixe sair, Roy! — Exige a Hawkeye balançando a porta.

 

— E deixar você casar com aquele drachmeno? Nunca, Riza. — Roy bufou raivoso.

 

— Eu caso com quem eu quiser, Roy. — A impaciência fluía de Riza.

 

Mustang girou no banco fitando a entrada da igreja, a figura de sua mãe adotiva parada olhando para o carro o fez gelar. Madame não demoraria para descer, ele precisava sair correndo dali antes que sua mãe frustra-se os seus planos.

 

— Segure-se, tenente! — Roy pisou fundo no acelerador arrancando com o carro para longe da igreja.

 

No banco de trás Riza se segurava como podia para não cair, o salto em seus pés impedia que conseguisse a estabilidade necessária para jogar-se no banco da frente e parar o carro, enforcando Roy.

 

As árvores pela janela não passavam de um borrão, Roy dirigia feito louco pela cidade indo direção a estadual que ligava a Central ao pequeno vilarejo de Resembool. A adrenalina percorriam o corpo de Roy em um nível altíssimo, se sentia um adolescente roubando o carro do pai e saindo por aí sem rumo. Sequestrar Riza no dia do casamento foi a sua maior loucura de sua vida e não se arrependeria disso.

 

— Roy! — Gritava Riza. — Pare o carro, pareee!

 

Mustang ria alto com escândalo de sua ex-guarda-costa no banco de trás, ele já conseguia enxergar o início da estrada. Tudo estava correndo como planejado, estava com Riza e não deixará casar com um drachmeno idiota. Berthold estaria orgulhoso, ele estava impedindo Riza de cometer o maior erro de sua vida. Era isso que pensava ser.

 

A poeira comia pela estrada, o pneu preto marcava o asfalto cinza deixando o rastro.

 

O ar do campo já enchia os pulmões de Roy, limpando do ar poluído da Central. O vento batia contra os cabelos escuros de Roy, os seus olhos rasgados estavam abertos o suficiente para ver o caminho. Não falta muito para chegarem no objetivo, por mais um hora estariam no vilarejo onde Edward e Alphonse cresceram. Se Resembool era tão bonito quanto os Elrics descreviam, eles estavam com sorte.

 

Não se ouvia mais as reclamações de Riza, tudo estava silencioso, era possível ver pelo retrovisor a carranca da Hawkeye olhando para ele de maneira assassina. Dependendo das circunstâncias, ter aqueles olhos afiados direcionados a ele significaria os piores dos perigos.

 

— Não me olhe assim. Você sabe que estou certo. — Zomba o oficial sorrindo.

 

— Quando esse carro parar, você é um homem morto, Mustang. — Ameaça a tenente.

 

— Então não iremos parar até gasolina acabar ou você desistir dessa ideia maluca. — Roy gargalhava enquanto dirigia. — O que vier primeiro.

 

A quietude pareceu invadir o carro, Riza fitava a janela do carro admirando a paisagem do campo que começava a surgir, seus pensamentos voavam, ela pensava em Eric; nos convidados. O que o Goodman pensaria a respeito de seu sumiço, Eric não merecia sofrer. Era um homem bom — como dizia em seu sobrenome —, honesto e bastante amável. Ele abandonou tudo em Drachma para viver com ela em Amestris, um país que lutou contra a sua nação. Tudo para estar ao seu lado.

 

Eric nunca negou os seus sentimentos,  ou tentou disfarçar, sempre fora transparente em suas palavras. Nunca a deixou para estar com outras mulheres, ou sumir pelas vielas da Central e voltando no outro dia batendo em sua porta com flores, pedindo perdão por suas ações para que pudesse repita-las no dia seguinte.

 

Mustang nunca se importou para os  seus rápidos relacionamentos que tivera com os homens pelas cidades onde passavam, ignorava os flertes que via, os beijos, os sumiços. E por que agora decidiu querer atrapalhar a sua felicidade?

 

Se sentia cansada dessa relação conturbada com Roy, que não teve começo meio e fim, um amontoado decepções e feridas em seu corpo. Riza só desejava ser feliz sem a intervenção de Roy em sua vida, apenas isso e mais nada.

 

— Chegamos ao nosso destino. — A voz animada de Mustang soou. — Você irá amar tenente.

 

O carro estava parando na dianteira de um hotel modesto perto da entrada do Vilarejo, a estrutura lembrava muito as casas de Drachma, no estilo mais colonial. A cor suave do rosa desbotado pela luz solar dava um ar de casa de boneca na estrutura, as janelas brancas brilhavam com pôr do sol que beijava  as colinas verdes de Resembool.

 

Riza ouviu as trancas abrirem, as suas mãos puxaram alavanca para dentro abrindo a porta do carro preto, o vestido de noiva deslizou pelo degrau do carro caindo no chão terra. A loira sentiu a presença de Mustang ao seu lado, ele encarava o hotel com um ar nostálgico.

 

A raiva borbulhava no sangue de Riza, aquela calmaria vinda dele só piorava o seu estado emocional.

 

— O que deu em você?! — Riza socou o rosto de seu ex-superior.

 

O sangue escorria pelo pequeno corte que o anel de prata no dedo indicador causou, Mustang colocou a ponta dos dedos sobre a região afetada pelo golpe, perplexo com atitude de Riza. O semblante ameno que Hawkeye tentava manter em situações como aquela fora embora, as lágrimas escorriam pelos olhos castanhos claros borrando a maquiagem perfeita.

 

— Por que não me deixa ser feliz, Roy? — Berra a tenente.

 

— Você não seria feliz com ele. — Mustang sussurra tentando não olhar para aquela expressão de dor.

 

— Não decida as coisas por mim. — Riza tentou avançar novamente para cima do coronel, porém fora segurada pelo mesmo.

 

— Não consegue entender? Eu te livrei de um casamento infeliz, Hawkeye! — Mustang a segurou forte entre os seus braços. — Eu me odiaria se não tivesse feito algo e assistir a sua vida…

 

Roy não teve coragem de continuar, a largou no carro, moveu-se para a hotel para confirmar as reservas que havia feito a uma semana.

 

Estranhamente o vento estava quente, o céu começava a ganhar tons arroxeados e azuis por toda sua extensão, as primeiras estrelas apareciam timidamente no azul mais profundo manchando o horizonte do interior. O hotel modesto se misturava com as cores, como uma pintura feita para se encaixar em um quadro antigo, o branco do vestido de noiva sobressaia nos tons escuros, mas compondo a pintura da mesma maneira que o oficial de vestes pretas.

 

Cansada de está sobre os saltos, Riza seguiu o mesmo caminho que seu sequestrador. Abandonando a esperança de casar-se com Eric naquela data.

 

Na recepção do modesto lugar avistou Mustang conversando com uma mulher de idade, a senhora ria com o galanteio do coronel, ela desviou a atenção para Riza parada na soleira da porta.

 

— Sua esposa é tão linda, Coronel. — Elogia a senhora. — É um homem de sorte.

 

— Obrigada, Sra. Lovewood. — Roy pegou a chave em cima do balcão de madeira. — Vamos querida, tivemos um dia bastante longo.

 

Riza assentiu em silêncio adentrando o local, o salto grosso do seu sapato batia contra o piso de madeira clara, a saia do seu vestido roçava conforme andava. Roy a guiou parecendo conhecer muito bem aquele lugar, os corredores com os quartos tinham o mesmo aspecto velho do lado de fora. Os dois pararam em uma porta com o grande número seis. A maçaneta girou revelando o quarto aconchegante, com uma grande cama do casal com uma bela janela que tinha vista para Resembool.

 

— Aqui iremos passar a noite. — Roy deu espaço para Riza pudesse entrar.

 

— Eu preciso de um banho.  — Limitou- se apenas dizer isso.

 

⚖️



O céu estrelado de Resembool não era muito diferente daquele que Riza observava na fronteira, as mesmas estrelas cintilantes, as mesmas constelações. Totalmente igual ao céu da fronteira, a única diferença era que não havia gemidos de soldados feridos ou constante sensação que havia uma arma apontadas para a sua cabeça. Em Resembool a paz estava presente em tudo, absolutamente algo naquele lugar não remetia agitação da Central, a rotina exaustiva no exército. Riza experimentava apenas ser uma mulher comum, apreciando o céu em um hotel barato perdida entre o presente e o passado.

 

Ainda não compreendia as ações de Roy, parou de buscar alguma lógica nos atos estranhos do homem, que compartilhou anos de sua vida; experiências, dores. Ele a conhecia como ninguém, inclusive mais do que o seu falecido pai. Roy foi e sempre será o seu primeiro amor, aquele que acendeu a centelha em seu coração, qual ainda queimava em seu peito; dia após dia. Porém, não permitiria mais deixar ditar a sua vida. Ela não poderia se prender a algo que só traria dor.

 

Chegou o momento de se desprender de Roy Mustang de uma vez por toda.

 

Decida olhou para o lado vazio da cama, instintivamente passou a mão pelo blusão — pego na mala que Roy tinha trago com ele no carro. — pensando no que diria a Mustang. Existia tanto entalado em sua garganta, palavras não ditas em voz alta, escolhidas para serem engolidas envenenado alma a cada salto de tempo. Roy estaria de volta dentro de alguns segundos, o chuveiro havia parado de cair água e o silêncio reinava no banheiro dentro do quarto.

 

O ruído da porta se abrindo automaticamente a fez olhar para o banheiro, Roy surgiu envolto de uma cortina de vapor e seus cabelos pingavam gotículas de água; a toalha repousada em seus ombros largos, destacados pela regata branca. Ele percebeu a sua tensão, e como não perceberia, estava suando.

 

— Roy… — Iniciou hesitante. —  Me leve de volta, essa sua brincadeira foi longe demais.

 

— Eu não estou brincando, Hawkeye. — Retruca o coronel.

 

Roy caminhou para perto da cama, secando os cabelos pretos na toalha repousada em seus ombros.

 

— Não diga absurdos, Roy. Você me raptou no dia do meu casamento! — A fúria de Riza veio junto com o grito estridente.

 

Pela primeira vez na vida Roy se sentiu intimidado por Riza, os seus lábios se entre abriram, mas nenhum som saiu dali.

 

— Eu estava te protegendo… — Balbucia.

 

— Do que? De ser feliz? — Riza gritava em meios as lágrimas.

 

Mustang refreou a vontade que sentia de abraçar Riza naquele momento, porém considerou inoportuno aquele gesto de carinho. Ele precisava fazer a tenente acreditar que aquilo era pro bem dela.

 

— De uma vida infeliz. — Disse em um tom mais suave. — Eric não pode amar por dois, Riza. Você alguma vez já parou para pensar quando ele descobrisse que não o ama?

 

— Não tente fazer isso comigo de novo. — As palavras se embolaram. — Admita ao menos uma vez na vida o que você faz!

 

— Mesmo que eu tente explicar você não entenderia, não é? — Roy avançou contra a cama. — Eric não é para você.

 

— Então quem era para mim, me diz?!

 

A vontade de gritar “eu” entalou na garganta, o olhar raivoso se suavizou e seu coração bombeava cada vez mais rápido, as mãos suaram o fazendo-o desejar está com as suas luvas.

 

— É surpreendente até onde vai o seu egoísmo. — Riza cuspiu. — Eu não sou sua propriedade, Roy. Sou livre para ser feliz com ou você sem você. E isso já aconteceu.

 

— Eu… — Mustang não teve coragem de rebater.

 

— Preciso que entenda, eu não sou um brinquedo que você pode me largar e deixar as traças e me pegar quando der falta. — Disse em um tom mais brando. — Tenho sentimentos, sonhos… e não posso desperdiçá-los com alguém como…

 

Mustang sentou-se ao lado de Hawkeye, a olhando diretamente nos olhos. Agora ela que ardia e ele que estava frio.

 

— Riza… — Proferiu o nome de maneira como se habitua-se  a ele. — Fizemos uma promessa de nunca deixarmos um ao outro. Você entrou para o exército, matou homens para me defender e o mais irônico de tudo, que mesmo ao seu lado, nunca de fato estivemos juntos.

 

O toque suave pelas bochechas rosadas causou um arrepio no corpo de Riza, ela notou a tremedeira sobre a mão do coronel.

 

— Até o instante que me beijou pela primeira vez… — Admitiu gargalhando amargurado. — Confesso, as sensações que resultaram aquele simples beijo. Riza, me senti como uma criança descobrindo algo assustador.

 

— Você fugiu de mim. — Relembrou magoada.

 

— Mas sempre voltava. — Completa ao acariciar o rosto feminino.

 

O tanto que gastara com flores daria para abrir a sua própria floricultura. A Madame sempre fez a questão relembrar o seu fracasso com as mulheres, zombando da sua falsa autoconfiança.

 

— Achei que iríamos continuar assim, nesse tortuoso caminho, no entanto… você queria mais e eu não poderia lhe dar. — Roy tirou a mão do rosto a repousando em seu colo. — Eu sou um homem quebrado.

 

— Eu também sou quebrada, Roy…

 

— Não compare-se a mim. — Repreendeu o coronel. — Eu deveria ter a deixado quando pude, mas meu coração me traiu.

 

Os olhos puxados de Roy fecharam-se com força segurando a vontade de desabar na frente da única mulher que já amou em vida.

 

— Meu egoísmo falou mais alto, Riza. Eu não aguentaria ver você com outro, imaginar como seria se eu tivesse dito sim e os nossos filhos. — A expressão facial de Roy possuía dor. — Eu a amo, Riza Hawkeye.

 

O impulso de beijá-lo falou mais alto, da mesma maneira que tinha feito pela primeira, porém era diferente, possuía mais sinceridade e cumplicidade vinda dos dois.

 

— Coronel, você é um idiota. — A voz ofegante misturava com a respiração ruidosa batia contra o rosto de Mustang.

 

A risada descontraída de Roy ecoou alto pelo quarto juntando-se ao barulho dos corpos rolando na cama de casal, os cabelos de Riza se enroscavam pelos os dedos do amante feito serpentes douradas, o blusão que vestia acentua as belíssimas curvas do corpo definido. O tempo poderia ter se passado, porém a beleza do falcão não diminuiu pelo contrário, aumentou ainda mais. Criando um ciúme no humano que a admirava voar livre, chamando atenção de quem o visse pelos céus, mas ele sabia que o falcão retornaria perpetuamente para o lar.








 











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