A Florista escrita por AliceDelacour


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Alowwww
Eu consegui terminar essa fanfic a tempo (NEM ACREDITO)!!!!!! Escrevi 6,5k hoje para que desse tempo de terminar e, apesar do cansaço e desespero, deu tudo certo!!!
Provavelmente tem centenas de erros de português, mas vocês me perdoem por motivos de: cansaço e correria.
Talvez eu reescreva essa fanfic no futuro e acrescente milhares de coisas que não consegui escrever hoje, mas isso é algo que não tenho certeza.
Acompanhem o #Jilytober2019 pelo @fanctions !!!!



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A FLORISTA

a one-shot by AliceDelacour

“Ele está…?”

“Não! Claro que não..”

“Tem certeza?” 

“É claro que tenho.” 

Houve um farfalhar de tecidos. Dois homens barbudos e grisalhos mexeram-se desconfortavelmente. O ambiente no qual eles estavam era escuro, as cortinas que cobriam as janelas estavam totalmente fechadas, bloqueando o sol. 

“Ele não pode continuar assim.” O homem mais alto, com o nariz mais torto, murmurou. “Vai acabar morto antes mesmo que eu possa dizer pena-de-açúcar.”

“Eu disse à ele.” O segundo homem se mexeu mais uma vez, parecendo incomodado com a gola de suas vestes. “Falei que não era para ele ir para Hogsmeade. Que não era para aceitar a provocação daquele homem traiçoeiro… Ele me escutou? É claro que não.”

“Você sabe muito bem que ele não iria ficar para trás enquanto os alunos de Hogwarts eram atacados por Lorde Voldemort.” O do nariz torto andou pelo cômodo, afastando um pouco as cortinas e fazendo com que um feixe de luz iluminasse o quarto, revelando uma grande cama localizada no centro do quarto e um macio carpete dourado. 

“Os alunos não estavam desprotegidos, você mesmo estava lá, Dumbledore, a situação estava sob controle.” 

O homem chamado de Dumbledore soltou a cortina que estava segurando, fazendo com que o quarto caísse novamente na escuridão. 

“Nós dois sabemos que ele é teimoso como um hipogrifo.” Dumbledore voltou a caminhar, desta vez se aproximando da cama. “E que vai morrer de uma maneira extremamente estúpida.”

“Eu ando muito preocupado…” O segundo homem apertou as mãos juntos, caminhando até ficar ao lado de Dumbledore. “Estou observando as linhas mágicas… O prognóstico não é bom, velho amigo… Se o Rei morrer sem nenhum herdeiro, temo que a Mãe Natureza escolha aquele homem asqueroso como nosso próximo líder.”

Dumbledore soltou um longo suspiro. Seus olhos correram pela forma humana deitada no centro da cama. 

O homem que descansava entre os cobertores estava tão imóvel que de longe alguém até poderia pensar que estava congelado - ou morto. Com o cabelo negro descabelado, a pele bronzeada pálida e os lábios semiabertos, aquele que havia sido escolhido pela Magia como seu representante na Terra possuía o aspecto de um fantasma. 

“Estou falando sério, Dumbledore… Se James Potter morrer sem nenhum herdeiro, Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado tem grandes chances de tomar o controle de toda a Ilha Britânica mágica.”

“Eu sei, Elphias. Eu sei.”

XXX

Ninguém sabia precisar ao certo quando Os Escolhidos começaram a surgir. A Escola de Magia Uagadou alegava que a primeira manifestação da Mãe Natureza havia surgido em seu território quando Panyin havia ascendido ao poder e levado o povo sul-africano à liberdade. 

Dumbledore, particularmente, acreditava que aqueles tocados pela mão da Magia sempre estiveram entre os bruxos e bruxas. Panyin, a Libertadora, havia sido apenas a primeira dentre muitos a ficar famosa. 

Ao longo dos últimos dois mil anos, desde que a bruxa africana havia libertado seu povo das mãos dos trouxas, vários bruxos e bruxas fenomenais começaram a surgir. Houve Alexandre, o Sanguinário, que lutou pela vida de milhares de sereias na costa do mediterrâneo. Yumi, a Mãe-dos-Mortos, que levantou dez mil guerreiros para defender a Terra do Sol Nascente de um Lorde das Trevas terrível. Os exemplos eram vários e de pouco em pouco, um padrão foi sendo notado.

Toda vez que um Escolhido morria, outra pessoa ascendia em seu lugar. 

Não era acaso. 

A Mãe Natureza estava escolhendo aqueles que ela considerava dignos. Dignos de defender o povo mágico (bruxos e bruxas, elfos, sereias, centauros, e quaisquer outras espécies mágicas) do que for que os ameaçasse. Ela estava criando uma linha de sucessão… Uma não… Várias. 

O planeta Terra era como se fosse uma grande bola enrolada em fios de lã sendo os fios os canais por onde a magia se propagava, banhando o mundo com seu poder e alimentando a fauna e flora mágica. Como uma boa bola enrolada em fios de lã, em certos lugares esses fios se sobrepunham, e onde os fios se sobrepunham, sempre havia um Escolhido para proteger aqueles que necessitavam. 

As sociedades mágicas começaram a se organizar em volta de seus guerreiros, formando estruturas de governo e de poder nas quais os Escolhidos estavam sempre no centro.

Nas Ilhas Britânicas Mágicas não havia sido diferente. 

Durante a virada do século XV para o XVI, após diversas disputas de poder, Edward Pinkstone elevou-se entre os bruxos e bruxas que queriam tomar o controle da Suprema Corte dos Bruxos e cravou seu cajado bem em meio a uma batalha de céu aberto, controlando todos os presentes. 

Contam os relatos que o poder de Edward foi tamanho que os bruxos e bruxas presentes caíram de joelhos, entregando a posição de Rei para o Escolhido. 

Desde então, as Ilhas Britânicas foram sempre governadas por um monarca. 

Edward Pinkstone foi seguido pelos gêmeos Thomas e Mary, que governaram juntos por quase sessenta anos. Após, vieram Henry, Daphne, Callidora, Gwendollyn, Marcus, Corvinus, Marvolo, e, por fim, Morfino Gaunt e Euphemia Potter. 

Dumbledore parou sua caminhada pelos corredores da Mansão Real, se ponde bem em frente aos três últimos quadros que ocupavam o hall de governantes mágicos britânicos. 

Morfino Gaunt, com sua pele tom de oliva e olhos fundos, tinha uma postura ereta. Sua expressão havia sido pintada como se ele estivesse sempre em desagrado (o que, pelo o que Dumbledore lembrava bem, era verdade) e suas vestes eram de um profundo tom de verde, o que parecia deixá-lo com uma aparência ainda mais assustadora. Morfino havia sido o terceiro Rei que a família Gaunt havia produzido em sequência, após Corvinus e Marvolo, seu avô e pai, Gaunt governou a Ilha por quase vinte anos, para morrer envenenado em sua própria casa. 

Era bem verdade que os Gaunt’s não eram os mais populares naquela década (e nas seguintes também), visto as suas medidas extremistas. A visão de proteção dos seres mágicos que o trio havia defendido sempre foi baseada em purismo de sangue, o que gerou muita discórdia na sociedade britânica que ansiava pelo crescimento populacional e evolução tecnológica que os sangues-novos poderiam trazer. O assassinato de Morfino havia sido repentino, mas não inesperado. 

Dando dois passos para o lado, Dumbledore logo ficou de frente para o quadro de Euphemia Potter, ou a Rainha de Todos, como ela havia sido conhecida desde o seu primeiro ano de governo. 

A coroação de Euphemia havia sido uma surpresa para o que restava da família Gaunt, os quais acreditam que o sobrinho recém descoberto de Morfino subiria ao poder. Enquanto os extremistas puro-sangues rugiam de ódio, os nascidos-trouxas e seus defensores comemoravam que Euphemia havia sido A Escolhida. Na época com quarenta anos, Euphemia Potter, antes Smith, havia sido uma lufana em Hogwarts e se casado muito cedo com Fleamont Potter, um mestre de poções. Ela era conhecida entre seus amigos pelo coração gentil e pela dedicação àqueles menos afortunados. 

Dumbledore observou as sobrancelhas arqueadas cor de loiro-morango e o rosto afiado da Rainha. Enquanto que o quadro de Morfino era predominante escuro, o quadro de Euphemia era uma mistura de tons vermelhos e amarelos, sendo um ponto de luz na escuridão do corredor. 

O governo de quase cinquenta anos de Euphemia havia sido recheado de lutas contra os supremacistas, em defesa do direito dos nascidos-trouxas e dos seres mágicos que foram considerados pelos Gaunt como inferiores. A postura progressista de Euphemia, no entanto, a fez ganhar muitos inimigos, sendo o maior de todos o seu assassino - Lorde Voldemort, o último herdeiro dos Gaunt vivo. 

Voldemort havia assassinado Euphemia em 1977, atingindo-a com a maldição da morte quando ela se colocou entre ele e um grupo de crianças nascidas-trouxas. A morte inesperada da Rainha havia deixado o Conselho da Magia (o pequeno grupo juramentado em lealdade aos governantes das Ilhas Britânicas que era encarregado de monitorar as linhas de magia e anunciar a sociedade seus próximos governantes) em pânico. 

A mera possibilidade de que Lorde Voldemort assumisse o lugar de Euphemia gerou caos pela comunidade bruxa naquele ano. Brigas irrompiam nas ruas de cada vila mágica de todo o território britânico. Os apoiadores de que Lorde Voldemort subisse ao trono estavam criando coragem e saindo de seus esconderijos, enfrentando os aurores do Ministério da Magia e todos aqueles que se colocavam contra a ideologia puro-sangue. 

Foram vinte e sete dias até que a imagem do novo Rei apareceu no hall de governantes. Dumbledore lembrava-se com clareza do dia em que a imagem do único filho de Euphemia, à época com simplórios dezessete anos, havia se revelado. 

James Potter havia sido coroado Rei no vigésimo oitavo dia após a morte de sua mãe. Com o pai, Fleamont, e Dumbledore, como seus conselheiros, James conseguiu retomar o controle político que havia se dispersado naqueles dias posteriores ao assassinato de Euphemia. Foram anos até que ele começasse a ser visto como O Escolhido e menos como uma criança, e Lorde Voldemort se aproveitou de cada oportunidade que possuía para minar o governo do jovem Rei. 

Atualmente Dumbledore temia muito mais pela vida do Rei do que havia temido dez anos atrás, em sua coroação. Os ataques de Voldemort estavam cada vez mais frequentes e era claro o seu objetivo de assassinar James assim como havia assassinado sua mãe. O Lorde das Trevas queria a coroa que descansava na cabeça de cabelos escuros e arrepiados de Potter - e não descansaria nem que ele tivesse que matar todos aqueles que se colocassem em seu caminho. 

Lorde Voldemort possuía o apoio de muitas famílias puro-sangues e sua legião de Comensais da Morte crescia a cada ano. Os ataques na calada da noite começaram a se transformar em batalhas a céu aberto e James assumiu seu posto de defensor dos seres mágicos exatamente como todos os seus antecessores. Em toda batalha que Voldemort e seus seguidores criavam, James era o primeiro homem na frente. Ele lutava como um homem sem futuro, como alguém sem medo de morrer - e ele realmente não tinha esse medo. 

O medo da morte era todo reservado para Dumbledore e os demais conselheiros. Era Dumbledore que temia que aquela fosse a última batalha. Que naquela noite Voldemort conseguiria o que almejou por tantos anos. 

Há três dias, quando Sirius Black havia arrastado o corpo mole de James por quarteirões até o encontro de Dumbledore no meio da batalha de Hogsmeade, o velho diretor de Hogwarts havia acreditado que o fim realmente havia chegado. Nem mesmo o parecer positivo de que o Rei iria sobreviver havia acalmado seu pobre coração. Naquela noite, Rei James havia chegado muito perto da morte pela mão de seu maior inimigo. 

Elphias Doge, outro Conselheiro da Magia, havia passado toda aquela madrugada murmurando em seu ouvido sobre a grande possibilidade do próximo Rei ser algo totalmente contrário ao que todos estavam acostumados. 

As linhas mágicas ficavam cada vez mais agitadas. A população mágica das Ilhas Britânicas que usufruía do nó de veias que banhava estas terras estava dividida: de um lado, aqueles que almejavam por um líder honesto que acreditava na igualdade das espécies mágicas e na harmonia dos povos; do outro, aqueles que buscavam por alguém que validasse sua ideologia de supremacia de sangue. A Mãe Natureza sempre escolhia aquele bruxo ou bruxa mais adequado a liderar a comunidade naquele momento - e Dumbledore temia que se James morresse sem um herdeiro, alguém próximo dos ideais que sua mãe e ele tanto tinham lutado, a Mãe Natureza pudesse pender para o outro lado da balança. 

Soltando um longo suspiro, Dumbledore enfiou as mãos nos bolsos das vestes. Não havia outra solução. 

James Potter precisava de um herdeiro o quanto antes. Isso, ou ser trancafiado em uma sala e escondido de Voldemort de modo que este não possa o assassinar. 

“Dumbledore!” O grito sem folêgo de seu velho amigo Elphias preencheu o silêncio ensurdecedor do corredor dos governantes. “Ele acordou! Pelas Barbas de Merlin, ele acordou!”

Com um olhar para o quadro onde o rosto infantil e sério de James estava pintando, Dumbledore tratou de correr para o quarto do Rei. 

XXX

O quarto real estava um caos. 

Quase todos os Conselheiros da Magia estavam presentes, empoleirados em sofás, poltronas e cadeiras arrastadas até ali. Os cinco bruxos e bruxas presentes juramentados a proteger e aconselhar o Rei se entreolhavam. 

“James, talvez você devesse… Hmm…” Edgar Bones começou, um tanto incerto. “Talvez não seja bom que você fique de pé.”

O Rei lançou um olhar apertado para o Conselheiro. Em pé, ao lado das grandes janelas que tomavam toda uma parede do quarto, James Potter se recusava a voltar para a cama na qual esteve confinado nos últimos dias.

“Estou bem, não foi nada demais.”

Foi neste momento que as portas do quarto real se abriram e por ela passaram os dois últimos Conselheiros que faltavam. 

Albus Dumbledore colocou as duas mãos na cintura e encarou o Rei. Elphias Doge, o último Conselheiro, torcia as mãos atrás do velho bruxo.

“Nada demais?” O diretor de Hogwarts pediu, em uma voz alta o suficiente para deixar transparecer seu descontentamento. “Nada demais? Você quase foi morto!”

“A curandeira disse que se você fosse um bruxo normal não sobreviveria, James…” Elphias complementou o que Dumbledore tentava colocar dentro da cabeça dura do Rei. “Desta vez foi por muito pouco…”

“Eu estou bem, ok?” James falou novamente, afastando-se da janela. “Não vai acontecer novamente!”

Dorcas Meadowes levantou-se da poltrona que ela estava sentada desde que o Rei havia acordado. 

“James, foi isso que você disse da última vez que entrou em confronto com Voldemort.” A voz delicada da jovem mulher ecoou pelo quarto. “Você precisa ter cuidado, na próxima vez não terá tanta sorte.”

O Rei apertou os dentes uns contra os outros. 

“O que vocês sugerem? Que eu pare de enfrentá-lo?” Uma de suas mãos voou pelo ar, movimentando as cortinas com uma onda de magia. “Ele está matando qualquer um que atravesse seu caminho! Não posso permitir que os assassinatos continuem!”

“Não estamos pedindo que pare de lutar.” Perenelle Flamel, outra Conselheira, explicou, com sua voz suave. “Estamos preocupadas, James, você tem que entender… Dorcas e Edgar estão acompanhando as linhas mágicas e…”

James agitou-se. O que eles estavam escondendo dele?

“... Se Voldemort lhe matar, as chances de que ele suba ao trono são muito altas.” 

Os sete conselheiros presentes o encararam e James sentiu como se o esparadrapo tivesse sido puxado de uma só vez. 

Potter cambaleou. Segurando-se num dos móveis do quarto, ele buscou pelos olhos de Dumbledore. 

“Vocês estão dizendo que… Que se eu morrer… Voldemort vai ser escolhido pela Magia?” Sua voz continha um tom de horror. 

“Não há mais ninguém que represente os interesses dos nascidos-trouxas… Você sabe muito bem como a Mãe Natureza opera… Ela escolhe aquele que represente melhor a população mágica.” Elphias Doge deu dois passos para perto do Rei. “Meu amigo, por favor, escute o nosso apelo.”

“Eu não posso parar de lutar. Eu não posso fazer isso…” James sacudiu a cabeça. “E Sirius Black? Não poderia assumir meu lugar? Marlene McKinnon? Algum dos gêmeos Prewett?”

O Rei buscou pelos olhos de todos os seus sete Conselheiros. Todos eles desviaram o olhar. 

“Já vasculhamos por tudo, James… Investigamos tudo… Não há ninguém vivo neste momento que possa assumir o trono.” 

A voz de Elphias ecoou dentro da cabeça do Rei.

“Ninguém… Vivo?” James caminhou decidido até o lugar onde seus Conselheiros se reuniam. “Vocês já tem um plano, não é? Quando iriam me contar?”

Dumbledore colocou a mão no ombro de James. 

“Faz alguns anos que Perenelle e Elphias descobriram uma tendência da Mãe Natureza… Ela favorece certas características e tende a escolher bruxos ou bruxas próximos do Rei anterior…” Dumbledore murmurou. “Cornelius e Marvolo… Marvolo e Morfino… Sua mãe e você… A questão é que… Você é o último dos Potter, James… Não possui irmãos, primos, tios… Mas…”

James estava vendo o caminho pelo qual seus Conselheiros queriam seguir.

“Mas eu ainda posso ter filhos.” 

“Sim.”

“Já aconteceu antes…” Carlotta Greengrass se pronunciou. “Anos atrás John Trevor foi escolhido com apenas dois anos de idade… Seu pai era o Escolhido anterior.”

Todos os sete Conselheiros encararam James. 

“Isso é loucura. Como vou ter um filho se não tenho nem mesmo uma namorada?” 

Dorcas mexeu os pés e pegou alguns papéis que ela havia deixado na poltrona onde estava sentada antes. 

“Bem, estivemos fazendo algumas pesquisas nas últimas semanas e cruzamos alguns dados… Veja, elencamos os principais traços que a Mãe Natureza favorece e… Hmmm… Procuramos por uma mulher que pudesse complementar a sua magia e… Bem… Encontramos alguém que possa gerar uma criança escolhida.”

James passou as duas mãos pelo cabelo.

“Vocês escolheram a mãe do meu filho?” Ele sentou-se na borda da cama, cada vez mais chocado com o que estava escutando. “Eu não estou acreditando nisso.”

“O que Dorcas quis dizer é que essa mulher é a melhor chance que temos de ter uma criança escolhida, James. Se você quiser tentar este plano, nossas chances serão melhor gastas com ela.” Andrew Abbott finalmente se pronunciou. 

O Rei lançou um olhar de desprezo para seus Conselheiros. Era isso. Todos eles estavam planejando isso há semanas por trás de suas costas. 

“Não consigo acreditar nisso.” Tirando os cabelos dos olhos, James novamente procurou pelo rosto de Dumbledore. “Essa é a única solução?” 

Os olhos azuis do seu mais antigo amigo brilharam em sua direção. 

“É a única saída James.” Dumbledore sentou-se ao lado do homem ao qual ele mataria para proteger. “Precisamos de uma criança, senão as Ilhas Britânicas Mágicas poderão entrar no período mais obscuro que já vivemos…”

Jogando o corpo para trás, James deitou na cama. Seus pés continuavam firmes no chão, mas sua cabeça girava como se ele tivesse sido atingido com um feitiço confundos. Seu papel como Escolhido era, antes de tudo e todos, manter a população mágica a salvo. Morrer sem um herdeiro era egoísta de sua parte. Morrer sem deixar ninguém para disputar o poder com Voldemort era tudo o que um Escolhido não deveria fazer.

“Quem é a mulher?” James perguntou, após um longo momento em silêncio.

Todos os Conselheiros soltaram um suspiro aliviado. Dorcas entregou para James um dos papéis que tinha nas mãos.

“Eu sei que vocês estudaram juntos em Hogwarts, então a aproximação vai ser muito mais fácil, porque vocês já possuíam um certo contato. Edgar comentou que ela vive afastada da comunidade mágica, junto com os trouxas, então vamos precisar fazer uma abordagem presencial, eu posso enviar uma carta para ela e depois me…”

James parou de escutar a tagarelice de Dorcas. Em suas mãos estava a foto da única mulher que nunca aceitaria ter um filho dele. 

Os olhos verdes de Lily Evans encaravam-no como se soubessem da situação apertada em que ele estava - e como se debochassem dele por tê-la abandonado todos esses anos atrás para assumir o trono. 

XXX

Música romântica tocava no rádio, o sol brilhava do lado de fora do prédio e todas as suas flores estavam maravilhosas. 

Lily Evans limpou as mãos no avental que usava e colocou ambas as mãos na cintura, encarando o trabalho duro daquela manhã de sábado. 

Sua floricultura crescia a cada dia. Eram raros os momentos em que Lily ficava sozinha o suficiente para se dedicar exclusivamente para cuidar de suas plantas. 

Quando sua avó faleceu lhe deixando de herança a loja junto com o apartamento no segundo andar, Lily agarrou-se a oportunidade de deixar o mundo bruxo para trás e fugiu para se esconder no meio de orquídeas, petúnias e lírios. A ânsia de superar o seu coração quebrado e a dor do falecimento de sua avó foi o que a fez trabalhar dias e noites nos primeiros anos da floricultura, e agora…

Agora a loja era reconhecida em toda Londres como o melhor estabelecimento para se comprar flores. Lily borrifou um pouco da sua misturinha mágica em uma peônia, fazendo com que a flor automaticamente voltasse ao seu auge. 

Ah… Certo… Talvez Lily não tivesse abandonado totalmente o mundo bruxo, mas ela gostava da vida que ela levava como se fosse uma trouxa. Seus pequenos toques de magia apenas a garantiram o apelido de Lily-dedos-verdes e uma longa lista de clientes fiéis que sempre voltavam a loja para comprar as flores mais bonitas da região. 

“Wotcher, Lily!” Uma voz surgiu por suas costas.

“Mundungus!” Lily gritou, após levar um susto. “Céus, você quer me matar?” 

Virando-se para encarar o garoto magricela que mexia em um grande vaso com folhagens.

“Claro que não! Se você morresse, onde eu arrumaria o meu fornecimento de erva?” Ele piscou um dos olhos escuros para Lily. 

“Do jeito que você fala, até parece que estou lhe vendendo drogas.” A ruiva revirou os olhos, caminhando até o garoto e dando um tapinha em sua mão. “Para de encostar nas minhas folhagens.”

“Drogas, plantas medicinais… Qual a diferença entre elas?” 

Lily colocou as duas mãos novamente na cintura e encarou o rapaz. 

“Certo” Ele resmungou. “onde mais eu arrumaria meu fornecimento de plantas medicinais? Satisfeita?”

“Agora sim.”

Apesar dos negócios como florista estarem melhores do que nunca, a venda de plantas mágicas para Mundungus era uma renda extra que lhe permitia certos luxos que a vida na floricultura nunca lhe daria. 

Lily foi para o balcão do caixa e destravou a gaveta onde ela guardava as plantas mágicas que alguns clientes especiais buscavam. 

“Vai ser o mesmo de sempre, Dung?” Ela perguntou, separando os frascos usuais.

“Yeah… Mas dessa vez, coloque junto também esse vaso de plantas aqui.” Mundungus apoiou um vaso de girassóis no balcão. “Vou dar de presente para Emmeline.”

Segurando o sorriso, Lily entregou a sacola com as plantas para Mundungus. Ao fundo, o som da sineta da porta de entrada da loja tocou, indicando que havia um cliente novo na floricultura.

“Você continua decidido a conquistar o coração de Emmeline?” A garota loira provavelmente achava Mundungus um pé no saco, mas Lily admirava a persistência do rapaz. “Boa sorte com isso.”

“Um homem precisa tentar, não é?” O rapaz pediu, contando os galeões um por um. “Aqui está, Lily, bom final de semana.”

“Tchau, Dung! Espero ser a primeira a saber se você conquistar Emmeline com esses girassóis!”

O rapaz lhe lançou o dedo do meio antes de desaparecer entre as flores. Sendo o rato sorrateiro que era, Mundungus sempre conseguia passar pela sua sineta mágica, apesar de todos os esforços de Lily para não ser surpreendida pelo rapaz.

Soltando um suspiro ao tempo em que tentava segurar o sorriso, Lily passou a mão pelo cabelo comprido e foi em busca do cliente novo que havia entrado na loja minutos antes.

Um homem alto estava olhando a parte da loja dedicada aos lírios. O cabelo dele era escuro, comprido o suficiente para cobrir a nuca, mas ainda curto o suficiente para possuir um ar de naturalmente-arrumado-para-parecer-bagunçado. Consciente que seu avental estava sujo de terra e que suas unhas provavelmente seguiam pelo mesmo caminho, Lily tentou arrumar o cabelo mais uma vez antes de se fazer presente ao homem. 

“Bom dia, bem vindo à Oopsy Daisy, é sua primeira vez na loja?” Lily esperou o homem se virar com o seu melhor sorriso na boca. 

“Bom dia” O homem cumprimentou, ainda sem se virar. “é a minha primeira vez na loja.”

A voz grossa era ligeiramente familiar, o que fez com que os pelos da nuca de Lily se arrepiassem por completo. Sua magia - sempre cuidadosamente controlada dentro de si - agitou-se, como se buscasse por algo. Lily levou uma das mãos ao bolso interno do avental, onde sua varinha mágica estava escondida. 

“O senhor precisa de alguma coisa em específico, posso lhe ajudar com algo?”

“Você poderia me dizer se lírios vermelhos são adequados para um pedido de desculpas?” 

Lily balançou o corpo sobre os calcanhares. Hmmm… Havia algo estranhamente familiar nesse tom de voz. 

“Usualmente as pessoas escolhem rosas em tons claros, como branco e rosa…” Ela respondeu, soltando a varinha. “Elas estão do outro lado da loja.”

Virando-se, Lily começou a caminhar na direção onde as rosas estavam expostas, mas a voz grossa do desconhecido chamou sua atenção novamente.

“Mas lírios vermelhos são suas flores preferidas, não são, Lily?” Ela parou. Girando rapidamente para encarar o estranho que lhe fazia perguntas pessoais e sabia seu nome, Lily sentiu seu coração ir para a boca quando finalmente viu o rosto do desconhecido.

James Potter segurava um ramo de lírios em sua floricultura, com um sorriso discreto e o olhar de menino, agindo como se nunca tivesse partido e deixado-a para trás. 

“James Potter…” Ela murmurou, sua voz mostrando toda a raiva e o choque de vê-lo ali bem no meio de suas flores.

Tudo o que o desgraçado fez foi oferecer o ramo de flores e subir ainda mais um dos lados do seu sorriso.

“Sinto muito?” 

Lily apertou os lábios, desejando matar o homem em sua frente.

XXX

“James Potter.” Lily pareceu repetir seu nome pelo o que parecia a milésima vez. “Eu preciso confessar que você é a última pessoa que eu pensaria em ver aqui.”

James teve a decência de parecer incomodado. Levando uma das mãos para o cabelo, ele bagunçou os fios antes de oferecer o ramo de flores mais uma vez.

“Você é uma pessoa bem difícil de encontrar, Lily.” A ruiva pegou as flores de sua mão, apenas para largá-las em um balcão qualquer da floricultura.

“Você demorou dez anos para me encontrar?” A pergunta foi apenas deboche, os dois sabiam que ele não estava todo esse tempo procurando por ela. 

Os olhos de James buscavam insistentemente pelos olhos dela, tentando ver se ainda existia dentro do corpo de mulher um pouco da menina que ele havia conhecido em Hogwarts. 

“Sinto muito por tudo o que lhe fiz passar, Lily.” Ele murmurou, por fim, quando não conseguiu fixar o olhar com o dela. “Deveria ter terminado tudo de uma forma melhor, deixar de respondê-la e nunca mais dar notícias não foi a minha melhor ideia.”

A verdade é que James não sabia o que fazer. Dez anos atrás, quando seu rosto havia aparecido no hall dos Escolhidos, após o assassinato de sua mãe, ele havia se visto mais perdido do que nunca. De uma hora para a outra ele precisava assumir um trono, responsabilidades, e deixar a escola para sempre. Ele errou ao simplesmente abandonar sua namorada, mas ele não poderia colocá-la no centro de toda a disputa contra Voldemort. Lily já era um alvo por ser nascida-trouxa… Se o bruxo das trevas descobrisse que ela era sua namorada… 

“Eu precisava pedir perdão.” James murmurou, por fim. 

Lily lhe encarou, finalmente olhando-o nos olhos - e os olhos verdes dela continuavam com a mesma intensidade de quando eles eram jovens. O tom de esmeralda refletia um misto de tristeza e saudade, que fez com que o coração de James acelerasse um pouco.

Seria mentira se ele falasse que não pensava mais nela. Que não ouvia o eco da risada dela em momentos de silêncio. Apesar dos anos, James continuava extremamente apaixonado por Lily Evans e todo esse negócio de herdeiro só o fez pensar que talvez eles sempre estivessem destinados a ficarem juntos - e ele fora um estúpido de fugir do amor deles quando foi coroado Rei. 

“Não vou fingir que não fiquei magoada…” Lily desviou o olhar, abraçando a si mesma e começando a caminhar pela floricultura. “Foi extremamente doloroso lidar com o seu desaparecimento… Eu estava apaixonada por você, James.”

Estava.

“Você era um pé no saco, me deixava louca com tudo o que aprontava, mas eu era extremamente apaixonada por você.”

James seguiu-a pelos corredores floridos.

“Eu realmente sinto muito, Lily.” 

“Eu lhe perdoo…” A ruiva murmurou, ainda de costas para ele. “Você tinha dezessete anos e sua mãe havia morrido… Posso entender que entrou em pânico e não sabia como terminar com a garota chiclete do colégio e-”

“Lily”James precisou interrompe-la. “não desapareci porque não sabia como terminar com você.” Ela olhou-o por cima do ombro. “Eu desapareci porque não sabia como protegê-la… Fiquei com medo que Voldemort começasse a persegui-la simplesmente porque você estava comigo… E eu não queria que acontecesse a mesma coisa que aconteceu com a minha mãe com você… Eu… Eu só não queria colocá-la em perigo.”

Ela soltou um longo suspiro.

“E então preferiu me ignorar?” 

“Eu não queria terminar.” O Rei respondeu. “Acho que minha cabeça adolescente pensou que se eu não terminasse, talvez ainda houvesse alguma chance para nós dois no futuro.”

Lily virou para encará-lo. Sua expressão era cansada.

“É isso que você está fazendo agora? Vendo se ainda há alguma chance para nós dois?”

“Bem…” James passou a mão pelos cabelos. “Ainda há?”

A única resposta de Lily foi soltar um bufo e balançar a cabeça, o que não era um sim - mas também não era um não. 

James poderia viver com isso.

XXX

“Você não contou para ela sobre o nosso plano?” Dumbledore cruzou os braços. 

Os dois estavam reunidos para tomar chá juntos na Mansão Real. Dumbledore havia passado ali para saber como havia sido a conversa de James com a mulher que deveria ser a mãe de seu filho.

“Você sabe muito bem o que aconteceu entre nós dois anos atrás, Albus.” James mexeu-se na cadeira. “Não é como se eu pudesse chegar nela e simplesmente pedir para que ela tivesse um filho meu.”

“Evans não irá reagir bem quando descobrir a sua real intenção por trás dessa história James. É melhor não enganá-la.” O velho conselheiro temia o que poderia acontecer ao plano.

“Minha real intenção é reconquistar o coração dela, Albus. Ter um herdeiro é algo secundário.”

“Secundário ou não, ainda é algo extremamente importante. Você não pode deixá-la no escuro quanto a isso, ela precisa saber sobre o que você precisa fazer.”

“Eu vou contar… Eu só queria que ela soubesse que ainda sou apaixonado por ela antes de pedir que ela tenha um filho meu… Não quero que ela ache que fui atrás dela apenas por causa de uma criança.”

Dumbledore sacudiu a cabeça.

“James… Você só foi atrás dela por causa dessa criança, senão teria ficado trancado em seu quarto pensando nela para o resto de sua vida.” 

O Rei lançou um olhar azedo para o Conselheiro. 

“Eu vou contar, ok? Só preciso de tempo.”

XXX

Lily não conseguia acreditar que James Potter já havia aparecido pela vigésima vez em sua floricultura nos últimos dois meses. 

Aquele primeiro encontro entre os dois serviu para deixá-la ansiosa e nervosa com tudo. Era muito estranho ver o garoto pelo qual ela havia sido apaixonada por anos aparecer na porta de seu trabalho depois de muito tempo. Era ainda mais estranho vê-lo voltar. 

“Trouxe amendoim torrado.” James a cumprimentou, entregando-a um saco de papel cheio de amendoins. “Como está o dia hoje?”

“Movimentado.” Lily aceitou o pacote, um pouco perdida. “Você não tem deveres reais ou qualquer coisa do tipo para ir?”

James soltou uma risada.

“Apesar de ser chamado de Rei, não tenho muitos deveres do tipo reais tradicionais. Minha posição se trata principalmente de proteger o povo mágico. No momento as coisas estão tranquilas, precisei vetar uma lei sobre lobisomens ontem no Ministério da Magia, mas de resto, estou quase de férias.”

Lily lançou um olhar apertado para ele.

“Isso quer dizer que você está livre para me importunar?”

“Não estou lhe importunando, estou lhe mantendo alimentada.” O homem escorou-se no balcão do caixa, inclinando o rosto para perto dela. “Vai dizer agora que não adorou todos os presentes que trouxe?”

A respiração mentolada de James batendo no rosto de Lily estava a deixando tonta. O que é mesmo que ele estava falando?

“Shoo, shoo, preciso trabalhar!” Ela enxotou-o dali. “Se quiser esperar até eu fechar a loja, fique quieto em algum canto, só não me atrapalhe.”

Ele não obedeceu muito bem o que ela havia pedido. Apesar de não atrapalhá-la, James transitou por todos os cantos da loja. Ele mudou alguns vasos de lugar, varreu folhas mortas do chão, ajudou duas senhoras a pegar flores da prateleira expositora mais alta e lhe comprou um copo de suco na lanchonete do outro lado da rua. 

Lily sabia exatamente onde James estava dentro de sua loja. Ela sentia a presença dele por tudo, quase como se ela tivesse um jamesdar, por isso, quase uma hora mais tarde, quando ela escutou risadinhas femininas vindo do canto em que ela sabia que James estava, ela foi averiguar. 

“Então, você trabalha aqui?” Uma garota que ainda deveria estar na universidade enrolava o cabelo em frente a James. 

“Ãhn, na verdade não… Eu sou amigo da dona.” 

Cruzando os braços, Lily observou a cena. 

“Amigo, é?” Uma segunda garota soltou uma risadinha. “Então tudo bem você ir com nós tomar um café do outro lado da rua?”

Uma expressão de pânico passou pelo rosto dele. James não tinha para onde ir, as garotas haviam o cercado contra uma estante de peônias. 

“Sinto muito, meninas, está na hora de fechar e eu prometi ao James que iria o acompanhar ao hospital.”

O alívio no rosto de James foi o suficiente para que Lily soltasse uma risada.

Quando finalmente ficaram sozinhos, após ela chavear a porta da floricultura, Lily cruzou os braços para encará-lo. 

“Hospital, é?” O sorrisinho no rosto dele apenas deixá-a com dor de barriga.

“Você preferia que eu lhe deixasse se livrar das meninas sozinho?”

“Não, obrigado por isso.” 

Lily indicou uma cadeira para que James se sentasse, assumindo ela mesma o seu lugar atrás do balcão do caixa.

“Então.” Ela cruzou as mãos e escorou seu queixo nelas.

“Então.” E ali estava aquele sorrisinho novamente.

“O que você quer comigo hoje?”

“Conversar, te fazer rir.”

Ela precisou rolar os olhos. Eles estavam nessa de conversar pós expediente fazia semanas. Em algumas vezes Lily apenas tagarelava sobre o seu dia, mas em outras James contava sobre como as coisas estavam contra Voldemort e como o mundo bruxo havia passado nos últimos dez anos em que ela se escondeu em sua floricultura.

“Certo, queria saber se você gostaria de jantar comigo hoje…” Devagarzinho, como se com medo de assustá-la, James caminhou até ficar ao seu lado, atrás do balcão. “Somos amigos, certo? E amigos jantam juntos, não é?”

Eles eram amigos? Era isso que ela queria? 

Ou ela estava o dando uma segunda chance? 

Todos os dias em que eles ficaram horas conversando haviam sido divertidos. Em certos momentos, Lily sentia como se estivesse de volta a Hogwarts, como se os últimos anos não tivessem acontecido.

A questão era… Ela estava disposta a tentar de novo?

“Certo…” Lily levantou os olhos até encarar o dourado-esverdeado dos olhos de James. “Mas vamos pedir para entregar, estou suja demais para ir em algum restaurante hoje.”

O sorriso que iluminou o rosto de James a deixou um pouco mais confiante em sua decisão.

XXX

“Uhm, e daí o marido da Petúnia começou a contar uma piada de brocas e meu pai simplesmente não estava interessado e…”

James sentia como se fosse vomitar. 

Sentado no tapete da sala de estar do apartamento de Lily, ele não conseguia prestar atenção em nenhuma palavra que saía da boca da boca da ruiva.

Já haviam se passado dois meses. Ele passava mais tempo com Lily do que com seus Conselheiros - ou que com Sirius, seu melhor amigo -, mas ele ainda não havia conseguido reunir coragem para contar para ela sobre o que seus Conselheiros queriam que ele fizesse.

Dumbledore havia o intimado na noite anterior. Ou James contava, ou ele mesmo iria procurar por Evans para comunicá-la formalmente que as Ilhas Britânicas Mágicas precisavam de sua ajuda. 

“Você está bem?” Lily perguntou, encostando em seu braço. 

James encarou a caixa de yakisoba. Parecia que ele iria colocar para fora tudo o que havia comido. 

“Lily, eu preciso conversar sobre algo sério com você.”

Ela endireitou o corpo, passando de relaxada para tensa em questão de segundos. 

“Eu…” Ele passou a mão pelos cabelos. “Você sabe que as coisas com Voldemort não estão fáceis, não é?” A ruiva balançou a cabeça, segurando uma almofada contra o peito. “Ele está cada vez mais decidido a me matar… E para isso, fica atacando aldeias mágicas, matando centauros e outras espécies, só para que… Só para que eu vá lutar contra ele.” James desviou o olhar de Lily para sua caixa de comida. “Eu não posso simplesmente fechar os olhos e não ir, fui Escolhido para proteger os seres mágicos, é meu maior dever… Mas todas as vezes que lutamos, Voldemort chega mais perto de me matar do que nunca.”

“Não estou entendendo, James…” Lily soava preocupada. “Sempre que você quiser conversar sobre isso, estou aqui… É só…”

“Eu sei, Lily.” Ele murmurou, afundando o rosto nas mãos. “Esses meses que passamos juntos foram incríveis, sinto como se nunca tivéssemos nos separado… Eu sempre pude contar com você.”

“É claro, e pode continuar contando…”

Ele soltou um som abafado. Como ele poderia pedir por um filho? Como ele poderia ter pensado que isso seria uma boa ideia?

“Meus Conselheiros temem que o pior possa acontecer caso eu morra pelas mãos de Voldemort. Eles acompanham as linhas mágicas e os padrões da Mãe Natureza há anos e… E caso eu morra, a única pessoa com influência o suficiente para acompanhar os ideais que a população mágica está pedindo no momento é Voldemort. Você sabe que nossa sociedade está cada vez mais preconceituosa… As famílias extremistas estão se colocando mais e mais no protagonismo… Elphias disse que não há ninguém vivo no momento para assumir meu lugar no trono.”

James procurou pelos olhos de Lily, buscando por algo que lhe desse coragem o suficiente para pedir o que ele precisava pedir.

“Eles fizeram cruzamentos e pesquisas para saber se existia alguma possibilidade que eu gerasse um herdeiro forte o suficiente para assumir meu lugar caso eu morra.” Seu sussurro ecoou pelo apartamento quieto. “Os estudos de Dorcas apontaram para você.” James soltou tudo. “Eu preciso ter um filho com você para evitar que Voldemort suba ao trono caso eu morra.”

Lily fechou os olhos. Ela ficou quieta por apenas alguns segundos, mas o tempo pareceu passar muito mais devagar para James. Quando ela falou, sua voz transmitia tanta dor que o coração de James quase chegou a parar.

“É por isso que você me procurou?” Ela sussurrou. 

“Não!” James se apressou em dizer. “Quer dizer, sim, eu precisava entrar em contato com você, Edgar Bones sugeriu que fosse enviada uma carta, mas eu não poderia deixar que tudo isso fosse tratado como se não nos conhecessemos… Lily, eu era apaixonado por você… Sou apaixonado por você. Eu vi isso como um sinal da Mãe Natureza de que deveríamos ficar juntos… Que eu nunca deveria ter lhe deixado para trás…”

Parecia que cada palavra que ele dizia apenas a empurrava para mais longe. As lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela. James se inclinou para perto, tentando limpá-las, mas Lily se afastou.

“James, desculpa, eu-” Ela passou a mão pelos olhos. “Não consigo acreditar que você seja apaixonado por mim… Como é que… Como é que posso acreditar nisso se você escondeu algo tão grande assim de mim por tanto tempo? Meu deus, você veio atrás de mim porque queria que eu tivesse um filho seu!”

“Lily, por favor, entenda…”

“Eu preciso ficar sozinha.” Lily pediu, por fim. “Por favor, vá embora.”

James encarou-a. Ele havia destruído tudo. Sua vida pessoal, com Lily, e o futuro da nação. 

“Sinto muito por não ter contado antes.” Murmurou, após juntar suas coisas e ficar de pé. “Eu queria lhe mostrar que continuei apaixonado por você por todos esses anos… Não queria que você achasse que eu só estava aqui por causa de um herdeiro.”

“Bem, foi o que você me fez acreditar, no final.” Foi o último sussurro que ele escutou dela antes de desaparecer pela porta. 

XXX

Dumbledore empurrou o copo de whiskey de fogo para James. Os dois estavam no Hog’s Head em um pequeno encontro para que James colocasse o Conselheiro a par de tudo.

Ele sabia que o plano dele daria errado. Ninguém gosta de ser enganado e o que James iria pedir de Evans era algo muito grande para ser ignorado. 

“Você acha que ela pode concordar com o plano no final?” Ele perguntou o que precisava ser perguntado. Não o interessava se James estava com o coração partido ou não, Dumbledore era um Conselheiro da Magia e seu principal interesse era com a proteção da população mágica, não com o relacionamento do Rei. 

“Acho que ela não vai querer me ver na frente dela nem se eu fosse uma espécie rara de flor.” James murmurou antes de tomar um gole de whiskey. “Eu estraguei tudo, Albus.”

“Bem…” O que ele iria dizer? “Realmente, acredito que a culpa foi sua mesmo.” 

Onde é que Sirius Black estava que ainda não havia chegado? Dumbledore não lidava com um coração quebrado desde que Elphias havia se apaixonado pela vizinha apenas para descobrir logo em seguida que ela era uma estátua animada. 

“Eu me sinto péssimo.”

James parecia péssimo também. 

“Vamos encontrar uma solução, James. Tenho certeza que Dorcas poderá encontrar outra mulher compatível. Certamente ela não será tão certeira como Evans, mas ainda teríamos alguma probabilidade de conseguir gerar uma criança forte o suficiente para ser um Escolhido.”

O Rei soltou um longo suspiro. 

“Obrigado pelo apoio, Albus.” Murmurou, tomando outro gole da bebida. “Agora eu só quer-”

“Comensais!” Alguém abriu a porta do bar em um movimento brusco. “Comensais da Morte por todos os lados! Aquele-que-não-deve-ser-nomeado está na estação do trem! Salvem-se quem puder!”

Um raio verde estourou nas costas do mensageiro e o homem caiu para frente após ser atingido pela maldição da morte. 

“James” Dumbledore murmurou, pegando o homem pelo braço. “precisamos ir, você não tem condições de lutar.”

“Eu preciso ir, velho amigo.” James empurrou o copo de álcool para longe, empunhando sua varinha.

“James, você vai morrer!” Dumbledore levantou-se, caminhando atrás do Rei. “Me escute, seu cabeça dura!”

 

“Nos vemos, Albus.” O Rei saiu pela porta do bar, desaparecendo pelas ruas de Hogsmeade.

E essa foi a última vez que Albus Dumbledore viu James Potter consciente. 

 

XXX

O dia estava tão feio quanto o humor de Lily. A chuva caía do lado de fora da loja tão forte que era quase impossível escutar seus pensamentos. 

A conversa que ela tivera com James semanas atrás ainda estava presente em sua cabeça (e coração). Ela analisou todos os momentos que eles passaram juntos, refletindo se havia ou não sentimentos por parte de James. 

Era possível que ele estivera a enganando por todo esse tempo? Ele estava apaixonado? Era só um truque para fazê-la aceitar o plano de seus Conselheiros?

Lily borrifou água em algumas flores. 

“Wotcher, Lily! Sentiu saudades de mim?” Mundungus Fleatcher brotou ao lado dela. 

“Oi, Dung.” Lily murmurou, voltando a borrifar água nas plantas. “Estava esperando você há duas semanas já.”

“Sinto muito, Lily.” Mundungus pulou ao redor dela. “A Inglaterra mágica está um caos, você sabe.”

Lily deve ter feito alguma expressão para ele, pois logo ele soltou uma risadinha.

“Foi mal, esqueci que você é uma reclusa.” Ele riu novamente. “Mas sério agora, o Rei entrou em confronto com Voldemort e agora ele simplesmente desapareceu. Estão dizendo por aí que ele morreu, mas eu acho que não, você sabe? Acho que ele está se recuperando do ataque.”

O borrifador de água de Lily caiu no chão. James estava morto? Ou machucado? 

Mundungus continuava tagarelando em seu ouvido, mas Lily não prestava mais atenção. Seu coração estava acelerado de uma forma que nunca esteve antes. Lily entregou as ervas medicinais que Mundungus pediu, mas não conferiu o pagamento, nem se importou em cobrar pelo ramo de flores que o rapaz colocou embaixo do braço. Sua mente estava preocupada com outra coisa. Ou melhor, com outra pessoa.

Independentemente de James ter a enganado ou não, Lily era apaixonada por ele. Ela se preocupava com James e provavelmente sempre se preocuparia. Se ela fosse sincera consigo mesma, poderia admitir que era tão apaixonada por ele que aceitaria ter seu filho apenas para lhe ver feliz, mesmo que James não a amasse de volta. 

Essa constatação a deixou muito nervosa. Lily não conseguiu fazer nada direito na loja naquela tarde. Derrubou vasos, regou flores demais, quebrou uma janela. 

Por fim, ao entardecer, ela aceitou que não conseguiria sossegar enquanto não descobrisse se James estava vivo ou não.

Trancando a loja, Lily segurou a varinha e aparatou para a entrada da Mansão Real. Os portões dourados eram intimidantes, mas nada como a recepção de sete Conselheiros da Magia que a esperavam na sala de entrada da Mansão, todos com expressões tão sérias que quase a fizeram chorar logo ali.

XXX

“Ele está em coma mágico…” Diretor Dumbledore a informou, caminhando com ela pelo corredor. “A curandeira o analisou e disse que ele foi atingido por uma maldição muito escura, temos esperanças que ele vá acordar em breve, mas…”

Lily entendeu.

“Há a possibilidade de que isso nunca aconteça, certo?”

“Sim.”

Eles pararam em frente as portas duplas que levavam ao quarto de James. 

“Vou deixar vocês a sós.” Dumbledore colocou a mão no ombro de Lily. “Ele ficaria muito feliz em saber que você veio, senhorita Evans. James nunca deixou de pensar em você.”

Lily segurou as lágrimas e entrou no quarto. 

A escuridão do cômodo era quebrada apenas por uma pequena lamparina no bidê ao lado da enorme cama onde James estava deitado. Ele possuía um tom doentio, amarelado. 

Lily se ajoelhou ao lado da cama, segurando as mãos frias de James nas suas. 

“Sinto muito.” Ela murmurou. “Sinto muito, sinto muito, sinto muito…”

Sua voz foi ficando cada vez mais fraca, até que se transformou em um murmúrio de choro.

Apesar da possibilidade de que ele nunca mais viesse a acordar, Lily estava determinada a trazer sua consciência de volta. James havia sido seu primeiro - e único - amor, ela não deixaria ele partir sem antes resolver todas as pendências entre eles. 

E foi assim que Lily Evans passou a visitar o quarto de James Potter durante todos os dias até o fim de sua vida. 

XXX

Dias se transformaram em semanas. Semanas se transformaram em meses. 

Lily havia desenvolvido uma rotina. Após fechar a loja, no fim da tarde, ela escolhia o seu melhor ramo de flores e aparatava até a Mansão Real para visitar James. Durante algumas horas do dia ela se dedicaria a pentear os cabelos dele, afofar os travesseiros ou até mesmo ler algum livro de aventura em voz alta. 

Algumas vezes na semana os Conselheiros da Magia apareciam para conversar com ela. Todos eles possuíam o mesmo ar de preocupação, algo que se agravava a cada dia que se passava com James ainda em coma. 

Dorcas Meadowes era sempre muito engraçada, apesar da situação, e havia tentado se explicar diversas vezes para Lily que ela não a via apenas como uma barriga de aluguel. 

 

Elphias Doge era muito educado e um tanto nervoso. Ele apenas aparecia para zanzar pelo quarto e trocar todos os objetos de lugar. 

Dumbledore e Perenelle geralmente vinham juntos. Os dois ficavam durante muito tempo em silêncio, apenas observando Lily trançar coroas de flores para enfeitar a cabeça de James.

Andrew Abbott era quem abastecia a pequena biblioteca de livros de aventura que Lily gostava de ler para James. 

Carlotta Greengrass fazia muitas perguntas sobre a floricultura de Lily. Ela gostava de tomar chá e ficar horas sentada observando Lily cuidar das flores que ela estava trazendo para enfeitar o quarto de James.

Edgar Bones, seu antigo colega de escola, era tão gentil como antes e sempre se preocupava em trazer algo para Lily jantar antes de ela voltar para seu pequeno apartamento escuro acima da floricultura.

Lily criou um padrão. Uma rotina triste, mas ainda assim, era a única rotina que ela possuía com James agora. 

Os meses se passaram e ela foi cada vez mais percebendo que não conseguiria viver longe dele. Caso James nunca mais acordasse, ela gostaria de manter essa rotina até o fim. 

Foi numa noite de primavera, enquanto ela tentava lidar com uma espécie mágica de flores extremamente teimosa, que as coisas se transformaram naquela casa.

“Você é uma danadinha, não é?” Lily apontou o dedo para a flor, que cismava em mudar de lugar. “Se um dia eu tiver filhos, tenho certeza que eles serão teimosos igual a você.” A flor dançou entre os dedos de Lily. “Bem, eu sou tão teimosa quanto você, na verdade.” A ruiva lançou um olhar por sobre o ombro, encarando James, que continuava deitado na mesma posição de sempre. “O possível pai das minhas crianças imaginárias também é teimoso igual nós duas.” 

 

Lily soltou uma risadinha e a flor finalmente se dobrou a sua vontade, deixando que Lily a arrumasse da melhor forma possível no vaso com terra. 

“Sabe, sempre pensei que se fosse menina, gostaria que o nome da minha filha tivesse algo a ver com flores também.” Algo se agitou dentro dela, aquecendo todo o seu coração. “E se fosse menino, eu gostaria que fosse Harry. É um nome que gosto desde adolescente…”

Um barulho atrás de Lily fez com que ela temesse pelo pior. Segurando sua varinha com força, Lily virou-se pronta para azarar quem quer que tivesse invadido o quarto real. Ela estava preparada para tudo, menos para o que realmente a esperava.

“É bom que eu seja o pai dessa criança, se você está querendo usar o nome do meu avô para isso.” A voz de James era rouca de desuso e sua expressão era de exaustão, mas ele estava ali, acordado.

“Oh meu Deus!” Lily soltou tudo o que segurava e voou para cima de James. “Você está acordado, James, ai meu Deus… Eu fiquei tão preocupada...”

“Está tudo bem…” Ele murmurava em seus cabelos ruivos. “Está tudo bem, Lily…”

“Você ficou em como por quase quatro meses… James, eu achava que você nunca mais fosse voltar.”

“Eu voltei, não foi?” O som da voz de James trouxe lágrimas para os olhos dela.

“Nunca mais faça isso. Não vou conseguir continuar sem você, James.” 

O sorriso no rosto dele fez o coração dela acelerar.

“Amo você, Lily Evans. Sempre amei. Sempre vou amar.”

“Fico feliz, James Potter.” Lily sorriu, entre lágrimas. “Porque eu queria muito que meu filho fosse criado em um ambiente onde os dois pais se amam.”

Dumbledore os encontrou horas mais tarde abraçados na cama. O velho Conselheiro assim que percebeu que James havia acordado, tentou não interromper o momento dos dois, mas Lily notou-o parado na porta. 

“Eu concordo.” Ela fez as palavras com a boca. “Vou ter um filho de James.”

Dumbledore sorriu, fechando a porta. Sendo sincero, ele ficava alegre só de ver os dois juntos e felizes. Ele nem se importava mais com a ideia de herdeiro. 

 


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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem ♥
Agradeço principalmente para a @ahlupin e a @carterjames por terem lido minha fanfic no backstage e dado pitacos, me ajudando com o plot e tudo mais. Amo vcs, meninas!!!



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