— Agora eu preciso devolver isso pra você, certo? – depois de derrotarem Kwami Buster, Marinette retirou o Miraculous do rato e estendeu para Ladybug, desfazendo sua transformação.

Chat Noir estava confuso. Se Marinette não era a Ladybug, quem mais poderia ser?

— Não, não aqui! – Ladybug alertou, porém era tarde demais. Então, ela pegou o Miraculous de volta – Marinette, você não devia ter me dado o Miraculous aqui. Não na frente do...

— Mas eu pensei que vocês não tinham segredos um com o outro. Ah! Eu sou tão desastrada! – lamentou. Ladybug colocou a mão sobre o ombro dela e deu um sorriso reconfortante.

— Eu peço desculpas, mas agora a sua identidade não é mais um segredo. E eu não vou poder te dar o Miraculous novamente. – Ladybug segurou Marinette e girou seu ioiô, pronta para sair – Eu vou levar a Marinette de volta, Chat Noir. Você cuida da Sra. Mendeleiev.

— Ladybug, espera! – o loiro a chamou. Precisava proteger a sua identidade antes – Eu quero me desculpar pelo meu kwami. Eu não sei o que ele fazia em uma escola primária.

— Era uma escola de ensino médio. – Ladybug o corrigiu, exatamente de acordo com o plano.

— Ah sim, isso. Eu prometo que não vai acontecer de novo.

— Bug out! – sorriu e saiu com Marinette.

Depois de levar Sra. Mandeleiev de volta para a escola, Chat Noir entrou pela janela do banheiro e desfez a sua transformação.

— Me desculpe, Adrien. Eu não devia ter ido atrás do queijo mágico. – Plagg disse cabisbaixo.

— Tudo bem, Plagg. – sabia que ele não tinha feito por mal. Mas Adrien estava com a cabeça em outro lugar no momento – No final das contas, a Multimouse salvou o dia. Ou melhor, a Marinette.

— É. – riu nervoso.

— Eu podia jurar que ela era a Ladybug, fazia todo o sentido. – Plagg permaneceu calado, já tinha falado demais da outra vez, não queria que acontecesse o mesmo novamente. – Mas então quer dizer que ela estuda aqui e não é a Marinette.

— Quem disse que ela estuda aqui? Se não for a Marinette... Sabe... Não é a Marinette. Então não deve ser ninguém. – o kwami se atropelou nas palavras. Adrien o encarou um pouco confuso e logo deu de ombros.

— A Marinette então deve ser muito amiga da Ladybug, porque a Ladybug não estava transformada quando entregou o Miraculous do rato pra ela. – o loiro sentou sob o assento fechado da privada e começou a refletir. – Aquela vez da Startrain, a Ladybug chegou bem rápido. A Marinette pode ter contatado ela, se elas realmente são amigas.   

— Você acha que a Ladybug contaria a sua identidade secreta pra Marinette? Claro que não! – Plagg disse, tentando acabar com a linha de raciocínio de Adrien, por mais que ela estivesse meio errada.

— Bom, eu não sei. Mas que a Marinette esconde algo, isso sim. Ela vive sumindo durante os ataques de akumas, por exemplo.

— Talvez ela tenha medo.

— Eu pensei nisso também. Mas depois de hoje, medo eu tenho certeza que ela não tem. – ficou de pé, se preparando para sair – A Marinette enfrentou a Kwami Buster sozinha.

— Ela teve ajuda dos kwamis.

— Verdade, tinha esquecido disso. Mas um motivo pra eu achar que tem algo muito suspeito sobre ela. – Plagg deu um longo suspiro, o tiro tinha saído pela culatra. – Vou pensar nisso depois. Agora vamos pra aula.

Adrien foi direto para a sala de aula, já que a sua turma tinha retornado pra lá.

— Cara, aonde você tava? – Nino fez um toque e questionou assim que o loiro sentou ao seu lado.

— Ligação do meu pai e essas coisas.

— Ah sim.

— Você perdeu, Adrien. – Alya se inclinou para a frente e mostrou o celular para ele – Temos uma nova heroína na área. De acordo com o depoimento da Sra. Mendeleiev, Multimouse é o nome dela.

— Wow! – o loiro fingiu ter escutado pela primeira vez e seus olhos foram de encontro à Marinette rapidamente, que sorriu e baixou a cabeça. – Ela é bem bonita, não acha, Marinette? – a garota arregalou os olhos, com as bochechas levemente rosadas.

— É. A-Aham. – Adrien sorriu discretamente e virou para a frente antes que a professora chamasse a sua atenção.

***

— Eu ainda não entendi o que você está fazendo. – Plagg disse enquanto via Adrien anotar e colar papéis na parede.

— Estou fazendo uma investigação.

— Investigação?

— É. Sobre a Marinette. – o kwami bateu a mão na própria testa. Ao invés de fazer o loiro perder o interesse no assunto, acabou fazendo ele ter vontade de saber ainda mais.

— Eu não entendo porque você está tão obcecado com isso.

— Eu não estou obcecado. Só curioso. – respondeu sem tirar os olhos dos papéis com relatos dos comportamentos estranhos de Marinette, que ele tinha certeza que se ligavam com os Miraculous de alguma forma. 

— Está sim. Não vejo você obcecado com algo assim desde... – Plagg parou de falar e abriu a boca, percebendo o que estava acontecendo. Adrien também parou o que estava fazendo na mesma hora e encarou o kwami. – Desde que você se apaixonou pela Ladybug e queria descobrir a identidade dela.

— Sim, mas eu não estou apaixonado pela Marinette.

— Eu não disse isso.

— Mas insinuou.

— Não insinuei, não. – Adrien respirou fundo e puxou a gola da camisa. Estava um pouco quente ali, não é? – Mas agora eu vou dizer. Você está apaixonado pela Marinette! – cantarolou e saiu voando pelo quarto.

— Não! Para com isso!

— O que disse? Foi “Eu amo a Marinette”? – debochou. Plagg sabia de toda a verdade por trás das identidades secretas e embora pensasse que, de fato, Adrien estivesse gostando de Marinette, aquele era um bom assunto para tirar o foco do Agreste. Assim, ele não acabaria descobrindo o que não devia.

Enquanto Plagg voava e cantarolava, uma ideia surgiu na cabeça de Adrien.

— Eu não estou. E vou provar pra você... Parando de fazer as anotações.

— Quer dizer que vai parar de investigar a sua paixonite?

— Eu não disse isso. – sorriu de lado e o kwami fez uma expressão confusa – Plagg, claws out!

— Espera, m-mas eu... – Plagg foi sugado para dentro do Miraculous, antes de completar a frase. Ele odiava quando Adrien fazia aquilo, no entanto, o loiro não podia negar que achava divertido.

— Vamos investigar. – Chat Noir saiu pela janela e se deslocou até a casa de Marinette, que não era muito longe.

O herói planejava observar a garota discretamente, para notar se tinha mais algum comportamento estranho. Porém o plano foi por água à baixo quando viu as cortinas fechadas – apesar da luz acesa, o que indicava que ela possivelmente ainda estava acordada.

Adrien pensou em ir até lá, mas depois lembrou de Plagg. Por que ele estava tão obcecado assim? Tudo bem que gostava de Marinette, mas só tinha olhos para Ladybug. E quando pensou que as duas pudessem ser a mesma pessoa, tudo pareceu diferente e mais fácil pra ele.

Mas ele não estava apaixonado por Marinette.

Ao menos achava que não.

Pronto para virar as costas e ir embora, Chat Noir respirou fundo e sentiu uma onda de adrenalina o invadir. Era agora ou nunca.

Saltou até a janela de Marinette e deu leves batidas.

— Chat Noir? – a azulada abriu a janela com um misto de surpresa e confusão estampados no rosto – Aconteceu alguma coisa?

— Nada demais, Multimouse. – piscou, fazendo ela sorrir. – Eu só queria agradecer por hoje. Graças à você, eu e a Ladybug recuperamos nossos kwamis.

— Ah, sem problemas. Você... Quer entrar? – o loiro assentiu e ela deu espaço – Não foi nada demais. Mas é uma pena que eu não posso mais ser a Multimouse. – lamentou falsamente – Não sabia que não podia revelar a minha identidade pra você.

— Não seja por isso, eu sei guardar segredo. Inclusive, vou ficar muito feliz se você puder se juntar à nós novamente. – Marinette riu nervosa.

— Claro, claro. Mas talvez eu não seja a pessoa certa.

— Tá brincando? Você derrotou um akuma sozinha!

— Não foi nada. Eu tive ajuda dos kwamis. – balançou a mão, enquanto Chat Noir analisava as expressões faciais dela – Mas sem eles... Não, não daria certo. Existem pessoas mais corajosas do que eu. – começou a falar rápido, pois estava nervosa – Tipo a garota do Ladyblog, minha amiga Alya, conhece? – ele assentiu – Da próxima vez você pode dar o Miraculous pra ela. Ou pra alguém que já não tenha ganhado. – deu de ombros e virou as costas, indo guardar os materiais de costura.

Chat Noir apertou os olhos, encarando Marinette.

Alya já tinha ganhado um Miraculous?

É claro, a Rena Rouge. Por isso a garota com o Miraculous da raposa era tão familiar.

Mas como Marinette sabia disso, se supostamente era um segredo?

As duas eram melhores amigas. Alya poderia ter contado. Mas mesmo assim, adicionava mais um fato para as suspeitas de Adrien.

— Eu acho você perfeita. – ela parou o que estava fazendo e o herói arregalou os olhos – Digo, perfeita como Multimouse. Super-heroína e tal. – coçou a garganta.

— Obrigada, Chat Noir. – agradeceu, sem olhá-lo. Logo, sentiu uma presença ao lado de si e deu de cara com o loiro escorado de costas na sua mesa, a encarando com os braços cruzados.

— Foi difícil pra você controlar o seu poder?

— Não muito.

— Como reagiu quando viu os kwamis?

— Achei estranho.

— E como a Ladybug te contatou? – Marinette não respondeu e o fitou, não sabendo aonde ele queria chegar. Será que ele suspeitava dela?

— Por que todas essas perguntas?

— Gatos são curiosos. – deu de ombros. – E confesso que você me deixou ainda mais curioso hoje, princess. – disse com cuidado o apelido que tinha dado para Marinette na primeira vez que se encontraram. Depois daquele dia, ele nunca mais a chamou assim. Mas agora parecia o momento perfeito.   

— O que quer dizer? – Adrien aproximou seu rosto do dela com cuidado.

— Eu posso te contar um segredo? – sussurrou, a deixando um pouco mais nervosa pela aproximação

— P-Pode.

— Eu suspeitei que você fosse a Ladybug. – Marinette engoliu em seco. – Mas depois eu vi vocês duas juntas e também... Você não poderia ser ela.

— Hã... E por que eu não poderia?

— Não me leve à mal, você foi ótima como Multimouse, mas não acho que você tenha o perfil para ser a Ladybug. – Adrien mais do que achava que Marinette tinha o perfil para ser a Ladybug, contudo, precisava executar o seu plano. – Sabe, você é o tipo de pessoa que não consegue esconder segredos, princess. – deu de ombros – Por isso acho improvável.

— Eu conseguiria esconder, sim. – Marinette respondeu um pouco irritada.

— Nós vimos hoje que não. – ela obviamente não teria revelado a sua identidade como Multimouse, se não fosse parte do plano. Mas não podia dizer isso, só que também não queria ser taxada de descuidada.

— Mas isso foi porque eu ganhei o Miraculous temporariamente. Se eu fosse a Ladybug e precisasse usar meu Miraculous praticamente todos os dias, eu não contaria. – explicou.

— É mesmo? – indagou em tom de deboche, fazendo ela bater o pé irritada.

— Sim, é mesmo. Eu tomaria mais cuidado e não contaria a minha identidade, muito menos pra você.

— Sorte minha que a Ladybug me contou a identidade secreta dela recentemente. – o loiro mentiu.

— Isso é mentira!

— Por que acha isso?

— Porque as identidades precisam ser secretas, para proteger seus amigos e familiares. É uma questão de segurança, até para você. Ninguém pode saber, são as regras. – Adrien sorriu de lado ao finalmente ter conseguido o que queria.

Ainda haviam muitas perguntas sem resposta, que certamente investigaria depois. Mas por enquanto, já tinha a informação mais valiosa.

Chat Noir se aproximou e depositou um beijo no rosto de Marinette, que paralisou surpresa pelo ato. Em seguida, se aproximou do ouvido dela.

— Boa noite, Bugaboo. – piscou e saiu pela janela antes mesmo de Marinette conseguir reagir.

Chat Noir corria pelos telhados de volta para a sua casa, com um sorriso bobo no rosto por ter descoberto mais do que imaginava.

Não sabia como Marinette tinha o enganado – talvez uma ilusão? –, mas ele tinha certeza que ela era, sem dúvidas, a sua lady. Aquele discurso sobre identidades... Adrien tinha escutado tantas vezes que foi a peça-chave que faltava no seu quebra-cabeça de evidências.

Marinette era Ladybug.

E Adrien não podia estar mais feliz por ter descoberto quem era o amor da sua vida.