Malia passou boa parte da vida como um coiote.

Os animais não tinha rótulos, eles apenas eram, apenas existiam e conviviam, e satisfaziam suas vontades quando elas vinham, era assim a vida, e pronto.

Mas ela não sabe exatamente porque está tão chocada ao ouvir Derek gritando na cozinha, sobre ela mais especificamente.

—... eu não quero que ela saia com essas garotas. — a voz de Derek é praticamente um rosnado.

— E porque não? — a voz de Stiles retruca. — Porque ela é lésbica? Isso não serve pra fodendo nada Derek, essa discussão não vai levar a lugar nenhum.

— Ela não vai sair com essas garotas. — a voz de Derek repete, novamente cortando Stiles.

— Eu não sei qual o problema nisso Derek, nós dois estamos em um relacionamento homossexual, Isaac é bi gender, Lydia é assexual, eu sou pan, você é bi. Qual o problema em Malia ser lésbica? — Stiles tem um tom de voz furioso, Malia quase pode imagina-lo gesticulando furiosamente, o rosto comprimido de raiva e fúria que Malia só viu uma vez na vida, no chamado Incidente Trevor.

— Os homens Hale não tem bons históricos com mulheres. Eu tive Kate, quase fiquei com Jennifer, e matei Paige, Peter tem um histórico realmente bom com mulheres genocidas psicopatas. — Derek resmunga de volta, seu tom mais furioso que antes.

— Homens Hale Derek, homens, se você se esqueceu, Malia é mulher, deixe-a viver.

Ela não escuta o resto da briga, preferindo se esconder em seu quarto, e tapar seus ouvidos, abafando o máximo de som que podia. Qual o problema com ela e Kira? O que elas fizeram de errado? Ela infringiu alguma lei?

Ela não se lembra exatamente de todas as aulas sobre constituição que Stiles dava, sobre o que ela pode e não pode fazer, talvez fosse alguma dessas leis humanas estúpidas - sério, porque andar com roupas na rua - ela estava quebrando?

Ela apenas ressurge de baixo das cobertas quando ouve a porta abrir, Derek tem um olhar derrotado nos olhos, como se tivesse que fazer algo duro e doloroso, Malia apenas o encara até que Derek desvie os olhos.

— Eu sei que você ouviu o que aconteceu lá em baixo. — Derek diz, depois de um momento, sentado na beira de sua cama, os olhos presos nos padrões florais de suas cobertas.

— Eu ouvi, quase tudo. — ela rosna de volta, talvez ela mate Derek, depois ela fugiria para a casa  de Kira.

— Eu... — Derek faz uma pausa, pensando, os olhos dele finalmente encontram os dela. — Eu não quero que as coisas do mundo cheguem a você Malia. — ele diz finalmente, ela não pode deixar de virar a cabeça para o lado e olha-lo em confusão.

Derek limpa a garganta antes de continuar.

— Pessoas como nós, gays, lésbicas, bi, trans, não são bem aceitas. — Derek finalmente chega mais perto, pegando uma de suas mãos. — Mas para você e Kira, é muito pior. Os humanos acham que um casal lésbico é um fetiche, algo que pode ser sexualizado.

Derek olha para o lado por um momento, nervoso pelos olhares estranhos.

— Eu posso mata-los. — Derek sorri para ela, os olhos brilhando em diversão.

— Bem, é sempre uma opção. — ele se inclina mais para perto. —Não conte a Stiles que eu disse isso. — seu rosto perde a diversão em momentos. — Mas imagine Malia, você poderia muito bem matar uma única pessoa na rua, pode mata-lá e sumir depois. Mas em um ônibus, cheio, cercada por pessoas desconhecidas, quando cinco delas assediam você e Kira, o que você faz? Você não pode matar todos no ônibus.

— Eu... — ela não sabe o que dizer, porque o jeito que os olhos de Derek são escuros, ela sabe que nessa situação, nenhuma das pessoas do ônibus vai ajudá-la. 

E ela finalmente entende, Derek não está bravo com ela, ele está bravo com o que ela vai enfrentar, ele está bravo com as pessoas que vão tornar sua vida mais difícil, com Malia nunca sendo deixada em paz, com o que as pessoas vão falar dela.

— Stiles e eu apanhamos uma vez na rua. — Derek diz, depois de um momento. — Foi em New York, muito tempo atrás, nós estávamos voltando de uma festa quando eu peguei a mão dele na rua. Três homens acertaram uma garrafa na parte de trás da minha cabeça, eu não pude fazer nada. — Derek olha para baixo. — Nós apanhamos no meio de uma rua lotada, e ninguém fez nada.

Derek olha para longe por um momento, os olhos desfocados e cheios de lágrimas, é a primeira vez que Malia vê Derek chorar. Ele balança a cabeça, segurando as lágrimas.

— O que eu quero dizer é, não vai ser fácil, e você via encontrar pessoas que vão ser absolutamente estúpidas com você e Kira, e tudo vai ficar mais difícil, mas se você a ama... — Derek para por um momento e sorri. — Você deve seguir em frente, e um dia, as coisas vão se encaixar.

Derek sai do quarto momentos depois que dá um beijo em sua cabeça, Malia sente tudo e ao mesmo tempo nada.

Ela pensa em desistir, em parar de ver Kira, mas o sorriso brilhante e os olhos puxados de Kira vem em sua memória, logo seguidos pelo seu riso fofo, e Malia decide que vale a pena.

Sempre.

Kira sempre valeria a pena.