O Fim da Inocência escrita por Janus


Capítulo 6
Capítulo 6




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/78312/chapter/6

 Tanto os guardas quanto os curiosos que eram mantidos afastados observavam sem fala o brilho que pulsava do hospital. Tinha acabado de anoitecer, mas para eles era dia ainda devido à iluminação.

 Os mais velhos ali se lembravam de ter visto coisa parecida muitos anos atrás, quando a última grande ameaça se abateu na cidade. Naquela ocasião o brilho provinha do palácio, mas era muito parecido com este de agora.

 Minutos antes alguns dos presentes tinham apontado para o céu para uma figura voadora com asas. Achavam que era a sailor Moon. A figura aparentemente tinha pousado no topo do hospital e, enquanto ainda comentavam um brilho começou a surgir na construção. Mas era impossível identificar de onde vinha exatamente. Era como se a luz surgisse no interior desta e pudesse atravessar as paredes, embora ninguém fosse capaz de ver a origem do brilho.

 No interior do hospital, no corredor que dava aceso a salas de terapia intensiva vários atendentes e médicos olhavam chocados e sem fala para uma sala em especial, onde minutos antes uma sailor voadora adulta tinha entrado. Eles sabiam que era ela.

 A rainha.

 Assim que ela entrou o brilho foi sentido. Não era calor, não era ofuscante, mas podiam sentir o brilho. Sentiam-se bem com ele. Na verdade, muitos sentiam-se tão bem que olhavam para a sala mais como curiosidade, e não com medo.

 A maioria contudo estava assustada.

 Diante da porta estava a doutora que tinha feito a operação na jovem sailor que ali estava internada. Dentro da sala do lado da porta estava a sailor Netuno – que todos já sabiam ser mãe da sailor ferida.

 O que quer que a rainha estivesse fazendo ali era impressionante, porém de uma certa forma suscitava alguns comentários abafados, sobre o porque dela nunca ter ajudado nenhuma outra pessoa gravemente ferida antes. Apenas as sailors podiam ter esse tipo de auxilio?

 Alguns observavam a doutora Amy abaixar a cabeça e tentar conter as lágrimas. Seus pulsos pressionados indicavam que estas não eram de alegria.

 O brilho começou a ficar mais intenso chegando mesmo a começar a empurrar as pessoas do corredor, apesar de aparentemente não afetar a doutora parada em frente a porta e de cabeça baixa.

 Os atendentes e enfermeiros olhavam uns para os outros, percebendo que algo que não compreendiam ocorria ali. Todos estavam sendo empurrados como se um ciclone estivesse soprando no corredor, no entanto ninguém sentia o vento que deveria fazer isso. Olhavam para o chão e viam seus pés escorregando lentamente no sentido oposto onde estava o quarto, onde era a origem do brilho.

 Não havia som, não havia vento, mas todos sentiam algo os empurrando lentamente, de uma forma constante e cada vez com mais força. A doutora, contudo, permanecia na porta imóvel, como se fosse imune a força invisível que a todos afetava por ali.

 Agora os que estavam ali curiosos também sentiam medo. Fosse o que fosse, a rainha estava usando um poder que estava aumentando mais e mais. Poucos chegaram a reparar em um homem andando pelo corredor com as mãos nos bolsos, seguindo em direção ao quarto.

 Mas repararam quando ele parou ao lado da doutora, e esta o observou com os olhos mareados. Ela nada disse, apenas fechou os olhos e olhou novamente para baixo. O homem de cabelos avermelhados olhou para o quarto que ainda estava com a porta aberta e lentamente caminhou para o seu interior.

 Do lado de dentro, a sailor com asas segurava o seu cetro firmemente com ambas as mãos, ampliando e intensificando o seu poder sobre a jovem deitada na cama. Recusava-se a aceitar que não podia cura-la. Já curara suas amigas de situações a beira da morte antes, porque não podia fazer isso agora? Não era apenas por aquela toxina, não era! Seu poder devia poder estabiliza-la até ela se recuperar.

 Mas não parecia surtir efeito.

 Não era a mesma situação de Hotaru. Sabia que não podia curar seus ferimentos, mas o resto do corpo deveria poder se recuperar. Seu coração deveria ficar mais forte, seus órgãos, suas células, elas deveriam estar mais estáveis.

 No entando, nada estava ocorrendo. Ela sabia o porque, tinha percebido assim que tinha visto Anne deitada ali. Mas não iria aceitar. Michiru estava ali atrás dela esperando um milagre, e ela iria dar um a ela. Iria dar um a ela ou morrer tentando.

 Sentiu uma mão tocar o seu ombro esquerdo e ficou arrepiada com isso. Mas ficou totalmente sem ação quando ele começou a falar com ela.

 - Se continuar assim todos em um raio de cem metros irão morrer – murmurou ele em voz grave – é isso que quer fazer?

 Seus olhos ficaram arregalados ao mesmo tempo em que seu coração pulsou em seu peito. Suas mãos tremeram por longos segundos e então deixou-as cair ao longo do corpo. O seu cetro atingiu o chão causando um som similar a de um sino.

 Seus olhos lacrimejavam. Por quase um minutou ficou ali com as lagrimas escorrendo pela face observando a paciente deitada na cama. Depois virou-se e o agarrou com força, enfiando a cara em seu peito e chorando com vontade e força, extravasando suas emoções. Normalmente era seu marido quem a confortava, mas como Sohar estava ali disponível, foi para ele que se voltou para obter algum conforto.

 - Você – ela soluçava ao soletrar as palavras – tio... se existe alguém com um poder maior que o meu é você... por favor...

 Ela não terminou a frase, mas seus soluços falavam por ela. Ela tinha avaliado Anne com o seu poder. Ela estava morrendo! Percebia seu corpo enfraquecer, percebia sua resistência diminuir. Era de forma lenta, mas constante. Ela morreria em poucos dias – ou horas – se nada fosse feito.

 - Ainda não sei o que fazer loirinha... – murmurou ele – se não descobrirmos o que a está mantendo viva...

 - Mantendo? – cortou ela trincando os dentes.

 - Você sentiu não foi? – ele a afastou do seu peito e a encarou nos olhos, mantendo-se controlado e com uma face impessoal – sua semente estelar começou a se dissipar. Sabe o que isso significa, não?

 Claro que ela sabia. Mas não aceitava! Anne estava ali deitada na cama sendo monitorada por equipamentos, e estes diziam que ela estava viva. Significava que devia haver uma forma de salva-la. Enquanto seu coração pulsar ela não iria desistir daquela criança, não iria desistir da criança que tinha feito Haruka e Michiru tão felizes. Não iria permitir que tal felicidade se tornasse uma triste lembrança. Não enquanto algo pudesse ser feito.

 - Tudo o que sei é que ela esta viva aqui e agora – tornou ela o olhando fixamente – e se alguém pode descobrir como isso é possível é você...

 - Se eu tentar algo agora com seu corpo neste estado - seus olhos se desviaram para a paciente na cama que ainda permanecia inconsciente – é bem provável que eu a mate. Mas se até amanhã seu corpo físico não melhorar, então tentarei algo. Mas você sabe o que pode acontecer.

 - Tudo o que sei é que se não tentarmos todo o possível, eu irei me arrepender pelo resto de minha vida – murmurou ela de volta.

 - Muito bem loirinha – ele pos ambas as mãos em seus ombros – mas se o que eu fizer der certo, isto vai ter um preço.

 - Faço qualquer coisa – respondeu ela olhando para os monitores.

 - Esse é o problema... não seremos nós que teremos de pagar esse preço. Agora, volte para o castelo e vá cuidar de suas filhas.

 Cuidar das filhas... sabia que estavam bem. Mas ele estava certo. Não adiantaria ficar ali chamando a atenção de toda a cidade. Alem disso já a tinha chamado de “loirinha” por duas vezes. Teria sorrido não fosse a situação.

 Lentamente a soberana se abaixou e pegou o seu cetro caído ao chão. Observou o rosto de Sohar mas nada disse. Caminhou lentamente até a porta e observou o rosto estático de sailor Netuno. Ela parecia resignada, mas não era preciso  ler mentes para saber que a mesma estava a beira do pânico.

 - Ainda não acabou – murmurou a rainha com um sorriso.

 Ela anuiu com a cabeça, com um fraco sorriso.

 Sem dizer mais nada a rainha saiu do quarto. Alguns momentos depois a doutora que tinha ficado do lado de fora da porta tocou o ombro da sailor e a levou para fora, para que a mesma se controlasse um pouco.

 Do lado de fora os atendentes não sabiam o que tinha acontecido, apenas imaginavam que a jovem sailor ali internada não estava melhor.

 

- x –

 

 Não importava a situação, Joynah sempre fazia comida gostosa, tendo ou não poderes. Até que era bom considerando que ninguém estava realmente com fome, comiam mais por instinto mesmo.

 Allete olhou para suas amigas sentadas ao redor da sala de estar da casa de Rita aguardando mais alguma noticia enquanto desligava o seu visor. Joynah e Serena estavam bem escudadas em seus namorados.

 - O que foi Allete? – começou Joynah assim que ela tinha desligado o visor – algum problema?

 - Sailor Calisto deve se apresentar perante sailor Vênus – respondeu a ruiva com um leve sorriso forçado – vocês continuam aqui. Claro, não posso impedir Joynah e os rapazes de irem se quiserem... não estão sob meu comando.

 Todos sentiram a tristeza na voz dela, mas também sentiram sua convicção. Foi preciso dois meses para que a convencessem a aceitar o cargo de vice líder das sailors lunares – ela própria nunca entendeu porque a achavam indicada para o cargo – mas ela tinha agido bem então. Agora com Titã afastada cabia a ela a liderança das lunares.

 E isso a apavorava.

 - Então é melhor você ir – disse Serena a observando.

 Ela encarou a princesa por alguns momentos. Ainda morria de preocupações com Anne, mas ela tinha uma obrigação também. Uma obrigação que tinha aceitado e que a assustava muito. A de continuar em frente no caso de uma de suas amigas não estiver mais com ela.

 Sem dizer nada ela seguiu para o porão da casa para ir ao castelo pela passagem secreta. Não se transformou para isso, mas quando chegou a parede falsa pouco antes de entrar no castelo pensou a respeito e decidiu se transformar. Era esperado que alguma sailor lunar fosse até ali. Na verdade muitos repórteres já indagavam sobre onde estariam as outras lunares. Nenhuma tinha sido vista desde que sailor Moon tinha deixado o hospital.

 Levou cinco minutos para chegar a sala de reunião das sailors. Sabia antes de entrar que haviam três pessoas ali, cortesia de sua capacidade de sentir calor. Tinha notado isso algumas semanas atrás enquanto treinava – melhor dizer enquanto era surrada – com sua mãe. Ela podia sentir as emanações de calor de pessoas e objetos. Acreditava que Marina devia ter um sentido similar considerando como ela estava melhorando com seus reflexos.

 - Calisto, sente-se – disse Vênus assim que entrou. Urano também estava ali com um rosto muito frio e controlado, e a rainha também.

 Pensou em dizer algo para Urano, mas decidiu ficar quieta. Qualquer palavra de consolação ela iria retrucar algo do tipo: ela sabia o que fazer, ou, era sua obrigação. Assim seguiu para a cadeira mais próxima e sentou-se. Devia estar ali apenas para receber alguma instrução, embora isso pudesse ser facilmente feito pelo comunicador.

 - Bem, como eu estava dizendo – tornou Vênus – nenhum incidente foi relatado, os robôs de vigia de Orion não detectaram nada referente aos generais e Hotaru informou que nada ocorreu na reserva. Ela já esta voltando para a cidade. Amy também disse que Titã está estável no momento, e que ela pode despertar e desmaiar por varias vezes pelos próximos dias.

 - E as pessoas do hospital? – disse a rainha com uma voz cansada.

 - Muitas se sentem esgotadas – Vênus abaixou os olhos evitando encará-la – como se ficassem o dia inteiro fazendo exercícios. Mas estão fora de perigo.

 - Me desculpe Haruka – agora sua voz estava chorona – eu não consegui ajudá-la, tive de parar ou as pessoas próximas poderiam morrer esgotadas...

 - Pare com isso – cortou Urano de forma fria – você fez muito mais do que qualquer um esperaria. E foi imprudente ao se consumir desta forma, mesmo sabendo que não iria mudar nada.

 Ela ficou em silencio por alguns segundos observando a rainha deixar algumas lagrimas escaparem de seus olhos.

 - Mas eu lhe agradeço – a voz de Urano agora estava amável, tanto que Calisto a olhou impressionada – Serena.

 - Ok – Vênus chamou a atenção de novo – agora que a líder das lunares está aqui é hora de decidirmos o que fazer. Amy continuará acompanhando Titã no hospital e irá fazer tudo o que puder para cuidar dela. Urano e Netuno estarão encarregadas de revezar turnos para protegê-la.

 - Um momento – Cortou ela a encarando – quero procurar pelo klartiano.

 - Você vai proteger a sua filha – Vênus estava incisiva – é uma ordem. Saturno e Plutão irão tentar localizá-lo. E não pense que é mero sentimentalismo. Duvido que alguma outra sailor ou guardião iriam se empenhar mais que vocês duas caso algo ameace Anne. Vai dizer que estou errada?

 Ela nada respondeu, apenas olhou para cima e sorriu fracamente.

 - As inner disponíveis e os guardiões irão patrulhar a cidade hoje, para o caso de algum general ou outra coisa aparecer. Calisto – ficou empertigada ao ouvir ser chamada – como a liderança das lunares agora é sua, quero que monte grupos para patrulhar a cidade a partir de amanhã as nove horas. Irão render as inner e guardiões nessa tarefa. Ou seja, pode avisar a todas que seus pais não estarão em casa esta noite e devem continuar na minha casa. Cuide para que façam isso em duplas. As Asteroid irão cuidar da pequena princesa e dos filhos de Amy.

 Ela pensou por alguns instantes, e ao ver que estavam em silencio, decidiu esclarecer suas duvidas.

 - Iremos patrulhar o dia inteiro?

 - Não – disse a rainha antes que Vênus pudesse falar – isso será só até as três ou quatro da tarde. Até então teremos vigilância total na cidade com a guarda robô. Mas devem ficar de prontidão caso algo ocorra.

 Ouvir a rainha para que elas ficassem preparadas para atuar era uma surpresa e tanto, mas não a questionou.

 - Creio que é tudo por enquanto. Urano, já que acredito que Netuno é quem irá ficar no quarto de Anne esta noite, se quiser quebrar alguma coisa na sala de treinos...

 Urano observou Vênus com um sorriso um pouco divertido.

 - Não estou com ânimo para isso. Mas duvido que eu seja capaz de dormir tão cedo. Irei ficar patrulhando ao redor do hospital.

 - Certo – Vênus se levantou – acredito que por enquanto, isso é tudo.

 Urano também tinha se levantado junto com Calisto. E ela já estava começando a andar para sair da sala quando ouviu sua rainha a chamar.

 - Calisto, fique por favor, quero falar com você a sos.

 Olhou para a rainha e para as outras duas que também ficaram surpresas com aquilo. Mas elas saíram da sala logo em seguida. Um pouco curiosa, ela andou para ficar ao lado da rainha que ainda permanecia sentada e aparentava estar cansada e triste.

 - Allete – começou ela em uma voz doce – o motivo de vocês irem sair em patrulha amanhã é para lhes dar algo para fazer, algo que as faça sentir que estão ajudando. Sabemos como é difícil ficar esperando receber noticias.

 - Eu entendo, majestade.

 - Mesmo assim, a possibilidade de vocês acabarem enfrentando alguma coisa é grande – continuou ela - e por causa deste incidente eu... – ela engoliu em seco e hesitou antes de continuar – eu estou revogando a ordem de não combaterem entre si.

 Arregalou os olhos, mas nada disse.

 - Vocês estão livres para treinarem e se aprimorarem como quiserem. Apenas não destruam a cidade neste processo – ela sorriu nervosamente – mas não quero vocês lutando entre si por motivos bobos, como tentar roubar o namorado de alguém.

 Ela riu levemente junto com a rainha. Depois observou esta em silencio por alguns segundos, seus olhos fitando a mesa da sala de reuniões. Parecia prestes a chorar a qualquer momento.

 - Amanhã a tarde saberemos se Anne irá sobreviver ou não – continuou ela com a vez trêmula – não diga isso para as outras. Só estou lhe dizendo porque você é a líder. Eu fui ver Anne hoje, e ela não esta nada bem. Sua força vital está se esvaindo, e mesmo que os aparelhos mantenham seu corpo vivo, o mesmo não irá acontecer com a sua consciência.

 Sua boca ficou semi aberta, o medo e o pânico invadiram todo o seu corpo. Sua soberana... ela... estava dizendo que Anne estava condenada?

 - Eu...

 Não conseguiu falar nada. A rainha segurou o seu ombro com carinho e sorriu para ela.

 - È fácil sacrificarmos a nós mesmos pelos outros, criança, mas é difícil aceitar quando os outros se sacrificam por nós. Anne se sacrificou por minha filha. E enquanto ela estiver viva farei o impossível para salvá-la. Mas não irei condená-la por isso. Jamais direi que ela não devia ter feito o que fez. O mesmo vale para vocês, crianças.

 - Anne.. ela vai morrer?

 - Seu pai irá tentar algo. Até imagino o que possa ser. Mas não vou lhe dar esperanças falsas. Como eu disse antes, amanhã a tarde de uma forma ou de outra isso estará definido. Agora volte para a sua equipe. E por favor, não diga nada disso a elas.

 - Sim, majestade...

 Ela saiu da sala deixando a rainha sozinha, mas antes de fechar a porta tinha certeza de que ela estava chorando.

 - Eu confio em seu pai, priminha – murmurou a rainha para a sala vazia.

 

- x -

 

 Hum... será que eu morri? Está tudo escuro... ai! não.. ainda estou viva. Viva e com a cabeça latejando. E muito! Mas tem alguma coisa diferente agora... eu... posso sentir meu corpo. Sinto meu peito do lado esquerdo arder, e também parte de minha barriga, até o outro lado. Acho que foi onde me acertaram. Puxa! Eu fui rasgada de um lado a outro? Não é a toa que tinha tanta gente em cima de mim, disputando o lugar, cotovelo a orelha, para terem espaço para trabalhar.

 Eu devo estar na unidade intensiva agora. Em recuperação. Eu nunca fiquei de recuperação antes, seja escolar ou em hospitais. Para tudo existe mesmo uma primeira vez. Estou com a boca seca... será que dá para alcançar o botão que chama a enfermeira? E... onde está ele?

 Eu olho de um lado a outro – ora vejam só! Eu posso mexer a cabeça agora – procurando por ele, mas não acho nada. Bem, do jeito que está escuro, vou precisar do meu visor para isso. Só preciso tocar a minha tiara...

 Só que... minha mão não se mexe. Hum... parece que ela está presa...  tento erguer meu pescoço, e sinto um golpe violento na nuca que me faz ver estrelas... alguém me bateu? Acho que não... deve ser algum tipo de choque... é um choque! Um torcicolo daqueles, na verdade. Que ótimo. Bom.. preciso ver o que ainda funciona aqui. Os dedos das mãos se mexem... perfeito. Os dos pés também. Ótimo! Não estou paralisada. Mas então, por que não consigo me mexer?

 Pense menina, pense! Você deve ter ficado horas na mesa de cirurgia. O que acontece depois com os pacientes? Vão para a sala de recuperação, onde eu devo estar agora. E então? Por que não posso me mexer? Que burra! Se eu fiquei retalhada e me costuraram toda, eles sem dúvida, não iam se arriscar a que eu me movesse ali quando ficasse sozinha. Há um risco real de que os cortes voltem a se abrir assim. Isso quer dizer que me amarraram na cama para ficar imóvel.

 Espero não precisar usar o banheiro enquanto isso. Pensando bem, espero não sentir nenhuma coceira. Isso sim seria um tortura.

 Mas ainda estou com sede. Se não posso me mover, deve ter um jeito de chamar alguém. Dou uma olhada com mais cuidado ao redor, mas ainda está muito escuro. Espere! Uma luz!!! Deve ser uma porta que abriram no corredor, iluminou bem aqui dentro. Ali!!! No canto, ao lado da vidraça. Tem alguém sentado ali, acho que está cochilando. E eu tenho certeza de que é uma sailor. Só não dá para dizer quem é. Bom, pelos cabelos, ou é a sailor Marte, ou a minha maninha sailor Ariel, ou até a minha mamãe Netuno. Deixa eu ver se consigo chamar sua atenção.

 Eu tento falar e... mas o que é isto na minha boca? Um tubo? Droga! Bosta, que merda! Estou amarrada na cama e amordaçada com esta coisa que puseram aqui para me ajudar a respirar. Só falta agora um enfermeiro pervertido para completar o quadro, afinal, minhas pernas já estão abertas mesmo...

 Eu só penso em besteiras mesmo. Bom, o jeito é ficar quieta e esperar o sono chegar de novo. Acho que vai ser mais fácil desta vez.

 Droga!!! Eu não devia ter pensado nisso de enfermeiro tarado... agora estou com medo de dormir!!!!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Fim da Inocência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.