O Fim da Inocência escrita por Janus


Capítulo 3
Capítulo 3




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/78312/chapter/3

 Árvores, árvores e mais árvores, separadas entre si por uma terra úmida, malcheirosa e coberta de folhas. Ao seu redor, uma clareira chamuscada e com algumas crateras. A luta foi breve, mas intensa. Exatamente como Haruka tinha dito. Ele apareceu de surpresa, atacando elas, talvez a partir de uma emboscada ou até para aproveitar que elas estavam ali e poderia atacar de surpresa. Diana se esquivou primeiro, assumindo sua forma felina. Haruka aproveitou o momento e se transformou, ao mesmo tempo que a pequena princesa. Isso o distraiu o suficiente para Diana voltar a sua forma humana, e também se transformar.

 Anne teria sido a próxima, aproveitando que ele estava se desviando do ataque de Haruka. Foi quando ele foi na direção da pequena princesa, com as garras prontas para atingi-la, e Anne, por impulso, tirou ela do caminho, expondo-se ao ataque.

 Dava para ler no solo calcinado esses eventos, tão claros para ele como um texto em um livro. Ali estavam as marcas de onde ele pousou primeiro, e, da forma que estas estavam, podia seguir mentalmente até a árvore de onde ele estava escondido.

 O fogo tinha sido lançado por Diana, e as crateras foram feitas por sua filha. Ambas deviam ter ficado alucinadas com o que viram, e conseguiram transformar seus sentimentos de desespero em pura fúria vingativa. Tanto que até Haruka ficou surpresa, como ela mesma lhe disse.

 Ali devia ser onde Anne ficou estendida no chão, provavelmente já sem sentidos pelo choque. Podia-se ver a marca de seu corpo, na terra que antes devia ter coisa de meio centímetro de matéria macia e fofa. Agora, estava dura como pedra, pelo aquecimento que tinha sofrido, imortalizando as marcas. A mancha escura nesta mesma terra devia ser o sangue, que foi vaporizado pelo calor. A princesa a pegou assim que a viu no chão, o que deu a Diana toda a liberdade para soltar fogo por todos os lados. Mais ao lado, estava onde sua filha devia ter caído, quando ele revidou o soco dela, atingindo-a com as garras em um movimento pendular, de baixo para cima, cortando sua barriga, costelas e terminando em seu ombro. Lá estavam as marcas de onde seus cotovelos atingiram o solo, ali, entre elas e um pouco mais acima, era a marca da cabeça. Seu sangue podia ser visto também, era a mancha mais escura na terra. Ela perdeu um pouco de sangue, mas nada crítico.

 Crítico... o golpe que ele deu nela não foi crítico... claro que foi. Provavelmente pior que o que atingiu Anne. Mas ela tinha uma vantagem, um corpo muito denso, e uma recuperação sempre constante e renovável. Suas feridas deviam ter se fechado rapidamente. As de Anne também, se não fosse aquela toxina... toxina a qual, talvez, sua filha não fosse sensível.

 Aquelas marcas eram do ponto em que Joynah pegou Anne dos braços de Serena, que nenhuma das testemunhas conseguiu dizer onde estava durante os acontecimentos. Teria que perguntar a ela depois. Ele também não achou muitas marcas que ela poderia ter deixado. A melhor explicação era que não estava com o grupo, e sim um pouco afastada. Infelizmente o caminho que elas tinham feito até ali já estava com os rastros destruídos com toda a movimentação que ocorreu depois, com os caçadores de notícias e com os policiais expulsando-os da floresta.

 Diana não queria ir. Teve provavelmente medo que Haruka estivesse muito ferida – e ainda está – e ficou por lá, sobrevoando a região procurando por Djogor. Mas nenhum sinal dele. Ele sentia a presença de todos por ali, mas nada da criatura maligna e sombria que era ele. Ele já tinha fugido, e Sohar se perguntava o porque de ter feito isso. Ele não precisava... podia ter acabado com elas. Será que a fúria das meninas foi tanta que ele ficou assustado? Provavelmente não. Ele devia ter outras prioridades, grandes o bastante para ele se recusar a matar ou ferir mortalmente mais uma. Podia ter acabado o serviço com Haruka, mas não o fez, apenas a deixou no chão, contorcendo-se de dor com o ferimento que lhe inflingiu, e do qual ainda se recusa a tratar. Tomara que Michiru a convença do contrário, e logo.

 Desde que tinha enfrentado aquele klartiano, ele sentiu que era um oponente muito perigoso. Seu interesse principal era claramente agir na surdina, ocultando suas reais ações. Desta vez, contudo, ele tinha atacado de propósito. Porque?

 Foi até o ponto onde ele deve ter tocado o chão pela primeira vez, e avaliou de onde teria vindo. Devia ter sido de algum lugar daquelas árvores logo adiante. Estavam chamuscadas, mas talvez ainda encontrasse algumas marcas.

 Pulou para as árvores próximas e se equilibrou em um galho. Comandou mentalmente seu visor para analisar qualquer sinal de seiva que pudesse encontrar. Nada. Ele não deve ter arranhado nenhuma árvore durante o salto, mas ele estava mais ou menos na região de onde ele devia ter partido. Olhou para o caminho descoberto por onde os visitantes do parque costumavam passar, e onde elas foram atacadas. Por que ele se revelaria?

 Sentou-se no galho em que estava e ficou observando o solo, seguindo mentalmente as pegadas das crianças, em especial, as de Diana, que foi a primeira a ser atacada. Essa era a parte estranha. Ela não era a mais próxima. Ele teve de saltar por cima de Haruka para tentar pega-la. O que o motivou a atacar Diana? Ele saberia que ela era uma sailor? Se sim, porque não atacou Haruka de cara? O que Diana teria de diferente...

 Claro! Os pais de Diana eram de outro planeta... ela é uma felina que pode assumir forma humana... ela... pode fareja-lo, e ele, o klartiano, já a farejou uma vez. Será que...

 Olhou novamente para as pegadas dela. Ali, três passos antes dela se transformar em gato e escapar... ela parou por uns momentos. E seus passos seguintes indicam que, ao menos os seus pés, estavam na direção em que ele se encontra agora. Ela devia ter andado de lado. Sentiu que havia algo ali e ficou curiosa, ou então farejou a ele. Por isso ele atacou! Não queria correr risco de que fosse descoberto, como da outra vez em que Diana o seguiu... mas como ele devia conhecer todas as crianças como sailors... não fazia sentido.

 Se ele não queria correr riscos, porque atacou? Ou ele iria efetuar uma emboscada em outra parte e a provável detecção de Diana o fez mudar de planos?

 A outra possibilidade seria ele estar ali por outro motivo, talvez escavar algum cristal que estivesse por ali. Talvez quando as viu andando na região imaginou que o objetivo delas seria o mesmo. Se isso fosse verdade, significava que ele ainda iria voltar para aquele lugar, terminar o que não conseguiu fazer. Só precisavam ficar esperando ele aparecer.

 Sohar olhou para o céu azul com poucas nuvens. A outra possibilidade seria vingança. Mas porque Anne? Ou Diana? Goi ele quem destruiu o colega dele.

 Nenhuma teoria era satisfatória. Talvez mais tarde quando analisasse as informações com Orion pudesse ter outra pista. Mas por enquanto, era melhor continuar a busca. Se ele ainda estava ali, iriam encontra-lo.

 

 

 Há um ditado que diz: Dor é vida – a Rita diria, Dor é machucado...  Se ele é verdadeiro... então... eu devo estar muito bem viva. Está tudo doendo... ai! AI!!!! PARE!!! PARE!!!!!! O QUE ESTÃO FAZENDO COMIGO? PARECE QUE ESTÃO ME ARRANCANDO O FÏGADO! POR FAVOR!!! PAREM!!!! Isso.. isso.. obrigada... muito, muito obrigada mesmo...

 É esquisito... eu me sinto mais forte e menos grogue agora... mas estou sentindo dor... muita dor! Olho ao redor e ainda devo estar na sala de cirurgia. Quanto tempo se passou desde que aquilo tinha começado? Uma hora? Duas? Mais?

 Sinto que já posso me mexer um pouco. Eu giro a cabeça lentamente – sim, eu posso me mexer, mas dói muito – e, agora, não vejo a sailor Terra. Acho que ela tomou vergonha e foi se trocar, ou a mãe dela chegou e deve estar cuidando dela. Gostaria de saber. Gostaria mesmo. E a Chibi Moon? Será que está bem? Claro que está... eu vi ela sendo carregada pela irmã, quando me traziam... bem, pelo menos eu acho que vi.. não sei, é como se eu estivesse sonhando nesta parte. Eu me lembro de ver aquele... aquela coisa ir com tudo para cima dela, com as garras afiadas estendidas. Lembro de ter puxado ela por trás e a lançado para cima. E, depois... bem, aí é que não consigo lembrar de muita coisa...

 Mas eu sei o que aconteceu. Eu fui ferida... provavelmente estou gravemente ferida. Volto a cabeça a posição anterior e abaixo os olhos. Posso ver os médicos ainda trabalhando... movendo-se de um lado para o outro. Nossa! Quanto sangue... muito, muito sangue mesmo... nas mãos, nas suas toucas, nos pedaços de algodão medicinal que estão usando para manter a parte que estão trabalhando sem sangue acumulado...

 Sabe o que é pior? É o MEU sangue. Tudo isso é meu, saiu de dentro de mim. Devo ter feito uma trilha escarlate para todo lado. Estou até com pena dos faxineiros... Eu sei mamãe Amy... não devo brincar com algo tão sério assim... mas o que quer que eu faça? Que fique chorando e em pânico pelo que está acontecendo comigo? Eu já estou assim! Só não grito sem parar porque não tenho forças. Será que alguém pode imaginar o que é ter tal nível de consciência em uma situação dessas? Se eu não brincar, vou ficar louca.

 Acho que eu já sou louca... louca por ter me posto naquela situação. Por que não usei o anel de defesa? O que eu tinha na cabeça? O treinador vai me dar um sermão desgraçado por isso.

 Isso, se eu ainda estiver viva até lá.

 Por que estão me olhando? Espere... não.. não me façam dormir... eu já dormi demais... por favor... parem... eu quero saber o que está acontecendo comigo... por favor...  Mas... que droga... bom.. eles são... são médicos... devem saber o que fazem... um deles, quer dizer... uma delas.. até se parece com... a mamãe Amy... até sorri da mesma forma...

 Parece nada!!! É... é a Amy... ela... ela veio... cuidar de mim... sabe... se... desta vez... eu não acordar... pelo menos... vou morrer feliz... pois... agora sei que... não estava sozinha... entre... estranhos...

 

 

 Ele não foi muito gentil, mas aqueles repórteres também não estavam sendo. Ele deixou o seu girociclo largado na esquina do hospital e seguiu andando lentamente pela calçada, até que eles o reconheceram e foram voando em sua direção. Um círculo de fogo ao redor de seu corpo os manteve afastados enquanto ele seguia até o hospital, onde ainda haviam muitos curiosos. Ele teve de parar na linha divisória feita pelos policias, se identificar e, assim, poder entrar.

 Seguiu pelo corredor até o balcão de informações, perguntado se a atendente sabia onde estavam as sailors que ainda, segundo ele sabia, estavam lá. Ela disse que a sailor Moon e a sailor Terra estavam em uma sala de espera de emergências, no fim do corredor. Ele agradeceu e seguiu até lá. logo as viu. As duas, lado a lado, ambas com as roupas sujas de sangue coagulado.

 Ficou horrorizado ao vê-las assim. Sabia que o sangue devia ser da sailor Titã, e, aquilo mostrou como ela deve ter ficado.

 Rasgada, foram as palavras de Diana.

 Não queria pensar nisto. Não foi até ali para pensar no que tinha acontecido ou como ela estava. Tinha vindo para pegar sua amada, para lhe dar apoio e suporte. Não podia ficar sem esperança, não agora. Podia fazer isso depois, em casa, quando estivesse sozinho ou com o irmão. Provavelmente choraria, esbravejaria, ficaria socando a parede, numa forma tola de extravasar seu sentimento de impotência. Mas... não ali. Não agora.

 - Joynah – murmurou ele tocando em seu ombro.

 Ela o olhou, e ele notou que algo estava errado com ela. Sua roupa estava rasgada, em quatro cortes que iam da sua barriga até o seu ombro. Pelos cortes ele podia ver sua pele com marcas de arranhões. Ela também tinha sido atacada. Seu estado geral também estava diferente. Parecia que estava suando, um suor frio, e que tinha uma certa palidez no rosto, com os lábios ressecados.

 Seus olhos tremeram, e ela, em um impulso, o abraçou com força – mas não com a força normal dela, outro ponto preocupante – soluçando muitas vezes.

 - Ela está mal – disse sailor Moon que tinha se levantado e ficou ao lado deles – foi contaminada também. E ela se recusa a se tratar.

 - Posso dar conta – disse ela, agarrada nele.

 - Sem comer nada? Sailor Terra... você... está piorando. Está com febre, pálida, e agora está até... suando... eu vou chamar um médico para te examinar.

 - Não precisa – murmurou ela – só preciso... comer um pouco.

 - Então vamos – disse ele – há um restaurante neste hospital.

 - Agora não – murmurou ela que ainda o abraçava – eu quero ficar aqui.

 Ele afagou os seus cabelos longos, alisando eles e, como se estivessem em um parque, desembaraçando-os dos nós que ficaram nele. Para ela estar neste estado de “largada” era porque estava mesmo muito abatida.

 - Joynah – disse ele forçando-a a encara-lo nos olhos – minha futura noiva... vamos comer alguma coisa para seu corpo combater esta doença que ele colocou em você.

 Ela sorriu, meio encabulada. Aquela foi a primeira vez que a chamou de “futura noiva”. Ele estava preocupado. Sabia o quão letal podiam ser aquelas bactérias. Ainda se lembrava de como o pai dela teria morrido, se Amy não tivesse agido a tempo. A simples possibilidade de perdê-la... não podia ser imaginada. Quando ela abaixou a cabeça, ele começou a conduzi-la para fora da sala, para o corredor. Deste seguiram até as escadas e desceram dois lances nesta – só então notou que sailor Moon os seguia – quando passaram em frente a uma toalete, ela disse que queria lavar um pouco a sua roupa, e que os alcançaria.

 Pouco tempo depois, entravam no restaurante. Conforme eles foram andando, mais e mais sailor Terra começava a se apoiar nele. Não havia ninguém lá. Ele decidiu não perder tempo, entrou pela porta divisória e estava na cozinha. Em um canto, as sobras do almoço estavam empilhadas ainda dentro das panelas. Ele levou sua doce amada até lá e, pegando um pedaço de frango, o colocou sem muita cerimônia em sua boca.

 Foi impressionante. De uma forma quase automática, ela tinha aberto a boca e engolido – isso mesmo, engoliu como se fosse uma cobra engolindo um rato – o grande pedaço, que, normalmente, jamais poderia passar na boca de um ser humano normal. Mas ele não se permitiu ficar pensando no assunto. Pegou outro pedaço e deu para ela, repetindo o processo até a panela ficar vazia.

 Ele puxou a panela para o lado e pegou a próxima. Tinha pêras cozidas nesta, provavelmente algo para misturar com arroz, mais tarde. Pegou uma inteira e, desta vez, ela começou a mastigar. Quando foi pegar o quarto pedaço, a sailor Terra se adiantou e começou a pegar por conta própria. Já não precisava se apoiar nele.

 Ele se afastou um pouco e ficou observando a cena incrível. Ela pegava a comida e a ingeria simplesmente, apenas mastigando aquilo que era grande demais para entrar na sua boca. Um sorriso começou a se formar em seus lábios com aquilo. A cor de sua pele estava ficando mais rosada.

 - Achei vocês!

 Ele olhou na direção da voz e viu sailor Moon entrando na cozinha. Sua roupa estava toda molhada, mas não tinha mais aquela mancha enorme. Voltou a olhar para a sailor Terra e cruzou os braços. Ele só esperava que ali tivesse o suficiente para ela se restabelecer.

 Franziu o cenho. Tinha alguma coisa diferente nela. O rasgo na sua roupa... aquele que deixava seu seio praticamente exposto... estava... menor? Mesmo a cor marrom escura do sangue que tinha se espalhado nesta estava ficando mais claro. E a olhos vistos.

 Os minutos seguintes fizeram sua curiosidade virar perplexidade. Ali, na sua frente, a roupa dela começou a se... cicatrizar... essa era a melhor palavra para descrever. Os rasgos estavam se fechando, como se agulhas de tricô invisíveis estivessem tecendo o tecido novamente. Ao mesmo tempo, os feios arranhões diminuíam de tamanho, como se fossem arranhões falsos de cinema, e não vergões horrendos com marcas pretas e rochas nas bordas. A parte preta virava rocha, depois avermelhada, por fim rosada e, encerrando, a “casca de ferida” desaparecia, e, logo depois, a parte não mais lesada era coberta pelo tecido de sua roupa que se regenerava.

 O final foi muito rápido. Foi como se, de uma hora para outra, ela trocasse de roupa. Ela estava perfeita, como sempre esteve. A roupa agora branca, estava impecável, sua saia multicolorida, antes em frangalhos, estava como nova, e até reluzia as luzes do teto nela.

 Ela parou de comer e olhou para ele. Estava perfeita agora, totalmente recuperada.

 Fisicamente falando, ao menos.

 Seus olhos, no entanto, mostravam algo que a sua capacidade de recuperação não podia atuar. Não podia atenuar sua dor, sua agonia. A desespero que devia estar sentindo por sua amiga, a amiga de todos eles, Anne. Anne, a sailor Titã, a atual líder principal das lunar senshi, a “chibi Amy” que Hotaru adorava.

 A pessoa que estava deitada inerte em uma mesa, com dezenas de pessoas tentando salvar sua vida. E ela... ele... os dois... não podiam fazer nada, além de rezar.

 Mas, por Joynah, ele podia fazer algo. Não era muito, mas era o que podia fazer. Ele se aproximou dela, lentamente, percebendo seus lábios tremerem um pouco, da mesma forma que seus olhos. Colocou as duas mãos em seus ombros e, gentilmente, a aproximou de si, abraçando-a logo em seguida. Era só o que podia fazer por enquanto. Apenas isso. Dar-lhe um ombro para chorar, um ombro para encostar a cabeça, enquanto procurava uma forma de aceitar o que estava acontecendo, e o que já tinha acontecido.

 E como ela chorou. Baixinho, sem fazer barulho. Devagar, mas de forma constante. Se sua armadura não fosse energética, ela estaria enferrujando. Ele chegou a pensar em desativá-la, para que ela tivesse um local mais macio para encostar o rosto. Mas não queria afastá-la para fazer isso. Fechou os olhos e encostou a sua face na dela, no lado que ela deixou virado um pouco para cima.

 - Desculpe – murmurou ele – mas, tudo o que posso fazer é apenas isso.

 Ele sentiu uma pressão forte em seus braços. Muito forte mesmo! Ela o estava apertando em seu abraço, com força e vontade.

 - Bobo... – disse ela entre soluços – ...acha que isso é pouco? Obrigada Herochi... muito... obrigada. Obrigada por me amar, por me dar conforto e um ombro amigo para chorar. Acho que você não pode imaginar como coisas tão pequenas podem significar tanto para mim...

 Ficou sem jeito ou ouvi-la murmurar aquilo. Mas não pensou muito no assunto. Apenas começou a balançá-la, ao girar o seu corpo lentamente de um lado para o outro, como se estivesse embalando uma criança. Não soube por quanto tempo fez aquilo, mas houve uma hora em que ela se afastou e olhou diretamente nos olhos – pelo menos, onde deveriam estar, já que, para ela, eles estavam ocultos por seu visor.

 - “Futura” noiva? – murmurou ela com uma certa felicidade.

 - Se quiser resolver isto hoje... – disse ele sorrindo.

 - Depois que Anne estiver melhor – sorriu – Herochi... - ela se aproximou dele e o enlaçou, cruzando os seus braços atrás do seu pescoço - vou adorar ser sua noiva...

 Eles se beijaram longamente, o mais longo beijo de suas vidas até então. Não propriamente um beijo apaixonado, mas um beijo de confiança, e também de agradecimento da parte dela. Agradecimento por ele ter ido até lá... por ela. Por ter ficado ao seu lado, por ter tentando lhe dar algum conforto. O único desejo dele era que as circunstâncias fossem diferentes. Sentia-se um pouco... traidor... por estar beijando Joynah com Anne entre a vida e a morte alguns andares acima. Mas como ele já tinha percebido desde o início, não era um beijo de paixão que ela estava lhe dando, apenas um tipo de agradecimento.

 Quando ele abriu os olhos, viu que ela tinha se transformado, e que sem que percebesse, devia ter tocado no comando de seu relógio, pois agora ele não estava com a roupa de cavaleiro.

 - Assim fica mais fácil sairmos sem nos perceberem – disse ela quando finalmente precisou respirar um pouco.

 - Você está bem?

 - Sim, agora estou perfeita, pelo menos – abaixou os olhos – tanto quanto posso estar. Não adiantará nada eu ficar aqui. Anne nem tem o mesmo sangue que eu, e não acredito que possa ajudá-la em mais alguma coisa. Só vou ficar preocupada, e preocupar outras pessoas também. Eu só precisava mesmo comer para meu corpo se recuperar. E... de você para conseguir recuperar o controle de minhas emoções. Acho que eu estava quase que alienada com tudo.

 - Não seria nenhuma surpresa, considerando o que houve. Mas acha que devemos deixar... onde está ela? – perguntou ao perceber que sailor Moon não estava mais lá.

 - Deve ter saído para nos deixar mais a vontade. Vamos atrás dela... você tem razão, é melhor não a deixarmos sozinha.

 Ela começou a andar segurando na sua mão quando subitamente parou, virou a cabeça de lado e parecia como que concentrada em alguma coisa.

 - O que foi?

 - Não sei... foi como se... eu pudesse sentir... não. Deixa para lá. deve ser impressão. Vamos.

 Ele se deixou levar por ela, mas não acreditou no que ela disse de ser impressão. Quando Joynah estava “normal”, ela tinha as capacidades perceptivas tão potentes quanto as de Rei ou até mesmo de Anne, a mais sensível de todas as sailors. Iria perguntar a ela, depois, o que tinha pressentido.

 

 

 - Eu estou bem.

 - Haruka – era incrível como ele conseguia ser impessoal – você está ficando cada vez mais debilitada. Os cortes que ele fez em suas costas estão já ficando pretos, você mal consegue manter o equilíbrio. Precisa ser medicada agora, ou então não poderá ver sua filha se recuperar.

 Ela o olhou com raiva. Era mais do que evidente que não iria embora sem encontrar a criatura que os tinha atacado, não importando o quanto isto poderia lhe custar.

 - Me obrigue...

 - Já que insiste...

 Foi muito rápido, Rápido demais para Sailor Netuno ou Saturno perceberem ou esboçarem qualquer reação. Sohar saltou por cima de sailor Urano e lhe deu uma rasteira pelas costas. Antes desta tocar o solo, ele disparou uma de suas bolas de plasma praticamente a queima roupa, no meio de sua coluna dorsal, arremessando-a com o impacto rumo ao tronco de uma árvore. Os estalos de madeira quebrando foi incrível. Mais incrível que isto, foi o fato de que ela não ficou fora de combate, pelo contrário, ela se ergueu com grande dificuldade, arfando ruidosamente, com uma expressão de surpresa no olhar.

 - Terra...

 Ainda assim ela iria contra atacar. Fraca como estava, e ainda mais agora, depois deste ataque poderoso, ela ainda tinha forças para contra atacar. Talvez fosse um ato desesperado para cumprir uma promessa que tinha se feito, talvez pela chance de finalmente, poder medir forças contra ele, talvez até mesmo por pura teimosia. Não que isso importasse, ela estava contra atacando, e Sohar era o seu alvo.

 - ... trema!

 Quando ela lançou a semente de seu golpe na terra, tanto Netuno quanto Saturno perderam um pouco o equilíbrio. Esse ataque era mais forte que tudo o que tinha feito antes, e usando a sua técnica básica. Uma impressionante rachadura brilhante surgiu de onde ela iniciou o golpe, e poucos metros adiante, erguendo-se da fenda que se estendia, uma bola luminosa surgia, brilhante como nunca antes, com no mínimo, três vezes o poder normal que estavam acostumadas a ver. E tudo isso ia direto para... uma árvore, despedaçando-a junto com outras próximas.

 Todas se esqueceram de como Sohar podia ser rápido, ele simplesmente desviou-se do golpe e ficou novamente atrás de Urano que mal teve tempo de se virar surpresa, antes de receber um poderoso impacto em sua nuca forçando-a a ver estrelas.

 Ela caiu no chão apoiando-se apenas com as mãos, ainda tentando manter-se de pé. Mas ela sabia que já tinha perdido. Mesmo que não estivesse ferida, mesmo que estivesse no ápice de sua capacidade, ela tinha que aceitar o fato que sempre temeu.

 Ela nunca teve chance contra ele.

 Era irônico... ela já tinha enfrentado criaturas muito mais poderosas, muito mais sanguinárias, e, agora tinha que aceitar o fato de que não poderia vencer ele. Uma pessoa que até Netuno presenciar a luta dele contra Prismey, todos achavam que ele era, em termos grosseiramente comparativos, quatro vezes mais fraco.Mesmo que fosse verdade, não era o poder meramente bruto que decidia um combate, mas sim, a estratégia do adversário. Ela sempre imaginou que ele com sua capacidade de se mover rapidamente seria imbatível. Agora via que nem sailor Vênus seria capaz de enfrentá-lo. Ele não era apenas rápido, tinha uma força maior que a sua.  Muito bem,  parabéns guardião, você conseguiu.

 - Eu... desisto – disse ela ofegante.

 - Já chamei um flutuador médico – disse ele andando na sua frente, sem se incomodar em olhar para ela - Vão te levar até o hospital Central. Já foram instruídos sobre o que terão de fazer. Deve estar de volta ao seu normal em algumas horas.

 - Tinha tanta certeza assim de que iria ganhar?

 - Não. Mas tinha certeza de que se não vencesse, logo, logo você iria desmaiar devido a toxina.

 Ela tinha que admitir que ele tinha razão. Estava com a cabeça latejando, suando frio, e tendo espasmos terríveis nos músculos das costas, onde tinha sido atingida. Realmente, não poderia continuar a busca por mais tempo. Resignada, sentou-se no chão, e aguardou o transporte que estava a caminho chegar.

 - Onde está Nicholas?

 - Investigando algo que Diana disse que tinha farejado. Mas ele já disse que provavelmente a pista já está muito fria.

 - E está. Não há nenhuma presença maligna por aqui, vocês podem sentir isso. Haruka pode sentir isso, e, ainda assim, teima em procurar por fantasmas. Não achei nada que pudesse indicar o que ele estava fazendo por aqui. E vocês?

 - Apenas plantas, animais e alguns guardas participando das buscas.

 - É hora de irmos embora. Guardiões, debandar – disse ele comandando mentalmente o seu visor para enviar a mensagem.

 “O que?” – foi a resposta de um deles.

 - Você ouviu, Nícholas. Vamos embora. Não há nada para nós aqui. Pelo menos, por enquanto. A não ser, claro, que tenha encontrado algo.

 “Nada. Não achei absolutamente nada”

 - Então pegue sua esposa e vá para casa.

 “Eu ouvi isso” – era  a voz de Ray no comunicador – “não acha que seria melhor esperarmos um pouco mais?”

 - Ray, ele não está por aqui. Você pode sentir isso. Sei que é frustrante, mas temos que aceitar os fracassos. Vá para casa, e aproveite e avise as outras sailors também. Agora devemos nos concentrar em preparar uma estratégia para a próxima vez que ele aparecer.

 “Tem certeza disto, Treinador?” – agora, era a voz de Mina.

 - Tenho certeza de que estamos perdendo tempo. Vão para casa, expliquem as coisas para seus filhos e nos reunimos no castelo depois. Nosso amigo não fez o que queria por aqui – olhou para Saturno – Hotaru, pode ficar na região para ficar vigiando? Tenho certeza de que ele vai voltar, mais cedo ou mais tarde. E você é única além de mim e Lita que o enfrentou.

 - Sem problemas – respondeu ela.

 - Mantenha contato – ele olhou para cima, ouvindo o barulho que o flutuador fazia ao se aproximar – vou atrás de Lita e iremos ao hospital depois. Michiru...

 - Eu vou com Urano, pode deixar.

 - Então, até mais tarde.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "O Fim da Inocência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.