A Jornada da Bruxa - O Tomo da Terra escrita por Chouette


Capítulo 2
Capítulo 1 - A fazedora de poções




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            7 anos depois...

            O Mercado de Pim era modesto e não tinha muita variedade, mas os legumes frescos atraíam multidões todos os finais de semana pela manhã. Jade atravessava a grande praça carregando uma caixa contendo cenouras, a última daquela colheita, em direção da tenda do seu pai que ficava do outro lado, espremida na viela entre as construções de barro amarelo.

            Havia muita gente estranha ali, mas a fazedora de poções era sempre a mais estranha. Quando passou pelo tapete estendido no chão cheio de frascos, alguns destampados que fumegavam, Jade sorriu e deu bom dia para a bruxa. A mulher só resmungou de volta, o rosto escondido pela aba do chapéu enorme.

            — Eu te ajudo — disse Leon, o melhor amigo de Jade. Ele tentou pegar a caixa da mão da garota, mas ela não cedeu.

            — Obrigada, mas eu dou conta sozinha.

            Continuou andando e o rapaz a acompanhou.

            — Eu imaginei que sim.

            Leon era filho do único sapateiro de Pim, tinha uma vida confortável na cidade, mas ainda assim era bastante gentil com ela. Jade gostava de tê-lo por perto, pois ele sempre contava coisas interessantes sobre os outros reinos e territórios. Aquela manhã não fora diferente.

            — Dizem que uma horda de gigantes foi avistada para lá da capital dos elfos, destruindo muitas cidades dos homens do outro lado. Ninguém sabe quem foi que soltou eles lá, mas dizem que é trabalho das bruxas.

            — Você acha mesmo que as bruxas fariam isso sem motivo?

            — Não sei, mas os elfos com certeza vão contra-atacar. Não é do feitio deles ignorar uma catástrofe dessa bem no coração do continente... se fosse no litoral, até entenderíamos, os elfos do mar não são tão poderosos, mas os da capital... bom, espero que tudo se resolva antes que chegue a Pim.

            — Nada nunca chega a Pim — reclamou Jade. Ela queria ver uma horda de gigantes, mesmo que fossem comandados por bruxas. Ela sentia que nada de importante acontecia ali. — Se houver uma guerra ela acaba antes de faltar verduras para a feira.

            — Eu não acho isso uma coisa ruim. — Leon arregalou os olhos. — Não mesmo.

            — Bom, isso é porque você é um medroso.

            Jade riu e o amigo também, mas ele ainda sentiu um tremor ao imaginar gigantes perto de Pim.

            — Nossa aldeia é pacata demais para sobreviver a um ataque desses.

            Jade enfim chegou na tenda e entregou a caixa de cenouras para a irmã, que sorriu e começou a limpá-las para serem vendidas. Seu pai estava por perto, vendendo e conversando, enquanto muitas pessoas passavam de um lado para o outro falando em voz alta. Havia uma música tocando em algum lugar, e não se podia negar que o clima do mercado era animado.

            — Bom, eu acho que sua irmã vai concordar comigo, não é, Bia? — Leon contou para ela as últimas notícias dos gigantes.

            — Pim realmente não daria conta — disse Bia enquanto cuidava das cenouras. — Não temos guerreiros, nem magos, nem nada.

            — Temos a fazedora de poções — ofereceu Jade. — Ela deve saber alguma magia.

            Os três olharam para a bruxa do outro lado da praça. Ela continuava com o rosto tampado pela aba do chapéu cônico, braços cruzados, enquanto os clientes admiravam as poções expostas. Era comum a procurarem quando estavam com alguma doença ou querendo conquistar alguém que não dava bola.

            — Ela só sabe resmungar — disse Leon. — Aposto que ela iria gostar de ver um gigante pisoteando Pim.

            Bia e Leon continuaram especulando sobre o que aconteceria caso gigantes resolvessem aparecer por ali, quando Jade reparou num ser alto e austero que caminhava com uma postura superior pelo Mercado. Só podia ser um elfo. Jade só os tinha visto de longe, mas sua aparência era inegável: rosto anguloso, meio metro maior que um ser humano comum, sempre muito bem arrumado e olhando para todos de cima.

            Esse caminhava devagar, observando tudo e todos com as mãos para trás. Jade viu quando ele parou perto do tapete da fazedora de poções e disse algo para ela. Dessa vez a bruxa levantou a aba do chapéu e todos viram o seu rosto. Eles pareceram discutir por um tempo, então a bruxa se colocou de pé, muito mais baixa do que o elfo, mas ainda assim intimidadora entre toda aquela fumaça que subia de suas poções.

            Foi quando o elfo agarrou-a pelo braço.

            — Se não tem licença, não vai ficar aqui!

            Ele falou tão alto e numa voz tão poderosa que quem quer que tivesse tocando a música no Mercado parou para observar. Todos agora tinham parado seu assunto e encaravam a bruxa e o elfo.

            — Você virá comigo, bruxa, e se resistir será pior para você.

            Jade só se deu conta de que tinha se mexido quando já estava do lado dos dois. Ela não sabia o que estava fazendo, mas não podia deixar que aquilo acontecesse.

            — O que você quer? — perguntou o elfo, agora muito mais alto visto de perto.

            — Ninguém precisa de licença para vender no Mercado de Pim — respondeu Jade, sentindo sua coragem se esvair quando os olhos do elfo se estreitaram.

            — Bruxas precisam. É a nova diretriz da capital. — Ele olhou ao redor e reparou que todos estavam olhando. — Que fiquem avisados, humanos, qualquer um que mexer com magia precisa de autorização dos elfos para tal.

            — Ela faz poções para a gente há anos! Você não pode levá-la!

            O elfo baixou os olhos de novo para Jade e dessa vez ele não se conteve. Com a mão livre também pegou no braço dela.

            — Talvez eu deva levá-la também, já que tão prontamente se levanta para defender uma bruxa ralé como essa.

            Jade encarou a fazedora de poções. A mulher estava aterrorizada e isso só fez com que ela se sentisse mais certa do que antes.

            — Nós precisamos de uma fazedora de poções, Pim só tem essa.

            — Uma aldeia sem magia é mais segura. — O Elfo apertou os dedos no braço de Jade, mas algo explodiu bem entre os três.

            A bruxa tinha pisado em um dos frascos e o seu conteúdo explodiu em uma fumaça azul tóxica que fez Jade tossir. O elfo largou as duas, cambaleando para o lado, e a mulher aproveitou para montar numa vassoura que ela tirou do nada e voar para o céu.

            — Atrás dela! — gritou o elfo para outros dois da sua espécie, que se transformaram em pássaros e seguiram a bruxa. — Você! Garota, você está presa por obstruir a justiça élfica!

            — Por favor, misericórdia! — disse o pai de Jade, se colocando entre ela e o elfo. — A garota não sabe o que faz, senhor, ela não quis atrapalhar.

            — É sua filha? — perguntou o elfo, estreitando os olhos de novo.

            Jade sentiu como se ele conseguisse enxergar através do seu pai, vendo-a perfeitamente ali escondida.

            — Sim. — O pai olhou para baixo em sinal de submissão. — Por favor, perdoe-a.

            O elfo ficou algum tempo calado, decidindo-se. Então ele deu o veredito:

            — Não esquecerei o seu rosto jamais, garota. Se algum dia tornarmos a nos encontrar e você apresentar qualquer predileção por bruxas, eu mesmo me encarregarei de você.

            Sem dizer mais nada ele virou um corvo, que voou para longe.


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Notas finais do capítulo

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